há uma represa pronta para
transbordar.
nunca saberemos o que realmente somos.
a hipocrisia continua alerta.
acendo o lume e desprezo as rédeas.
o que esperar numa província, além
de regressos?
como ser numa metrópole onde a inquietude é lustre,
força curadora, teofania, deserto?
tomo conta de mim e me protejo.
sou minha filha e minha mãe.
as labaredas da infância estão queimando.
não tenho o dom de esquecer, por isso reinvento.
a morte me beija os lábios. e passa.
mansamente.
nasci meio calipso. meio circe. meio penélope.
finjo que teço. finjo que finjo. finjo.
estamos no limiar e a delicadeza é
inevitável.
ainda me lembro do meu cheiro quando me descobri mulher:
fêmea arrebatada por jovens aedos. blandiciosa. estrangeira.
que toda nau nos leve a ítaca
todo filho seja telêmaco, todo homem, ulisses.
toda ama, euricléia.
kórax era um homem e não uma ave.
uma ave é uma ave, e não um homem.
o teto é branco. o tejo é vasto. o tâmisa é triste.
o potengi é ícone.
e eu permaneço oblíqua. aconchegada
em penhascos.
rodeada de mar de hexâmetros.
viver é lento. mas querer é
urgente.
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