MARACAJAÚ
(MAXARANGUAPE)
O turismo só traz miséria e devassa o meio-ambiente
Por
Mílton Restel Júnior
A
recente implantação do turismo de massa nos parrachos de Maracajaú
está destruindo o ecossistema local e ameaçando a sobrevivência
da comunidade, que vive da pesca artesanal.
Cada
empresa de passeios instalada nos parrachos tem sua cota de
“passageiros” determinada pelos próprios
empresários, fora de qualquer estudo feito por profissionais
da área (biólogos, etc.). Com uma cota de turistas estabelecida
por ela mesma a despeito de qualquer norma ambiental, cada
empresa supera em muito o número do pescadores
que há décadas sobrevivem da pesca no local sem prejudicar
a vida marítima, que ficou totalmente devassada após a implantação
do turismo.
A
menor estimativa de passageiros da menor das empresas é de
100 pessoas por dia, a maior de entre 300 e 400 pessoas. Cinco
empresas lançam diariamente mais de 10 embarcações, a sua
maioria com motores que despejam óleo diretamente no mar.
Todos os flutuantes que ficam instalados para o conforto dos
turistas passam por limpeza diária que acaba por despejar
detergentes e outros produtos químicos diretamente na água,
encima dos parrachos. O uso descontrolado de pés-de-pato,
protetores solares e bronzeadores tem deixado uma macha de
óleo que, somada às deixadas pelas lanchas, é extremamente
danosa para o frágil ecossistema dos parrachos.
Nada
do que os empresários faturam às custas da comunidade é retornado
em forma de incentivo ou investimento nela. Toda a ação dos
empresários das lanchas visa somente à exclusão do pescador
artesanal, que em pequenas embarcações a vela tira o sustento
dele e da sua família daquele local a mais de 200 anos.
O
que assistimos é o um modelo de desenvolvimento insustentável
e irresponsável que favorece o enriquecimento fácil de empresários
sem escrúpulos, que não se importam minimamente com as conseqüências
do turismo para aqueles que têm seu direito à subsistência
ameaçado de forma irremediável.
Nenhum benefício é trazido à cidade pelas empresas de
turismo, a não ser a contratação de mão-de-obra barata, pois
os empresários moram em Natal e os turistas que chegam a Maracajaú
almoçam nas dependências destas empresas. Os empresários do
turismo não mostram sequer interesse para que artesãos locais
exponham seus trabalhos, porque todas as empresas possuem
salas com artesanato em Natal. Todo este complexo turístico
é uma trágica farsa que mascara uma realidade de miséria e
exclusão por ele mesmo promovida.
Veja
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- RIO DOS ÍNDIOS (CEARÁ-MIRIM).
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