Tecido
Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
009 – 08/11/03
ENTREVISTA
Alessandro Gama
(Movimento Nacional dos Meninos e Meninas
de Rua)
Segundo dados do IBGE, aproximadamente 3 milhões de crianças no Brasil
vivem na rua, cerca de 6 mil sofrem todo ano abusos sexuais
registrados e se calcula que os que não chegam nunca a ser denunciados
e conhecidos são aproximadamente 500 mil, a cada 12 minutos
uma criança é espancada pelos pais, pela polícia ou por responsáveis
de instituições de recuperação de menores, 5,4 milhões de crianças
são exploradas no trabalho infantil (umas 500 mil das quais
no trabalho infantil doméstico) e em torno de 6 mil encontram-se
nas mãos de redes de exploração da prostituição.
Por Antonino Condorelli
Qual é a luta e quais são os objetivos do Movimento Nacional
dos Meninos e Meninas de Rua?
O Movimento tem 18 anos de existência no Brasil. O que a gente
tenta fazer é estimular uma consciência histórica e anti-classista
na população p! ara discutir a exclusão social de milhões de
crianças que existe neste país. O educador não deve falar pelas
crianças, mas permitir que elas falem. O Movimento tem duas
linhas fundamentais. A primeira é a conquista e defesa dos direitos:
nós estamos nos conselhos públicos discutindo políticas públicas,
cobrando do Governo. Nós não temos atividades de assistência,
não temos casas para dar abrigo mas fazemos encaminhamentos
ao Governo para que ele forneça abrigo às crianças que não têm,
porque entendemos que este é um papel do Estado. O papel da
sociedade civil é complementar ou implementar ações, não substituir
o papel do Estado. O segundo eixo é a organização de meninos
buscando a reinserção deles na sociedade a partir dos seus próprios
interesses, da sua própria visão, porque não se tira um menino
da rua a toque de caixa, mas é preciso um processo pedagógico,
psicológico, de discussão, de envolvimento... A gente tenta
criar um sentimento de pertence ao movimento, construir ! uma
identidade.
Além de trabalhar com os meninos de rua, o Movimento trabalha
também com a sociedade para criar uma consciência sobre o problema?
Temos um problema de comunicação, como a maioria dos movimentos
sociais. Por isso, elaboramos uma estratégia de comunicação
mais especializada. Criamos cinco centros de formação no Brasil
e formamos educadores e voluntários: de fato, nós somos uma
rede de voluntários. Mas realmente encontramos dificuldades
na divulgação e na conscientização da sociedade sobre as nossas
atividades e sobre a situação dos meninos de rua.
Vocês atuam em todo o território nacional?
Sim. Não estamos presentes só em dois Estados, Tocantins e Roraima.
No resto do país, estamos presentes de várias formas, somos
uma rede, uma articulação de movimentos. Cada Estado criou diversos
nós, compostos por entidades ou até mesmo por individuos. Somos
um conjunto de experiências.
Que estratégias são possíveis para ch! egar a uma mudança
cultural na classe média, para que esta deixe de associar meninos
de rua, favelados, pobres em geral ao conceito de "bandidagem"?
Hoje existem 3 milhões de meninos de rua no Brasil e o poder
público não tem no seu orçamento - nem o Governo Federal nem
os governos estaduais e municipais - recursos destinados especificamente
a tirar crianças da rua. A vida de rua envolve trabalho infantil,
exploração sexual, tráfico de drogas, violência contra as crianças
ou praticada por elas, etc. O Movimento trabalha em todas estas
frentes, mas a questão está excessivamente fragmentada, existem
muitos movimentos específicos, temáticos que se dedicam de forma
sistemática a conscientizar sobre cada um destes aspetos, mas
é difícil fazer entender à sociedade que na realidade se trata
de um problema único, de um processo geral: o da exclusão social,
da falta de emprego e de renda, da falta de habitação digna,
de saneamento, de acesso à educação.
Veja
também:
- ESPECIAL FÓRUM SOCIAL
BRASILEIRO - TERCEIRO DIA
- Um projeto popular para o Brasil
- ENTREVISTA. Nalú Faria
(Organização Feminista "Sempre Viva"
e Marcha Mundial das Mulheres)
- O Brasil racista e Lula
- A segunda conferência do
sábado discute um projeto social para o Brasil
- ENTREVISTA. Ali Nakhlawi (União da Juventude Árabe
para a América Latina). "Israel impede que os jornalistas
acessem aos lugares onde ele comete seus crimes"
<
Voltar
|