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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 039 – 01/05/04

MARACAJAÚ (MAXARANGUAPE)

O turismo só traz miséria e devassa o meio-ambiente

Por Mílton Restel Júnior

A recente implantação do turismo de massa nos parrachos de Maracajaú está destruindo o ecossistema local e ameaçando a sobrevivência da comunidade, que vive da pesca artesanal.

Cada empresa de passeios instalada nos parrachos tem sua cota de “passageiros” determinada pelos próprios empresários, fora de qualquer estudo feito por profissionais da área (biólogos, etc.). Com uma cota de turistas estabelecida por ela mesma a despeito de qualquer norma ambiental, cada empresa supera em muito o número do pescadores que há décadas sobrevivem da pesca no local sem prejudicar a vida marítima, que ficou totalmente devassada após a implantação do turismo.

A menor estimativa de passageiros da menor das empresas é de 100 pessoas por dia, a maior de entre 300 e 400 pessoas. Cinco empresas lançam diariamente mais de 10 embarcações, a sua maioria com motores que despejam óleo diretamente no mar. Todos os flutuantes que ficam instalados para o conforto dos turistas passam por limpeza diária que acaba por despejar detergentes e outros produtos químicos diretamente na água, encima dos parrachos. O uso descontrolado de pés-de-pato, protetores solares e bronzeadores tem deixado uma macha de óleo que, somada às deixadas pelas lanchas, é extremamente danosa para o frágil ecossistema dos parrachos.

Nada do que os empresários faturam às custas da comunidade é retornado em forma de incentivo ou investimento nela. Toda a ação dos empresários das lanchas visa somente à exclusão do pescador artesanal, que em pequenas embarcações a vela tira o sustento dele e da sua família daquele local a mais de 200 anos.

O que assistimos é o um modelo de desenvolvimento insustentável e irresponsável que favorece o enriquecimento fácil de empresários sem escrúpulos, que não se importam minimamente com as conseqüências do turismo para aqueles que têm seu direito à subsistência ameaçado de forma irremediável.

Nenhum benefício é trazido à cidade pelas empresas de turismo, a não ser a contratação de mão-de-obra barata, pois os empresários moram em Natal e os turistas que chegam a Maracajaú almoçam nas dependências destas empresas. Os empresários do turismo não mostram sequer interesse para que artesãos locais exponham seus trabalhos, porque todas as empresas possuem salas com artesanato em Natal. Todo este complexo turístico é uma trágica farsa que mascara uma realidade de miséria e exclusão por ele mesmo promovida.

Veja também:
- Ceará-Mirim e Maracajaú: Caravana de Direitos Humanos em comunidades e assentamentos da zona rural
- RIO DOS ÍNDIOS (CEARÁ-MIRIM). Um resquício indígena no vale do Ceará-Mirim

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