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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 100 – 03/12/04

Com esta edição, o boletim eletrônico Correio Tecido Social, lançado no ar pela primeira vez em outubro de 2003, alcança seu número 100, que comemoramos com a inauguração da nossa página web no endereço http://www.dhnet.org.br/redebrasil/tecidosocial/index.htm, onde por agora só se encontra a informação sobre o que são este projeto de comunicação e a Rede Estadual de Direitos Humanos - RN, mas que em breve conterá todas as matérias das passadas edições livremente consultáveis. Em plena sintonia com o caráter glocal da Rede Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte e de Tecido Social, cujo espírito é projetar para o mundo as realidades locais e para estas as globais em uma troca continua, constante e enriquecedora que é ao mesmo tempo de informações, experiências, formas de expressão, visões do mundo e universos simbólicos, nesta edição de aniversário, ao mesmo tempo em que relatamos nossa participação na Conferência Internacional Democracia, Participação Cidadã e Federalismo que está discutindo em Brasília os possíveis caminhos para se alcançar uma efetiva participação popular nos processos políticos, econômicos e sociais, descrevemos repercussões das Caravanas de Direitos Humanos que atravessaram nosso Estado na primeira metade deste ano e contamos - em inglês - a realidade do pequeno município de Carnaubais, na região do Vale do Açu, em pleno semi-árido potiguar, para que a luta tenaz e incansável da sociedade civil carnabauense pela transparência pública e a justiça social passe a fazer parte do universo global das alternativas possíveis ao sistema existente.

Do global...

Intensos debates caracterizam o primeiro dia da Conferência Internacional Democracia, Participação Cidadã e Federalismo, começada ontem em Brasília com a inauguração de Lula

Por Antonino Condorelli

Na quinta-feira 2 de dezembro começou em Brasília, no hotel Bluee Tree Alvorada, a Conferência Internacional Democracia, Participação Cidadã e Federalismo, organizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Presidência da República do Brasil.

Através da Conferência, o PNUD terminou os trabalhos de análise da situação democrática na América Latina começados com o relatório Democracia na América Latina: rumo a uma democracia de cidadãs e cidadãos.

O objetivo do encontro foi discutir os problemas que enfrenta hoje em dia, no continente, esta forma de organização política da sociedade e apontar possíveis caminhos para uma efetiva participação da cidadania nos processos econômicos, sociais e políticos.

Um representante da Rede Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte, o editor-chefe de Tecido Social, esteve entre os convidados que participaram do evento, o que ressalta a percepção clara que o PNUD tem da importância e o papel decisivo que as redes sociais locais desenvolvem - e desenvolverão cada vez mais - na discussão sobre como re-pensar a democracia em sentido participativo e na execução de ações para concretizá-la.

Uma percepção reiterada por Elena Martínez, Diretora Regional para América Latina e Caribe do PNUD, no ato de abertura da conferência, que teve lugar às 9:00 da manhã da quinta-feira e do qual participou o Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

No discurso de inauguração do evento, Martínez destacou que o local e o regional são os espaços mais adequados para construir uma integração social que tenha como eixo uma perspectiva de identidade, uma identidade ao mesmo tempo forte e plural, que abranja diferenças, em permanente construção, A descentralização regional é, segundo Martínez, o caminho para a integração global, porque deste jeito esta vai se fundar na pluralidade e não no unilateralismo econômico e cultural.

No discurso de Lula a integração regional também teve especial destaque. O Presidente anunciou que no próximo dia 7 de novembro, em Cuzco, Peru, será inaugurada a Comunidade Sudamericana das Nações, impulsionada pelos governos que mais apostaram na integração continental como alternativa à dependência dos países mais ricos – especialmente, os de Brasil e Argentina – e que representará o embrião de uma união econômica, política e cultural das nações da América do Sul.

A Comunidade estará baseada na cooperação econômica (entre outros aspetos, para o investimento em infra-estrutura: construção de rodovias, aeroportos, etc., criação de estradas e linhas aéreas diretas direitas entre pólos da região não comunicados, etc.) e na promoção da democracia como elemento comum da identidade latino-americana. Nas palavras de Lula, com este primeiro passo para a integração continental “o antigo sonho de Simón Bolívar está virando realidade”.

Outro passo decisivo para a integração dos países latino-americanos, afirmou o Presidente, se dará até final de 2006, quando nascerá o Parlamento do Mercosul, embrião de um futuro Parlamento Latino-Americano com poderes para aprovar leis cujo cumprimento deverá ser obrigatório por parte dos Estados nacionais.

Na sua intervenção, Lula lembrou que o relatório do PNUD mostra que cerca da metade da população da América Latina trocaria a democracia por um regime autoritário se este resolvesse seus problemas sociais. Um sinal extremamente preocupante que, porém, segundo o Presidente não deve ser interpretado como uma simples rejeição da democracia, mas como rejeição “à desigualdade e à miséria”, ou seja, “à falta de democracia real na vida destas pessoas”.

O desenvolvimento, afirmou Lula, “é uma mudança da sociedade que liberta seu potencial econômico distribuindo as oportunidades de maneira eqüitativa”. Não há dilema entre desenvolvimento e democracia, segundo o Presidente: “O que há é o oposto, uma estreita e forte interdependência”.

A inauguração da conferência continuou com uma palestra de Dante Caputo, coordenador do projeto Democracia na América Latina, na Argentina. Caputo comentou os dados contidos no relatório do PNUD e, entre outros pontos, ressaltou que a organização do Estado democrático tem como fundamento a passagem do individuo como “portador de direitos” a cidadão que os possui concretamente na vida de todo dia. “A democracia”, afirmou, “propõe que os cidadãos exerçam efetivamente seus direitos, não apenas que lhes sejam reconhecidos”.

O alarmante dado sobre o rechaço do regime democrático contido no relatório, segundo Caputo, se debe a que desde que substituíram as ditaduras militares, há 20 anos, todas as democracias da América Latina não reduziram de maneira significativa as desigualdades e, mesmo quando conseguiram baixar drasticamente os níveis de pobreza como fez o Chile, não acompanharam a diminuição da miséria com q redução das diferenças entre os extremos sociais, que só se agudizaram.

“Democracia significa a liberdade e igualdade”, afirmou. “Porém, na América Latina a segunda palavra nunca se associou ao conceito de democracia, o que acabou tornando inexistente a também a primeira”.

Como a democracia é uma forma de organização do poder com o fim de tornar os direitos efetivos, o que é preciso após uma década de modelo neoliberal que reduziu o papel do Estado nos processos econômicos e sociais ao mínimo, segundo Caputo, é reconstruir o poder do Estado, ou seja, pensar uma nova forma de poder democrático e participativo. E isso, concluiu, pressupõe a reconstrução de uma ideologia de finalidades, o suficientemente forte como para mover à sociedade inteira.

Depois da abertura, os trabalhos da conferência prosseguiram com a discussão do primeiro painel, intitulado Desenvolvimento Nacional, Integração Regional e Democracia, com as intervenções de Mario Telo, da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica), de Marco Aurélio García, da Assessoria Especial da Presidência da República, e do Ministro-Chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais do Brasil, Aldo Rebelo.

Neste primeiro painel, foram abordadas as questões da autonomia do Estado nacional democrático no contexto de um mundo globalizado, já que – como acontece no resto do mundo – os países latino-americanos enfrentam hoje o dilema de ter que tomar decisões nacionais e realizar escolhas regionais impostas por forças econômicas externas a eles ou procurar maneiras de se contrapor e estas, o que torna cada vez mais necessária a integração continental para ter poder suficiente para decidir autonomamente o rumo que queremos tomar.

O segundo painel do primeiro dia da conferência se intitulou Democracia e Participação Social e contou com as intervenções de Margareth Keck, professora da Universidade Jonhs Hopkins (Estados Unidos); Chacho Alvarez, ex-Vice-Presidente da Argentina; Maria Vitória Benevides, da Universidade de São Paulo; e Luiz Dulci, Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República do Brasil.

Neste painel foram exploradas as potencialidades para se fortalecer a democracia através da introdução de mecanismos participativos, uma discussão que envolveu os níveis de governo local, sub-nacional, nacional e supra-nacional. Neste contexto, o Brasil tem sido um dos países líderes na introdução de inovações sociais participativas tais como o orçamento participativo, a criação de conselhos municipais e o planejamento transparente.

Veja também:
- ENTREVISTA Dante Caputo - Coordinador del proyecto Democracia en América Latina, Argentina - "Para que la democracia no pierda su legitimidad, hay que destruir el mecanismo que en América Latina la vincula a pobreza y desigualdad"
- Carnaubais, Rio Grande do Norte: 21st Century Feudalism in Northeast Brazil
- Carta da Comissão da Cidadania de Carnaubais ao prefeito eleito

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