Os
EUA aprontam o Plano Colômbia
O
secretario norte-americano de Defesa para Operações Especiais já
não esconde o envolvimento militar dos EUA na Colômbia. Ele
desaguará numa guerra civil e num conflito internacional em
breve, a menos que a opinião pública internacional reaja
Miguel
Urbano Rodrigues*
Clinton
chegará à Colômbia no dia 30 deste mês. Essa visita do
presidente norte-americano tornou-se de repente tema de um grande
show midiático.
O
interesse dos analistas políticos tem fundamento. A intervenção
direta dos EUA na guerra civil colombiana não é ainda publica,
mas já começou. Segundo o comandante Ivan Rios, porta voz das
Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC-EP), dois mil
assessores norte-americanos já se encontram na Colômbia,
instalados em bases militares. Nas ultimas duas semanas o discurso
do presidente Andrés Pastrana mudou de tom e conteúdo.
A
visita a Bogotá do secretario norte-americano de Defesa para
Operações Especiais, Bryan Sheridan, clarificou o panorama político-militar.
Partidário da guerra total contra as FARC, ele fez, após um
encontro com o alto comando do exercito colombiano e com o
ministro da Defesa, Luís Fernando Ramirez, declarações à
imprensa que contribuíram para um aumento da tensão.
Contrariamente ao que o governo havia informado, Sheridan
reconheceu que cerca de 83 boinas verdes americanos encontram-se
em Larandia, no sul do pais, a somente 30 quilômetros da zona
desmilitarizada, e respondeu afirmativamente quando lhe
perguntaram se a sua missão era treinar os dois mil homens dos
novos batalhões de tropas especiais. Confirmou igualmente que
iria discutir com os militares colombianos a modernização do seu
exército sob a supervisão norte-americana. A Colômbia está
transformada numa semi-colônia.
Quase
simultaneamente, na Base de Tolemaida, perto de Bogotá, o
presidente Pastrana, depois de presidir às manobras das Forças
de Intervenção Rápida -- um corpo de elite -- pronunciou um
discurso de contornos agressivos.
Embora reafirmando que deseja a paz, afirmou: "Estamos preparados para a guerra". O ministro Luís
Ramirez foi muito mais
explícito
ao afirmar que, graças à ajuda recebida dos EUA, o Exercito está
agora preparado para levar a um desfecho vitorioso a luta contra
os rebeldes.
Armamento
sofisticado
Essa
ajuda não é apenas a dos boinas verdes norte-americanos.
Ao país já chegou a primeira remessa dos 75 helicópteros
de combate de último modelo que receberá no âmbito do Plano Colômbia
e um segundo avião Fantasma AC-47, considerado fundamental na
luta noturna contra as FARC-EP.
A
direita colombiana reagiu com euforia às declarações de
Pastrana e Ramirez. As organizações para-militares, pelo seu lado,
intensificaram as suas ações criminosas dirigidas contra
supostos simpatizantes das guerrilhas, sobretudo
camponeses. Segundo
as
FARC,
o total de pessoas assassinadas por esses bandos, em cumplicidade
com o exercito, é já superior a três mil.
Pastrana,
o pífio
A
internacionalização crescente da guerra civil não contribuiu
minimamente para a recuperação do prestigio do presidente
Pastrana. O balanço do seu governo é desastroso. A maioria dos
eleitores que votaram nele há dois anos tem hoje uma opinião
muito negativa sobre o político e o administrador.
Uma
sondagem recente, largamente divulgada, revela que 71% dos
colombianos consideram mau o seu governo.
A política econômica ultra-neoliberal é condenada por
82%, e 85% acham que a situação geral piorou desde que o atual
presidente tomou posse. Mais de 60% condenam as novas reformas.
O
presidente não cumpriu uma só das grandes promessas feitas
durante a sua campanha. O povo não esqueceu que Pastrana prometeu
criar rapidamente 300 mil postos de trabalho.
Entretanto, as demissões aumentaram, milhares de empresas
foram à falência e a taxa de desemprego, que era de 14%, atinge
o nível recorde de 20,4%. A corrupção e a violência também
aumentaram.
Washington
esquece a História?
O
dialogo que deveria levar à paz, sabotado pelos militares,
permanece atolado num pântano.
Enquanto reafirmava com insistência o seu desejo de paz,
Pastrana negociava com os EUA o Plano Colômbia, tão
ostensivamente intervencionista que a União Européia e o Japão
se distanciaram do projeto. Sob o manto da luta contra o narcotráfico,
o Plano, como se tornou transparente, abriu as portas à
internacionalização da guerra.
Em
Washington atribui-se a mais alta importância à Reunião de Cúpula
de Cartagena de Índias. A
Casa Branca e o Pentágono dão mostras de esquecer, mais uma vez
as lições da História. A Colômbia não é a Bósnia, nem o
Kosovo.
As
ultimas noticias de Bogotá e as advertências e apelos das FARC
parecem confirmar que a primeira etapa da intervenção direta
norte-americana na pátria de Nariño já começou.
A visita de Clinton no fim do mês poderá oficializar
aquilo que seria o prólogo de uma tragédia de proporções
continentais.
*O
português Miguel Urbano Rodrigues é analista político
internacional
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