Gênese
dos Direitos Humanos
Volume I
João Baptista
Herkenhoff
Religiões
e Sistemas Filosóficos em face dos DH
O Islamismo e os Direitos
Humanos
Alcorão
Declaração Islâmica Universal dos Direitos Humanos
1981
O
Islamismo também dá ampla sustentação à doutrina que
fundamenta os “Direitos Humanos”. Essa Religião ensina que o
homem é “vigário (representante) de Deus”, conforme se lê
no Corão.
O
Islamismo prescreve a fraternidade, adota a idéia da
universalidade do gênero humano e de sua origem comum; ensina a
solidariedade para com os órfãos, os pobres, os viajantes, os
mendigos, os homens fracos, as mulheres e as crianças; estabelece
a supremacia da Justiça acima de quaisquer considerações;
prega a libertação dos escravos: proclama a liberdade religiosa
e o direito à educação; condena a opressão e estatui o direito
de rebelar-se contra ela; estabelece a inviolabilidade da casa.
Há
uma semelhança estreita entre a visão islâmica do ser humano
(homem, vigário de Deus), a idéia cristã ensinada por São
Paulo (homem. templo de Deus) e a idéia de homem como imagem de
Deus (Gênesis, livro sagrado de judeus e cristãos).
Vários
autores pretendem ver uma incompatibilidade entre o Islamismo e os
Direitos Humanos. Essa conclusão parte de uma premissa. O
Islamismo pretende regular a totalidade da vida, sem deixar lugar
para o profano.
Lendo
trabalhos como os de B. Lewis. H. Boularès e B. Etienne. nós
podemos construir um silogismo que resume a opinião dos que
encontram urna oposição entre Islamismo e Democracia, Islamismo
e Direitos Humanos:
a)
a Democracia só é possível dentro da laicidade;
b)
no Islamismo não existe espaço para a laicidade, o domínio
profano é absorvido pelo domínio religioso;
e)
não havendo esse espaço para a laicidade, o Islamismo consagra a
intolerância.
B.
Lewis acha que o Islamismo não comporta um preceito como o que se
lê no Evangelho de Jesus Cristo: “dar a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus”.
H. Boularès
acredita que o Islamismo se assenta numa concepção totalitária,
a partir da ligação entre Religião, Mundo e Estado. No
Islamismo. a laicidade seria impossível.
B.
Etienne acha que é inteiramente estranha ao Islamismo a idéia de
separar Relígião e Política.
Em
posição oposta à desses autores, Mohammed Chérif Ferjani
demonstra que o lslã não é hermético à idéia laica, à
separação entre o político e o religioso. Para desenvolver o
seu estudo. Mohammed Ferjani baseia-se fundamentalmente num texto
de Maomé. Trata-se de uma passagem na qual o Profeta Maomé diz a
seus discípulos:
“Eu não
sou senão um homem. Se eu vos ordeno qualquer coisa de vossa
Religião. segui-me. Se eu vos ordeno qualquer coisa que revela
minha opinião, eu sou apenas um homem. O que diz respeito à
Religião cabe a mim. No que diz respeito aos negócios do mundo,
nisto vocês sabem mais do que eu.”
Observa
ainda Mohammed Ferjani que os primeiros discípulos de Maomé
distinguiam perfeitamente o que era a Revelação e o que era
opinião pessoal do Profeta. Era opinião pessoal do Profeta tudo
aquilo que dizia respeito ao domínio temporal.
Nega,
categoricamente, Mohammed Ferjani que o Islamismo seja uma Religião
obtusa, que impeça seus fiéis de ingressar na Modernidade.
Mostra como é preconceituosa a tese de que caiba ao Ocidente a
missão civilizatória.
Também
Jacques Berque desfaz, num cuidadoso trabalho, os preconceitos a
respeito do hermetismo que caracterizaria o Islã. E Régis Blachère,
a partir de um mergulho no Corão, procura entender a influência
desse livro na vida pessoal e profunda dos crentes, bem como a
pretensão corânica de ser a inspiração para a solução dos
problemas humanos.
Participei,
durante os meus estudos na França, do 2º Colóquio Internacional
Islâmico-Cristão, ocorrido nos dias 10 e 11 de janeiro de 1992.
Nessa ocasião, pude partilhar com crentes muçulmanos um projeto
de mundo baseado na liberdade, na solidariedade e na justiça.
A
meu ver, esse mundo que, naqueles dois dias, centenas de homens e
mulheres de boa fé, supuseram possível construir, a partir do
respeito mútuo e do diálogo, está bem próximo da utopia
humanista redentora do mundo.
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