Nos 60 anos do golpe, Andréa Beltrão estreia peça sobre a advogada que lutou contra a ditadura militar
Rayane Rocha
Os originais dos diários de uma advogada que se dedicou a defender centenas de presos políticos da ditadura militar no Brasil foram o ponto de partida para a diretora mineira Yara de Novaes convidar Andréa Beltrão a mergulhar no tema, no ano que marca seis décadas do golpe militar. A atriz estreia nesta quinta (4) que desempenhou um papel importante anos 1970: Mércia Albuquerque (1934-2003), que defendeu mais de 500 pessoas no Nordeste nesse período.
Mais do que atuar pela liberdade dos acusados, Mércia registrou os bastidores de seu trabalho, que vieram à tona com o livro “Diários de Mércia Albuquerque: 1973-1974” (2023). O nome da peça vem de um dos trechos da obra em que a autora diz “minha mãe é bonança, eu, não, sou tempestade”.
Na trama, Beltrão dá vida ao alter ego “A.”, uma mulher que recebe os diários de Mércia e se vê imersa na realidade narrada por ela, presa 12 vezes e testemunha da tortura de muitos clientes.
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— Diário é um lugar onde você escreve o que quer, para que seja lido só por você. Eu, por exemplo, já tive vários e queimei todos. Mas Mércia não destruiu os seus. Então, acredito que havia um desejo de que fossem encontrados — pontua a atriz.
Na visão da diretora Yara de Novaes, a trama se mantém atual e levanta discussões de “um passado que ainda não passou”.
— Nós somos um país que não superou a ditadura. Aqui a violência é até celebrada por muitos. Certamente, isso é a reverberação de traumas vividos e não revisados. E revisá-los seria, inclusive, conseguir ir para o tribunal lidar com a Lei da Anistia. Então, eu sinto que esses diários nos perguntam: como está a vida no futuro? Melhoramos?
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