No
Encontro dos 10 anos o MNDH reafirma a luta pela vida
Brasília
— Com a participação de 131 delegados e representantes de 30
entidades convidadas, o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)
realizou em Brasília, de 26 a 31 de janeiro de 1992, o seu 72
Encontro Nacional, que marcou o 102 aniversario de sua fundação.
O Movimento foi constituído em janeiro de 1982 por representantes
de aproximadamente 30 organismos de direitos humanos que se
reuniram no Centro Franciscano de Espiritualidade e Pastoral (CEFEPAL),
em Petrópolis (RJ).
Um
dos destaques do 72 Encontro foi a entrega do 42 Prêmio Nacional
de Direitos Humanos ao teólogo franciscano Leonardo Boff no dia
29 no Teatro Dulcina, com a participação de representantes de
comunidades cristãs, de partidos políticos e de embaixadas.
Entre
os participantes, estiveram o presidente nacional do Partido dos
Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema,
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
500
anos — Os debates do 7º Encontro foram realizados no centro de
reuniões da Confederação Nacional de Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG). Na sessão de abertura, dia 26 às 20 horas,
a professora Marisa Formolo Dalia Vecchia, secretária de formação
do MNDH, afirmou que “se olharmos para a história do Brasil e
da América Latina, nos últimos 500 anos, iremos verificar que a
luta pela vida vem de muitos séculos”. Destacou que um dos
objetivos do Encontro era o de avaliar a contribuição especifica
do Movimento, na luta pelo direito à vida, nesses 10 anos de
atividades.
Na
mesma sessão, os oito regionais do MNDH fizeram a apresentação
dos seus delegados, através de expressões culturais e artísticas
marcadas pela criatividade e pela participação.
Novo
conceito — O primeiro dia de trabalho integral do encontro —
na segunda-feira, 27 — foi dedicado a uma ampla avaliação dos
10 anos do Movimento. No início da manhã, o secretario executivo
do MNDH, Augustino Veit, apresentou uma avaliação sintética
dos trabalhos realizados pelo Movimento na última década.
Lembrou
o contexto das lutas iniciais do Movimento — ainda no período
da ditadura militar — em favor da redemocratização do país e
pela concretização dos direitos sociais, econômicos, políticos
e culturais.
Citou,
em seguida, os principais momentos da história do MNDH, destacando
o estabelecimento das primeiras prioridades — terra, trabalho
e luta contra a violência —, além da estruturação do Serviço
de Intercâmbio Nacional (SIN) e da criação dos regionais, do
Conselho Nacional e da Secretaria Executiva.
Como
principal resultado da atuação do Movimento nesse período,
Augustino apontou o desenvolvimento de uma concepção alternativa
de direitos humanos. Esta concepção supera as limitações do
conceito liberal-burguês nesse campo e apresenta os direitos
sociais numa posição de precedência diante dos anteriores.
Na
avaliação de Augustino, a experiência acumulada pelo MNDH
indica, inclusive, a possibilidade da formulação de uma carta
alternativa de direitos humanos a partir da realidade brasileira
e latino-americana. A caminhada percorrida pelo Movimento
—enfatizou — sugere ainda o desafio de aprofundai a Carta de
Princípios do Movimento, aprovada em Olinda (PE), em 1986.
Veit
destacou finalmente o caráter dialético da luta pelos direitos
humanos, que assume características próprias de acordo com
os momentos e as circunstâncias históricas. Neste contexto,
muitas vezes, os organismos que integram o Movimento atuam de
forma imediatista, emergencial e reativa. Noutras vezes,
engajam-se de forma decisiva nas lutas mais gerais da sociedade
civil.
Nesse
decênio, o MNDH incorporou-se decisivamente às lutas sociais
pela conquista de direitos na nova Constituição Federal, nas
Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas Municipais.
Contribuiu para a aprovação do Estatuto da Criança e do
Adolescente e testemunhou o paradoxo entre o discurso deste
texto legal —um dos mais avançados do mundo — e a realidade
do extermínio de menores, na qual o Brasil é um dos recordistas
mundiais.
Ainda
em sua avaliação/síntese, Augustino colocou em debate o desafio
da variedade de frentes de atuação do Movimento em confronto com
a necessidade de uma ação mais orgânica, mais efetiva e
articulada em nível nacional, regional e local.
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