A história de vida de Teotônio Roque
foi fator decisivo para dar impulso à idéia acalentada há bastante
tempo, fomentada no movimento sindical, onde até então havia atuado como
sindicalista e repórter fotográfico: conhecer Cuba. A vivência de um
País de sem-tetos e sem-terras e a insatisfação frente ao sofrimento do
povo brasileiro e às contradições geradas pelo capitalismo, reforçaram
o desejo de averiguar como uma ilha, um País tão pequeno como Cuba,
estava sobrevivendo e garantindo saúde e educação para todo o seu povo,
segundo ouvia. E como o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos e
a derrocada do socialismo no Leste Europeu não haviam sido suficientes
para pôr a pique aquela experiência socialista.
A ponte para essa viagem veio a ser a descoberta dos
restos mortais de Ernesto Guevara de la Serna, "Che", o
guerrilheiro argentino que lutou em Cuba, junto a Fidel Castro, contra a
ditadura de Fulgêncio Batista e foi assassinado por militares, na
Bolívia. Para realizar o funeral de Che, o governo cubano havia preparado
uma grande solenidade, que seria aberta ao público.
Teotônio negociou com sindicatos e centrais de
trabalhadores, entidades estudantis e parlamentares de esquerda, o
(futuro) material fotográfico documentando o funeral e a cidade de Havana
a ser utilizado em jornais, revistas e exposições, em troca de
patrocínio. Firmou então contato com a embaixada de Cuba em Brasília,
onde obteve a credencial de repórter fotográfico, o que lhe permitiu
acesso, além dos funerais, a escolas, hospitais, museus...
O funeral de Che havia deixado o País em um estado de
grande comoção. Foi em meio a esse sentimento que desembarcou no
aeroporto em Havana, sem acompanhante ou intérprete, mas com a sensação
de haver concluído aquela escalada.
Sua primeira impressão em Cuba foi a de ter voltado no
tempo, aportado em uma cidadela do interior, entre carros e construções
muito antigas, pessoas vestidas com extrema simplicidade e uma
surpreendente alegria.
Terminados os três dias do funeral, pôde fotografar o
povo sob diversos aspectos, abordando uma temática social e humana.
Assim resume as impressões que extraiu da excursão
feita fora da rota turística de Havana,no contato direto com os diversos
nativos que teve a oportunidade de abordar: "Do ponto de vista
político, a vida em Cuba é a melhor vida do mundo. Existe alimentação,
moradia, saúde, educação, planejamento familiar para todo mundo;
escolas com educação de qualidade; crianças e velhos vivendo com
dignidade. Se falta tijolo, cimento, giz, é por causa do embargo
americano".
As imagens, aqui traduzidas, submetem-se à leitura dos
que quiserem partilhar essa viagem.
Márcia Gomes Pinheiro
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