Lady Tempestade: monólogo com Andrea Beltrão, dirigido por Yara de Novaes, mergulha no diário de Mércia Albuquerque, que se dedicou a defender presos políticos na ditadura,
por Clilton Paz Portal RJ4 06.01.2024
Espetáculo estreou no dia 4/1, no Teatro Poeira, parte das histórias da advogada pernambucana para refletir sobre violências e injustiças, no presente e no futuro.
Passado, presente e futuro se embaralham em “Lady Tempestade”, espetáculo cuja dramaturgia parte dos diários da advogada pernambucana Mércia Albuquerque (1934-2003), sobre sua atuação em defesa de centenas de presos/as políticos/as do Nordeste, principalmente entre 1973 e 74, um dos períodos mais pesados da ditadura brasileira.
Na trama escrita por Silvia Gomez e dirigida por Yara de Novaes, Andrea Beltrão interpreta A., mulher que recebe os diários de Mércia e fica impactada com o testemunho pela busca de justiça — ou, ao menos, o paradeiro de desaparecidos, a partir das súplicas de mães desesperadas — e com a narrativa repleta de violência e coragem. |
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Numa espécie de “diário dentro do diário”, A. encara o dilema de se envolver com aquela história, mas acaba mergulhando nela. Aos poucos, vai revelando uma personagem feminina importante, que começa a ser reconhecida a partir da publicação de suas memórias em livro, em 2023.
“Mércia dizia que era uma contadora de histórias de pessoas que reconstruíram a liberdade. Eu sou uma contadora de histórias. Eu acredito que contar histórias é uma maneira amorosa de pensarmos juntos no nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Contar histórias amorosamente, para nunca esquecer. Para tentarmos responder às perguntas que nos fazemos aqui e agora”, explica Andrea.
A opção de levar essa história aos palcos veio, por coincidência, após seu monólogo “Antígona”, montagem sobre o clássico de Sófocles em que a protagonista enfrenta a ordem do rei Creonte para deixar seu irmão, que lutou na guerra, insepulto. Andrea levou o prêmio APCA de melhor atriz pela peça, que se desdobrou também em livro e no filme “Antígona 442 a.C”. Agora, retoma o tema da luta por justiça, e pelo sepultamento digno de entes queridos, em “Lady Tempestade”.
Ao fazer paralelos com o tempo presente — com direito a um desabafo verídico, em áudio, de uma mãe que teve o filho assassinado pela polícia em 2022 —, A. envolve a plateia numa questão angustiante, mas provocadora: se não dá para “desver”, o que podemos fazer com isso?
Com a dúvida se transformando em parte do enredo, foi natural para Silvia Gomez adotar uma ideia dada por Yara: narrar a história como se fosse o diário de A. lendo o diário de Mércia. “A personagem da Andrea diz: queria fingir que não tinha recebido aquilo, mas não era mais possível. Eram coisas semidesaparecidas e não são mais. Então, para que futuro vamos após ouvir as palavras de Mércia?”, indaga a autora.
Não à toa, uma frase é repetida algumas vezes no texto, após a leitura de trechos dramáticos do diário de Mércia: “Essas coisas acontecem, aconteceram, acontecerão”. Silvia desenvolve: “Alguém do presente, como nós, recebe uma convocação do passado. De repente, na escrita, o tempo verbal tornou-se arisco: às vezes no passado, às vezes no presente, às vezes no futuro. Como se a forma pedida pela obra nos lembrasse que o Brasil é reincidente no esquecimento de sua história, tantas vezes parecida com uma cena em looping de terror”.
Lady Tempestade com Andrea Beltrão.
Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 – Botafogo).
Telefone: (21) 2537-8053.
Horário: Quinta a sábado, às 21h | Domingo, às 19h.
Ingresso: 100,00 (inteira) | 50,00 (meia).
Capacidade: 171 lugares.
Duração: 70 minutos.
Classificação: 12 anos.
Bilheteria: terça a sábado, das 15h às 21h | domingo, das 15h às 19h.
Temporada: de 04 de janeiro a 04 de fevereiro.
Início das vendas pela plataforma Sympla em 20 de dezembro.
Vendas na bilheteria do teatro Poeira a partir do dia 02 de janeiro.
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