Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
1935
Setenta anos depois
Isaura Amélia Rosado Maia
e Laélio Ferreira de Melo (Organizadores)
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de Produção
Testemunha
do Movimento de 1935
Pretextato José da Cruz
Companheiros da mesa, público presentes,
jovens estudantes, em novembro de 1935 eu estava
com onze anos de idade, nasci em 1924, na Avenida
Alexandrino de Alencar, onde é hoje o Corpo
de Bombeiros. O meu pai era um dos amigos de Café
Filho, era “cafeísta” de carteira
assinada.
Tem
algumas coisas que eu quero contestar. O movimento
de 1935 tinha um objetivo de paz e amor, não
era do partido comunista, porque as palavras de
ordem da Aliança Libertadora não
tinham nada a ver com o partido.
Giocondo
Dias que era umas das lideranças aqui em
1935, casado com minha prima, que já faleceu,
e eu sempre estava na casa de Lourdes que morava
ali entre a Romualdo Galvão e a Salgado
Filho, em frente ao Hospital Walfredo Gurgel,
lá tinha uma fazenda grande, que nem sempre
freqüentava. Quando chegava via Giocondo
à paisana, em geral não estava fardado,
com vários companheiros. Eu não
entendia se eram militares. Depois de muito tempo
é que vim saber, pelo próprio Giocondo,
que aqueles homens à paisana eram justamente
os da marcha militar do Rio de Janeiro, na etapa
da propagação do movimento aqui
em Natal e em todo o Brasil.
Cortez,
na sua fala, levantou uma questão que eu
quero esclarecer. Luis Maranhão Filho e
o professor José Cândido eram os
dois alunos do Atheneu, eles tinham aproximadamente
dezesseis anos de idade. Quando começou
o movimento, o cabo, que Cortez citou, pegou no
batalhão uma metralhadora, ele atirava
muito bem, botou na torre da catedral e começou
a atirar, derrubou a porta do quartel da polícia.
Luís Maranhão e José Cândido
apareceram para vestir a farda, também
do exército, para se integrarem à
luta. Walfredo disse: “Olhe, vocês
não vão se meter nisso, porque são
rapazes muito jovens, mas eu quero que vocês
dois fiquem trazendo água de perto da casa
de Felinto Manso, cada um com um balde carregando
água para botar no cano da metralhadora”.
A
metralhadora naquela época esquentava muito,
quando dava trezentos tiros ficava dar cor de
brasa. Então, Luís Maranhão
e José Cândido passaram a noite carregando
água.
Outro
fato importante aconteceu com Milton Siqueira,
tio de Juliano Siqueira. Na hora em que iniciou
o Movimento, ele foi para o quartel do exército,
vestiu a farda, pegou alguns soldados botou no
caminhão e foi na casa do capitão
Aluízio Moura, que morava perto de onde
é o antigo Cinema Rio Grande. Chegando
lá, perguntou: Maria cadê o “nêgo”?
O “nego” era Aluízio. “Aluízio
tá aqui, respondeu Maria”. Milton
respondeu: “Chame que ele vai vestir a farda
do exército aqui no caminhão”.
O
comandante era um gaúcho que vivia aqui
em Natal, primo de Getúlio Vargas, chamado
José Otaviano Pinto Soares. Foi para o
quartel da polícia, convocar o major Luís
Júlio para resistir ao movimento, mas,
derrotados, fugiram pela retaguarda do quartel,
onde amarraram uma corda, desceram e rumaram para
o Rio Potengi; alguns fugiram pela estrada de
ferro. Eram poucos soldados. O batalhão
do exército antecipou a manifestação
porque na véspera do movimento o comandante
da região militar, general Manoel Rabelo,
mandou dar baixa na maioria dos recrutas que tinham
completado ou não o serviço.
Foi
o último levante importante do Brasil.
Depois de 1935, ninguém se levantou para
fazer mudança nenhuma ou qualquer coisa
parecida. Ninguém do exército nem
da marinha. É bom não esquecer que
não são os militares que fazem a
revolução, militar toma posição
depois que a revolução está
feita; a igreja também é a mesma
coisa, toma uma posição, mais ou
menos sem querer interferir, ela só toma
posição, verdadeiramente, na hora
que a marcha está na rua, e fica ao lado
de quem estiver com o poder. Quem faz revolução
no Brasil e em qualquer país do mundo são
as massas organizadas, a luta pode ser através
do voto e das armas.
Em
1941 eu me alistei no exército, eu era
o vinte e nove, eu cheguei e alguns recrutas me
chamaram, eu era garoto, tinha dezessete anos
e oito meses, eles disseram, “você
não vai passar no exame de saúde”,
mas eu fui e passei no exame. Apresentei-me como
voluntário para ir para a Segunda Guerra
Mundial da Itália. Tudo que eu fiz no exército
foi voluntário, infelizmente, eu não
cheguei a ir para a Itália, porque o sargento
que comandava a minha companhia, na hora do embarque
ele me chamou e me disse: “Você vai
pegar seu material e vai sair, vai ficar aqui
porque você tem uma conduta exemplar; no
seu lugar vou colocar Gomes, ele pode morrer por
lá, na Itália”. Mas o cara
foi e voltou. De qualquer maneira, hoje, tanto
aqueles companheiros que foram para a Itália,
como os que ficaram aqui, tudo é uma coisa
só, ex-combatente para todos os efeitos.
Natal
poderia ter se tornado uma frente de luta no Brasil.
Vi na Praia de Ponta Negra, durante uma manhã,
um submarino alemão levantando. Tudo escureceu,
eu estava lá armado de fuzil ordinário.
A arma mais forte que tínhamos era a metralhadora.
Para atirar naquele submarino, precisou a artilharia
de costa mandar pedir permissão ao comandante
da guarnição. Quando a ordem chegou,
o submarino já tinha ido embora.
O
exército brasileiro nunca tomou posição
ao lado dos trabalhadores, sempre esteve ao lado
da classe dominante, poderá, futuramente,
ficar ao lado dos trabalhadores e transformar
o Brasil. Mas enquanto não houver neste
país um governo sério que vá
para o palanque dizer o seguinte: “Se eu
for eleito, quem roubar vai pagar caro, com cadeia”,
nada mudará.
O
Lula está aí, é o nosso presidente,
eu respeito a figura do presidente, mas acho que
o que estamos vendo de roubalheira no país,
parece até brincadeira. Já discuti
isso com o PT, tem vários colegas meus
no PT, e respeito muitos deles. Acho que na militância
aqui no Rio Grande do Norte e no Brasil tem pessoas
que podiam estar no lugar de Lula, com mais ideologia.
Eu
queria dizer ainda que no dia 24 de novembro,
a minha prima, irmã da mulher de Giocondo,
vinha no caminhão com algumas colegas,
era uma moça de quinze anos de idade, ia
passando ali onde é a Escola Domestica,
onde à época ficava o quartel da
cavalaria da polícia militar, e um cabo
chamado Roque, que sabia que ela era cunhada de
Giocondo, pegou o fuzil e atirou nela, um tiro
certeiro, ela caiu e morreu ali mesmo. O Giocondo
nunca citou esse fato, nem nas entrevistas que
deu nem no livro que ele escreveu. Quem comandava
a cavalaria naquele tempo era Luís Gonzaga
Paiva, irmão daquela Luzia Paiva que declamava
poesia, e que já morreu há muito
tempo.
Vocês
que estão por aqui hoje, devem aprofundar
essa questão e saber que o Brasil é
um país do “arrumadinho”, todo
mundo querendo se “arrumar”. É
necessário, portanto, uma consciência
social. Vocês têm o futuro e a responsabilidade
pelas mudanças que precisamos.
Pretextato
José da Cruz
Ex-líder do Sindicato dos
Estivadores de Natal e líder do Partido
Comunista Brasileiro
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