Apresentação
Com o crescente
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa em nossos dias, e
devido a uma política pública voltada para a defesa dos interesses dos
pequenos grupos que os detém, torna-se cada vez mais necessário se
encontrar maneiras diferenciadas de expressão popular. Uma das saídas
é a produção de programas em vídeo no formato VHS (vídeo doméstico),
usado pelos movimentos populares.
Assim, surge a
TV Alerta Comunitária do bairro da Cidade da Esperança, Natal, RN,
pioneira em nosso Estado, que nos motivou a pesquisa sobre o assunto e
desenvolver o tema para o presente Projeto Experimental.
Apresentaremos
de maneira sucinta a história da comunicação desde os primórdios da
humanidade até nossos dias. Posteriormente analisaremos a comunicação
e suas relações, bem como as funções dos meios de comunicação de
massa modernos. Faremos também uma avaliação do uso e trato da
informação pelas estações de tevês comerciais, e a busca de outras
formas de comunicação originárias de movimentos populares.
Relataremos
a experiência da TV Alerta Comunitária, ao passo que verificaremos o
seu modo de produção e atuação junto à comunidade, fazendo um
confronto entre o discurso dos objetivos do grupo e sua ação prática.
Apontaremos,
ao final do trabalho, sugestões para que o grupo possa se tornar um
canal de expressão popular, onde os inovadores venha a ter voz e vez,
participando em todo o processo de comunicação.
Este
trabalho servirá de base para abrir a discussão de como a democratização
do acesso a informação pode ser alcançada de maneira expontânea,
partindo das bases populares.
Capitulo
1
COMUNICAÇÃO
SOCIAL
1.1
– Comunicação social na história:
O
conceito de comunicação social é algo tão antigo como o próprio
homem. Desde o uso de objetos naturais e artificiais como suporte
materiais de dados de mensagens, com intenção de memória, passando
pela fase pictórica ou de representação de objetos e situações
cotidiana através da pintura rupestre com finalidade mágico-religiosa;
também a fase ideológica ou de associação de símbolos pictóricos
representando, objetos, ações e idéias (hieróglifos), até a fase
fonética ou de representação de sons articulados da linguagem oral a
partir da invenção do alfabeto (na Fenícia, 3.000 a.C.). “Todo este
processo leva-nos a comprovar o interesse do homem pré-histórico em
manifestar suas possibilidades de comunicação, inerentes à sua essência
social”.
Notamos
pois, que desde cinquenta séculos, as diversas culturas vêm criando e
descobrindo meios de suportes materiais para o intercâmbio de
mensagens, que superaram os limites do emprego fugaz dos sinais de fumaça,
do fogo das tochas ou o “tam-tam” dos tambores, permitindo uma
conservação no tempo e uma circulação no espaço dos dados que
poderiam constituir e preservar a história dos respectivos povos.
Encontramos, assim a primeira preocupação para se encontrar formas de
expressão e conservação da cultura de um povo. Este trabalho se dispõe
a analisar os efeitos de uma forma de comunicação moderna, - o vídeo
- na tentativa de conservação dos costumes e hábitos de um grupo
social: a lição da TV ALERTA COMUNITÁRIA, no bairro da Cidade da
Esperança, em Natal/RN, nosso objeto de estudo.
“Ainda
dentro do processo histórico, as tábuas de argila que se coziam ao
fogo para que adquirissem dureza, assim como a pedra, o bronze e o cobre
gravado, serviram também como suportes materiais de mensagens
destinadas a perdurar e a circular através dos espaços geográficos.
Do mesmo modo que o papiro, o pergaminho e mais tarde o papel contribuíram
para o desenvolvimento da linguagem escrita como a modalidade
predominante da transmissão de mensagens á distância, no tempo e no
espaço. Entre suas finalidades prevaleciam a informação noticiosa ou
cronística e a expressão de idéias e sentimentos que tendiam a ser
compartidos, permitindo assim a evocação e a reatualização da história
nacional”. Atualmente destacamos o esforço de grupos populares, como
a TV Comunitária, na busca da conservação e atualização da sua história
enquanto se degladiam contra as forças dos poderosos meios de comunicação
de massa dos dias atuais.
“Fazendo
uma retrospectiva na história da comunicação, encontramos que a
informação noticiosa e a opinião pública tiveram suas origens e
foram desenvolvidas a partir de diversas modalidade e leis. Em 2.400
a.C., o império egípcio organizou um sistema de correios, com uns políticos
e comerciais. Por outro lado, as pedras gravadas e as tabuinhas de
madeira dos gregos, colocadas em Lugares públicos para que as mensagens
oficiais se tornassem conhecidas, constituíram a origem dos cartazes e
dos periódicos murais. Antecedentes históricos do moderno periodismo
foram também os ANNALI MAXIMI, onde os cronistas relatavam por escrito
os feitos mais importantes do ano, ocorridos em Roma e nas demais
cidades notáveis do império e, não podemos deixar de citar também as
ACTA DIURNA POPULI URBANA que constituíam o meio de informação do
cotidiano, e afixados em lugares públicos”.
A
semelhança do passados destacamos hoje as caixas de vídeo ambulantes
usadas pelos produtores da TV ALERTA COMUNITÁRIA, que levam informações
do cotidiano, baseados na realidade de vida, para lugares públicos
como: Igrejas, feiras-livres, bares, conselho comunitários, etc.
De
outra parte, o teatro grego e o romano constituíram-se numa forma de
comunicação social caracterizada pela sua capacidade de representação
simbólica dos atores e pela audiência indiscriminada de um público
derivado de vários setores sociais. As obras teatrais, nas quais se
combinavam música e comi com a recitação e os gestos dramáticos,
expressavam o passado mitológico, e reflexões sobre o destino do homem
e a contemporaneidade política. Algo bem semelhante é realizado na
comunidade da Cidade da Esperança que usa o teatro de marionetes para
informar, educar e entreter os espectadores.
“Avançando
para meados do século XV, vamos encontrar o momento em que ocorre o
aparecimento da imprensa, revolucionando todo o processo de comunicação
até então existente. Nos séculos posteriores, as tecnologias
relacionadas com a comunicação social foram se desenvolvendo em ritmo
acelerado. Pois, em 1814, ao invento da fotografia soma-se a fabricação
da primeira impressora a vapor. No mesmo século XIX, junto com o
invento da ferrovia, encontramos o aperfeiçoamento da navegação marítima
e fluvial a vapor e o surgimento de novos sistemas de transmissão de
mensagens à distância, que constituíram a base da telegrafia,
radiotelefonia e a televisão. O telégrafo de Morse, inaugurado em
1837, gera a possibilidade da difusão massiva da imprensa. Em 1877,
Graham Bell com a criação do telefono abre os horizontes para o
surgimento de mais um meio de comunicação: o rádio.
Por
sua vez a fotografia desemboca na invenção do cinema, cujas projeções
se iniciam a partir de 1895, e suas condições de espetáculo mudo só
é superada com a aparição da película sonora, em 1927 Porém, desde
a sua origem. além de sua função de entretenimento de massas, o
cinema se aplicaria também a formação de público através dos gêneros
documental, histórico e didático”.
O
avanço das tecnologias eletrônicas da informação se fez ainda mais
percebida nos últimos anos. Ao descobrimento da frequência modulada a
invenção de receptores de rádio e televisão, unem-se os satélites
de comunicação, os computadores, o videocassete, o vídeo tape, o
cd-room, até chegarmos à telemática, a transmissão de dados ã distância.
Dai, surge os conceitos e práticas dos meios de comunicação de massa
como elementos moldadores da chamada “aldeia global”. O mundo
“unido pela comunicação”. Aproveitamos ainda para esclarecer que
podemos considerar o videocassete juntamente com o aparelho de televisão,
elementos prioritários e que servem de suporte para a transmissão das
mensagens produzidas pelos que compõem a TV ALERTA COMUNITÁRIA, tema
do nosso projeto experimental.
Tudo
isso é verdadeiramente extraordinário. Mas, em meio a tudo esse
progresso surge um questionamento: todos os instrumentos e aparelhos
tecnológicos produziram, estão produzindo ou produzirão uma melhor
comunicação entre os seres humanos, em termos de convivência, diálogo,
compreensão e participação?
De
fato, os meios técnicos por si mesmo, por mais perfeitos e sofisticados
que sejam, jamais poderão produzir automaticamente a comunicação.
Todavia, podem provocá-la e contribuir para que seja uma realidade
segundo o uso intencional que se lhe der. E este será um dos motivos de
nossa discussão.
1.2
– Conceito de comunicação
Ao procurarmos
definir o que é comunicação, melhor é indicarmos o que não é, e,
com maior razão ainda quando confunde com tecnologias ou com
determinadas funções das relações humanas. Para alguns, a comunicação
não pode e nem deve se reduzir aos chamados “meios”. Pois, a idéia
de que a JX)5SC e o uso de aparatos tecnológicos, cada vez mais
sofisticados, é o que produz a comunicação, é partilhada por muitas
pessoas da sociedade, tida organizada. Uma mentalidade distorcida que
prioriza a técnica colocando o homem a serviço desta, em lugar de
ocorrer o contrário.
A
comunicação é ser definida por J. A. Paoli, como “o ato de relação
entre dois ou mais sujeitos, mediante o qual se evoca um significado”,
e a informação como “um conjunto de mecanismos que permitem ao indivíduo
retomar os dados de seu ambiente e estruturá-los de uma maneira
determinada, de modo que, lhes sirvam como guia de sua ação”.
1.3
– Idéias básicas de comunicação
Do
ponto de vista antropológico, segundo Ferrater Mora, “o termo
comunicação deve ser utilizado para designar o caráter das relações
humanas enquanto são, ou podem ser, relações recíprocas ou de
compreensão. O termo é sinônimo de coexistência ou vida com os
outros e indica o conjunto de modos específicos que pode adotar a
convivência humana, contanto que se trate de modos humanos, ou seja, do
modos nos quais fique a salvo certa possibilidade de compreensão. Os
homens formam uma comunidade, porque se comunicam e porque podem
participar reciprocamente de seus modos de ser, e dessa maneira adquirem
novos e compreensíveis significados”.
Portanto,
não é possível formularmos validamente uma definição de comunicação
se ficamos apenas no plano da descrição de alguns processos de
transmissão ou de significação. Devemos levar em consideração a
diferença entre as culturas particular e específicas de cada grupo e a
cultura universalmente considerada, que vai tomando forma a partir do
encontro entre as culturas particulares. Lamentavelmente, este encontro
ocorre simplesmente pelo uso indevido dos processos de comunicação: a
cultura dominante impõe seus modelos sobre as outras. Hoje, todavia, o
problema da comunicação intercultural e suas implicações ocupa lugar
central nas Ciências Sociais. Por isso, cresce em importância o
trabalho da TV ALERTA COMUNITÁRIA, quando busca resgatar os valores
culturais de sua comunidade.
Não
podemos falar de comunicação intercultural sem falar na planetarização,
citada por Marshall McLuhan, que na década de 60 desenvolveu os
primeiros conceitos de aldeia global na qual foi se formando o nosso
planeta com o desenvolvimento acelerado dos citados meios eletrônicos
de informação. Para ele, “as culturas de massa criadas pelos
modernos meios eletrônicos (sobretudo a televisão), e sua linguagem própria,
baseada na imagem, significava o surgimento de uma nova cultura popular
que ia permitir a comunicação entre os habitantes da aldeia global em
um mundo comprimido pelas redes eletrônicas de informação, de onde
deduzimos que não há a preocupação com o que se informa, a estes
meios basta, tão somente comunicar”.
Logo,
as idéias básicas de McLuhan podem ser resumidas assim:
*
Os meios tccnológicos são extensões de nossos sistemas
neuro-psíquicos e, desse modo, formam contexto vital que modulam e
moldam as pautas de nossas percepções do mundo e de nós mesmos. e,
desse modo formam contexto vital que modulam e moldam as pautas de
nossas percepções do mundo e de nós mesmos;
*
O meio é a mensagem (message) e a massagem (massage): as
:sociedade foram remodeladas muito mais pela natureza dos meios com que
os homens se comunicam, que pelo conteúdo da informação. Isto levou o
estudo a dividir a história humana em três idades sucessivas: a idade
tribal, a idade alfabética e a idade eletrônica;
*
Os efeitos da idade eletrônica são o que se chama de implosão,
movimentos de contração de uma cultura popular não alfabética,
dentro da qual a mente tende a uma percepção imediata e concreta da
realidade e a uma experiência comprometida e participante própria de
uma civilização dentro da qual a arte, o jogo e o espetáculo, isto é,
o recreativo prima sobre todos os demais;
*
A nova interdependência eletrônica volta a criar o mundo à
imagem de uma aldeia global, na qual o jornal é o mosaico comunal, o rádio
é o tambor da tribo e a televisão é preceptor da comunidade,
produzindo-se assim uma consciência mundial que supera as barreiras das
diferenças linguísticas e culturais.
Dessa
forma, as teses de McLuhan serão ponto de destaque no desenvolvimento
deste nosso estudo à medida que discutiremos o real papel desempenhado
pelos meios de comunicação no Brasil – sobretudo a televisão e sua
ação massificadora – e a busca de novas alternativas para uma fuga
ou amenização deste poder esmagador, por intermédio do uso dos meios
enquanto apenas meios para levar as comunidades ao resgate de sua própria
identidade e preservação de suas raízes culturais. E, o uso do
chamado vídeo popular é um destes meios, objeto principal de estudo
deste projeto.
1.4
– Comunicação de massa
a comunicação
de massa é um produto típico da sociedade industrial que surge na
primeira metade do século XIX, nos países capitalistas desenvolvidos,
porém, já é praticamente um fenômeno universal. Sob o conceito de
massa, entendemos ser aglomeração de indivíduos sem nomes e sem
rostos, dos quais só conta número. Se a industrialização concentra
grandes massas de operários em torno das fábricas, a comunicação de
massa concentra grandes massas em torno dos meios, particularmente em
torno da televisão.
Os
chamados meios de comunicação de massa, com o crescente
desenvolvimento tecnológico tornaram-se a principal forma de comunicação
“para os homens”. Isto porque se tornaram instrumentos de manipulação
dos que detêm seu poder de uso, no caso específico os governantes, políticos
e grupos empresariais com interesses particulares. Assim, “as informações
que transmitem, supostamente objetivas, transformam-se numa forma de
direcionamento social que permite o manejo de qualquer situação, daí
que com razão, muitos os intitulam meio de difusão, de transmissão ou
de informação.
“A
comunicação massificante não exita em preferir a quantidade à
qualidade, posto que quanto maior seja o número de receptores maior será
a área de influência social das mensagens emitidas e o poder de
controle sobre as grandes multidões”. Em contrapartida, devemos
destacar os movimentos populares que surgem com a finalidade de
transmitir informações que visem o bem estar, e a defesa dos
interesses da comunidade, como é o caso da TV Alerta Comunitária, a TV
comunitária da Cidade da Esperança, bairro de Natal/RN, que tenta
produzir programas de interesse tão somente da comunidade. O trabalho
desenvolvido pela TV comunitária tem como objetivo maior alcançar o público
da própria comunidade, fugindo assim do propósito das emissoras
comerciais, que buscam o máximo de audiência, no menor período de
tempo, simultaneidade e abrangência, graças ao uso de técnicas mais
requintadas e modernas.
|