Para
Chomsky, Washington pratica terrorismo
Lingüista
vê futuro nas mãos dos que fazem o movimento contra o
neoliberalismo
Rita Casaro, Sindicato dos
Engenheiros/SP
"Nós
podemos ter certeza de que haverá um mundo sem guerras ou não
haverá mundo algum", afirmou o ligüista norte-americano
Noam Chomsky, durante palestra na sexta-feira, 1º de fevereiro.
Uma das principais estrelas presentes no Fórum Social Mundial
2002, Chomsky abriu a conferência "Um mundo sem guerras é
possível", que acontece até o dia 3, com diversos
painelistas.
Transmitido pela TV Educativa do Rio Grande do Sul e pela
Internet, ainda assim o depoimento atraiu uma legião de
admiradores de Chomsky ao Centro de Convenções da PUC, ansiosos
para ouvir as análises do professor, conseguir um autógrafo ou
mesmo um aperto de mão. Ele não decepcionou a platéia e
arrancou aplausos com as colocações sobre os "senhores do
universo", que se reúnem em Nova York para o Fórum Econômico
Mundial, numa espécie de encontro dos "ricos e
famosos". "Eles são o fórum e nos consideram o anti-fórum,
porque aqueles que que rejeitam esta globalização são tidos
como anti-globalizantes".
Chomsky condenou a postura ofensiva dos Estados Unidos, cujo orçamento
militar cresceu astronomicamente. "Os líderes do mundo têm
plena consciência de que estão promovendo uma corrida rumo à
destruição. E fazem isso em nome da defesa. Quando faltam
inimigos é preciso encontrar novos pretextos." Segundo ele,
foi assim que se chegou à guerra contra o terror, substituto da
URSS no papel do mal. "Depois de 11 de setembro, ela teve uma
nova edição e pode até dar o aval a guerras contra a América
Latina. Na Colômbia, já há violação dos direitos humanos com
apoio dos EUA."
Terror de Estado Segundo ele, não há como não
classificar a ação americana de terrorismo. "De acordo com
uma definição oficial dos Estados Unidos, a prática é a ameaça
de violência ou violência por causas políticas ou religiosas.
Isso coincide exatamente com as políticas oficiais da diplomacia
americana." Um exemplo entre muitos, disse Chomsky, foi a ação
contra o Afeganistão, em que o país foi ameaçado e atacado sem
que houvesse sequer provas de que os responsáveis pelo atentado
ao World Trade Center estivessem lá. "O mais fácil então
é dizer que terrorismo é aquele praticado contra nós",
ironizou.
A exemplo desse caso, em que a mídia faz a propaganda da versão
oficial sem questioná-la, o professor identifica os mesmos vícios
em questões também fundamentais. "A globalização dos
senhores do universo tem problemas que não são divulgados. Por
exemplo, a posição dos sindicalistas norte-americanos sobre o
Nafta, que reduziu emprego e salário nos três países."
Outra peça publicitária, para Chomsky, é o boom econômico da década
de 90. "Isso ocorreu apenas para um setor muito pequeno nos
Estados Unidos. A terra prometida é uma miragem: nos últimos dez
anos o crescimento dos países da América Latina foi inferior ao
período em que houve impulso estatal."
A questão, explica, é que a versão contemporânea da globalização
dá prioridade ao fluxo de capital, que sem regulamentação
impede a ação do Estado em benefício dos povos. Enquanto isso,
os serviços públicos são transferidos à iniciativa privada com
as conseqëncias conhecidas: tarifas mais caras e desemprego.
"O resultado final é mais mais crise e pobreza, o que
aumenta a probabilidade de guerra", conclui.
Num mundo em que cada vez mais o cidadão comum perde a fé na
democracia e na ação política e segue manipulado pelos grandes
interesses econômicos, ele acredita que uma iniciativa como o Fórum
Social Mundial possa ser a grande saída da esqueda. "A luta
contra esta globalização tem influência sobre os senhores do
universo e podem alterar o rumo das coisa. O futuro está na mão
das pessoas que fazem esse movimento", concluiu.
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