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De Pé no Chão Também se Aprende a Ler

Memória Histórica Potiguar

 

 

 

Cartas de um Exilado
Djalma Maranhão
Edição Clima Artes Gráficas, 1984

 

De Pé no Chão | 40 Horas de Angicos | Movimento de Natal | CEBs no ES | Potiguariana

Dia de Domingo
Doryan Jorge Freire

Pessoas a quem Djalma Maranhão enviou cartas do exílio

Embaixada do Uruguai
Dezembro de 1964

João Maria Furtado
Embaixada do Uruguai, Dezembro de 1964

Roberto Furtado
Embaixada do Uruguai, Dezembro de 1964

Leandro
Embaixada do Uruguai

Dária (esposa)
1.º de janeiro de 1965, tirando o azar de 64.

Jacyra
Embaixada do Uruguai

Roberto Furtado
Montevideo, 9 de julho de 1965

Natércia
Montevideo, 14 de abril de 1968

Natércia
Montevideo, 12 de junho de 1968

Marcos (filho)
Montevideo, 20 de agosto de 1968

Dária (esposa)
Montevideo, 4 de outubro de 1968

João Maria Furtado
Montevideo, 7 de maio de 1969

Jacyra
Montevideo, 8 de maio de 1969

Dária (esposa)
Montevideo, 24 de outubro de 1968

Roberto Furtado
Montevideo, 12 de maio de 1969

João Maria Furtado
Montevideo, 1.º de janeiro de 1970

Jacyra
Montevideo, 1.º de janeiro de 1970

Bilhete para Jacyra
Montevideo, 12 de janeiro de 1970

Humberto Pignataro
Montevideo, 25 de janeiro de 1970

Roberto Furtado
Montevideo, 27 de janeiro de 1970

Jacyra
Montevideo, 15 de Maio de 1970

Marcos (filho)
Montevideo, 31 de janeiro de 1970

Roberto Furtado
Montevideo, 27 de fevereiro de 1971

 

 

 

 

 

 

Dia de Domingo
Dorian Jorge Freire

Alguns amigos de Djalma Maranhão, sobretudo Roberto Furtado, Carlos Lima, Mailde Pinto, Newton Navarro, José Alexandre Garcia e Paulo Macedo, vão publicar cartas do grande prefeito de Natal na data que assinalaria os seus 70 anos, se ele não tivesse morrido no exilio.

E ensejam a todos nós, amigos e admiradores de Djalma Maranhão, a oportunidade excelente de voltar a falar nele, a relembrá-lo e a exaltar as suas graúdas qualidades.

Qualidades de homem público, cuja vida inteira esteve estreitamente ligada a causa do povo pobre. Djalma Maranhão, sempre, todos os dias de sua vida, breve e preciosa vida, esteve a serviço dos pobres. Como jornalista, como político, como deputado, prefeito, exilado. Não há na sua história, na sua biografia que precisa ser escrita pela competência de Roberto Furtado, não há um instante, um dia, um minuto de distanciamento Djalma Maranhão-povo.

Não posso dizer que o conhecí, como ele merecia ser conhecido e como eu gostaria de tê-lo conhecido. Mas o conhecí. Eu o conhecí na segunda metade dos anos 40 e fui mobilizado por ele, lá em Mossoró, para a campanha de o petróleo é nosso, que quixotescamente ele provia no interior do Estado. Ele fez um ato público ao lado do Pavilhão Vitória, na Praça Rodolfo Fernandes, em Mossoró, com dois oradores. Eu que o apresentei (a ousadia de meus 15 ou 16 anos de idade) e ele.

Em 1950, comecinho do ano, ele me escreveu uma carta que até hoje guardo nos meus baús. Chamava-me para vir a Natal. Dizia temer que eu continuasse nos limites (que ele julgava estreitos) da cidade de Mossoró, onde findaria me casando e tendo filhos barrigudos e remelentos... Vim no pio e ele aqui me arranjou um emprego, de tradutor de telegrama no Diário de Natal, àquela época dirigido por Edilson Varela.

Eu ficava no meu cantinho, manso e humilde de coração, penteando telegramas (da Asapress) e enchendo os olhos com as notabilidades que ali brilhavam: Edgard Barbosa, Américo de Oliveira Costa, Luiz Maria Alves, João Neto, Aderbal de França, o próprio Maranhão.

O próprio Maranhão que eu, em artigo publicado no O Mossoroense, que a família Maia ainda não assinara com a complacência de Mossoró, chamara de Maranhão Feroz, o que o divertira muito.

Depois veio o depois. Fui para a nação Sul, mas não perdi Djalma de vista. Nem ele esqueceu seu amigo mossoroense, tanto que, prefeito de Natal, duas vezes me trouxe aqui, para ser hospede do Hospital Miguel Couto (que na época era também hospedaria) e ver o seu trabalho.

E que trabalho, minha gente. Djalma Maranhão, que não era homem de cultura, não frequentava livros, escrevia com a desenvoltura gostosa com que falava, em Natal costurava e bordava. Entendia o povo e o povo o entendia. Nunca houve, nunca terá havido na história política e administrativa de Natal e do Rio Grande do Norte, um caso mais perfeito de simbiose povo-administrador. Djalma não administrava para o povo – Djalma administrava com o povo. Com ele a democracia era mais o governo do povo do que pelo povo e para o povo.

No seu jeep de guerra, a gente embiocava pela periferia da capital e eu via a admiração direta. O prefeito excelente discutindo planos com o povo, aprendendo e ensinando. Falando a linguagem do povo, não porque tivesse aprendido a falá-la, mas porque aquela era sua própria linguagem.

Se o seu mano Luiz Maranhão Filho era o político culto, o professor de imensos méritos, causeur agradável, selecionador de leituras, assistido por um pensamento político-filosófico. Djalma era a intuição, a pele suscetível, a capacidade de entender num átimo, a coragem furiosa (daí o Maranhão Feroz) de ousar, de tentar, de fazer.

Vi naquela época que ele engrandeceu, que ele fez sua, que ele nominou, a época de Djalma Maranhão, faixas e mais faixas nas ruas dos pobres de Natal, com a informação maravilhosa: nesta rua todos sabem ler e escrever, nesta rua não há mais analfabetos. Porque com Djalma Maranhão, de pé descalço se aprendia a ler em barracos, em choupanas, até no raio que o parta.

Não era aquele um governador paulista, mas um governo do povo. E com singularidades notáveis: a máquina administrativa andava a todo vapor, as contas municipais eram exemplarmente corretas, não se roubava nem se esbanjava dinheiro do povo, que o dinheiro da Prefeitura voltava para o povo em obras que se multiplicavam para atendê-lo.

Natal sabia que tinha um prefeito. Um grande prefeito. Que aqui tinha o maior prefeito do Brasil. Fazendo, acontecendo, mexendo, criando, lutando, enfrentando as dificuldades, se possível, se necessário, até na porrada.

A intervenção militar de 1964 tinha de pegá-lo, porque não podia aceitar o povo no governo. Cassou Djalma Maranhão, prendeu Djalma Maranhão e terminou por exilá-lo. Abriu mil d um inquéritos para escacaviar e sua administração e verificou a inexistência absoluta (eu escrevia absoluta) de qualquer senão, de qualquer escorregão, de qualquer deslize, de qualquer facilidade, de qualquer leviandade.

Djalma Maranhão, que era um estouro da natureza, tinha também a sua simplicidade. E os homens simples não roubam, não defraudam, não mentem, não traem, não exploram.

Tanto que pela força bruta arrancado de sua Prefeitura, arrancado de sua cidade, de seu Estado, de sua pátria, era um homem liso. Sem meios para garantir a subsistência familiar, a sua própria subsistência. Tendo de trabalhar com o suor de seu rosto, para comer o amargo e triste pão do exilio.

A quem chegava do Uruguai, perguntávamos todos – e Djalma? A resposta era invariável – está morrendo de saudades.

Outros exilados se adaptavam, aprendiam a língua estrangeira, diversificavam suas atividades, conspiravam. Djalma Maranhão, não. Djalma Maranhão agonizava de saudades. No rádio vagabundo que comprara em Montevidéu, corujava a noite inteira, na tentativa, evidentemente vã de ouvir Natal.

Aquela fúria que era sua característica de ação, se transformou na fúria interior que passou a consumi-lo. A matá-lo todos os dias, em doses homeopáticas, crescentemente. Cada dia no exílio, era cada dia mais próximo da morte. Da morte que para ele tinha um sentido de resgate, porque haveria de trazê-lo para Natal. Aqui seria plantado, no chão amante de sua Natal.

E foi assim. Um dia o coração de boi estourou de saudade. E o cadáver veio para sua cidade, e, com acompanhamento de uns poucos temerários, foi levado ao cemitério.

Ainda aí, a bravura, a grandeza, a singularidade de Djalma Maranhão não haviam pago o preço todo que cobravam. Fez-se silêncio em torno dele. O seu nome passou a ser proibido. Pronunciado em cochicho. Velado apenas no coração do povo pobre que não esquece. Ainda hoje há quem comete a prudência de omitir o seu nome no Palácio dos Esportes. Palácio dos Esportes. Só. Não Palácio dos Esportes Djalma Maranhão.

Tolice.

Porque a cada dia que passa, Djalma Maranhão cresce mais no respeito do povo. Não há mais uma só pessoa que não saiba que ele foi o maior prefeito que Natal teve. O maior e o melhor. Não há mais quem não o avalie com justiça.

Os que o conheceram, os que tiveram o privilégio de sua amizade, de sua atenção, de seu querer-bem, falam dele com basófia, com gabolice, com goga:
- eu conheci Djalma Maranhão.

Já é alguma coisa. Outros há, muito mais felizes e no seu rol eu me meto: os que podem dizer, mesmo sem soberba, que não trairam a sua amizade.

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Pessoas a quem Djalma Maranhão enviou cartas do exílio
Pela sequência de publicação, e para melhor identificação

Netércia, Ângelo, Odete e outros – familiares
João Maria – Desembargador João Maria Furtado, seu procurador Roberto – Dr. Roberto Furtado – Advogado e seu ex-Secretário de finanças
Leonardo – Leonardo Bezerra, jornalista
Dária – Dária Maranhão, sua esposa
Jacyra – Jacyra Furtado, esposa do Desem. João Maria Furtado
Netércia – Netércia Maranhão, irmã de Djalma Maranhão
Marcos – Marcos Maranhão, seu filho
Humberto Pignataro – Corretor de imóveis em Natal

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Embaixada do Uruguai

Netercia, Ângelo e Odete:
Ronaldo, Margarida, Aliete
Maria Ângela, Eugênia e Roberto:

Como um peregrino, continuo andando, sendo levado como as folhas que o vento arranca das árvores e voam sem destino.

Espero, em breve, começar a coordenar a suavidade das brisas e disciplinar a força dos tufões.

Voltarei, então, a Natal, para o convívio da família e dos amigos.

Tio Lula vai bem.

Aguardo salvo-conduto para viajar para o Uruguai, aonde pretendo fazer um rigoroso tratamento de saúde, que anda um pouco avariada. A moral, entretanto, está firme...

Bôas Festas e Feliz Ano Novo

Djalma Maranhão

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João Maria Furtado
Embaixada do Uruguai, Dezembro de 1964

João Maria,

Você, que foi um grande jogador de futebol, sabe que melhor sistema é endurecer o jogo e quando perde, aceitar a derrota de cabeça erguida.

O diabo, é que no jogo da vida, um árbitro sem escrúpulo, marcou um penalti contra mim... Estou em desvantagem no placar. E chegamos quase ao final do primeiro tempo, nos últimos instantes de 1964, ano cruel que não deixa saudades.

Durante o intervalo, no período de descanso vou ao Uruguai. Tratarei da saúde.

O segundo tempo vai ser duro, com linha e dêdo amolecendo...

Avise a Jacyra que as promessas que ela fez, pagarei todas, assim que retorne a Natal, espero não demorar muito.

Tome conta dos meus negócios, juntamente com Roberto, desde o processo, orientando os advogados, liquidando o jornal, vencendo objetos, fazendo empréstimos. E, particularmente, aconselhando Marcos.

A saúde melhorou pouco, mas, o tratamento definitivo, somente será possível em Montevideo.

Diga a Lauro Pinto que se aguente na sela...

Lembranças para Carlos Augusto e Zacarias.

Abraços em toda a família.

Bôas Festas e Feliz Ano Novo


Djalma Maranhão
(Dezembro 1964 – Embaixada do Uruguai)

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Roberto Furtado
Embaixada do Uruguai, Dezembro de 1964

Roberto,

Poucos foram tão solidários como você, na hora da hecatombe. Evidentemente certo, que é um problema de tradição, atávico, hereditário. Você herdou esta fibra do velho João Maria.

Todos nós e eu em particular, lhe agradecemos, reverenciando, emocionados, a sua atitude e desta admirável Dora.

Saimos da Prefeitura de cabeça erguida, com as mãos limpas. Não houve subterfúgio que conseguisse colocar uma mancha no pulmão sadio das finanças municipais, que esteve sob a sua responsabilidade, comprovada capacidade e indestrutível honradez.

Ficaram em cofre cem (100) milhões de cruzeiros, o funcionalismo rigorosamente em dia e um plano administrativo quase impossível de ser superado. Você realizou o saneamento das finanças municipais, criando condições econômicas para a execução do plano de obras.

É muito difícil apagar no coração do povo a marca de amor que deixamos enraizada.

Nunca esqueça que o vilão somente leva vantagem no início da contenda. Esperemos, confiantes, os atos finais da tragédia.

Bôas Festas e Feliz Ano Novo

Djalma Maranhão
(Dezembro 1964 – Embaixada do Uruguai)

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Leandro - Embaixada do Uruguai

Leandro,

Para Você, nesta Véspera de Natal e proximidade de Ano Novo, não era necessário escrever uma mensagem, nem mesmo uma simples frase.

Bastava uma pausa, uma pequena meditação, um mergulho no passado. E no silêncio e na tortura desse submundo em que passei mais de oito meses, tinha, forçosamente, de encontrar coce, como o melhor amigo de uma determinada e longa fase da minha vida.

Em breve devo seguir para o exterior. Longe da Pátria, retemperarei as energias, acreditando sempre na fidelidade do coração humano, que se desencontra, mas que nunca foge a grandeza geométrica de um reencontro.

Quando chegar a hora de voltar, chegarei rápido a Natal, porque ninguém se perde no caminho da volta, na afirmação do sociólogo nordestino.

Velho Léo, abraços para você, extensivos a esposa e filhos.

Bôas Festas e Feliz Ano Novo

Djalma Maranhão


(Embaixada do Uruguai)

Recado para o “reaça” Alves: Diga ao Britânico, que apesar de tudo, ainda lhe resta uma “bola branca”, como diria Paulo Macedo. Seu anjo tutelar é a filha, que vi praticamente nascer e crescer, chorona e bonita e por quem tenho ternura de tio ou de sogro...

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Dária
1.º de janeiro de 1965, tirando o azar de 64

Dária,

Minha querida:

Tenho orgulho de você. Digo, sinceramente, que não esperava a resistência demonstrada, a inexcedível dedicação, a extraordinária coragem de enfrentar situações difíceis, o ânimo forte.

Você é uma grande mulher, uma dedicada companheira, uma extraordinária esposa.

Todos sabem, - que à minha maneira – sempre fui um apaixonado. Sempre repetia que você era a única mulher capaz de vivermos a vida inteira unidos.

Você é muito mais inteligente do que parece. Soube, com habilidade me envolver, dominando-se completamente e ao mesmo tempo, dando a impressão de que eu tinha livre todos os caminhos.

Meu bem: A sua ternura, o seu amor, o afeto constantemente demonstrando, são coisas impossíveis de relembrar, numa simples carta.

Somente estando ao seu lado, acariciando o seu cabelo, olhando os seus olhos, adorando o seu perfil, as mãos entrelaçadas, é que poderia transmitir todo o sentimento do meu coração.

Depois de oito meses de separação, aquelas 24 horas que passamos juntos, no Recife, tiveram sabor de lua-de-mel. Beijos e abraços do seu marido

Djalma

P. S. Escrevo esta carta no dia 1.º de Janeiro de 65, tirando o azar de 64.


(Embaixada do Uruguai)

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Jacyra
Embaixada do Uruguai

Jacyra,

No dia das mães passei um telegrama. Depois do falecimento da velha Salomé, um espelho de bondade que guardo pela vida afora – tive uma imensa saudade.

Voltei a lembrança para diversas pessôas e resolví mandar-lhe aquela mensagem, reflexo do meu estado emocional.

Dária deverá retornar até o dia 15 de junho próximo. Está bem melhor, com o sistema nervoso mais controlado mas, sempre preocupada com Marcos.

Estou pedindo a Roberto para entregar trinta mil cruzeiros a Marcos, com recomendações de que seja econômico.

Tive uma imensa, extraordinária mesmo, alegria, com a vinda de Harilda, que chegou como um furacão, demorando menos de uma semana, pipocando no mundo. Devia ter passado um mês, divertindo-se no velho Rio de Janeiro. Não nega que ainda sente saudades de Nereu... A sua vinda foi ótima... Abraços para João Maria.

Djalma


(Embaixada do Uruguai)

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Roberto Furtado
Montevideo, 9 de julho de 1965

Roberto,

Aproveitando a visita do nosso amigo Sérvulo, escrevo-lhe este bilhete. Ele chegou na hora do almoço e obteve uma rápida visita extra.

Estou com o pé no escribo para viajar. Consegui adiar o embarque. Ontem teve avião e amanhã terá outro. O motivo do adiamento é guardado a ajuda econômica que, por seu intermediário, mandei solicitar aos amigos.

O próximo avião será entre o dia 18 e 21. E neste terei que ir de qualquer maneira. Telegrafarei, logo que tiver o dia certo.

Escreverei mais detalhadamente, quando Dária regressar.

Abraços para todo o pessoal, não esquecendo o velho João Maria, Jacira, Harilda, Mailde, Dora, etc.

Disponha sempre do amigo.

Djalma Maranhão


P. S. O portador voltou e hoje, 10, fui avisado que tem um avião no dia 14. Devo viajar nele.
O nosso amigo Sérvulo tem um processo na Secretaria de Segurança. Peço examinar.

Djalma

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Natércia
Montevideo, 14 de abril de 1968

Natércia,

As suas cartas são esperadas com ansiedade e lidas com satisfação, porque transmitem notícias da cidade e dos amigos. Dária vai passar o inverno em Natal. Tenho uns problemas a resolver no Rio e em Natal. Voltará no fim do ano, caso não seja eu que retorne, em companhia de Marcos e Aninha.

Examine a possibilidade de mandar, também, Maria Eugênia. Grande abraço para Ângelo e para o resto da turma e escrevera sempre.

Djalma Maranhão

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Natércia
Montevideo, 12 de junho de 1968

A tranquilidade de Dária, que volta a Natal para operar-se depende muito de sua assistência, tendo em vista a confiança que ela deposita em você. Durante o período que ela estiver no Hospital, Maria Eugênea poderá ajudar bastante.

Lembranças para Ângelo, Bia e o resto da turma, com um grande abraço do

Djalma

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Marcos
Montevideo, 20 de agosto de 1968

Marcos, meu filho; um grande abraço.

Fiquei, realmente, satisfeito com a sua carta. Uma demonstração clara do seu amadurecimento. O homem que se preocupa em ocupar o seu lugar dentro da sociedade em que vive, descortinando horizontes em novos ângulos, marcando a transição de um período que se ganha quando se ultrapassa a maioridade. Os 21 anos de uma juventude, doce e bela infância que não se reencontra nunca mais, porque a roda da história não anda para trás... O menino de ontem, que se criou brincando nas largas avenidas do Tirol e nas encostas dos morros que circundam a cidade, subiu nos cajueiros, goiabeiras, mangueiras; jogou pedras e deu tiros; entrou pelo mar a dentro, deslumbrando, nadando nas ensolaradas praias de Areia Preta, Ponta Negra, Redinha, Circular. Teve o seu velocípede e a sua bicicleta e depois atormentou os pais, saindo as escondidas dirigindo, sem permissão, um jeep ou um automóvel. Bebeu o seu primeiro copo de cerveja, fazendo careta, reusando guaraná, porque beber cerveja, com um gosto amargo, era uma deliciosa maneira de ir afirmando-se como homem... Estudou sempre, com extraordinária facilidade para aprender, mas dando um trabalho imenso a sua mãe, com a tarefa de obrigá-lo a preparar as lições e acordar cêdo para ir ao Colégio. Entre os esportes e a literatura, preferiu ser um intelectual, um devorador de livros, deixando permanentemente derrubada a biblioteca do pai... Ainda de calças curtas escreveu seu primeiro artigo quando morreu o padrinho Luiz Antonio e fez o primeiro discurso estimulado por Café Filho. Viajou, conhecendo grande parte do território de sua Pátria.

Depois veio o dilúvio, a enxurrada que enxovalhou o Brasil. Angústias, desilusões, a noite negra que acobertou o ódio e abriu ainda mais as portas de nossas riquezas à voragem insaciável dos poderosos grupos econômicos norte-americanos. Mas, o sol nasce todos os dias, desde que o mundo é mundo. O rubro clarão das madrugadas é uma esperança que se renova. O futuro está do nosso lado. Os mais poderosos impérios da terra, baseados na força, nunca sobreviveram à força das idéias. Buda, Confúcio, Cristo, Maomé, Marx, símbolos de filosofias diversas mas que têm uma raiz comum e deságuam no imenso estuário em que se encontram milhões de seres humanos, unidos no desejo de que o mundo seja um mundo melhor. Hitler e Mussolini sonharam em implantar um sistema, baseado na prepotência, que duraria MIL anos. Em minhas andanças pelo mundo estive em Milão, na Praça Loreto, onde Mussolini foi fuzilado e dependurado em um poste, como se fosse um porco e também visitei em Berlim o local aonde Hitler está soterrado como se fosse um cão hidrofóbico. É a história dos nossos dias. Uma guerra que se transformou em guerra de liberação dos povos.

Você sabe melhor do que eu. O Brasil é um país de jovens. Mais da metade de sua população tem menos de vinte anos de idade. Isto é fabuloso. Sou um homem no caminho da velhice, mas serei um velho com idéias jovens. Não existe conflito de gerações. Isto é uma mistificação. Existem velhos que são velhos mesmos e jovens que já nasceram velhos... A missão do homem que atravessou mais de meio século de vida, é colocar a sua experiência a serviço do sadio entusiasmo juvenil, vanguarda de todos os nobres movimentos. Esta é a minha tarefa. O amanhã pertence a sua geração. Isto não significa que serei um simples conselheiro, um contemplativo. Não. Sempre participante, para ser fiel ao jovem que vive dentro do meu coração.

Não desespero. Sei esperar. A idade dos povos não se mede pela idade dos homens. A minha luta é a continuação da luta dos meus antepassados, os nativistas que plantaram a semente da pátria e conquistaram a sua Independência Política. A batalha prossegue para obtermos a Independência Econômica. Os nativistas de ontem são os nacionalistas de hoje. Estamos unidos debaixo da mesma bandeira irá dar animo aos teus futuros filhos, meus netos, na fidelidade aos princípios de liberdade. Igualmente à fraternidade que os franceses receberam dos gregos e tornaram universal.

O Brasil é minha Pátria, Natal minha cidade, em cujo chão estão enraizadas indissoluvelmente todos os meus sentimentos. Tenho a consciência tranquila. Dei minha contribuição no sentido de arrancar o Brasil do atoleiro em que se encontra, quando lançamos as bases da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler. A História fará justiça. Não importa o que passou e o que ainda está passando. Continuo no caminho certo, aquele traçado pelos mártires de nossa Independência. É melhor sofrer e muitas vezes morrer, do que participar do festim daqueles que estão vendendo o Brasil no balcão das negociatas internacionais. Não sinto nenhuma sedução pelos encantos do Dólar, que nos dias de hoje tem o acaso, a triste e horripilante missão de substituir os 30 dinheiros de JUDAS. Minha geração, certamente, não assistirá os últimos estertores do Império do Dólar. Não importa. O parto tranquilo. Deixo o Império moribundo. O século XX que marcou o início de uma nova era social levará nas suas convulsões os últimos tentáculos e a derradeira gota de fel do imperialismo norte-americano. Os povos sub-desenvolvidos, poderão, então, encontrar o caminho do progresso. Os meios de produção e a terra serão patrimônio de todos. Haverá fartura e desaparecerá o fantasma da fome, que mata, assassina é o termo, milhões de seres humanos. Desaparecerá, também, o espectro do analfabetismo. Genocídios como do Vietnã não se repetirá.

Meu Filho:

Esta carta não é um testamento... É a conversa franca de dois homens. Um mais idoso e outro mais jovem. Ainda espero viver bastante. E a vida não é somente luta e trabalho. O homem e a mulher necessitam divertir-se. A outra face. O lado ameno. Música e poesia. Um pouco de vinho, sim, vinho, porque o vinho está nas escrituras!... E na sua idade é ideal para todas estas coisas. Aproveita. Aproveita bem. Neste capítulo também posso oferecer contribuição da minha experiência. E não estou arrependido. A vida é bela. O difícil é saber aproveitá-la dentro do binômio: intensidade e equilíbrio.

Esta carta está se tornando longa e assim sendo, deixo para a próxima vários assuntos de ordem pessoal. Ajuda tua mãe, olha por Aninha e muito carinho com tua avó e receba do teu pai um grande abraço, extensivo aos velhos amigos

Djalma Maranhão

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Dária
Montevideo, 4 de outubro de 1968

Dária, grande abraço.

Tive hoje, uma grande alegria ao receber, inesperadamente, a visita de vários conterrâneos, que se encontrando excursionando, terminaram aqui, diante desta velha e enferrujada máquina de escrever, quando me encontrava em pleno expediente. Luis Costa Cirne e a esposa Neide, Edilson Santos Medeiros e a esposa Dilce e o médico e esposa Francisco da Silva Gomes. Magníficos os presentes que mandou: 1 lata de goiaba, sabonete Dersox e um pacote de jornais. Conversamos muito, matando as saudades. Amanhã eles seguem para Buenos Aires e na volta passam por aqui e mandarei mais notícias.

Esta carta tem a finalidade toda especial de mandar-lhe um beijo de parabéns pelo próximo aniversário. O meu pedaço de bolo divida entre Marcos e Aninha. Dona Leopoldina, que tem uma voz muito afinada, naturalmente cantará o “parabéns para você”, dando início à festança. Não esqueça de encher o bucho de Haroldo de sanduíches... No próximo ano comemoraremos juntos.

Nas cartas anteriores tenho lembrado para você não deixar para a última hora o problema do passaporte, assim como uma nova carteira de identidade, basta requerer uma segunda via, pois depois de cinco anos a mesma perde a validade fora do país. O meu na tem jeito de chagar...

Tem chuvido bastante nestes últimos dias. Em consequência, peguei uma gripe danada. Tenho tomado comprimidos de todas as qualidades e hoje parece que a fase aguda está ultrapassada. Caso não venha uma recaída terminará o espirra-espirra e esta moleza no corpo, que chateia como o diabo...

Nas cartas que nas próximas semanas mandarei para Marcos, João Maria e Evaristo, falarei mais a vagar em diversos assuntos, inclusive como estou encarando a possibilidade do meu retorno.

Escreva para Naná, sabendo quando é que ela vem. Caso a época seja a mesma da sua viagem e caso você desejar passar uns dias em Porto Alegre, poderia vir com ela, que viaja somente de ônibus, porque tem mêdo de avião... Combinaram para se encontrar no Rio de Janeiro.

O pessoal que chegou de Atal, aos quais fiz referência no início desta carta, estava certo de que o caso de minha aposentadoria estava resolvido. Não sabia que ainda depende de uma decisão do Tribunal de Justiça. Logo que tenha qualquer informação mande dizer.
Você não mandou mais notícias de Maria Eugênia. Como é que vai de amores, quando casa? Ah, menina danada...

Lembranças para todos.

Um grande abraço pra você, Marcos, Aninha, Dona Leopoldina e Geralda e também não esqueça de abraçar Biá.

Djalma Maranhão

P. S. Dária – quem se encontra aqui é Antônio Luis. Veio falar com o pai, pois pretende casar. Examinou problemas dos terrenos de Brasília. A dívida é de 860 mil cruzeiros velhos. Ele aconselhou pagar, pois os terrenos tão muito valorizados. Vou escrever para Dinarte acertando uma forma de pagamento.

Mandarei cópia para você.

Em tempo: fique bom da gripe

Djalma

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João Maria Furtado
Montevideo, 7 de maio de 1969

Meu caro Desembargador João Maria:

Escrevo-lhe esta carta com bastante atraso, respondendo as suas notícias, tendo em vista que estou passando por um período de indecisão, coisa rara em minha vida. Sempre fui de tomar decisões imediatas, certas ou erradas. A coisa pior do mundo é vacilar. Não creio que seja a idade. Preparei-me para ter uma velhice resoluta. O problema é de responsabilidade de família. Minha mulher vive um drama permanente e recebeu o julgamento com uma crise nervosa tremenda, que se prolongou por vários dias.

Meu caro Desembargador: Eu não fui condenado e sim condecorado com as mais alta condecoração da verdadeira revolução brasileira! Estão equivocados os que pensam que me atingem. Somente aceito o julgamento da História. Os que hoje me condenaram passarão ao mesmo nível daqueles que condenaram os mártires de nossa Independência Política. Os meus descendentes terão honra de usar o meu nome e os filhos, netos e bisnetos destes infelizes traidores da Pátria, nunca poderão lembrar com dignidade suas descendências. É a realidade. Recebi tranquilo a notícia.

Não pretendo recorrer da sentença. Quando um dia o Supremo Tribunal retorne à plenitude de seus poderes, então examinarei o assunto. No momento é deixar os macacos quebrando a louça...

O que me alegra é saber que a grande maioria dos companheiros envolvidos nesta farsa estão livres.

O que me preocupa é o problema econômico. Dária terá de regressar e passar uma temporada em Natal. A dona do apartamento aumentou o aluguel e não posso pagar o que pede. O jeito que tenho é entregar, mandar a mulher para a casa de minha sogra e ir viver em um quarto de hotel. No fim do ano, para o começo de 1970 veremos a possibilidade dela voltar.

E a aposentadoria, como anda? Tenha cuidado. É preferível esperar mais um pouco. Poderá haver interferência. Tudo é possível.

Diga ao Roberto que na próxima semana responderei a sua carta.

Você e sua família, amigos certos nas horas incertas, o abraço do amigo de sempre que fica aguardando suas notícias.

Djalma Maranhão


P. S. CASA DA PRAIA – É a última coisa que desejaria vender. Pretendia passar meus derradeiros dias em Ponta Negra. Mas, se a pessoa interessada pagar um preço alto e o capital renda juros para minha tranquilidade econômica presente, faço o negócio. Vender, somente para aliviar uma crise momentânea, “comendo” o capital, como foi o caso de outras coisas menores vendidas, não interessa.

Djalma

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Jacyra
Montevideo, 8 de maio de 1969

Jacyra:

O próximo domingo é o dia das mães. Você que tem a idade física para ser minha irmã, sentimentalmente tem mantido uma solidariedade verdadeiramente maternal para este seu velho amigo, nos anos amargos em que vivo. Lembre-se que certa vez já lhe mandei uma mensagem, relembrando a velha Salomé que, durante toda a sua vida, foi mãe e amiga dos seus filhos. Hoje renovo a mensagem e com o pensamento voltado para ela, agradeço a você todo o que tem feito.

Jacyra: Minha situação econômica agravou-se. Não é do meu temperamento comentar estas coisas. Peço, entretanto, remeter com a possível brevidade o aluguel da casa da Rua Jundiaí, correspondente ao último trimestre. A derradeira remessa foi nos derradeiros dias de fevereiro.

Os primeiros meses de 1969 foram totalmente desfavoráveis. A pior fase. Não somente notícias ruins, como o pequeno negócio em que trabalho funcionou mal. Estou obrigado a mandar Dária passar uns meses aí, porque o aluguel do apartamento subiu violentamente. Sou um lutador e não desanimo, você bem sabe disto. Estou enfrentando o temporal e espero vencer a borrasca... No final tudo sairá bem. Pelos jornais do Rio acompanho, mais ou menos o que vai passando em nossa terra. Nunca mais recebi jornais daí.

E a garotada de Harilda como vai?

A preocupação com o problema econômico tira-me toda inspiração de escrever. Prometo-lhe, entretanto, uma longa carta com assuntos amáveis, logo que saia da “fossa”...

Um grande abraço em Dora e um duplo em Roberto.

Recomendações para todos, escreva e disponha sempre do amigo

Djalma Maranhão

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Dária
Montevideo, 24 de outubro de 1968

Daria:

Recebi a sua carta de 14 do corrente.

A estas alturas você já deve ter recebido às notícias que mandei por vários conterrâneos que passaram por aqui, sendo que o último foi o deputado Geraldo Queiroz. Além da carta mandei uma capa de plástico para Marcos e um brinquedo comprado na feira de Tristan Navarra para Aninha.

Já mendei avisar que arrume a maleta para voltar, depois do dia 20 de Novembro, época em que Marcos estará na reta final dos estudos.

IMPORTANTE. Somente viaje quando receber o dinheiro da casa da praia. Anteriormente mandei dizer para fazer um raspa e trazer tudo o que for possível. A vida aqui está encarecendo muito e também existe a possibilidade de uma hora para outra ter de retornar, necessitando dinheiro para as despesas. Acerte com Jacyra, tudo direitinho, dizendo a ela que eu necessito que o dinheiro venha por intermédio.

Traga o mínimo de roupa possível. Somente o necessário. O apartamento está cheio de cacarecos.

Peço para trazer remédios. Chofitol (em pílulas), sabão Dersox, uns frascos de Hebrin e complexos de vitaminas. Quanto as vitaminas fale com os médicos amigos. Não esqueça.

Recebi os recortes com a notícia da Auditoria do Recife, sinal de que as coisas ainda andam complicadas. Peço para mandar dizer em que ponto ficaram as coisas depois deste interrogatório. Advogado no Recife não adianta quase nada.

Sei que não é fácil de encontra, mas veja se descobre aonde anda uma segunda via de minha carteira de identidade. Tinha duas. Uma se encontra aqui comigo, meia esculhambada. Descobrindo a outra, traga.

Já que estamos falando em documentos, como é que vai o seu passaporte e a sua carteira de identidade? Tudo providenciado? Espero que sim.

Mandei por Queiroz um bilhete e uma fotografia para que Afonso Laurentino mande por você uma caderneta atualizada da Associação de Imprensa.

Outra coisa. Traga alguns selos para recibos. As vezes tenho tido necessidade, aqui no Centro Del Turista Brasilenõ, de passar recibos em cruzeiros e não tenho estampilhas. Selos para dois ou 3 recibos, nada mais.

Chegando no Rio (aonde vai se hospedar?) por intermédio de Odete fale com o Dr. Vivaldo. Peça todas as informações, inclusive nomes de advogados que possam impetrar o h. c. Fale pessoalmente, com calma.

Outro assunto que trate no Rio é do meu passaporte. Djalma Marinho mandou-me um recado, por Ivete Vargas que esteve aqui, pondo-se a disposição. Com o passaporte e a aposentadoria posso viver mais tranquilo. O velho poderá ajudar no caso do passaporte. O telefone do Vilas é: 45.7097.

Lembranças para Dona Leopoldina, Netércia, Ângelo, Djalma, Evaristo, Mário, João Maria, Pedro Coelho, Iêda, Aliete, Eunice, Heriberto, Maciel, Omar, Oliveira Júnior, Ticiano, Roberto, Zelda e Murilo, Ione, Pacheco, Olindina, etc., e abraços para você, Aninha, Geralda e Marcos.

Djalma

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Roberto Furtado
Montevideo, 12 de maio de 1969

Roberto, um grande abraço:

A condenação não foi surpresa. Apesar de todas as notícias otimistas não tinha ilusões. Sempre considerei que seria condenado na hipótese de ir a julgamento em justiça de exceção. A única saída que vislumbrava era o h. c. no Superior Tribunal, naquela fase em que o mesmo havia firmado uma jurisprudência favorável aos acusados, por falta de justiça causa, etc., etc. O pessoal cochilou no ponto. A coisa foi ficando na dependência do acaso de Diva e sempre adiando. E o resultado foi que virei “boi de piranhas”... Agora não adianta recriminações. Temos que enfrentar a realidade e a curto prazo não vejo nenhuma saída.

Na expectativa de retornar, não tinha renovado o contrato do apartamento. E agora, em junho, tenho que entregar. O novo aluguel é proibitivo. Dária irá passar uns 6 meses em Natal e eu irei para um quarto de hotel. Minha aposentadoria que estava na bica para sair, certamente entrará em compasso de espera. O Centro de Turismo, neste período de inverno, está praticamente sem movimento. Trabalha-se, somente, durante os 3 meses de verão. Estou abrindo outras frentes de trabalho, como seja venda de revistas e jornais. Negócio precário e trabalhoso.

Os últimos acontecimentos obrigaram-me a modificar completamente meus planos de vida. A volta imediata a Natal foi adiado e tenho de esperar. No campo dos acontecimentos políticos tudo é possível e nada é impossível. Esta condenação não me atinge, pelo contrário, recebo como uma honra, uma condecoração pelos serviços prestados à minha Pátria, hoje, infelizmente dominada pelos norte-americanos. Não roubei, não matei, não cometi nenhum crime. Somente aceito o julgamento da história e esta me fará justiça. Tiradentes e Frei Miguelinho também foram condenados pelos agentes de uma potência estrangeira que dominava o Brasil. Hoje não é mais Portugal que escraviza o Brasil. Os patrões, agora, são os yankees.

Conforme já escreví ao teu pai, (cuja carta peço acusar, mesmo que seja com um simples cartão) meu problema fundamental é econômico.

Necessito soluções rápidas para equilibrar as finanças. Vender ou alugar a linotipo, é uma delas. Não sei da possibilidade aí em Natal. Uma firma sólida ou a Universidade. Peço examinar o problema. Estou em contato com amigos do Rio, visando o mesmo objetivo. Caso esta hipótese se positive, você poderia providenciar a remessa da máquina para o Rio.

Outro assunto que peço toda a sua atenção é no sentido de mandar uma das máquinas de datilografia (portátil) que estiver em melhores condições para o Rio de Janeiro. Lá é mais fácil remeter para aqui. Tenho necessidade, agora que não posso retornar, de ativar meu trabalho. Para isto, preciso de uma máquina no escritório e outra em casa. Roberto: Resolva este caso com aquela sua antiga eficiência...

Deixe de lado o problema da apelação. O instante que estou vivendo é de sobrevivência econômica. Dois são os casos: Venda ou aluguel da linotipo. Remessa de uma máquina de datilografia portátil.

O dr. Ferreira já está meio dono da cidade. Fabuloso.

As novidades que se passam por aí tenho acompanhado pelos jornais do Rio de Janeiro. A confusão cada vez aumenta mais...

Lembranças para todos da família e um abraço para todos os amigões e disponha sempre do

Djalma Maranhão

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João Maria Furtado
Montevideo, 1.º de janeiro de 1970

Meu caro João Maria:

Propositadamente deixei para responder as suas duas cartas uma de 9 e outra de 12 de Dezembro passado, ao iniciar-se um novo ano... Vamos ver se a “urucubaca” me larga e surjam novos horizontes, pelo menos no campo comercial, regularizando minha situação econômica.

A pequena Agência de Viagens fechei, provisoriamente, ficando somente com a representação de revistas e correspondente de jornais. O endereço, entretanto, continua o mesmo, apesar de ir ao Câmbio somente como ponto de encontro e de referência. Todos os dias, às 10 horas e à tarde às 16, estou por lá.

Depois de uma longa peregrinação pela imprensa, procurando um “gancho”, parece que finalmente encontrei. Na próxima semana iniciarei uma crônica, duas vezes por semana (minha proposta era para se diária) no jornal BP COLOR, um órgão neutro, editado pela Editorial João XXIII, mas que não se preocupa muito com o problema religioso... Tem uma boa venda avulsa. Não terei ordenado fixo. Tudo depende da publicidade que entre. A secção é sobre turismo. Assim sendo terei de escrever e conseguir os anúncios. Escrever é o mais fácil, o mais complicado é a publicidade... Estou satisfeito, principalmente porque terei o que fazer durante todo o dia. O negócio das revistas não toma muito tempo, a não ser no fim do mês quando tenho de fazer a escrita prestando contas.

Sobre a aposentadoria fiquei ciente de todas as marchas e contra-marchas. Psicologicamente estava preparado para o adiantamento do julgamento para depois das férias forenses. Agora é esperar as próximas quartas-feiras, quando o Tribunal se reúne em pleno. O aspecto jurídico da questão é com você, pois o sapateiro não deve ir além da meia sola...

Agradeço muito a maneira detalhada como você escreveu, ponto por ponto. A falta de notícias, muitas vezes, deixa-me preocupado e é por isto que insisto em determinados assuntos. Você compreende.

Recebi o dinheiro mandado por Roberto, assim como a exposição de Carlos Lima sobre o estado da linotipo. Vou escrever aos dois.

Mandarei, também, um bilhete para Jacyra, sabendo de alugou a casa da praia e se recebeu, assim como você, uma carta feita em versos...

O reparo da casa de Ponta Negra será financiado por Josemar, que se prontificou para isto, desejando somente que Ribamar informasse e orientasse no que fosse possível. Certo.

Que os banhos de mar, em Muriú, lhe retemperem as energias para continuar no batente, com esta fibra que Deus lhe deu.

Somente a partir de amanhã vamos voltar a receber jornais do Brasil e da Argentina, cuja entrada estava proibida devido aos problemas de seqüestros! Assim sendo, tinha dificuldades em saber notícias do Brasil. Através de amizades nas companhias de aviação conseguia alguns jornais, mas de São Paulo e São Paulo é outro Brasil... Tenho notícias contraditórias. Umas informando da eleição de Carvalho Neto, em 3.º lugar. Outras não. Não sei quem foram os deputados estaduais eleitos. Dona Leopoldina mandou um jornal, mas até hoje não chegou. Impressos mandados pelo correio, é fogo. Um jornal de São Paulo também publicou que Roberto tinha entrado com um protesto contra a diplomação de três deputados do MDB, que na legislatura anterior tiveram faltas em demasia. Quem são estes malandros?

LINOTIPO – Escreverei, conforme já disse, diretamente para Roberto e Carlos, mas posso adiantar que estou de acordo com as iniciativas tomadas para a recuperação da máquina. Inicialmente, posso adiantar que interessa um arrendamento por dois (2) anos, com uma opção para Carlos renovar o arrendamento ou comprar, avisando com três meses antes de terminar o contrato de dois anos. Desejaria saber qual seria o mínimo que Carlos poderia pegar-me, mensalmente. Seria uma ajuda para aliviar meu orçamento pessoal, pois ando meio enforcado. O custo de vida aqui sobe de maneira inacreditável.

ELEIÇÃO DE ROBERTO – Fiquei bastante chocado em saber que Roberto tinha ficado na 1ª. Suplência. A política é uma megera. Apesar de não acreditar, no momento atual, na validade das eleições, por vários motivos, o caso de Roberto, é para mim mais sentimental que político. Espero que os recursos impetrados tenham validade e ele volte ao apartamento.

Vou terminando por aqui e mandando-lhe um abraço de amigo

Djalma Maranhão
Montevideo, 1.º de janeiro de 1970

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Jacyra
Montevideo, 1.º de janeiro de 1970

Jacyra:

Recebi sua carta e agradeço as notícias que mandou.

Natal e Ano Novo fizeram que entrasse numa “fossa” danada...

Dária deve passar o próximo inverno aí em Natal, retornando no verão. Está muito preocupada coma saúde de Dona Leopoldina, que depois da morte de Djalma, agravou-se ainda mais. E tem o caso de registrar Ana Maria.

Recebeu, juntamente com João Maria, dias cartas feitas em versos? Pouca gente sabe que na juventude fui poeta e poeta ruim...

A temporada turística, este ano, está sendo um fracasso, devido os casos dos seqüestros e das medidas tomadas pelo governo. Estou com vontade de domingo tomar um banho de mar, ou melhor, um banho de rio (água doce do Rio do Prata, misturada com água do mar).

Assunto chato. Alugou a casa da praia?

Assunto alegre. Já está preparando as fantasias dos netos apara o carnaval...

Escreva sempre mandando notícias. Abraços para Roberto, Dóra, Harilda e os netos e o pessoal da cozinha, sua equipe e secretárias. Ainda são as mesmas?

Um abração do velho amigo de sempre.

Djalma Maranhão

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Bilhete para Jacyra
Montevideo, 12 de janeiro de 1970

Prezada amiga Jacyra
Minha pergunta responda
Não tenha raiva, nem ria.

A casa de veraneio
Foi alugada este ano?
Tire-me deste aperreio
Ou entrei pelo cano?...

João Maria não deu bola
Para os versos que lhe mandei
Prefere jogar carambola
Com alguém que eu não sei...

Dária está gorda e animada
Com a chegada do calor
Parece até namorada
E me dando muito valor...

Djalma

Escreva. Mande contar as coisas que se passam por aí e que somente você sabe informar. Estou na expectativa da aposentadoria, esperando a todo momento notícias de João Maria.

Um grande abraço do amigo de sempre

Djalma

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Humberto Pignataro
Montevideo, 25 de janeiro de 1970

Meu caro Humberto Pignataro:

Os amigos são o melhor capital que se acumula na vida. Quando necessitamos deles utilizamos sem necessidade de emitir uma nota promissória... E os juros são debitados em uma conta corrente que somente são resgatadas com outros favores.

Meu caro Humberto: Sempre recordo as suas piadas e uma das melhores era aquela em que você anunciava a venda de um terreno do nosso querido amigo Chico Pôrto, com tanta fantasia, que no final, ele desistia da venda pois não imaginava que a sua propriedade tivesse tantas coisas bonitas...

Quem está necessitando, agora, de sua fértil imaginação como corretor de imóveis, é este seu velho amigo.

Tenho em Extremoz, conforme é do seu conhecimento, um sítio. Tem (02) duas frentes, uma para a lagoa (aonde existe uma praia com areias alvíssimas...) e a outra frente para a estrada de rodagem que vai para Muriú (a melhor praia do mundo na opinião do pessoal lá em Ceará-Mirim). O sítio fica bem próximo da estação da Estrada de Ferro.

Estava cercado de arame farpado e tem dezenas de coqueiros, cajueiros, mangueiras, jaqueiras, goiabeiras, abacaxis, etc., todos frutificando. Área para plantar milho, feijão, mandioca. Ótimo lugar para criação de patos e marrecos. E outras coisas que você pode bolar, aproveitando a propaganda da propriedade de Chico Pôrto...

Necessito vender o sítio para dar entrada em um pequeno apartamento (sala, quarto, cozinha e banheiro, todos minúsculos), ficando pagando o restante em 48 prestações mensais. Isto representará um sensível alívio, pois a prestação é menor do que o aluguel do apartamento em que estou vivendo. Estamos, aqui, em um regime ultra inflacionário, com uma falta de dinheiro em dólares. É o fim do mundo. Em que aluga pretende receber os aluguéis, também em dólar.

O dinheiro que recebo aí do Brasil, com que consigo ganhar aqui, representam 50% do aluguel do apartamento. E o pior é que não existem muitos apartamentos para alugar. O negócio do dia é vender. Vivo com a corda no pescoço... A solução é comprar um pequeno apartamento, pois são várias as imobiliárias que trabalham no gênero de vendas a prestação.

Não tenho uma idéia definitiva (aqui de tão longe) de quanto estaria valendo o sítio. Sei, somente, que a zona da Lagôa está muito valorizada com a eletrificação da região.

Confio que o amigo procurará ajudar-me encontrando uma oferta compensadora. Venda a vista seria melhor; Poderá, entretanto, fazer uma parte a prazo, com títulos que possam ser descontados em um Banco.

Peço falar com João Maria e Roberto, meus procuradores, advogados e amigos, com poderes para casamentos e batizados e outros bichos...

Um abraço para todos os amigos Leões e Domadoras, também, na expectativa de que ainda estaremos juntos naquelas reuniões tão agradáveis.

Dária manda muitas recomendações para a tua patroa.

E no momento, o que posso mandar para você, é um abração do tamanho do antigo bonde do Tirol...

O amigo de sempre

Djalma Maranhão

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Roberto Furtado
Montevideo, 27 de janeiro de 1970

Roberto, um abração:

Estou mandando uma enxurrada de correspondência para você, nestes últimos tempos.

Sobre a linotipo lhe escreví, inclusive mandando cópia da carta que enviei ao Carlos, concordando com o arrendamento da máquina por dois anos, ficando ele encarregado de preparar, de comum acordo com você e João Maria o contrato, mandando-me, antes, a minuta.

Agora estou lhe remetendo uma cópia de uma carta enviada ao corretor de imóveis Humberto Pignataro, solicitando vender o sítio de Extremoz, também ouvindo antes o velho e você. Os motivos da venda você tomará conhecimento através da carta para Humberto, pois não adianta estar repetindo a mesma lenga-lenga.

Muitas recomendaçãoes para o pessoal da família e os amigos

Djalma

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Jacyra
Montevideo, 15 de Maio de 1970

Jacyra:

Dária vai bem, somente preocupada com o frio que começa a chegar. Eu já estou mais ou menos aclimatado e como tenho condições de aclimatação em qualquer ambiente, resisto bem a onda de gelo que vem diretamente do pólo, passando por aqui, muitas vezes, com uma velocidade de vento de 120 Klms horários. A semana passada houve um pequeno “tornado”, uma espécie de furacão que arrasou com uma pequena povoação, inclusive matando várias pessoas.

Aproveito a oportunidade para mandar um recado para João Maria. Recebi a carta que ele mandou em resposta a que lhe escreví. Ainda não sabia que o Tribunal havia arquivado a Rescisória. Estava informando, de acordo com uma carta anterior dele, era de que a referida rescisória não tinha nenhum fundamento. Estou ciente que a questão entrou em outra fase, tendo ele mandado tirar certidões do processo, em duas vias para, através do Procurador Geral do Estado, ser solicitado ao Tribunal intervenção na Prefeitura e, ao mesmo tempo, a representação criminal contra o prefeito. Diga a João Maria que não se “afobe” com minha impertinência, perguntando, indagando, procurando saber a marcha deste longo processo. Vivo em um ambiente de expectativa, com os nervos escangalhados, tomando calmante todos os dias para poder resistir à maré de notícias ruins.

Roberto escreveu minha carta, acusando o recebimento da máquina de datilografia? Está sendo muito útil, porque os trabalhos que não faço no escritório levo para fazer em casa.

Um grande abraço para você, João Maria, Roberto, Dora, Harilda, netos, às empregadas e recomendações aos amigos. Daria também lhe manda um abraço. Disponha sempre do velho amigo.

Djalma Maranhão

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Marcos
Montevideo, 31 de janeiro de 1970

Marcos:

Receba duplo parabens. Um pela sua formatura e o outro pelo trabalho que está realizando para ajúdar a resolver o caso da aposentadoria.

Procure em meu nome todos os amigos que você considere válidos para “empurrar o carro”.

Um abraço do seu pai amigo

Djalma

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Roberto Furtado
Montevideo, 27 de fevereiro de 1971

Meu caro Roberto:

Esta carta trata das mesmas chateações de sempre. Em janeiro passado escreví duas vezes, já estamos em fins de fevereiro e ainda não recebi resposta.

A primeira foi sobre o arrendamento da máquina LINOTIPO. Mandei uma carta diretamente para Carlos e cópia para você, concordando com um arrendamento por dois anos e solicitando as bases para o contrato.

A outra, remetí para o corretor de imóveis Humberto Pignataro, solicitando que procurasse comprador para o Sítio de Extremoz. Também mandei cópia da carta para você.

Agora que terminou o carnaval e a temporada de verão, peço ao amigo tomar pé nestes problemas, mandando dizer como marcham os mesmos.

Recentemente, escrevendo para João Maria sobre a aposentadoria, mandei um BILHETE para você.

O carnaval aqui, é uma lástima, isto é, em relação ao nosso, pois é muito melhor do que em outros países vizinhos, aonde não se festeja praticamente ao Deus MOMO. Dura mais de um mês com uns desfiles de carris alegóricos e uns blocos denominados de MURGAS e COMPARSAS, uns calungas grandes denominados CABEÇUDOS, mas o povo não participa, ficando somente olhando. Somente no domingo fui ver o desfile. Era a mesma coisa dos anos anteriores.

Diga a Jacyra que ainda bem o verão não terminou e somente com uma pequena onda de frio. Dária pegou a primeira gripe do ano, ficando mais de uma semana na cama. Felizmente hoje já está bôa.

Durante todo este período carnavalesco não tomei nenhuma bebida, mas hoje é sábado e estou mal intencionado e pretendo tirar o atraso. Tem um brasileiro, meu conhecido do Rio, que se encontra aqui fazendo turismo e é metido a boêmio. Estava insistindo para que eu o levasse a um lugar típico de Montevideo. E hoje, ao meio dia, vamos comer CHICHULIN com vinho, lá no Mercado do Velho, próximo do Porto, uma zona braba... Ele vai ficar danado da vida quando descobrir que CHICHULIN é tripa-assada. A única grande vantagem que a tripa assada na hora, na brasa, uma espécie de churrasqueira enorme. Todas as vezes que como Chichulin me lembro do PICADINHO da Feira do Alecrim. Para quem tem uma boa dose de colesterol como eu, Chichulin é uma beleza...

Roberto: Hoje é sábado, amanhã é domingo. E termina o mês de fevereiro. Segunda Feira já é Março. Mande notícias, com a possível urgência sobre o contrato da LINOTIPO e a venda do sítio.

Recebí o numerário transferido pelo Banco do Brasil.

Em todos os assuntos, não preciso dizer, é fundamental a opinião do Pajé João Maria, para quem mando um grande abraço.

Lembranças para o pessoal de casa, recomendações aos amigos e disponha sempre do seu amigo.

Djalma Maranhão

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