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Glênio
Fernandes de Sá
Repressão no RN
Textos
Glênio
Sá: um legado de luta e de amor
Jana
Sá
Amar
um passado que ainda não passou e
recusar um presente que machuca. Esta é
a melhor definição para a
saudade presente no meu dia a dia há
21 anos, quando com a perda do meu pai em
26 de julho. Uma dor compartilhada com familiares,
amigos, correligionários e, em especial,
os trabalhadores, ao lado de quem Glênio
Sá travou incontáveis lutas,
colocando a disposição toda
sua força e energia para construção
de uma sociedade democrática e livre.
Militante de espírito cordato, extremamente
responsável para cumprir as tarefas
revolucionárias, aos 16 anos, já
tinha presente que ser comunista era uma
opção cotidiana.
A caminhada começa a ser desenhada
nos movimentos estudantis de 1966, ganha
forma com a Guerrilha do Araguaia (movimento
armado de contestação política
ao Regime Militar que ajudou na organização
e conscientização os camponeses
do Sul do Pará), uma forma superior
de resistência, e é concretizada
na luta pela reestruturação
e legalização do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB) no seu Estado, o Rio Grande
do Norte.
Com
a coragem e a paciência de quem fez
uma descoberta de vida na vivência
do sofrimento e a internalizou definitivamente
como sabedoria, nunca temeu sacrifícios
e riscos nem pensou em si mesmo ou em comodidades.
Como verdadeiro comunista não escolhia
tarefas. Estava disposto a realizar qualquer
missão designada pelo PCdoB.
Ao
ter sua vida e luta política atravancada
em 1990, aos 40 anos de idade, Glênio
Sá, ao mesmo tempo em que deixou
uma lacuna entre os quadros comunistas e
um grande vazio na família, partindo
quando eu ainda tinha seis anos, o meu irmão
Gilson nove e a minha mãe, Fátima
Sá, 33, deixou o que considero hoje
a maior herança: seu exemplo de vida
e de luta. Legado que representa hoje o
motivo de meu entusiasmo e amor pela vida
e pela luta política e partidária.
Em
2009, com elevado orgulho, acolhi a tarefa
de dar continuidade à sua militância
no PCdoB, porém em sua contemporaneidade.
Numa militância que deve observar
os horizontes de um novo modelo de desenvolvimento,
que passam necessariamente pelas batalhas
políticas progressivamente acirradas
pelas contradições do capitalismo
em crise.
Esta
militância, faço com os olhos
voltados para o meu pai, que figura entre
os protagonistas da Guerrilha do Araguaia,
heróis que corajosamente viveram
a energia utópica de seu tempo e
que compõem o seleto rol dos agentes
ativos da construção do sistema
de liberdades vigente.
Foi
esta a tarefa que acolhi, sabendo que para
realizá-la me deparava com as dificuldades
emocionais de uma filha que guarda ainda
hoje a doce lembrança de um exemplo
de companheirismo, afetividade e, acima
de tudo de amor. Com o aspecto de uma pessoa
que sabia seu papel na vida e vivia como
se tivesse ainda todo o tempo do mundo pela
frente, era capaz de dialogar sem perder
o prumo, com a profunda convicção
de que era possível trabalhar com
as diferenças. Corajoso, paciente
e compreensivo, só não arredava
pé dos princípios marxistas-leninistas.
Um misto de ousadia, coragem pessoal e afetividade,
capaz de despertar sentimentos muito vivos
ainda em mim.
Jana
Sá é jornalista e filha do
guerrilheiro Glênio Sá
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