Tecido
Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
008 – 07/11/03
ENTREVISTA
Borges
“A base de Alcântara só nos trouxe mais miséria”
Borges faz parte do Movimento contra a base militar de Alcântara
e é morador da localidade maranhense onde o Centro de Lançamento
instalado há 22 anos, ao invés que desenvolvimento e bem-estar
como prometia, só trouxe a injustiça de famílias desapropriadas
e privadas dos seus direitos, mais miséria e um poder paralelo
que exclui a população de todas as decisões sobre o destino
dela. Borges, palestrante da segunda conferência do dia, concedeu
uma entrevista coletiva à qual Tecido Social participou e que
reproduzimos.
As famílias desapropriadas por causa da instalação do Centro
de Lançamento de Alcântara foram indenizadas adequadamente?
No dia 17 de novembro do ano passado nós fizemos uma romaria,
a primeira romaria dos atingidos pela base d! e Alcântara, aonde
colocamos a questão de um fundo de compensação permanente. Até
hoje a maioria das famílias desapropriadas não foram indenizadas,
os valores são irrisórios e insignificantes. A maioria da população
do município tem sido prejudicada nos 22 anos que passaram desde
a implantação da base. Há vários povoados que não dispoem de
serviços públicos. Por outro lado, a legislação que disciplina
as desapropriações limita às famílias desapropriadas e elas
não podem realizar nenhuma melhoria. Há também conflitos agrários
fora da área considerada de interesse do Centro de Lançamento
de Alcântara devido à dimunuição de terras disponíveis no município.
A existência da base não influi positivamente no aumento de
receita pública municipal e na oferta de bens e serviços públicos
à população. Já enviamos vários relatórios e documentos de reivindicação
a este Governo, mas ninguém nos procurou para nos sentar em
uma mesa e discutir. Em compensação, sem nos avisar e sem pedir
no! ssa opinião, o Governo firmou acordos com países estrangeiros
para o uso da base que nos irão prejudicar profundamente.
Porque estes acordos são prejudiciais?
Porque enquanto não resolvermos a situação social de Alcântara
é absurdo falar em novos acordos. Primeiro há que por fim aos
problemas que a base provocou na sociedade: a miséria que ela
criou, o analfabetismo que continua o mesmo, a falta de saúde,
a falta de saneamento básico. O projeto não tem função social?
É esta a pergunta que a gente costuma fazer. É só para lançar
foguetes e as pessoas que vivem lá não têm nenhum direito? Na
prática, o que acontece desde a implantação da base é isso.
Se gasta muito dinheiro para lançar foguetes no espaço e a população
- desapropriada e humilhada - continua na miséria. A prática
comum do Governo é não nos dar resposta, é ignorar-nos. Formam
comissões de deputados para averiguar, fazer relatórios, etc.,
mas na hora de discutir os problemas com quem os sofre d! e
verdade não estão nem ai.
Que repercussões teve o acidente que recentemente matou 21
pessoas sobre a cidade?
A base não existe para a população de Alcântara, são dois mundos
separados e incomunicáveis. As mesmas coisas que vocês de fora
souberam do acidente são as que chegaram a nós através da imprensa.
Para a comunidade alcantarense não se dignaram de divulgar nem
uma nota. Eles não têm nenhum contato conosco, é um poder paralelo
que não nos deixa participar de nada do que acontece por causa
dele. Não temos os empregos que o projeto prometia gerar, não
temos a educação de qualidade que ele devia trazer à cidade
e, em compensação, nossa situação social só piorou. O Governo
prometeu tantas coisas, todas em documentos registrados em cartório,
e absolutamente nada disso foi cumprido.
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