
Cidadania
e Direitos Humanos:
Um Sentido Para a Educação
Prefácio
Prefaciar
livros pode ser um trabalho puramente técnico, o equacionamento de uma
encomenda de serviço como outra qualquer, algo um tanto distanciado
e até mesmo asséptico. Pode ser também um ritual público de encontro,
um trabalho cheio de emoção, alegria e vida, algo que aproxima prefaciador
e autor, instigando a aproximação do leitor.
Trilho
sempre o segundo caminho. Tenho tido a honra de ser convidado para prefaciar
obras de companheiros de luta e trabalho. Gente que admiro e respeito.
Reencontrar
Ricardo Balestreri nas páginas do seu livro Cidadania e Direitos Humanos:
Um Sentido para a Educação é uma satisfação, que, modestamente, busco
compartilhar com os leitores.
Conheci
Ricardo Balestreri nas jornadas de trabalho para a promoção e defesa
dos direitos das crianças e adolescentes. Direitos humanos, direitos
de todos – parece óbvio, mas não é. Ainda. Tive a felicidade de construir
com ele uma relação de respeito profissional e amizade.
Os
direitos humanos, muito mais que uma declaração de princípios, são uma
cosmovisão. A adoção da perspectiva dos direitos humanos implica num
modo especial de ver, entender, agir e reagir diante do mundo. Um entendimento
que tem como centro a noção de pessoa, em toda sua inteireza e irredutibilidade.
Se
adotamos a perspectiva dos direitos humanos como cosmovisão, transcendendo
o aspecto puramente jurídico, questões aparentemente fora deste campo
nele se integram. Um exemplo: a luta em defesa do meio-ambiente passa
a ser vista como parte essencial do direito à vida das gerações futuras,
um direito humano daqueles que ainda não nasceram.
O
livro de Balestreri, mais que um compêndio sobre os dispositivos contidos
nos instrumentos de promoção e defesa dos direitos humanos, é um guia
para os educadores e jovens a quem se destina. Um guia seguro. Uma convocatória
para uma nova perspectiva diante da vida, a partir de um projeto de
humanidade.
Estamos
diante de um trabalho de educador, que incorpora a experiência do ativista
da luta pelos direitos humanos, como diretor de educação da Anistia
Internacional. A linguagem clara, objetiva e convidativa nos conduz
na leitura dessa obra imprescindível para a educação escolar de nossos
jovens e as ações de pedagogia escolar e social em curso no Brasil.
A
iniciativa da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos de encomendar
uma obra desse teor a Ricardo Balestreri é reveladora de uma nova interação
Estado-Sociedade no campo dos direitos humanos, um relacionamento de
co-responsabilização para o enfrentamento dos problemas sociais brasileiros.
O
Brasil chega à reta final do século e do milênio confrontado com três
desafios fundamentais:
A
inserção competitiva numa economia em acelerado e irreversível
processo de globalização;
A
erradicação das desigualdades sociais intoleráveis;
A
elevação dos níveis de respeito aos direitos humanos e de participação
democrática da população.
Mesmo
reconhecendo que o desafio menos entranhado no senso comum dos brasileiros
é a defesa e o respeito aos direitos humanos, é preciso destacar dois
importantes avanços nessa área:
A
criação da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos no âmbito do Ministério
da Justiça e sua recente elevação a Secretaria de Estado com status de ministério e vinculação direta com o Gabinete do Presidente
Fernando Henrique Cardoso;
A
elaboração de um Plano Nacional de Direitos Humanos, de execução laboriosa
e difícil, mas que, se implementado, nos assegurará um lugar de honra
entre os povos civilizados, posição que estamos ainda longe de ocupar,
diante do cotidiano de violações dos direitos humanos em nossa sociedade.
O
desafio dos direitos humanos será vencido com a implementação de três
linhas de ações:
Produção de informação
quantitativa confiável, de modo a se evitar a manipulação de informações
nessa área, marcada por debates que produzem mais calor do que luz no
encaminhamento de soluções para nossos problemas mais agudos nesse campo;
Mobilização
social ampla em torno dos direitos humanos: convocação de vontades para
atuar na busca de propósitos comuns, sob uma interpretação e um sentido
também compartilhados;
Desenvolvimento
de capacidades novas não só de decisores e operadores das políticas
públicas e das organizações de solidariedade social, mas também e fundamentalmente
do cidadão comum.
O
livro de Ricardo Balestreri vai ao encontro desses desafios. E os encontros
genuínos têm a força de pôr nossas vidas em movimento e contribuir para
a transformação do mundo. Essa é a força do trabalho educativo de Balestreri:
promover encontros, criar convergências, consolidar uma comunidade de
sentido. É uma honra poder estar aqui e dizer o que sinto e penso deste
grande educador e do seu extraordinário trabalho.
Belo
Horizonte, maio de 1999
Antonio
Carlos Gomes da Costa
Diretor-Presidente
da
Modus
Faciendi – Desenvolvimento Social e Ação Educativa