Documentos
Relativos ao III Encontro Nacional de Direitos Humanos
Os
documentos que divulgamos a seguir dizem respeito ainda ao III
Encontro Nacional de Direitos Humanos, realizado cm Vitória, ES
(cl.
SEDOC 171 — maio/1984, cols. 1091s).
I
– RELATÓRIO GERAL
1.
DANDO SEQUÊNCIA AO II ENCONTRO
a
O
SIN (Serviço de Intercâmbio Nacional), durante o período
compreendido entre fevereiro de 1983 e janeiro de 1984, procurou
aperfeiçoar e aprofundar sua atuação no sentido de melhor
cumprir as atribuições a ele delegadas durante o II Encontro.
Sempre norteado pelos objetivos iniciais de sua criação
(divulgar, apoiar, incentivar e fortalecer a união da luta em
defesa dos direitos humanos, sobretudo 05 direitos dos mais
empobrecidos e marginalizados), o SIN desenvolveu novas
iniciativas que foram em parte analisadas e avaliadas durante o
III Encontro. Com o intuito de preservar a memória da caminhada
efetuada por aqueles que lutam pela justiça, relatamos as
atividades do SIN, referentes a esse período, classificando-as
segundo seus objetivos específicos:
a)
Atividades de informação e de solidariedade às lutas pela
defesa dos direitos humanos desenvolvidas pelos participantes do
SIN:
Memorandos:
foram expedidos 85. Segundo conteúdo de suas denúncias,
podemos grupá-los sob os grandes tem as surgidos durante os trabalhos
do II Encontro Nacional de Direitos Humanos. Questões relativas
à TERRA: 41 (32 referentes à área rural, 6 areferentes ao uso
do solo urbano, 4 referentes às terras indígenas). Questões
relativas ao TRABALHO: 13 (2 referentes a conflitos entre patrões/sindicatos,
4 referentes a conflitos entre sindicatos/estrutura de poder, 6
referentes a conflitos entre patrões/empregados). Questões
relativas à REPRESSÃO: 26 (7 referentes à violência
policia!, 7 referentes ã violência entre países dominadores e
aqueles dominados, 9 referentes à repressão intereclesial, 3
referentes à repressão exercida sobre a imprensa). Questões
diversas: 5 (4 referentes à deficiência de assistência médica).
—
Circulares informativas: foram expedidas 25. O conteúdo das
circulares abrange a divulgação de cursos, seminários e
palestras significativos para aqueles que lutam pela justiça,
como também o relato de fatos não divulgados pela imprensa
oficial e que são importantes para a caminhada de defesa dos
direitos humanos.
—
Levantamentos Bibliográficos: foram expedidos 8. Iniciativa
nova, essas circulares informam sobre o material produzido pelos
diversos movimentos populares, religiosos ou não, como subsídios
para a defesa dos direitos do povo, com o intuito de facilitar sua
divulgação e seu acesso aos participantes do SIN. O material
compreende livros, jornais, revistas, boletins, cartilhas e livretos
recebidos pelo SaIN.
—
Boletim n. Zero Experimental: tentativa de veicular as informações
recebidas de forma mais organizada e de criar espaço novo para a
palavra daqueles que lutam pela justiça.
—
Cartazes de Campanha Nacional pela Reforma Agrária: apoio para
a confecção e para a divulgação.
b)
Atividades de divulgação e ampliação da luta pela defesa dos
direitos humanos:
—
Participação de representantes do SIN em Encontros Nacionais e
Congressos: Semana de Educação Popular na Universidade Metodista
de Piracicaba, SP; III Encontro Nacional do Movimento de Defesa
do Favelado em Salvador, BA; V Encontro Intereclesial das CEBs em
Canindé, CE; Encontro de Agentes de Projetos apoiados pela CESE
sobre “Fome e Seca” em Salvador, BA; Congresso Ecumênico
Latino-Americano sobre «O Sofrimento Humano e o Compromisso
Cristão na América Latina», promovido pela Associação
Internacional Stauros, em Itaci, SP; l2º Congresso Brasileiro de
Coniunicação Social em Recife, PE.
a
—
Cartilha “Vamos defender nossos direitos”: elaboração feita
pelo SIN, a partir do Documento final do II Encontro Nacional Ecumênico
de Direitos humanos com o objetivo de transformá-lo cm pistas
para a reflexão de grupos populares sobre as violações dos
direitos humanos e suas causas. Devolver ao povo os instrumentos e
mecanismos de defesa de seus direitos.
—
Cartazes do III Encontro Nacional Ecumênico de Direitos
Humanos: elaboração, produção e distribuição.
c)
Atividades de manutenção e ampliação de apoio financeiro que
garanta a infra-estrutura minima necessária para o prosseguimento
das lutas:
—
Renovação do Projeto para a CESE (Coordenadoria Ecumênica de
Serviço): apoio financeiro para a manutenção do SIN, para a
realização dos encontros regionais e nacional.
—
Renovação do Projeto para a Açaão Quaresmal Suiça: apoio
financeiro para as despesas de locomoção dos participantes do
Encontro Nacional. Ao final do segundo ano da caminhada coujunta
iniciada com o 1 Encontro de Petrõpolis, RJ são nitidos dois
avanços significativos. Por um lado, o crescente interesse em
participar do SIN: em janeiro de 1983 o número de endereços era
de 140 unidades atingindo um montante de 2 em janeiro de 1984. Por
outro lado, os regionais aprofundaram sua articulação local e,
em todos, ;icotitecerani os encontros regionais para maior integração
das lutas pela defesa dos direitos humanos.
2.
PREPARANDO O III ENCONTRO
A
fase de preparação do encontro nacional teve início cm julho de
1983 com a 1ª circular remetida pela equipe organizadora
(Comissão Justiça e Paz de Vitória, ES) aos participantes do
SIN. A proposta visava «garantir a plena democracia e participação
na formulação do conteúdo» do Encontro e também «garantir
que venha a se atender da melhor forma possível, aa expectativa
das entidades». Sugeria-se então que a reflexão face ao
encontro e respectivas sugestões acontecessem em três níveis:
—
“que cada entidade reúna-se para uma avaliação do
encontro anterior (aqui a circular se reporta ao encontro de São
Paulo) e principalmente para tirar sugestões quanto ao conteúdo
e a dinâmica do III Encontro;
—
que seja realizado um encontro regional (com o mesmo objetivo);
—
a realização de um encontro de regionais, com 1 ou 2
representantes de cada regional».
Foram
também enviados subsídios para auxiliar a reflexão proposta,
procurando articular a teoria e a prática. «Em nossa luta,
precisamos visar duas coisa basícas: sólida fundamentacão para
a luta (preparo teórico-prático, clareza quanto as razões pelas
quais se luta, objetivos a alcançar e coerência entre os
objetivos e os meios utilizados) e necessidades de eficácia, isto
é, é preciso alcançar resultados concretos
preparar-se para render o máximo em cada tarefa que se cumpre
. A luta pelos direitos humanos é seríssima e cheia de riscos,
“a luta pelas maiorias oprimidas contra as minorias
dominantes”.
Apesar
dos insistentes pedidos de colaboração da comissão organizadora
do encontro, poucas foram as respostas recebidas. A dificuldade de
infra-estrutura das entidades, o excesso de atividade causado pela
crescente deterioração das condições de vida do povo, o
insuficiente número de pessoal engajado, a carência de recursos
materiais e financeiros são sérios obstáculos para a atuação
local das entidades e, sobretudo, para sua articulação regional,
impossibilitando-as de participaçao mais incisiva na articulação
nacional. No entanto é indiscutível o empenho realizado mie
resultou em participação bem mais vigorosa do que aquela do II
Encontro.
Ponto
alto da fase preparatória do III Encontro foi o Encontro de
Regionais realizado no Rio de janeiro, nos dias 5 e 6 de novembro
de 1983, com a participacão de representantes de todos os
regionais, do SIN e da comissão organizadora. Seus objetivos eram
os seguintes:
—
discutir e definir, a partir das propostas recolhidas, o temário
e a dinâmica do III Encontro
—
definir algumas questões práticas importantes para o bom
andamento do mesmo;
—
levantar questões a serem aprofundadas no III Encontro em relação
à articulação entre as entidades (SIN, IV Encontro, Campanhas,
Movimentos Populares, etc.) e, finalmente, fazer com que todos
os Regionais participem da organização do III Encontro e se
sintam efetivamente responsáveis no sentido de fazer com que o
mesmo se torne uma arma eficaz na nossa luta em defesa dos
direitos humanos». Oportuno torna-se relatar aqui algumas conclusões
significativas para posterior avaliação do encontro.
a)
Definição do conteúdo:
1º
tempo — a conjuntura, os direitos humanos e o modelo sócio-político-econômico;
2º tempo – a prática das entidades frente à conjuntura; 3º
tempo – a busca da eficácia e a articulação nacional; 4º
tempo – encerramento: moções, documento final, decisões
a sobre o próximo encontro e celebração final.
b)
Dinâmica:
1º
tempo – reflexão em grupos para levantamento de questões a
partir das experiências vivenciadas pelas entidades; 2º tempo
– plenário com o relato das conclusões dos grupos; 3º tempo
– intervenção do assessor competente sobre as questões
levantadas; 4º tempo – debate em plenário; 5º tempo –
levantamento das questões mais significativas para novo
aprofundamento em grupos, recomeçando-se o ciclo. Observa-se que
a dinâmica escolhida visava encaminhar o processo reflexivo a
partir da prática individual das entidades. Os passos seguintes
(análise da realidade, informações acerca de questões
relevantes, pistas de ação comuns) surgem como consequência
natural do processo desencadeado.
c)
Assessoria:
“O
Encontro terá dois assessores permanentes, Frei Leonardo Boff e
Hebert José de Souza, que já estão participando da preparação
a
do mesmo. Sua função é assessorar todos os passos, até o término
do Encontro. Participam da Direção do Encontro. Teremos também
assessorias especificas”.
d)
Questões práticas:
Foram
discutidos e definidos também a data do encontro, seu regimento
interno, a presença de convidados especiais, a importância e o
caráter das celebrações, o contato com a imprensa, a importância
e o espaço de atuação dos representantes dos movimentos de
defesa dos direitos humanos em áreas especificas, e outros.
Quanto á elaboração de um documento final concluiu-se:
“por
ser o encontro um momento forte de denúncia optamos, em lugar
de fazer um documento final, por um Manifesto a ser feito no final
do encontro, o que facilitará a sua divulgação mais ampla,
inclusive, na própria imprensa. Levamos também em consideração
o fato de que o documento do II Encontro é riquissimo e ainda
atual”. Finalmente deliberou-se que «a direção do encontro
será formada pela comissão encarregada da preparação do
encontro, pelos dois assessores permanentes e mais três
representantes das Entidades presentes a serem escolhidos no 1º
dia. É a responsável pelo anadamento geral do encontro”.
O
relatório completo do Encontro de Regionais e algumas pistas para
a avaliação dos mecanismos de articulação nacional,
inclusive o SIN, foram distribuídos para todos os participantes
do SIN com bastante antecedência (novembro de 1983) no sentido de
que todos pudessem estar bern informados da organização e
encaminhamento do III Encontro facilitando assim sua participação.
3.
O ENCONTRO ACONTECENDO
O
III Encontro Nacional Ecumênico de Direitos Humanos realizou-se
no CALIR, Centro de Aperfeiçoamento de Lideres Rurais, situado
em Vitória, ES. Desde a Abertura, na tarde do dia 25 de janeiro
de 1984, até a celebração de encerramento, Assembléia que
contou com a participação dos cristãos das CEBs daquela região
no final da tarde do dia 28, representantes de oitenta e sete
a Entidades (58 Centros de Defesa de Direitos Humanos e Comissões
Justiça e Paz + 29 grupos ou movimentos que defendem os direitos
humanos em áreas especificas) refletiram e aprofundaram teoria
e práticas da defesa dos direitos humanos.
3.1.
Abertura (25-1-84)
a)
Os trabalhos de Plenário do III Encontro foram iniciados sob a
coordenação do Presidente da Comissão Justiça e Paz de Vitória,
Rogério Coelho Velho, que deu boas-vindas aos presentes e
convidou o Padre Alberto Fontana e o Penedo para comporem a mesa
coordenadora dessa 1ª sessão.
b)
Saudação de D. João Batista, Arcebispo de Vitória.
Despojado
de formalismo, em tom fraterno e palavras simples, Dom João fala
do quanto a Arquidiocese de Vitória se rejubila de poder sediar o
III Encontro. Alegra-se ele proprio de estar presente e abrir os
trabalhos. Saudações a todos, aos bispos presentes (Dom
Silvestre Luís Scandian, Dom Aldo Gema, Dom Tomás Balduino, Dom
José Gumes presidente da CPT, Dom Affonso Gregory –
a representante da Linha 6 da CNBB) e, em especial, aos pastores
evangélicos e à Pastora Marga Rothe da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana do Brasil, de Belém, PA. Lembra a exortação
de João XXIII na encíclica “Pacem in Terris”: não seremos
cristãos se não observarmos os direitos humanos. Conhecê-los,
respeitá-los e pô-los em prática. Foi uni passo importante na
caminhada dos direitos humanos, o início da tomada de consciência
pela Igreja. Paulo VI confirma a necessidade de se lutar pela
justiça. Dom João continua afirmando que na convivência humana
não pode deixar de haver direitos humanos: direitos inalienáveis
que são direitos divinos, na medida que somos a imagem de Deus.
Defender os direitos humanos é um grito de denúncia onde é
indissolúvel a relação entre direitos e deveres. No Brasil, se
não houver esse grito, não haverá independência e liberdade do
povo. Finalizando, chama atenção para um ponto que considera
fundamental: “Devemos nos preocupar e chamar atenção sobre
os direitos do homem para que esta pátria mereça ser chamada de
cristã. Estamos aqui hoje reunidos no Evangelho de Cristo. E
Ele se apresentou como Homem e como Profeta apesar de ser o Filho
de Deus”.
c)
Apresentação dos participantes.
Dando
prosseguimento aos trabalhos, os grupos presentes apresentaram-se
a por Estado para facilitar o seu entrosamento.
Região
Norte
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Acre.
—
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
—
Sociedade Rondoniense de Defesa dos Direitos Humanos.
Região
Nordeste
—
Comissão Justiça e Paz de Salvador.
a
—
Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese
de Fortaleza.
—
Centro Interparoquial de Defesa dos Direitos Humanos de Senador
Pompeu e Milhã, CE.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraiba.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos/ Assessoria e Educação
Popular, PB.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Garanhuns, PE.
—
Comissão Justiça e Paz de Olinda e Recife, PE.
—
Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Natal, RN.
a
Região
Leste 1 (Minas Gerais)
—
Comissão Pastoral dos Direitos Humanos de Belo Horizonte.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Betim.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Coronel Fabriciano.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de jtiiz de Fora.
—
Comissão dos Direitos Humanos de Poté.
—
a Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Santos Dumont.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Uberlândia.
—
Centro de Defesa dos Direitos 1-lumanos de Viçosa.
Região
Leste 2 (Espírito Santo)
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Linhares.
—
Comissão Justiça e Paz de Vitória.
-—
Presbitério de Vitória.
a
Região
Leste 3 (Rio de Janeiro)
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Duque de Caxias.
—
Comissão Diocesana de Justiça e Paz de Nova lguaçu.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos dc Petrópolis — GAJP.
—
Secretariado Pró-Justiça do Movimento Familiar Cristão do
Rio.
—
Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
—
a Comissão Pró-Centro de Defesa dos Direitos Humanos de S. João
de Meriti.
—
Comissão Justiça e Paz de Volta Redonda.
Região
Sul 1 (São Paulo)
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco.
—
1º de Maio – Centro de Documentação e Comunicação Popular
de Piracicaba.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Araçatuba.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Campinas.
—
Comissão da Pastoral dos Direitos Humanos de Osasco.
—
Equipe Regional de Direitos Humanos de São Miguel Paulista.
—
Comissão Justiça e Paz.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Núcleo Santos – Boqueirão.
—
Comissão Pastoral de Defesa dos Direitos Humanos de Itapecerica
da Serra.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Setor Interlagos.
—
Centro Oscar Romero.
—
Comaissão Regional de Direitos Humanos da Lapa.
—
Centro Carlos Alberto Pazzini de Direitos Humanos.
—
Centro Santo Dias de Direitos Humanos. Comissão Pastoral dos
Direitos Humanos e Marginalizados da Arquidiocese.
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Sapopemba.
—
Centro de Defesa de Vila Paulistana. Centro de Defesa dos Direitos
Humanos de Santo André.
Região
Sul 2 (PR - SC - RS)
—
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Ponta Grossa.
??•?a/font>/span>
—
Comissão Justiça e paz do Paraná. Centro de Defesa dos Direitos
Humanos de Joinville.
—
Comissão Justiça e Paz de Florianópolis.
—
Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre.
—
Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo.
Região
Centro-Oeste
—
Comissão Justiça e Paz de Goiânia.
—
Programa de Direitos Humanosa da Universidade Católica de Goiás.
—
Comissão justiça e Paz de Mozarlândia. Centro de Direitos
Humanos «Henrique Trindade» de Cuiabá.
—
Centro Pastoral do Rosário de Cuiabá. Fizeram também sua
apresentação os representantes das entidades e movimentos que
defendem os direitos humanos em áreas específicas canaIi, indo
seus esforços na defesa de determinada classe ou enfocando uma
questão em especial assim como os assessores e pessoas
convidadas.
—
Conselho Indigenista Missionário – CIMI.
—
Conselho de Pastoral da Terra — CPT.
—
Grupo União e Consciência Negra.
—
Movimento de Reintegração do Hanseniano – MORHAN.
a
—
Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE.
—
Comissão de Direito á Moradia de Vitória.
—
Comitê
Popular de Teófilo Otoni.
—
Centro
de Pastoral Vergueiro de São Paulo.
—
Serviço de Assistência Rural – SAR – de Nata!.
—
Anistia Internacional — Grupo Brasil.
—
União Cristã Brasileira de Comunicação Social – UCBC.
—
Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia – MLPA.
—
Ordem dos Advogados do Brasil – OAB.
—
Comitê “Juvêncio Mazzarolo”.
—
Gabinete de Assessoria Jurídica ás Organizações Populares de
Recife.
—
Comitê de Solidariedade da Universidade Metodista de
Piracicaba.
—
Serviço de Justiça e Não-Violência.
—
Comitê de Solidariedade aos Povos da Américaa Latina.
—
Movimento de Defesa dos Favelados.
—
Comitê Cristão de Solidariedade com El Salvador “Dom Oscar
Romero”.
—
Diocese de Viedma, Rio Negro – Argentina.
—
Lutheran World Relief (Apoio Luterano Mundial).
—
CNBB – Linha 6.
—
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil CONIC.
—
Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil – 1ª Região.
—
Editora Vozes – Revistas Puebla e SEDOC.
—
O São Paulo.
—
Direitos Humanos – “Sem Fronteira”.
d)
Celebração.
A
celebração dessa noite de abertura ficou a cargo dos grupos da
região norte e foi coordenada pela Pastora Marga. Com o
objetivo de reforçar o caráter ecumênico, e até totalmente
aberto, da luta pela justiça, no encontro de regionais
decidiu-se centrar as celebrações na vida, sofrimentos e vitórias,
dos que constroem esse caminho. Na luta verdadeira, na perseguição,
na caminhada sofrida, enfim, nas questões concretas que ameaçam
a vida, as filosofias e as teorias são relativizadas, as divergências
se diluem porque é na práxis que a profunda comunhão se
realiza. O celebrar adquire vida e vigor quando encarnado na vidaa
que o povo vive. Os cantos, as orações, as leituras e os gestos
reforçam o caminhar, aumentam a resistência, semeiam esperança
e enraizam a fé. Assim é que o canto escolhido para iniciar a
celebração falava de sofrimento, da realidade, mas apontava
para arrozais em flor, colheita e comunhão. Marga explicou que
o canto “Alvorada” foi composto em homenagem ao “Gringo”,
posseiro assassinado pelos latifundiários na região do Araguaia,
sendo atualmente o hino oficial do MLPA. “Quero entoar um
canto novo de alegria / ao raiar aquele dia de chegada ao nosso chão.
Com meu povo celebrar a alvorada / minha gente libertada, lutar
não foi em vão”. Leituras: Isaías .53,3-12 e Tiago 5,1-8.
Palavras e intenções colhidas: José Grangeiro, carpinteiro do
Acre, introduziu as orações de adoração e louvor pelos benefícios
experimentados em tempos de perseguição dizendo: “Deus me fez
descobrir o valor de lutar e ajudar os irmãos. É arriscar-se.
Mas não temos medo pois sabemos que Deus está conosco e quer a
libertação de todos. Que nós, alimentados pelo Espírito do Senhor,
saiamos mais fortes e levemos para os irmãos de nossos Estados a
experiência que vamos viver aqui”. — Marga, comentando as
leituras: “Não somos neutros pois ninguém pode ser neutro. São
os deuses da morte que lucram com a neutralidade dos homens e dos
cristãos. Paciência é diferente de acomodação e
passividade; hasta olhar o lavrador”. – Frei Leonardo iniciando
o ato penitencial: “O serviço à vida é uma liturgia ao Pai
porque quem está ao lado do irmão está ao lado de Deus”. —
Xavier, de Porto Velho, se refere á situação do maior Sindicato
de Trabalhadores Ruarais de Santarém que estava para ser invadido
porque a chapa de oposição á diretoria pelega tinha obtido
95,1% dos votos na eleição. Entretanto a união dos lavradores não
pern1itiu a invasão. Depois de lembrar esse exemplo de resistência
e coragem, pede a Deus por todos aqueles que tiveram seu sangue
derramado na luta em defesa dos explorados. Muitas outras orações
foram feitas em favor dos que hoje lutam pela justiça, dos que são
explorados e agredidos mas que, apesar de tudo, resistem.
e)
Esclarecimento sobre questões gerais.
Os
coordenadores da mesa fazem uma rápida exposição sobre a
organizacão dos trabalhos do encontro e a dinâmica escolhida nas
reuniões preparatórias, O Regimento Interno é posto em discussão
para ser aprovado. São feitas duas ressalvas: A 1ª sobre a
previsão da repressentatividade de votos necessária para que
uma proposta saía vencedora. Depois de pequena discussão
deliberou-se pela maioria relativa de votos. A 2ª ressalva foi
sobre os casos omissos. A plenária sugeriu que fossem
encaminhados à coordenação e decididos pelo próprio plenário.
Consideradas essas ressalvas, o regimento interno foi aprovado
por unanimidade. Em seguida, os representantes dos movimentos de
áreas especificas pediram esclarecimentos sobre a diferenciação
de seu direito de voto. Um dos participantes daa fase preparatória
informa que as questões a serem tratadas durante o encontro
podem ser classificadas em dois níveis: — questões gerais de
articulação e fortalecimento da luta pelos direitos humanos onde
todos, por suas práticas, têm direito a voto; — questóes
internas e especificas dos CDDHs e CJPs em que apenas os delegados
dessas entidades têm direito a voto. Para completar a direção
do encontro foram eleitos os três representantes da plenária: a
pastora Marga de Belém, PA, Braulio de Nova lguaçu, RJ e Pedro
Wilson de Goiânia, GO.
f)
O trabalho: O modelo brasileiro e os direitos humanos.
A
seguir foram formados 13 grupos para refletir e aprofundar o tema
acima indicado. Seu objetivo era o de recolher dos grupos, a
partir de suas prâticas, as violacões dos direitos humanos como
consequência do nosso modelo de sociedade (as barreiras, os obstáculos
para que esses direitos possam ser vivenciados). Em especial,
discutir o chamado “modelo Brasileiro” dos anos recentes, sob
o pinto de vista historico, social, politico e econômico. Para
motivar o trabalho proposto, Penedo expôs algumas idéias
questionantes. «As violações dos direitos humanos não são
fruto de uma ação individual maquiavélica. São o produto de
um processo de dominação cuja existência se apóia na própria
expoliação dessesa direitos. Um de seus fundamentos se situa no
atual modela econômico que faz da deterioração da vida seu
alimento. O modelo econômico condiciona os demais modelos, a
sociedade como um todo, e é por eles condicionado. Garante sua
sobrevivência com mecanismos que procuram impor, manter a ordem
estabelecida e reprimir. Em consequência, o controle é fator
integrante da ideologia do sistema dominante. A própria ideologia
torna-se instrumento de controle reproduzindo o sistema, o
oprimido reproduzindo o opressor. As leis reforçam o sistema LSN.
Entretanto o capitalismo não começou em 1964. Existe um processo
histórico, uma herança de dominação.
3.2.
Atividades do 1º dia (26-1-84)
Os
trabalhos do plenário tiveram inicio às 7:30 hs com uma celebração
em homenagem aos povos latino-americanos e ao povo que luta pela
sua libertação. As leituras escolhidas, 1Rs 21,1-24 e S1 93,
mostram a atitude de Deus na defesa da verdadeira justiça, sempre
ao lado dos pequenos e fracoas contra os poderosos. Os cantos dos
cristãos que lutam e sofrem pela libertação, na América
Central, confirmam as palavras da Bíblia vividas no cenário
atual. A luta das forças da morte contra as forças da Vida, o
sistema que se fortalece sobre a morte dos pobres e pequenos, o
latifúndio construído às custas da expoliação dos fracos e
oprimidos. “Mas o julgamento com justiça se fará, e a seguirão
os retos de coração”. O Deus justiceiro “fará recair sobre
eles sua própria maldade, Ele os fará perecer por sua propria
malícia; o Senhor, nosso Deus, os destruirá”. O regional sul
1, Estado de São Paulo, foi o responsável por essa celebração.
a)
Plenário – cada um dos grupos expôs suas conclusões face ao
tema proposto e discutido na véspera. Síntese dos relatórios:
Caracterização
do modelo brasileiro
—
a O modelo brasileiro atual representa a continuidade histórica
do processo de colonização gerador da situação de estrema
marginalização na qual se encontram os índios, os negros e o
proletariado;
—
o modelo econômico implantado no Brasil capitalista dependente,
periférico e associado ao capital mundial – se estrutura a
partir dos privilégios crescentes de lima minoria em detrimento
e às custas da grande maioria da população;
—
modelo econômico voltado para os interesses e acordos
internacionais e não para o bem comum da população;
—
o modelo é produto de um processo de dominação e se assenta
sobre uma estrutura que utiliza mecanismos de toda ordem para
garantir sua reprodução: manipulação dos meios de comunicação
(propagandas ideológicas das classes dominantes), aparato
judicial (leis ultrapassadas e discriminatórias), aparato militar
(forças de repressão, exército, polícia, etc.), educação
deformadora da consciência critica (ideologia da acomodação,
individualização dos problemas e dos direitos, incentivo à
competição), exclusão do povo dos centros de decisão (falta de
divulgação dos direitos do cidadão, ao povao só se mostram os
deveres);
—
o modelo é excludente pois gera marginalização econômica,
social e política;
—
o modelo econômico condiciona e é condicionado pelas instâncias
sociais e políticas;
—
o modelo sobrevive às custas da violação dos direitos humanos e
tem como suporte um governo militar imposto, grande responsável
pela violência generalizada (física, psicológica, social, política)
lia medida em que promoveu e institucionalizou a repressão.
Principais
violações aos Direitos Humanos
—
Concentração da terra e promoção de uma “reforma agrária”
submetida ao Conselho de Segurança Nacional, mantendo a
tradicional dominação e impedindo a democratização no uso da
terra para os que nela trabalham.
—
Êxodo rural forçado pelos grandes projetos do governo gerando o
alimento das favelas, as sub-habitações, a inchação das
periferias das cidades.
—
Desemprego, subemprego, baixos salários, fome e miséria.
—
Violência policial que recai sempre sobre os mais fracos.
—
Falta de liberdade sindical, política, de manifestação e de
expressão.
—
A discriminação velada feita ao negro.
a—
A política contrária aos interesses indigenistas desenvolvida
pela FUNAI.
—
A política de “planejamento familiar” com objetivos não
claramente definidos, violentando o direito á maternidade da
mulher.
—
A má distribuição das riquezas brasileiras.
—
A “indústria da seca”: em 70 anos o governo gastou para
solucionar o problema apenas 1/3 do que se gasta atualmente em
Itaipu.
Os
que mais sofrem as violações dos Direitos Humanos
Os
anegros, as populações indígenas, os bóias-frias, os
trabalhadores rurais, os favelados, os desempregados, o menor
abandonado, os presos e detidos, os doentes mentais, os flagelados
pela seca do nordeste, os desabrigados pelas chuvas e enchentes, a
mulher e o povo pobre em geral.
Pistas
—
para a sociedade: aprofundar a reflexão critica das causas das
violações dos direitos humanos nas comunidades populares,
impedindo que o imediatismo tome conta da consciência e ação do
povo oprimido; lutar e mobilizar em prol das eleições diretas
para presidente da república; mostrar, com base nos fatos
concretos, a visão de totalidade do sistema capitalista opressor;
—
para a Igreja: oferecer elementos para que passa revelar,
permanentemente, sua missão profética de denúncia e de anúncio
de alternativas coletivas de atransformação da sociedade; demonstrar,
pela coerência no respeito ao direito de todos os seus membros, a
possibilidade de relações justas e fraternas; — para as
entidades de defesa dos direitos humanos: ter tinia proposta clara
de mudança (a curto, media e longo prazo) que se articule com os
movimentos populares e que desempenhe um painel político decisivo
na viabilização da transformação da sociedade; estar atenta não
só a casos específicos e regionais, tias também á estrutura
mais ampla, inclusive à situação internacional dos povos;
conscientizar que a luta pela defesa dos direitos humanos é ao
mesmo tempo a luta pela superação do sistema capitalista;
introduzir o estudo dos direitos humanos nas escolas e
universidades.
b)
Intervenções dos assessores
Paulo
Schilling: inicia fazendo ditas observacoes criticas. Primeiro, a
de que na análise das violações aos direitos humanos não se
falou quase na violação externa pronuovida pelo imperialismo.
aExplicou que o Brasil ao assinar a carta de intenções do FMI
deixou de ser um país livre pois como agora decide a política
econômica são as pessoas de tora, delegados do FMI. A segunda,
que os grupos deram ênfase ás irregularidades e às
arbitrariedades cometidas contra os presas politicos. Há uma
falha porque as torturas continuam contra os presos comuns e, em
que estes são diferentes em termos de direitos?
O
modelo econômico sendo elaborado fora do país pela trílateral,
e agora com o FMI, acarreta doas consequencías: — 6 milhões de
brasileiros foram lançados ao desemprego e outros 40 milhões,
marginalizados; 2º — a baixa dos salários significa cassação
dos anos de vida do povo: os 2/3 dos brasileiros que ganham menos
que 3 salários mínimos estão condenados a morrer c<ini 10
a 12 anos menos do que aqueles mais privilegiados da classe média
abastada. Fazendo uma comparação entre o Brasil, que considera
um dos países potencialmente mais ricos do mundo, e Cuba, um dos
potencialmente mais pobres, demonstra os índices de mortalidade
infantil nos dois paises. Enquanto no Brasil morrem 115 crianças
em 1.000, antes de completarem a P infância, em Cuba, em decorrência
de uma decente assistência á mãe e à criança, morrem 15 crianças
em 1.000. De todos os atentados aos direitos humanos no Brasil,
esse é o que considera mais grave. Sua causa principal é o imperialismo,
a exploração externa. Nesse sentido é que não se estão
enfocando devidamente o processo latino-americano onade os monopólios
que estão no poder, a política norte-americana confirmam que não
haverá uma segunda Cuba em nosso continente. Decidiram que nenhum
pais latino-americano poderá mudar de “status”. O contexto
exposto vem confirmar a necessidade da América Latina se libertar
em conjunto, ou não atingirá a libertação almejada.
Pedro
Eurico de Barros e Silva: analisando a conjuntura política e os
direitos humanos, divide a luta pela justiça em duas fases. 1ª
fase – as entidades de defesa dos direitos humanos surgiram a
partir das lutas políticas e defendiam os direitos de uma parcela
da sociedade (contra a tortura dos presos políticos; contra a
legislação de excessão AI-5, 477 e outras; volta dos exilados;
procura dos desaparecidos). Naquele momento havia um forte apoio
interno e das elites políticas nacionais pois era uma luta por
espaços que interessavam a essas forças. A 2ª fase começa após
1979, quando veio a anistia e a garantia de alguns direitos políticos.
Hoje, a luta pelos direitos humanos se constitui na luta por
direitos econômicos e sociais. É a luta pelos direitos do cidadão
a melhores salários, à moradia, à greve contra o desemprego e
outros. Aqui se enfrenta a marginalização, a violência do
Estado, a internacionalização da economia, a dívida externa e
outras tantas questões decorrentes da deterioração das condições
de vida. A defesa dos direitos políticos interessava a todos os
segmentos da sociedade mas a denúncia contra a espoliação e
margainalização só interessa ao povo e aos que a ele são solidários.
Daí as dificuldades que as organizações de defesa dos direitos
humanos enfrentam hoje na sua práxis. A luta atual não conta com
o apoio das elites porque as ameaça. É a luta contra a
internacionalização da economia e, do próprio governo
brasileiro, que leva a uma perda de identidade da soberania
nacional. O Brasil está sendo governado pelos coordenadores da dívida
externa brasileira, pelo EM!. A luta pelos direitos humanos hoje
é fundamentalmente política, de definição da soberania
nacional pela independência do pais, pelo desatrelamento das
questões do Estado, contra a internacionalização das decisões
do governo.
Continuando,
falou de suas convicções quanto á prática da defesa dos
direitos humanos. Unia questão que considera importante é a
ordem jurídica implantada no país e que deve ser encarada como
ilegal por aqueles que lutam pela verdadeira justiça. Não se
pode aceitar que o direito à moradia seja norteado pelo direito
de propriedade. Se o legal é injusto, deve-se assumir uma postura
de combate pois o que é injusto é ilegal. outro ponto importante
é que não vamos sair desta crise se não dermos a ela um conduto,
uma saída politica. Não podemos cair numa visão apologética,
romântica do processo de transformação da sociedade, O que não
implica hierarquizar as lutas: temos que jogar nossas forças na
ordem legal injusta, na ordem econômica injusta, mas devemos
entender que as decisões passam apelo plano político. O caminho
é o engajamento nos temas políticos que a sociedade civil
propõe. No momento atual torna-se imprescindível entrar na luta
pelas eleições diretas, uma saída pacifica, amplamente
mobilizadora e politizadora das massas populares. As eleições
diretas rompem o poder centralizador e autoritário, leva a um
rompimento na estrutura do poder vigente no pais. A eleição do
presidente da república não modifica tudo, mas contribuirá
com alguns passos. Com eleições indiretos poderemos cair em
dois extremos negativos para uma verdadeira libertação do povo:
— uma civilização do modelo brasileiro; um processo revolucionário
sem rumo do tipo insurreição das massas.
Conclusão:
as pistas para o movimento de defesa dos direitos humanos estão
assim colocadas: 1º — luta econômica com teor político; 2º
— combate a internacionalização do país; 3º — especial
aleição às eleições diretas, para romper com a atual
estrutura de puder e propiciar um novo pacto social.
Luis
Eduardo Greenhalgh: depois de dar informes gerais sobre ri que foi
ri Comício pelas Diretas ciii São Paulo, afirma que todos os
presentes concordam sobre a crise econômica, política, social e
moral por que atravessa o pais. Entretanto aprofundando a análise
podemos discernir 4 projetos apolíticos distintos para a atual
crise : 1º — projeto continuista que propõe a continuidade da
abertura relativa alterando formas mas não mudando o conteúdo;
é o projeto daqueles que defendem a manutenção do “status quo”,
ou seja, do PDS, dos militares, dos banqueiros e da elite
dirigente. 2º — projeto do PMDB e se subdivide em : projeto
Tancredo Neves (que propõe a unidade nacional acima da crise e
dos partidos políticos para que não haja unia ruptura brusca.
Defende o diálogo nacional com patriotas unidos em prol da união
e da conciliação. Este projeto tem trânsito livre dentro do
segmento militar. E projeto liberal-burguês (que joga toda a sua
força nas eleições diretas fazendo crer que através delas
todos os problemas do pais estarão resolvidos. É o projeto do
Ulisses Guimarães, e o seu prazo vai até a votação da proposta
da emenda constitucional sobre as eleições diretas). 3º —
projeto Uri: o/o que é difuso. Prega a recuperação do
trabalhismo mais autêntico que deve fundir-se em algumas versões
do socialismo. É o chamado socialismo murcho, produto das experiências
do exílio e do trabalhismo, cujos redutos se situam Rio de
Janeiro e no Rio Grande do Sul. Esse projeto precisa de tempo para
se expandir por isso propõe a prorrogação do mandato do presidente
Figueiredo por dois anos. 4º — projeto do movimento popular é
também difuso. Propõe a transição por baixo, isto é, levando
em consideração as experiências e a participação do povo
organizado. Podemos observar que os projetos de transição política
caminham basicamente em duas direções: por cima, atendendo a
interesses políticos profissionais das elites e é tratado
a dentro de quatro paredes; por baixo, que se caracteriza pela
participação do povo em geral, dos sindicatos, do movimento
popular, e que procura atender os anseios populares. Quanto ás
eleições diretas, não significarão uma virada de página do
quadro político brasileiro pois não são uni fim, mas um meio. Não
podemos frustrar a populaçao como aconteceu depois dos resultados
das eleições de 1982 porque apesar dos avanços, os “biônicos”
permanecem nas prefeituras das capitais; nos estados onde a oposição
venceu vemos torturadores conhecidos subindo de posto; a proposta
de governo de coligação prometida pelo governo do PMDB em São
Paulo não se realizou. Entretanto, devemos apoiar as bandeiras de
luta nacional mantendo uma visão critica, sem alastrar ilusões.
O importante é utilizar tais mobilizações para fortalecer as
organizações de base e possibilitar o povo de assumir o papel de
sujeito de sua história. Urge analisar, debater e descobrir saídas
mas que nenhum passo seja dado sem o povo.
Frei
Leonardo Boff:
Com
referência aos direitos humanos vemos da seguinte forma a
conjuntura da Igreja. Vigora, atualmente, forte tensão entre o
tradicional unicentrismo da Igreja e o policentrismo, originado
pelo Concilio Vaticano II. O unicentrismo procura governar a
Igreja a partir de um centro, situado em Roma com o Papa e os
aparelhos religiosos de governo universal (Cúria Romana). A
partir do centro se constrói uma unidade eclesial de caráter
formal e até burocrático; o discurso dos direitos humanos é
universalista; fala do homem em geral; não se vêem os contextos
proprios de cada continente e as situações especificas das
varias classes; assim a temática dos pobres vem diluída dentro
de uma preocupação pelo homem universal. Roma procura manter relações
harmoniosas com os poderes do mondo, com o risco de minimizar os
conflitos entre ricos e pobres entre sul (pobre) e norte (rico e
explorador). O unicentrismo reforça enormemente a figura do
Papa, num culto á personalidade, propria a regimes autoritários,
de memória sinistra (stalinismo, fascismo) e na insistência dos
bispos como mestres da verdade, O futuro (leste projeto não
possui consistência, pois se baseia nas velhas igrejas européias,
sem criatividade e em franca decadência espiritual.
O
outro pólo eclesial se orienta pelo pluricentrismo, quer dizer,
pelo surgimento de vários centros de poder, relativamente autônomo,
como as conferências nacionais dos bispos, os organismos
a continentais (CELAM) e a importância das Igrejas locais,
encarnadas nas problemáticas próprias de suas regiões. Esta
nova situação eclesial permitiu maior descentralização, a
produção de pastorais de conjunto, de teologias específicas e a
emergência de lideranças religiosas significativas, como
aquela de um Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Aros, Dom
Leonidas Proaño (Equador) e outros com ressonância em toda a
Igreja. Aqui os direitos humanos são mais zelados,
especialmente, aqueles dos pobres. Foi neste âmbito que a Igreja
acumulou credibilidade no enfrentamento profético aos regimes
autoritários e no apoio nas causas do povo e da liberdade.
No
Brasil notamos um equilíbrio destas duas posições. A posição
unicentralista utiliza a estratégia da cunha e do reforço da
neo-romanização. Pela estratégia da cunha, alguns bispos fortemente
unidos e apoiados por Roma postulam maior alinhian1ento á política
da Cúria e total submetimento às diretrizes do Papa. Pela neo-romanização
se procura modificar a linha teológico-pastoral do episcopado
pela nomeação de novos bispos, perfeitamente identificados com
uma linha universalista e romana; sua inserção na realidade se
faz mediante uma estratégia de obediência às determinações
que vêm de Roma. Apesar disto, continha forte e com grande força
de persuasão até dos novos bispos, a linha de inserção e
libertação, consagrada pela CNBI3. Procura—se manter tinia
dupla fidelidade: primeiramente ao povo cristão com seus
a problemas e também com o simbolo da unidade, o Papa e Roma. Esta
posição tornou a Igreja sensível à temática dos direitos
humanos. Precisamos reforçar esta linha por ser mais coerente
com o seu trabalho.
c)
Debate:
Após
a palavra dos assessores foi aberta a discussão em plenário.
Foram as seguintes as intervenções: — criticou-se as conclusões
de um dos grupos de trabalho pois considerou que os CDDHs e as
CJPs devem dirigir os trabalhos da comunidade. O plenário
entendeu que esta é uma posição de vanguarda negativa e que
aquelas entidades devem estar na cauda do movimento pupilar; —
esclareceu-se que reforma agrária não é apenas repartir terras,
mas um processo que leve em consideração formas de democracia no
campo; — criticou-se a fala do assessor Pedro Eurico por não
ter sido enfatizado a importância das organizações populares no
processo de transformação da sociedade; — com referência à
exposição de Paulo Schilling, salientou-se a questão das raelacões
de trabalho que esmagam uma grande parte da população e
espelham a situação social de um país desvelando o tipo de
sociedade existente. O nível de consciência da maioria dos
trabalhadores, produto (lesse contexto, é limitado pelas
necessidades prementes para o hoje. Sabem que u dinheiro falta e têm
uma vaga impressao da exploração que sofrem. Não vêem com clareza
os mecanismos causadores dessa situação. Por isso existe um
bloqueio que elimina uma perspectiva mais ampla de reformas de
estrutura para o amanhã, de alternativas para a sociedade; —
sobre o posicionamento geral frente á ordem estabelecida,
observou-se o caráter legalista da população. Ao primeiro
enfrentamento surge O medo de ferir a lei impedindo a luta pela
verdadeira justiça; — ponderou-se que o não posicionamento
frente as «diretas» corresponde ao fortalecimento das
“indiretas”.
d)
2º trabalho de grupos: A prática das entidades e a conjuntura.
O
objetivo é o de se fazer uma análise crítica do desempenho das
entidades comprometidas com a defesa dos direitos humanos em função
da conjuntura atual. De que modo temos estado ou na)) à alUira do
desafio? Quais os avanços conquistados? Quais os maiores obstáculos
e frustrações?
e)
Plenária:
Na
discussão sobre o desempenho das entidades, constatou-se que
essas têm procurado estar presentes quando ocorrem violações
de direitos humanos, sobretudo nas lutas populares por moradia,
pela posse da terra, contra a carestia, contra as torturas
praticadas pela policia e outras. “Este trabalho é válido pois
há uma necessidade humana imediata a ser atendida”, afirmaram
unanimemente os participantes. O que se questionou: a maneira
paternalista e assistencialista de se conduzir este socorro
imediato. Por outro lado, já existem entidades trabalhando
especificamente lia formação da consciência critica para a
desarticulação do sistema brasileiro vigente, na integração
latino-americana e na recuperação das lotas históricas locais.
Obstáculos
detectados:
—
A insuficiente ligação com os movimentos populares.
—
A cooptação das lideranças dos movimentos populares pelos
governos de oposição acarretando a neutralização de sua força
reivindicatória, a desarticulação interna e a incompatibilização
das organizações populares com as entidades de defesa dos
direitos humanos.
—
O isolamento com que atuam certas entidades e certos setores da
pastoral por não terem ainda percebido a necessidade de um
trabalho articulado: ausência de visão global e critica da sociedade.
—
A falta de lideranças para impulsionar os movimentos de base.
—
O atrelamento do sistema judiciário á classe dominante.
—
As controvérsias internas da Igreja Católica e das Igrejas
Protestantes causando falta de exemplo e de um apoiao mais explícito
às entidades que lutam pelos direitos humanos.
—
A introjeção da ideologia dominante pelas classes populares
retardando a sua tomada de consciência como dominado.
—
A impotência das entidades frente ao aparelho repressivo.
—
A origem de classe dos participantes das entidades (classe média,
burguesa), sua formação intelectual, que afasta e impede a
participação de representantes do povo.
—
A não superação do caráter assistencialista e paternalista, em
detrimento de uma proposta de trabalho educativo e conscientizador.
—
O divisionismo por causa de ideologias e sectarismo politico de
esquerda.
—
A falta de tempo dao pessoal engajado para tinia atuação mais
radical e permanente. A falta de infra-estrutura adequada e de
recursos materiais.
Desafios
à prática das entidades:
Na
teoria se sabe que é necessário estar a serviço do coletivo mas
na prática se atua mais a serviço do individual.
A
prática desenvolvida é ainda tímida, de defesa, em detrimento
de uma atuação de ataque às causas geradoras das violações,
enfocando sobretudo o sistema de produção e as relações de
trabalho.
—
A necessidade de se engajar mais profundamente no processo de
redemocratização do país assumindo postura firme diante da
sociedade.
a
—
O excesso de violações existentes não permite penetrar a
fundo em todos os problemas fazendo com que não se tenha estado
à altura dos desafios colocados pela sociedade.
—
Saber utilizar os meios de comunicação para divulgar e tornar pública
a denúncia da violação dos direitos humanos enfrentando o seu
comprometimento com as classes dominantes.
—
Saber apresentar as questões propiciando o apoio tia sociedade.
—
Priorizar suas ações: situar o trabalho jurídico no campo
emergencial e (lar primazia ao trabalho de base em prol da
conscientização e organização popular.
—
Veicular informações que possibilitem o conhecimento da
realidade e da própria caminhada motivando o povo a organizar-se
para defender seus direitos.
—Incentivar
e ajudar a formação de lideranças nos próprios locais e apoiá-las,
para que não se afastem das comunidades.
—
Evitar tua papel de vanguarda através tia manipulação e
controle do movimento popular. Não querer substituir o movimento
popular.
—
Apoiar a ampliação das lutas: tias reivindicações imediatas
à participação política.
—
Apresentar subsídios para que os trabalhadores conheçam melhor
os mecanismos de opressão, e analisem mais radicalmente a
correlação de forças avaliando assim, os espaços que devem ser
conquistados naquele momento.
—
Respeitar o passo da caminhada do povo. Respeitar o processo de
luta e resistência dos trabalhadores mesmo quando contraria tinia
visão técnica do problema enfocado.
—Aapoiar
com coragem as justas decisões do povo marginalizado, mesmo
quando “ilegais”.
—
Desenvolver e criar a identidade especifica das CJPs e dos CDDHs
através de sua práxis.
Avanços
conquistados:
—
Vitórias localizadas em algumas reivindicações concretas, fruto
da organização popular e do apoio desencadeado pela articulação
nacional.
—
Intercâmbio de informações autênticas e união tias lutas em
uma mesma caminhada nacional.
—
Refalexão aprofundada por parte das entidades que permitiu a formação
da sua própria consciência e motivando Sua crescente inserção
em áreas populares.
—
Consciência de que os problemas precisam ser enteados sob o
aspecto estrutural.
—
Através de uma prática que pouco a pouco consegue espaços junto
aos meios de comunicação, a luta pelos direitos humanos vem
conseguindo impôr-se, em parte, perante a opinião pública.
—
Em algumas regiões, os leigos têm conseguido o comprometimento
progressivo de setores tia hierarquia da igreja, em virtude de sua
prática libertadora.
—
Assessoramento às Associações e Moradores e a outros
movimentos populares possibilitando uma relação de confiança e
aprendizado mútuo.
—
A partir de causas concretas, as entidades vêm conseguindo
mobilizações populares em taornou da criação de novos centros
de defesa dos direitos humanos, de sindicatos, de associaçôes de
moradores e núcleos de bairro, de comissões diversas e de outros
movimentos de base.
—
Tentativas tie tinir as forças dos movimentos popuílares e de
ligar as lutas localizadas e específicas com a militância em
partidos políticos, sindicatos e organizações de bairro.
—
Tentativa de articulação e união dos CDDHs e CjPs com outros
movimentos que attuam na defesa tios direitois humanos em áreas
especificas.
Hebert
José de Souza: ao fazer uso da palavra Betinho advertiu para o
perigo que representa a figura do assessor na medida que são
transformados em feiticeiros modernos. “é preciso relativizar
o papel cio assessor para que ninguém transfira para ele a sua
tarefa de pensar e decidir os problemas por si mesmo. Uma das tarefas
mais difíceis, mais complexas, é fazer análise de conjuntura.
Analisar uma conjuntura não é unia coisa óbvia. Depende da
percepçãao, da perspicácia, da arte de cada um. Cada um faz esta
análise do ponto de vista que lhe interessa. As entidades aqui
reunidas devem fazê-la do ponto de vista dos direitos humanos.
Seria importante aqui refletir sobre democracia e cidadania. Não
devemos ter apenas a função de bombeiro, de pronto-socorro,
onde reconhecemos a ordem autoritária que viola os direitos
humanos e só cuidamos das consequências, aumentando o nosso
trabalho para atender a esta ordem. Temos que ter condições de
pensar a nossa utopia. Não a democracia liberal, mas a radical,
de igualdade e participação. Não a igualdade consentida, mas
a conquistada. Igualdade não significa ausência de
diversidade, mas implica exatamente nela. A sociedade se compõe
daqueles que não querem estes principias — igualdade e participação
e daqueles que qtíerem implantá-los. Devemos pensar na estratégia
de transformação para construir uma nova sociedade e um novo
tipo de cidadão. A ordem social, politica e econômica é também
produto do que nós somos. Não existe uma dicotomia absoluta
entre dominador e dominado pois na cabeça deste último está
introjetado o dominador. Pinochet, os militares da Argentina, os
ditadores, são produtos históricos das sociedades onde eles
viveram e surgiram. As estratégias para os CDDHs e CJPs é a de
colocar no centro de suas reflexões uma proposta de saída a
longo prazo que leve á transformação da sociedade, á formação
de um novo homem. Só assim deixaremos de ser bombeiros para
efetivar o nosso verdadeiro papel: a edificação de uma nova
sociedade justa». Betinho apontou 3 dimensões para a ação
das entidades: 1º — Educativa: não uma educação veratical,
autoritária, mas sim educar com, aprender com. Uma educação
para criar uma verdadeira cidadania. 2º — Articulação:
ajudar os movimentos populares a se articularem, o que não quer
dizer ser vanguarda. 3º — Luta: ou seja, apoio ás lutas pois
quem luta são os trabalhadores, os camponeses, numa palavra, os
oprimidos organizados. Estas 3 dimensões podem criar o eixo para
caracterizar o papel dos CDDHs e das CJPs. “Podemos ser
militantes de partidos políticos, participantes das CEBs ou de
sindicatos e também participar dos centros ou comissões. Só
não podemos confundir estes últimos com as outras frentes de
luta. A luta por eleições diretas, por exemplo, deve ser vista
sob a ótica dos direitos humanos e não sob a ótica do partido
ou de qualquer outra entidade”. Em seguida Betinho falou sobre a
transnacionalização da economia. “Não se mede a
transnacionalização da economia pelo número de empresas
operando, mas também pela dinâmica da produção e de que ela
significa uma economia exterior que se realiza na economia interna
e a esta imprime a sua dinâmica”. Afirmou que na conjuntura política
do Brasil é possível perceber pelo menos 4 estratégias em jogo:
1ª estratégia — de garantir a ordem tal como está. É uma
estratégia que só admite eleições indiretas e, se possivel,
que o controle permaneça — mios das que estio hoje no poder.
Neste caso, recessão, desemprego, inflação etc. faz sentido,
e, no desespero se pode tirar d0 colete um nome que dê
garantia ao sistema até 1990. 2ª estratégia — hiaiiiaclonallzao9Io
da ordem. S a lógica dos candidatos que defendem — eleições
diretas para depois do sucessoar de Pigueiredo, escolhido pelo Colégio
Eleitoral. 3ª estratégia — Liberalizaste do regime, na qual
a maioria dos partidos políticos está apostando. Espera-se que a
classe econômica faça concessões contando com a liberalização
do regime. 4ª estratégia — Democratização da sociedade:
busca a abertura real a partir das lutas econômicas, políticas e
sociais, a partir da sociedade civil com o apoio de setores de
partidos políticos. Cada uma dessas estratégias tem a ver com os
direitos humana A primeira aplica um alto custo para os direitos
humanos e este custo vai decrescendo até chegar à quarta estratégia
como as organizações populares crescem e ganham em importância.
Aqui teremos Igualdade e participação através da justiça e
respeito aos direitos humanos.
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