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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 048 – 15/05/04

A Caravana de Mossoró produz ótimos resultados e fecha um ciclo de avanço da luta pelos Direitos Humanos no RN

A Caravana de Direitos Humanos que nas passadas quarta e quinta-feira, dias 12 e 13, atingiu Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, produziu muitos resultados, teve um forte impacto no município e – embora não tenha sido a de maior participação popular – destacou pela enorme visibilidade que teve na mídia: todas as rádios e jornais da região, os maiores diários do Estado e o jornal televisivo RN-TV da Rede Cabugi, filial potiguar da Rede Globo, deram ampla cobertura a todos os eventos destes dois dias de mobilização.

Tal repercussão – preparada por semanas de divulgação em rádios e jornais do município - e o amplo leque de temáticas enfrentadas, que a tornou a mais abrangente das Caravanas realizadas até hoje em cidades do interior do Estado, foram possíveis graças ao infatigável trabalho da comissão organizadora local, composta por múltiplas entidades e instituições e coordenada pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da seção regional da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) Evânio Araújo, a professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) Ivonete Soares, a professora da Faculdade Mater Christi e membro do Grupo Abolir de combate à discriminação racial Simone Cabral e a estudante de Direito da Faculdade Mater Christi Pâmela Maia.

A Caravana, organizada pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) de Natal, trouxe a Mossoró membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos, do Fórum de Mulheres do RN, da Corregedoria Geral da Defesa Social e o Ouvidor da Defesa Social, Marcos Dionísio de Medeiros Caldas. No primeiro dia e até a metade da conferência que concluiu a Caravana, esteve presente na cidade também o Coordenador de Direitos Humanos e Defesa das Minorias da Secretaria de Justiça, Fábio dos Santos.

As caminhadas realizadas pela manhã e à tarde do primeiro dia foram embuídas de massivas doses de arte popular, contando com a participação do poeta de cordel mossoroense Antônio Francisco, que declamou algumas das suas poesias, com espetáculos de dança do grupo de teatro de rua local Mandacaru e com aprentações da companhia mambembe La Trupe.

A arte popular impregnou também o evento de lançamento do jornal Tecido Social impresso e do CD-ROM Enciclopédia Digital de Direitos Humanos, na noite do dia 12, e a Conferência do dia 13 com emocionantes apresentações do artista de rua Júnio Santos e a participação da atriz e cantora mossoroense Tony Silva, que entoou o hino nacional brasileiro à capela.

As visitas temáticas, realizadas na manhã da quarta-feira, dia 12, por membros da delegação da Caravana junto com componentes da comissão local, registraram as dramáticas situações de exclusão, abandono e falta de dignidade que vivenciam os moradores de um acampamento de Trabalhadores Rurais Sem Terra em Baraúnas, os catadores do lixão de Cajazeiras, as meninas e os meninos hospedados no S.O.S Criança, os idosos depositados no abrigo Amantino Câmara e os doentes internados no Hospital Regional Tarcísio Maia. Também encararam o dia a dia de apinhamento, maus tratos, doenças e humilhações dos apenados na Cadeia Pública de Mossoró, na Penitenciária Mário Negócio e na Delegacia de Furtos e Roubos, além de constatar a falta total de estrutura e condições de atendimento dignas em que se encontra a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (a única do Estado depois das duas de Natal).

A caminhada pelo centro realizada na tarde do dia 12, com paradas temáticas nas principais praças da cidade, destacou pela ampla participação de entidades de defesa dos direitos da mulher e a presença dos familiares da professora de Natal Roberta Cláudia Bezerra Soares, bárbaramente assassinada pelo marido em novembro passado. Durante a caminhada, foi plantada uma árvore em um canteiro da Praça do Pax, simbolizando a semente que a Caravana deixou em Mossoró e que há de produzir muitos frutos.

A Caravana culminou, no dia 13, com a I Conferência Regional de Direitos Humanos de Mossoró, no Auditório do Sesi, que contou com a participação de mais de 100 pessoas. Nela foram abordados, em relativos grupos temáticos, um grande número de temas: Reforma Agrária e política agrícola, discriminação e preconceito racial, gênero e violência contra a mulher, soberania e trabalho digno, cidadania e meio-ambiente, exclusão social e sistema penitenciário, exploração sexual infanto-juvenil, direitos dos idosos.

Dos encontros temáticos surgiu uma grande quantidade de propostas, que reproduzimos a seguir e que, além de serem encaminhadas para os órgãos competentes, representarão o aporte da cidade para a IV Conferência Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte, no próximo dia 21 de maio, com a qual o Estado formulará seu aporte à construção do Sistema Nacional de Direitos Humanos que se dará na Conferência de Brasília de 29 de junho a 2 de julho.

A Conferência também produziu diversas moções, entre as quais destacamos a de repúdio à ausência de membros do Ministério Público que – apesar da cidade ter 16 promotores, de que todos eles receberam convite protocolado por parte da comissão organizadora e até de que um promotor tinha participado da primeira reunião da comissão e proposto um grupo temático – não apareceu nem para registrar presença. Um comportamento, este, que deve fazer-nos refletir sobre como esta instituição, que tem como dever constitucional a defesa dos Direitos Humanos, realmente age nos municípios do interior.

Os resultados mais imediatos da Conferência Regional de Mossoró foram de grande impacto: a constituição do Fórum Roberta Cláudia de combare à violência contra a mulher, que junta diversas entidades da cidade ao redor da luta comum contra a violência de gênero; a instalação da Comissão Permanente de Direitos Humanos de Mossoró – a primeira de um município do interior do país – que agrupa todas as entidades e instituições da comissão provisória que organizou a Caravana e que dota a cidade de um instrumento efetivo de denúncia, mobilização e cobrança de soluções no âmbito dos direitos fundamentais; o compromisso oficial da Ouvidoria da Defesa Social de ir a Mossoró uma vez por mês para receber e encaminhar as denúncias da cidade.

Um elo permanente foi criado entre as intituições e os mecanismos estaduais de defesa dos Direitos Humanos com sede na capital e a sociedade civil organizada de Mossoró, e este contato promete produzir mudanças significativas na promoção e proteção dos direitos da pessoa na segunda maior cidade do RN.

A Caravana e a Conferência de Mossoró fecharam o ciclo de 2004 de Caravanas de Direitos Humanos a municípios do interior do Estado (só haverá, antes da Conferência Estadual, uma Caravana Temática sobre Direitos Humanos e Saúde Mental e outra na Zona Oeste de Natal). As Caravanas foram uma experiência extremamente positiva que produziu resultados palpáveis: estabeleceu elos entre os movimentos e entidades dos municípios e das micro-regiões homogêneas com as intituições estaduais de Direitos Humanos, criou as condições para que a promoção destes direitos seja efetiva para as populações periféricas e permitiu que a Rede Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte deixasse de ser uma idéia e virasse uma realidade em permanente construção.

Redação de Tecido Social

Veja também:
- - PROPOSTAS DE MOSSORÓ - CONFERÊNCIA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS DE MOSSORÓ – RN

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