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Insurreição Comunista de 1935
em Natal e Rio Grande do Norte

 

A Revolta Comunista de 1935 em Natal
Relatos de Insurreição que gerou o primeiro soviete nas Américas
Luiz Gonzaga Cortez

 

 

 

 

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Anexos
07. Padre registrou insurreição no dia da padroeira

A VERSÃO DE UM PADRE QUE VIU A INSURREIÇÃO NA FESTA DA PADROEIRA.

A insurreição de 1935 rebentou após Festa da Padroeira de Natal, Nossa Senhora da Apresentação que, até poucos anos, comemorava-se na praça André de Albuquerque, defronte à Catedral Metropolitana, no bairro Cidade Alta. Monsenhor José Landim, no seu livro “Sob a poeira dos caminhos”, páginas 177,178,179 e 180 (edição Imprensa Industrial, Recife, 1950) dá-nos um relato sobre os acontecimentos de 23 a 27 de novembro de 1935. Parece ser a única versão de um padre católico na extensa bibliografia sobre a revolta de cabos e soldados do 21º Batalhão de Caçadores, unidade que substituiu o 29º BC, removido para o Recife, após a insurreição militar de 1931, na capital pernambucana. É uma versão de um padre conservador e anticomunista, mas vale a pena ser conhecida pelos interessados no assunto.

Por se encontrar um pouco distante dos locais dos combates e de movimentação de homens armados que atacavam o quartel da Policia Militar, na rua da Misericórdia, antiga “Salgadeira”, a festa da padroeira de 1935 foi realizada na Igreja do Rosário, sendo “muito solene e muito concorrida”, segundo Monsenhor José Alves Landim, que sobre o “surto comunista”, escreveu o seguinte:

“Era 23 de novembro. A festa da Padroeira, N.S. da Apresentação, fizera-se com todo o esplendor, nada ocorrendo que se pudesse dizer sobre perturbação da ordem. O colégio de S. Antônio, sob a direção dos Irmãos Maristas, fazia a festa de diplomação dos alunos do curso ginasial e do curso comercial. A festa realizava-se no Teatro Carlos Gomes, pelas 19:30 horas. O teatro achava-se lotado, e, a fim de ouvir o Padre Monte que era o paraninfo da dupla turma, achava-me na festa. Discursava o 1º orador, quando ouvi o 1º tiro de fuzil. Alarmei-me! Ao 2º e 3º tiros, saí do teatro. O tiroteio generalizou-se... Que era?! Ninguém sabia. O próprio governo com os secretários achava-se, também, no teatro. Encontrei no Colégio Pedro II, vizinho ao teatro, o Chefe de Polícia que dizia ignorar o que se passava e que havia ordenado à policia se recolhesse ao Quartel e ficasse de prontidão. Às 22 horas, terminou a festa colegial e o governador saia do teatro com os secretários. Cessaram um pouco o tiroteio. Procurei subir para casa, pois me achava refugiado no dito Colégio Pedro II. Vim com várias pessoas entre as quais o professor Luís Soares. Ao defrontarmos o quartel do 21º BC., recrudesceu a fuzilaria. Após ter ficado deitado na calçada da balaustrada, lembrei-me felizmente da casa do Dr. Manoel Vitorino de Melo onde me recolhi com o professor Luís Soares. O tiroteio aumentava e propagava-se! Foi a noite inteira. No bater das horas, o tiroteio cerrava-se. Percebi, sem tardança, que havia um ataque. Quem atacava, quem era atacado? Mistério...

Só muito cedo, dia 24, Domingo, pelas 5 horas, quando arriscamos abrir uma janela, vi uma praça embalada, de passos apressados que respondia a um popular: “Isso se acaba quando a policia aderir...” E se a policia não aderir? arriscou o popular.

Isso não se acaba nunca... foi a resposta.

Por aí, convenci-me de que o ataque era ao quartel da policia, pelo 21º BC.

Bateram na porta do Dr. Manoel Vitorino. Era um ferido que recorria aos seus cuidados médicos. Nessa ocasião, consegui dos soldados do 21º BC., vir para casa um automóvel em que vinham de fuzis embalados. Éramos eu e o professor. Em casa, estavam apenas 4 senhoras e daí o meu cuidado. Entretanto, encontrei a todas em relativa calma. No domingo, às 15 horas, após ter queimado o último cartucho, rendeu-se o quartel da policia que havia resistido heroicamente até aquele instante, e passaram presos pela nossa porta, em demanda do 21º BC., o comandante e alguns oficiais da briosa e heróica polícia militar.

A confusão começou, então, a dissipar-se. Tratava-se de um movimento comunista, com pretensão a alastrar, por toda a terra brasileira. Aqui estava aclamada e empossada uma junta governativa com o respectivo secretariado. Tendo lançado mão dos jornais, fizeram eles da Ordem a sua imprensa oficial. Lá foi publicada A Liberdade por onde se via o que intentara a revolução da Aliança Nacional Libertadora.

Por esse tempo, em Recife e no Rio, passava-se alguma coisa de anormal. E o mesmo surto comunista que felizmente se cifrou a estes 3 pontos. Abafada a revolução no Rio e em Recife, conforme os rádios vinham anunciando, foi fácil terminar a tragédia potiguar. Quando os comunistas souberam que voava para cá uma esquadrilha de aviões, trataram de arrombar os cofres dos Bancos do Brasil e do Rio Grande do Norte (cerca de cinco mil contos de réis) e fugiram com a dinheirama, depois de uma luta tremenda para reparti-lo ao sabor de todos. Só os grandes paredros ficaram de bolsos cheios. Os soldados que pegaram em armas e arriscaram a vida, nada tiveram.

No dia 27 de novembro, quando apareceram os primeiros aviões da legalidade, já estava içada a bandeira branca no quartel do 21º BC.

O surto comunista teve aqui tão grande vantagem, em virtude da exploração política. Houve verdadeira confusão de que se aproveitou o comunismo. Dizia-se que o fim da luta era depor o governo e os aliancistas pegaram em armas e depois encheram as prisões ao lado dos comunistas...

As orações dos bons, dos ainda não contaminados pelo vírus de Moscou foi que nos salvaram, desta vez, das desgraças de que andamos muito ameaçados.

É preciso agora prevenir levantes futuros, criando uma mentalidade anticomunista. Pregar o evangelho é suficiente, porque ele é a paz, a concórdia, a harmonia universal, em contradição com o ódio, o rancor, a divisão pregada pelos agentes do Komitern.

Admira que brasileiros, sem amor ao Brasil, trabalhem, assim, para entregar ao estrangeiro, audaz e maquiavélico, a Terra de Santa Cruz”.


NOTAS:

1 - “... Outra coisa: o único carro que nós não requisitamos foi o do Bispo, Dom Marcolino Dantas. Por sinal, ele não se prestou a servir na luta contra nós, apesar da reação Ter insistido. O único que prendemos foi o chefe de polícia...”. Giocondo Dias: Os objetivos dos Comunistas, p. 155, Editora Novos Rumos, São Paulo, 1983.

2 - Na carta-panfleto de Juvenal Lamartine a Dom Marcolino, ele diz que “os soldados assassinos levavam rameiras para o Templo”, em Caicó.

3 - Juvenal Lamartine era muito ligado à Igreja Católica. Foi sugestão dele o envio de um projeto-de-lei à Assembléia Legislativa, transformado em lei em 12.10.1929, concedendo uma ajuda de 100 contos de réis para duas novas dioceses: Caicó e Mossoró. “No dia 11 de dezembro, fizeram-se expressivas manifestações ao Presidente Dr. Lamartine e aos poucos deputados à Assembléia Legislativa, no salão de festas da Escola de Comércio”. José Alves Landim, (Sob a poeira dos caminhos”, p. 88, Imprensa Industrial, Recife, PE, 1950).

4 - O monsenhor Alfredo Pegado Cortez foi candidato a Assembléia Constituinte Estadual, em 34, pela Aliança Social (coligação do Partido Social Nacionalista, de Café Filho, e o Partido Social Democrático, de Mário Câmara). (A Revolução de 1930 no Rio Grande do Norte, Marlene da Silva Mariz, p. 124, dissertação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1982).

5 - Mário Câmara foi nomeado por Getúlio Vargas para Delegado do Tesouro Brasileiro no Exterior, “indo servir em Londres, como compensação pelo seu insucesso político” (Marlene da Silva Mariz, op. cit., p. 133).

6 - O jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, a 20.08.34, numa matéria sobre “Os acontecimentos do Rio Grande do norte – Declarações da Officialidade do 21º BC”, informa, através do “enviado especial” a Natal, que “Tendo ocorrido boatos de que o interventor Mário Câmara, teria sido deposto, procurei informações no 21º BC, cuja officialidade nos informou o seguinte: “O Sr. Mário Câmara não foi deposto e sim, observado para que não continue a política de pressão, desmando e violências que estava exercendo, contrária aos princípios de garantia geral adoptados pelo Presidente da República”. Na mesma edição, outra matéria registra que “Não houve nenhuma tentativa de deposição do interventor. Os officiaes do 21º BC limitaram-se a comunicar ao Interventor os termos do telegrama que haviam dirigido unanime ao general Manoel Rabelo, no qual declararam não servir sob as ordens do mesmo interventor pela política de violências que estava seguindo: A officialidade está inteiramente alheia às lutas políticas”. O major José Inácio Veríssimo foi o oficial do Exército que esteve em Parelhas para verificar a situação.

7 - Segundo o professor Otto de Brito Guerra, Dom Marcolino não mandou cumprimentar a Junta Revolucionária de novembro de 35, em Natal. (Entrevista de 13.02.87)

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