Correio
da Manhã – 07.09.1969
Cercado
por um forte dispositivo de segurança de tropas armadas e agentes
do DOPS, ao qual não escapou a Imprensa – repórteres e fotógrafos
que tentaram burlar a vigilância foram detidos – embarcaram
algemados, às 17h03min de ontem, no Galeão, 13 dos 15 presos
políticos que ganharam a liberdade por imposição dos sequestradores
do embaixador Burke Elbrick. O estudante Ricardo Vilas Boas
de Sá Rêgo foi o primeiro a chegar no Galeão. Veio do DOPS,
onde estava preso, numa camioneta policial. Estava algemado
ao pulso do inspetor Mário Borges. Com os repórteres e fotógrafos
da Imprensa brasileiras e estrangeira mantidos a uma distância
superior a um quilômetro e meio, o registro da decolagem do
Hércules da FAB que conduzia os presos só foi obtido com potentes
teleobjetivas. O Ministério da Aeronáutica, entretanto, distribuiu
a foto oficial dos treze presos. Os dois outros incluídos no
resgate – Mário Roberto Galhardo Zaconato e Gregório Bezerra
– foram embarcados, respectivamente, nos aeroportos de Belo
Horizonte e Recife. Zaconato, entretanto, segundo informações
da capital mineira, teria sido transportado em um jato da FAB,
da Pampulha para Recife, onde, juntamente com Gregório Bezerra,
tomou o Hércules para o asilo.
De
Recife, o Hércules da FAB seguirá para Caracas, onde fará escala,
e finalmente chegará à Cidade do México, às 14 horas de hoje,
hora de Brasília, conforme informou o Ministério da Aeronáutica.
O Ministério da Aeronáutica distribuiu nota oficial, cujo texto
integral é o seguinte:
“O
Serviço de Relações Públicas do Ministério da Aeronáutica divulga
a fotografia do embarque, com destino ao México, dos criminosos
relacionados com os últimos acontecimentos já do domínio público,
através de amplo noticiário. Não figuram na foto dois elementos
que embarcarão em pontos de escala. A chegada à Cidade do México
está prevista para as 14h, hora local”.
No
México, rígidas medidas de segurança foram adotadas ontem à
noite no Aeroporto Internacional da Cidade do México para a
chegada dos 15 prisioneiros políticos brasileiros, alguns dos
quais, segundo versões, poderiam, posteriormente, transportar-se
para Cuba. Estabeleceu-se um setor especial no Aeroporto desta
capital para aterrissagem do avião Hércules da Força Aérea Brasileira
que conduz os prisioneiros. Fontes governamentais e diplomáticas
informaram à Reuters, ontem, que o presidente Gustavo Diaz Ordaz
foi quem ordenou, pessoalmente, que se concedesse o asilo político
aos 15 brasileiros. A medida foi qualificada como um ato humanitário
para salvar a vida do embaixador norte-americano sequestrado.
No Rio, o sr. Armando Cantu, Encarregado de Negócios do México,
confirmou o asilo, dizendo que os 15 presos políticos terão
seu comportamento em território mexicano regulado pela Convenção
sobre Asilos Políticos. Ao embarque, nenhum representante diplomático
compareceu.
As
contradições marcaram ontem os últimos momentos dos elementos
indicados pelos sequestradores do embaixador norte-americano para
deixarem o País, rumo ao México, em transporte do Governo brasileiro.
No Itamarati, onde a Imprensa se reuniu para ouvir as autoridades
do Ministério das Relações Exteriores, recebeu informações que
não eram de forma alguma coerentes. Inicialmente, o próprio embaixador
Magalhães Pinto anunciara aos repórteres e a uma estação de rádio,
em transmissão direta, que o avião já havia partido. Isso eram
15h15min. Depois, os jornalistas descobriram que o avião de transporte
continuava no aeroporto. Às 16h40min, um dos assessores do ministro
declarava, oficialmente, que o aparelho não subira mesmo. Os boatos
aumentaram. Finalmente, às 17h05min, então, o aparelho levantou
vôo, tendo de fazer dois pousos em território brasileiro, antes
de atingir o México.
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