Insurreição
Comunista de 1935
ÀS ARMAS, CAMARADAS!
A Insurreição Comunista e o Governo Popular de 1935 em Natal
Natanael Sarmento
As Colunas, andanças e embuanças
Há
muita parolagem sobre as andanças das Colunas rebeldes partidas de
Natal para o interior do Estado,
em
1935. Gabolices e bazófias para todos os gostos e gêneros. Nem tudo
está perdido e também existem trabalhos consistentes
.
A mais consistente pesquisa sobre as colunas foi feita por Kleber
Oliveira dos Santos.
Quase
metade das cidades do interior potiguar envolveu-se nos sucessos de
1935. Cidades foram ocupadas, prefeituras invadidas, cadeias abertas,
bancos arrombados. A banda comunista tocou a marcha da revolução em
diversos coretos interioranos: Macaíba, Pedro Velho, Baixa Verde,
Santo Antônio do Salto da Onça. Mas, em Mossoró e Açu, cidades
importantes com o PCB organizado, a banda rebelde não tocou no
coreto. Por lá os comunistas estavam encurralados, sob forte
repressão. Embaraçados na guerrilha do Vale do Rio Açu. Contudo, a banda vermelha agitou Santa Cruz, Nova Cruz, Currais Novos, Acari, Ceará-Mirim,
São Gonçalo, Taipu, Baixa Verde e Macau, São Miguel, São José,
Arês, Canguaretama, Goianinha, Lages e Angicos.
Comecemos
pela Coluna do Exército
Popular comandada pelo
estudante e poeta Benilde Dantas, que marchou em direção ao Norte
do Estado. Com objetivo prioritário de atacar e tomar o município
do Ceará-Mirim. Participam dessa Coluna os Sargentos do 21º BC
Pedro Maurício, Eliezer Diniz, João Rosendo e o Cabo Antenor
Cardoso, além do Guarda Civil Sizenando Filgueira e outros. Benilde,
o “Rouxinol”, era de família tradicional do Ceará-Mirim.
Comunista. Ele e o Guarda Civil Sinzenando. Na denúncia Sizenando
aparece como audacioso chefe
da intentona. A periculosidade referida
na peça de denúncia foi presumida pelo registro de confusão armada
em briga de cabaré.
A
Coluna ocupou Ceará-Mirim,
não enfrentou resistência. Com o controle da cidade, adotou medidas
que se tornaram o padrão procedimental das ocupações, nas outras
cidades: prisões de prefeito, delegado, vereadores, secretários;
requisição de dinheiro, armas e veículos. Nos processos criminais
do Ceará-Mirim,
registram-se saques das lojas Paulista, F. Correia, João Câmara e
Irmãos, Pedro Gomes Baião, bares e
sapatarias. Uma grande diversidade de produtos saqueados, sabão,
cimento, cigarro, etc. Parte do material saqueado foi distribuído
com a população pobre local. Outra parte desviada e entocada. Pescadores de águas turvas aproveitam-se da situação, e levam vantagem. Comerciantes armazenam
produtos da concorrência, adquiridos a preço vil. No Ceará-Mirim,
um episódio pitoresco envolveu o Tabelião
de Ofício de Notas, Sebastião Felix
de Araújo. Na casa do Sebastião foram enterradas grandes
quantidades de tecidos, combustíveis, bebidas e outros produtos,
originários dos saques. O respeitável registrador avocou a fé
pública para escusar-se de qualquer responsabilidade. Declarou e deu
fé ter encontrado aquele material na própria casa, à sua revelia.
Ter ordenado ao casal de empregados a retirar o material. Quanto a
“produtos” encontrados em buracos, declarou não
lembrar ter mandado os dois enterrarem as mercadorias. A
corrente arrebentava, como sempre, no elo mais fraco.
Com
o governo popular apossado em Ceará-Mirim,
a Coluna dividiu-se para prosseguimento às conquistas
.
Avançar aos municípios próximos
.
A liderança da nova coluna coube ao Soldado do 21º
Manoel
Alberto da Silva Filho. A tarefa era conquistar Baixa Verde. A
patente de Soldado era por demais rasa. O soldado foi promovido a Tenente do
Exército Popular. Sem
carecer estágio de sargento. Revoluções servem para mudar
costumes. Mudou a patente e o nome. O Soldado Manoel Alberto existia
na tropa reacionária, no Exército Popular existe o Tenente
Lins. Uma das
transformações mais radicais, constadas, na breve revolução, a do
soldado promovido a tenente e que mudou de nome.
O
delegado de polícia Baixa Verde, certo Francisco Germano Filho,
juntou armas e aliciou voluntários, com escopo de organizar uma
resistência. Montou trincheiras, na entrada da cidade. Os rebeldes
iriam aprender com quantos
paus se fazia uma jangada.
Contudo, a Coluna liderada pelo Tenente
Lins não teve trabalho
algum. Uns “defensores” dispararam, outros, se renderam, bastando
ver a superioridade, da Coluna rebelde. Também acolá não foi caso
de mortes
e feridos. Baixa Verde foi ocupada, militarmente, o prefeito deposto,
os presos foram liberados, o delegado trancafiado. A tropa da
segurança pública e os voluntários da “defesa” rendidos. A
cadeia pública nunca foi tão utilizada.
Baixa
Verde sob governo popular foi presidida pelo Soldado Manoel Alberto,
alto lá, pelo Tenente
Lins! Auxiliado por
Genésio Moreira, Pedro Paulo e Raimundo Antunes. Eles formam a junta
governativa. Tentaram, em vão, trazer o Dr. Juiz, certo João Maria
Furtado. Um magistrado prestigiado na comarca e adjacências. Porém,
o meritíssimo esnobou do convite. Mas o Furtado nutria simpatias políticas pela oposição. E comeu
o pão que o diabo amassou. Tinha
estrada para saber que ficar no muro dava prestígio à
Diana do pastoril, mas era péssimo negócio em tempo de guerra, de
revolução
.
No
cofre da Prefeitura de Baixa Verde, retiram quase cinco mil contos de réis,
confiscados e enviados à Junta Governativa, em Natal. Medida
administrativa relevante da Junta popular baixa-verdense sob a
governança do Tenente Lins, foi a expropriação de oito sacos de açúcar. Açúcar confiscado
pela revolução, para adoçar a amarga vida de camponeses pobres.
Distribuídos em cuias, graciosamente. O decreto para o comércio abrir as portas e fornecer gêneros requisitados não surtiu muito efeito prático. A quantidade e qualidade dos gêneros,
estabelecidos pela Junta, eram precisas. Mas, os comerciantes de
Baixa Verde, e do mundo inteiro, preferem a Lei do “Fiado
só amanhã”. E
fecham as portas às requisições. Quem
vai sustentar burro a pão de ló? Os
rebeldes, apoiados no argumento do fuzil, arrombam as portas e portões fechados. Quem
paga a conta? O comissário
popular requisitante queria mandar a cobrança ao Papa, no Vaticano.
Indicou mandassem a respectiva fatura à Junta Governativa, sediada
em Natal, Vila Ciccinato. O tal do comunismo era mesmo regime do cão.
Na hora de comer, comer, na hora de beber, beber, de fumar, fumar,
porém na hora de pagar, pé na bunda! Mandava apresentar a fatura a
muitas léguas de distância! Essa sucia vermelha zanzou e perturbou
em diversos povoados e vilarejos, São Bento e Parazinho. Requisitou,
extorquiu, gêneros e dinheiro público, apossou-se de veículos.
Nessa
batida, os rebeldes esticaram a marcha à ocupação da terceira
cidade, Taipu. Lá o Prefeito reacionário havia prendido os
comunistas, na cadeia pública. Com a chegada da Coluna, trocam-se os
papéis: o Prefeito foi preso e os comunistas assumiram a Prefeitura.
Lição da história. O poder gira como a roda da fortuna. Ou a roda
gigante. Embaixo, em cima, questão de tempo, de ocasião.
Taipu
também caiu como as outras, sem esboçar qualquer tipo de
resistência. Os rebeldes desfilaram e adotaram os procedimentos de
praxe: prender, soltar, destituir, constituir. No dia seguinte,
seguiram rumo à praia de Touros. Lá sucedeu comédia
cinematográfica. Pastelão do Gordo e o Magro. O delegado e todo
efetivo policial polícia
, informados da
aproximação da coluna rebelde abandonam, em louca disparada, a delegacia e a cidade. Carreira tão atabalhoada que deixam tudo
para trás, as armas e o desordeiro bêbado Manoel Paulino de Assis, que estava sendo
interrogado. Interrompido o interrogatório, o acusado de embriaguez
e perturbação da ordem, sozinho na delegacia, com as armas, começa
a ameaçar deus e o mundo. O ébrio apossado das armas, ficou mais
valente, ameaçar matar, fazer acontecer. A pacata população de
Taipu, dividida entre a cruz e a espada: a coluna comunista batia, às
portas da cidade; o bêbado armado, ameaçava o mundo. Os rebeldes,
adentram em Touros, sem qualquer resistência. Frustração não ter
autoridades para prender nem depor. Contentaram-se com o bêbado, quem
não tem cão caça com gato.
O
passo seguinte da coluna vermelha foi em direção ao Município de
Lages, nas cercanias da Serra do Cabugi. A defesa de Lages estava a
cargo do Capitão João Pedro de Albuquerque. Foi “reforçada”
pelo pessoal do Major da força pública Napoleão Agra, que descia
de Mossoró. O Major recebeu ordens para combater os insurretos, em
Natal. No meio do caminho, estacionou. Essa união de forças do
Major Agra com as do Capitão Albuquerque, atraiu mais voluntários.
Outros foram aliciados involuntariamente, aos costumes. De qualquer forma, prenunciava-se
uma refrega pesada entre os legalistas entrincheirados e atocaiados e
os rebeldes. As defesas foram montadas ao longo da estrada, perto da Pedra Preta.
Porém, a batalha violenta, não ocorreu. Seguiu o padrão da batalha
de Itararé, e de Serra do Doutor. Não há registro, de mortos nem
feridos. Nada se diz a respeito ou constados processos do TSN. Lá há
apenas
o registro do indiciamento do Major Agra por não cumprir as ordens
superiores de combater rebeldes na capital. Condenado, o Major perdeu
a patente. Porém, tempos depois, ajuntou punhado de provas e
amizades influentes, de sorte a recuperar a patente e se reformar, na
flor dos quarenta e cinco anos de idade.
De
todos os locais, a cidade de Angicos conheceu a mais efêmera
ocupação da breve revolução comunista. Poucas horas de subversão,
pois a ocupação de Angicos sucedeu no dia 27, concomitantemente às
primeiras notícias da derrota da insurreição. Chegavam à cidade, junto com os rebeldes, as informações do avanço das tropas
legalistas pela Paraíba, da descida da tropa federal, na fronteira
do Ceará
,
de que a casa havia caído. Foi o derradeiro ato de conquista da Coluna Norte.
No
tocante aos sucessos da Coluna
do Sul, o
comando calhou ao militar de ofício, Tenente Oscar Mateus Rangel, da
Polícia Militar. Rangel estava preso na Casa de Detenção de Natal,
sendo solto na revolução. Ele cumpria pena de prisão pelo
assassinato do filho de Juvenal Lamartine, ex-governador e liderança
do PP. Um crime famoso, na época, o crime da Fazenda
Ingá, no Município de
Acari, em fevereiro de 1935. Numa desastrosa diligência de busca
e apreensão de armas,
na fazenda, houve a tragédia. O Procurador carregou à condenação
do Rangel: “Destas
famigeradas colunas, uma que muito se destacou pelos atos de
vandalismo que praticou, foi sem dúvida a comandada pelo ex-tenente
Oscar Rangel”.
Contudo,
a Coluna Sul adotou os mesmos procedimentos das outras, sem tirar,
nem pôr.
Ocupação de cidades, destituição, prisão de autoridades,
requisições de dinheiro. Rangel recrutou aderentes à revolução,
fracionou a coluna para novas conquistas, seguindo pela trilha férrea
da Great Western. A
primeira cidade conquista foi São José de Mipibu. Lá o prefeito
foi deposto. Requisitou o dinheiro da prefeitura. Há registro da
destruição de processos, no cartório.
Deu seguimento à marcha, chegou a Arêz. Lá, Oscar Rangel fracionou
a Coluna. O Comando da
nova foi para Pedro Hermógenes da Cunha, com tarefa de arregimentar
aliados e manter o controle de Arêz. Moacyr Ferreira Furtado,
ex-prefeito,
foi reconduzido ao cargo, pelos rebeldes. E foi à forra, prendendo
os adversários, demitindo todos os funcionários da prefeitura. E a
Coluna do Tenente Rangel, prosseguia, em busca de novas conquistas.
A
coluna chegou à cidade de Papari, ambiente açulado por disputas
ideológicas e rixas das facções. Os rebeldes prendem elementos da
força pública local e autoridades aliadas do PP. Vários escaparam,
avisados, arribaram. Assumem o controle da cidade, sem oposição.
Temiam resistência dos adeptos de Plínio Salgado. Havia o foco da
Ação Integralista no município, mas, eles fugiram. Alguns foram
presos. Nos
relatórios, a sede da ABI foi invadida e arquivos com documentos
queimados. Os rebeldes danificam o retrato do líder Plínio
Salgado.
Seguindo
a trilha, a próxima cidade a conquistada foi Canguaretama
,
rapidamente, na madrugada do dia 25. A patrulha do Sargento Oscar
Alves Maciel adentrou e derrubou o Prefeito Abílio Xavier, empossou
Fernando Dias Abreu, identificado com a Aliança
Social na
prefeitura. Os rebeldes requisitaram dinheiro da prefeitura
,
500 mil réis,
mais 400 mil da mesa das rendas.
A
terceira Coluna, comandada pelo Sargento Oscar Wanderley, foi a mais
controversa e com aspectos obscuros.
Guarda peculiaridades que merecem investigação mais aprofundada.
Destoava das outras colunas. A começar pela composição social.
Enquanto as outras colunas são formadas com civis e militares
juntos, a Coluna do Sargento Wanderley, foi exclusiva militar
. Essa particularidade, talvez a menos relevante.
As
peripécias da Coluna Wanderley, que partiu da capital rumo à região Central do Rio Grande do Norte, constam dos Processos nº 2º e nº 76º, do TSN. Processos falhos, lacunosos. Falta clareza sequencial, às ações. Nos depoimentos, nas provas
coligidas aos autos. Os acusadores ecingem-se aos sucessos do assalto
do 21º BC e da Serra do Doutor. Preocupação em livrar imputações
em outros locais? Ou interesse em majorar a implicação com agravamento dos
crimes? Qualquer se seja
a
estratégia, a acusação centraliza a denúncia nos fatos de Natal e
Macaíba.Tangencialmente, refere-se aos sucessos da cidade de Santa
Cruz, da adesão dos civis a distribuir boletins subversivos. Sem
registros seguros e sistemáticos, sem o “iter” e a cronologia
dos “crimes” das ações e omissões da Coluna. Falta uma
descrição detalhada dos sucessos, da continuidade delitiva, cidade
por cidade, cada povoado atacado, invadido.
Estranhável
a interpretação do tenor, o comportamento do comandante da coluna
Sargento Oscar Wanderley. O depoimento no TSN afirma não estar no
21º BC, na ocasião do levante. Diz que chegou depois, atraído
“pelo toque de recolher” do corneteiro e que lá chegando, aderiu
à revolta, para não ser preso. Declara ainda que se ofereceu para
patrulhar a região das Quintas, pois “queria
sair da anarquia reinante”, o
Wanderley. Mentiu por que estava
e
pegou em armas no levante do 21º BC. E não explicou a espichada das
léguas que separam o bairro das Quintas, em Natal da cidade de
Macaíba.
De
qualquer forma, o tal sargento Wanderley, com a coluna militar bem armada, ocupou a cidade de Macaíba. Foi uma ocupação inusitada, fora
totalmente dos padrões insurgentes. Modalidade diplomata. Não
prendeu o prefeito, nem o delegado, nem os vereadores. Apenas mandou
desarmar o destacamento policial. Realizou embaixada junto ao
Prefeito, conversa mediada pelo amigo Paulo Teixeira. O amigo Paulo
Teixeira foi nomeado Delegado
Militar. O
sargento Wanderley expediu ordem para não deixar tropas rebeldes
acantonarem na cidade, elas podiam passar, não podiam acantonar na
cidade. Evidenciava-se o boi na
linha.
A
sucessão de ocorrências estranhas foi observada pelo Comando
revolucionário
em
Natal. No dia 25, o Paulo, Delegado Militar, informou o ao amigo sargento Wanderley sobre o deslocamento de tropas
sertanejas, advindas do Seridó. O Prefeito de Macaíba, embora não
deposto, por iniciativa própria, abandonou a cidade. O Sargento
Wanderley assumiu a prefeitura. Cuidou do lacre de arquivos e cofres,
sem encaminhar o dinheiro ao Comando em Natal. Confiou a guarda do
material lacrado ao amigo Paulo Teixeira. O comandante Wanderley decidiu “diligenciar” sobre as tropas inimigas, para
evitar banho de sangue. O dinheiro do Banco do Brasil ficou lá
mesmo. O da mesa de rendas, também. Sem registros de saques, nem de
casas do comércio.
O
sargento Wanderley, chefe militar local, da revolução, hospedou-se em casa de
particulares, onde atendia populares, fazendo vezes de chefe do
governo. Com a notícia da aproximação das tropas sertanejas de
Mariz e Enoch, apressou-se. Transmitiu o comando de Macaíba para o
Cabo Geraldo Magela e partiu em missão
de reconhecimento, na
companhia, de dois soldados.
Na
estrada deparou-se com as tropas de Enoque e Dinarte. Rende-se, sem
esboçar qualquer reação, sem tentar fugir. Dali em diante, o
Wanderley passou a dar informações, úteis aos legalistas. Sobre
situação militar dos revolucionários
,
em Macaíba e alhures
.
Escreveu ao cabo Geraldo o preposto de Macaíba solicitando armas, para retomar Panelas.
Mensagem capciosa, interceptada, pela Coluna Oscar Rangel, deslocada a Macaíba
.
O salafrário traidor Wanderley queria desarmar os rebeldes, para
facilitar a retomada pelas tropas legais. Mas, o Oscar Rangel,
comandante de Coluna, enfrentou as tropas sertanejas inimigas, forçando a retirada. José
Pacheco confirma o tiroteio da cidade de Panelas, atual Bom Jesus.
Diz que houve a fuga dos sertanejos, que Panelas foi ocupada pelos
revolucionários. Os Sertanejos mobilizados por Dinarte Mariz,
transportados nos caminhões
de
Theodorico Bezerra, Flávio Mafra e do próprio Mariz. Combater
comunistas em Panelas, um prato cheio. O Comandante Wanderley não
foi fazer reconhecimento algum, foi se render: Vim
me entregar, disse Wanderley.
Apagando-se
os atos de covardia do sargento Wanderley, chefe da coluna, traidor e aumentado o feito dos sertanejos de Mariz, forjava-se a
versão ideal: a prisão do “chefe Rebelde”. A capitulação
pusilânime não dava divisa a ninguém. Nos anais da “história
militar”, consta versão briosa:
caiu
prisioneiro dos sertanejos de Dinarte Mariz o Srg. Wanderley
Comandante das Forças Revolucionárias Populares do governo
comunista instalado na cidade de Natal no dia 25. Na segunda parte da
jornada os Sertanejos se retiraram para a Serra do Doutor, onde, bem
posicionados, rechaçam ataques dos revoltosos, já em processo de
debandada, deixando mortos e feridos.
A
má escolha do sargento “rebelde”, Sargento Wanderley
, pelo Governo Popular
Revolucionário, para
chefiar a Coluna Central, figura entre os maiores equívocos dos revolucionários. O sargento
Wanderley foi efetivo, no levante do 21º BC, em Natal. Sua negativa
perante o TSN justifica-se, afinal, como réu, não produzia provas
contra si mesmo. Porém, Wanderley foi muito além da autodefesa. Seu
depoimento foi desmoralizante, foi conduta de traidor. E se foi
absolvido pelo TSN por que traiu, jamais será absolvido, pelo
tribunal da história.
O
Wanderley, chefe da coluna e
comandante militar de Macaíba, amoleceu a mão pesada do Tribunal
de Segurança Nacional. A marreta transformada em
pluma, e a absolvição, suspeitosa, do Wanderley. O TSN de exceção
e ocasião indiciou vinte e dois Sargentos, no Rio Grande do Norte,
gente com participação bem menor nos sucessos. Dezessete sargentos
do 21º BC e cinco sargentos da PM. Todos que pegaram armas foram
condenados. Exceto, Wanderley. Absolvição estranha a do Wanderley, a presumir, compensação pelos serviços de dedo-duro e de traição prestados.
Durante
essa revolução, o movimento expansionista, não se limitou às
ações das colunas que saíram de Natal. Cidades e povoações foram
ocupadas por revolucionários, com lenços vermelhos no pescoço, por
iniciativas locais. Gente que formava as próprias colunas. Caso da
cidade de Nova Cruz, invadida no dia 26 de novembro, foram três brigadas autônomas.
A brigada do Guarda Civil Joaquim, o Mossoró, comunista, e as lideradas por Miguel Morais e pelo médico Orlando Azevedo, de
Santo Antônio do Salto da Onça. Azevedo mantinha ligação com a Aliança
Social. A
ele se atribui a coordenação das brigadas autônomas. Um médico
formado na Alemanha, o Dr. Azevedo, colocou o lenço vermelho sobre o jaleco branco e avançou a Nova
Cruz
.
Ocupou a cidade, em duas horas, em meio a grande tumulto. Tiros para
o ar, interrupção da feira livre, gritos de vivas à ANL e a Luís Carlos Prestes. Às dez da manhã, os rebeldes ocuparam Nova Cruz, com adesão da população. Há a
distribuição dos boletins revolucionários. Pedro Nunes foi nomeado
prefeito. Liberados todos os presos da cadeia cheia de comunistas,
João Galdino, Francisco Rocha e Francisco Tito, presos pelo prefeito
deposto. Com o efetivo da segurança preso e os presos libertados, uma coluna
deixa Nova Cruz e prossegue na direção do sertão. Dominaria, sem
dificuldades, Panelas. Lá,
prendem as autoridades e algumas personalidades. Outras, avisadas,
fogem a tempo.
Mas,
a historiografia faz registro deturpado da Batalha
de Panelas. O Dicionário das Batalhas
Brasileiras reproduz a deturpação. Os
combatentes da região contam versão bastante diferente do episódio
registrado no verbete do dicionário.
O
ex-prefeito de Santana do Seridó, Seráfico Batista, e o casal de integralistas Otávia Bezerra Dantas e Manoel Lúcio,
desmentem a fábula do General Dinarte. Seráfico Batista servia ao
Tiro de Guerra de Parelhas. Guarnição comandada pelo Sargento José
Nunes, com os 70 praças, convocados a combater os comunistas, em
Panelas. A guarnição do Tiro de Guerra e a tropa sertaneja sofreu
no ataque a Panelas. Elas recuam até Currais Novos. Decidem voltar à Serra
,
porém passam a segunda-feira carregando pedras, levantando
às trincheiras. Receberam ordem para não atacar, até a chegada das
tropas, da Paraíba. Por volta das seis e meia, caminhões empilhados
de rebeldes, fortemente armados, com metralhadora pesada, começam a
atirar no bloqueio. Uma hora depois,
o
medo se apossava de todos nóse nós resolvemos correr.Eu achava que
a expedição a Serra do Doutor ia ser um passeio, [...] quando notei
que estava sendo enganado, pois os fazendeiros ricos não tiveram
coragem de ir ao local dos tiroteios, a solução foi fugir para os
cafundós. Corri da Serra do Doutor até Currais Novos, onde vi muita
gente jogar as armas no chão e correr mundo afora. Na opinião do
“combatente” da reação sertaneja, Perdemos na Serra do Doutor
porque os soldados eram treinados pelo exército e nós não tínhamos
conhecimento das táticas de guerra. O delegado de Parelhas era
treinado para ser policial [...] As forças aliciadas pelos
fazendeiros do Seridó viajaram para Natal depois [...] Na fuga de
Panelas para Currais Novos, paramos em Santa Cruz, a cidade cheia de
camisas verdes. Depois que contamos o combate com os comunistas na
Serra foi um corre-corre.
Sucedeu
o caso, como o caso foi, sem soltar uma estrelinha de artifício, o Dinarte Mariz virou General da Serra do Doutor e
desfrutou prestígios e pompas, as glórias de Napoleão por mais de
meio século!
O
relatório do delegado Enoch Garcia, que foi ampliado e alterado pelo
Chefe de polícia João Medeiros Filho, descreveu as consequências
caóticas das colunas comunistas, pelo interior do Estado: Macaíba, Ceará-Mirim,
São José de Mipibu
,
Vila Nova, Lagoa de Montanhas, Nova Cruz Goianinha, Canguaretama,
Panelas, São Gonçalo, Santa Crus, Arêz e outras localidades:
saqueados
e depredados pelos amotinados, que, numa fúria tresloucada, iam
implantando o terror e a desolação por toda parte. As populações
refugiavam-se nos matos apavoradas ante as hostes temíveis dos
revolucionários em correrias constantes por todo o interior.
Contudo,
nos arquivos do TSN, não constam os ditos saques e depredações da
cidade de Macaíba. A cidade sob o comando militar do sargento
Wanderley, que foi absolvido de culpas, pelo Tribunal fascista criado
por Getúlio Vargas para condenar os arruaceiros comunistas. Mas, no
julgamento da história, tipos como Wanderley, Mariz, Medeiros et
caterva, não serão absolvidos.
Nosso
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