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Textos
Guerrilha
do Araguaia: 40 anos depois, uma tentativa
de encontro com a História
23
de Abril de 2012
Jana
Sá*
Durante
mais de 500 anos, a história oficial
brasileira procurou ofuscar as lutas populares.
A sociedade via, assim, a sua própria
história com os olhos das classes
dominantes. Aqueles que ousavam desafiar
o estado atual dos acontecimentos, ou seja,
os subversores de cada época, se
não venciam, passavam à posteridade
como bandidos, enquanto a auréola
de herói contornava a fronte dos
defensores da lei e da ordem.
Uma
tentativa de apagar os vestígios
que as classes populares e os opositores
vão deixando ao longo de suas experiências
de resistência e de luta, num esforço
contínuo de exclusão da atuação
desses sujeitos na história.
Contudo, apesar da disritmia entre a informação
dos acontecimentos e a compreensão
histórica do processo, há
o momento em que se quebra o monopólio
do discurso oficial, e a opinião
pública passa a conhecer e discutir
os fatos revelados. Dá-se lugar à
História que não é
escrita apenas para a justificação
e a glorificação das classes
dominantes, a ótica das classes populares.
Procura-se desvendar o passado e contribuir
para libertação e não
servidão dos homens.
Tal é o caso da inclusão da
Guerrilha do Araguaia nos currículos
escolares de História. A proposta
encaminhada esta semana ao Conselho Nacional
de Educação (CNE) da Câmara
dos Deputados pretende manter viva a memória
de parte de uma história em que as
classes populares não foram meras
expectadoras dos fatos, mas produtoras dos
acontecimentos. Manter viva a memória
dos horrores da perseguição
política, da tortura, das mortes,
dos desaparecimentos, pois é este
o primeiro passo para garantir que tais
fatos não mais ocorram.
Movimento armado de contestação
política ao Regime Militar, concebido,
planejado, organizado e dirigido pelo Partido
Comunista do Brasil, entre os anos de 1966
e 1975, no sul do Pará, a Guerrilha
do Araguaia completou, no último
dia 12, 40 anos, e é hoje evocada
sempre que se trata de passar a limpo a
história do país.
A inserção da guerrilha na
História visa demonstrar que muitos,
como o meu pai, o norte-rio-grandense Glênio
Sá, insurgiram-se contra a intolerância
política que se abateu sobre nosso
país e pagaram um alto preço
para que pudéssemos hoje desfrutar
das liberdades políticas e individuais,
embora a luta por democracia e liberdade
seja uma jornada infinita.
A proposta que está em discussão
na Câmara dos Deputados representa,
assim, uma tentativa de não permitir
que a destruição da história
de homens e mulheres que se destacaram ao
longo de suas trajetórias de vida
se complete.
Buscar no passado o que nele foi esquecido
e abafado, ou seja, as personagens e os
episódios que foram sufocados e colocados
nas notas de rodapé da história
oficial é indispensável para
reconstrução da memória
histórica e uma dívida do
Estado com a Sociedade.
*Jana
Sá é jornalista e filha do
guerrilheiro do Araguaia Glênio Sá
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