Itaércio Porpino Repórter do viver
Depois de um café da manhã reforçado, para
agüentar até o cair da noite, começava a caminhada pelas ruas da
pequena cidade de Havana, capital de Cuba. Máquina fotográfica à
mão, olhar atento a tudo e em meio a milhares de pessoas de várias
partes do mundo, o fotojornalista natalense Teotônio Roque, 31 anos,
buscava o melhor ângulo, a melhor imagem para documentar o histórico
funeral de Che Guevara, que aconteceu em outubro de 1997, 30 anos após
seu assassinato na Bolívia.
Sendo o único fotógrafo brasileiro credenciado como
repórter fotográfico para cobrir a cerimônia que por três dias parou
Cuba, Teotônio aproveitou o livre trânsito e registrou em imagens o
cotidiano, as caras, os prédios, a cultura e o povo daquela nação,
que como o brasileiro, canta e é feliz, feliz.
Desse material, ele selecionou uma pequena fatia para
montar a exposição "Che Vive", que no ano passado ficou em
cartaz em Natal, Fortaleza, João Pessoa e no Rio de Janeiro. Agora, o
fotógrafo está reunindo algumas dessas e outras inéditas para o seu
livro "Olhar Sobre Havana".
O projeto-livro, feito com ajuda da equipe da Flama
Editora, já está pronto. Mas o lançamento, que o autor pretende fazer
no início do próximo ano como uma contribuição sua para o aniversário
de 400 anos de Natal, está dependendo de patrocínio. Os telefones de
contato são o 753-2160 e o 984-1607.
A primeira edição, com mil cópias, está orçada
em 10 mil reais. Todo em papel couché, trará textos, impressões de
Teotônio sobre Cuba em pequenos depoimentos e, claro, fotografias de
instantes de um dos mais importantes acontecimentos históricos de Cuba
que no Brasil só o fotógrafo natalense capturou. Algumas fotografias
foram feitas originalmente coloridas, mas no livro "Olhar Sobre
Havana" aparecem em preto e branco.
"Eu espero que Natal perceba a importância histórica
e jornalística deste fato (de apenas um natalense ter documentado o
funeral de Che Guevara) e que possa patrocinar esse livro ímpar",
diz Teotônio, que nos 15 dias que passou em Cuba percorreu Havana quase
toda a pé.
A primeira impressão que teve foi de que havia
voltado no tempo, aportado em uma cidade do interior, entre carros e
construções muito antigos, pessoas vestidas com extrema simplicidade e
de uma surpreendente alegria.
Das 2 mil e 500 fotografias que fez durante os 15
dias que passou em Havana, ele selecionou 46 para o livro. Através das
imagens, retrata o presente, passado e futuro daquele país. O tempo
presente está nas fotografias que mostram a cultura, a sociedade e o
cotidiano. O passado, na história política, na arquitetura, nos
monumentos. E o futuro, nas crianças e na educação.
"Em Cuba não há fome; não existem crianças
desnutridas. Todas têm direito à educação. Dos estudantes que
concluem o 2º Grau, 95% ingressam na Universidade. Os 5% restantes
recebem reforço durante um ano só nas matérias em que têm
dificuldades, para depois também entrar", diz Teotônio, que
guardou as imagens do funeral de Che Guavara para a última parte do
livro.
Duas das fotografias tiveram repercussão nacional.
Uma foi publicada na revista Íris - A Revista da Imagem, com 50 anos de
circulação, editada em São Paulo; e a outra, na Paparazzi. A admiração
e o respeito dos cubanos por Guevara estão traduzidos nas bandeiras
empunhadas pelo povo e nas camisetas dos jovens, com o rosto do
revolucionário estampada nelas.
"As filas eram quilométricas. Para chegar até
onde estavam os restos mortais de Che, passava-se mais de 7h. Seu
funeral deixou o país em estado de comoção. Toda a Praça da Revolução
foi tomada por visitantes: estrangeiros, cubanos militares. A cidade
celebrava, ao mesmo tempo, despedida e reencontro", fala Teotônio,
que pôde, enfim, averiguar — e mais que isso — documentar como uma
ilha, um país tão pequeno como Cuba estava e continua sobrevivendo e
garantindo saúde e educação para todo o seu povo. E como o embargo
econômico imposto pelos Estados Unidos e a derrocada do socialismo no
leste europeu não haviam sido suficientes para pôr abaixo aquela
experiência socialista.
"Do ponto de vista político, a vida em Cuba é
a melhor vida do mundo. Existe alimentação, moradia, saúde, educação,
planejamento familiar para todo mundo; crianças e velhos vivendo com
dignidade. Se falta tijolo, cimento, giz, é por causa do embargo
americano", diz.
As semelhanças de Cuba com o Brasil, este país de
profundas desigualdades sociais, estão na alegria do povo e em sua paixão
pelo esporte.