Foi depois do baile que a rebelião explodiu.
Entre gritos e murmúrios todos os loucos abriram uma porta e fugiram
como gado espantado.
Desceram as escadas rumo a desconhecidos esconderijos .
Pensando que mais além encontrariam outra porta por onde pudessem escapar para a tão sonhada liberdade...
Subitamente , ao invés de portas encontraram grades.
Pior que isso, quase a morte, com seus carrascos da dor, do medo, da violência.
O baile fora alegre, bem carnavalesco;
Carnaval no hospício é “coisa de Louco” …
Sensacional, fantástico!
Homens e mulheres comemoravam, cantando suas inconscientes memórias,
seus delirios, suas glórias….
O salão era imenso, a música deslumbrante!
Os pacientes sambavam, tangavam, comemoravam aquela super-loucura que
de seus peitos e seus lábios emergia borbulhantemente.
Às vezes se agarravam e arrancavam um beijo ardente, um abraço quente e se surpreendiam num frenesi alucinante.
Pensavam contentes lamber inconscientes correntes, no olhar deslumbrante de um parceiro-paciente.
De pronto um alguém descobre em silêncio que num canto do salão havia
uma porta.
Na noite incandescente foi até lá, ver se aberta pudesse estar.
Surpreendentemente encontra-a encostada …
Como , uma porta encostada?!
Num hospício as portas sempre trancadas e agora uma porta encostada?
O alguém voltou-se em silêncio e
no baile, diante de iminência da fuga dos doentes,
sentiu no fundo da alma
a possibilidade de romperem numa rebelião enfurecida
as portas das suas mentes,
as portas dos dementes,
as portas de todas as portas,
e depois, quem sabe,
UFA!!!
respirar devagar, gritar, gritar que
ser louco não é pecado, não é crime
e sim, a vontade de ser livre,
o desejo de atravessar as grades do inconsciente.
De nada valeu tanto sonhar,
deixar de ser louco para ser gente.
Sonhar ser livre, viver normalmente,
sem torturas.