Reflexões
Rosa Maria Gross
de Almeida
"O importante não
é se algo já está feito, mas que temos infinitas possibilidades de escolha.
Nossas escolhas nos levam a experiências que nos fazem compreender que
não somos as criaturas pequenas que parecemos ser. Somos expressões
interdimensionais da vida, espelhos do espírito." Richard Bach
- Um
Tempos complexos estes
que vivemos: a um só tempo, com muitas facilidades e dificuldades, maravilhas
e dramas, progresso e barbárie...enfim, um mundo de grande riqueza e
possibilidades de aprendizado.Dentre todas, talvez a maior riqueza,
consista na possibilidade de estarmos conscientes daquilo que acontece
conosco e à nossa volta e, assim, podermos escolher entre sermos os
personagens principais de nosso "drama" e seus produtores,
aqueles que podem mudar a ação e o diálogo ou, sermos seus meros espectadores,
passivos ante seu desenrolar, vítimas impotentes de um roteiro previamente
escrito. Em nossa vida em sociedade, em nossa família, junto aos nossos
amigos, em nosso trabalho, estamos todo o tempo interagindo uns com
os outros, e assumindo posturas, ou de agentes dos processos ou de seus
meros espectadores. Somos aquele que faz, ou aquele que sofre a ação,
sujeitos ou objetos de nossa própria existência, conscientes de nosso
papel de cidadãos ou dele alienados, passivos e desempoderados. O cidadão
não é simplesmente o indivíduo que vive na cidade, é bem mais do que
isto. Ser cidadão é assumir uma postura ativa na vida, é agir sobre
e agir com, é participar do processo de construção, é responsabilizar-se,
é protagonizar. Porque será que isto, que é inerente à condição de cidadão
é, entretanto, tão difícil? São muitas as causas e tem raízes biológicas,
psicológicas, filosóficas, sociais, ideológicas, etc... Vamos aqui ocupar-nos
de algumas delas, embora reconhecendo que, de alguma maneira, todas
as causas se mesclem e que, apenas por razões didáticas as podemos separar.
Podemos começar olhando à nossa volta e refletindo sobre o valor que
temos, ou nos damos, nós, seres humanos, hoje. O que vemos? Seres humanos
perdidos de si próprios, distantes da satisfação de suas necessidades,
distantes até mesmo da consciência de tê-las, buscando em subterfúgios,
muitas vezes destrutivos satisfações para uma vida que está de costas
para aquilo que lhe é essencial. Vemos também empresas investindo milhares
de dólares em equipamentos que protejam e valorizem suas mercadorias,
enquanto nenhum investimento fazem para proteger a integridade de seus
funcionários. Homens e mulheres usados como mercadorias, com este uso
seguindo as leis da oferta e da procura, descartáveis ante a possibilidade
de uma oferta melhor, mais lucrativa...Coisa no lugar de gente, gente
no lugar de coisa... E nem tão longe precisamos ir. Vamos nos deter
um pouco em nós mesmos. O que vemos? Como temos olhado para nós? Quanto
temos nos ocupado de nós, zelado por nossas necessidades, cuidado de
nossa saúde? Temos estado atentos ao que acontece conosco, ou será que
nos colocamos em algum lugar de nossa lista de pendências "para
ser resolvido algum dia" quando sobrar tempo, quando não tivermos
mais tarefas para fazer, coisas a comprar (e a pagar), outros para priorizar,
casa para pintar, grama para cortar, etc, etc, etc... Todas estas, é
claro, situações importantes, inadiáveis, intransferíveis - Eu posso
esperar-.Quantas vezes nosso sofrimento, seja físico, emocional ou de
qualquer outra ordem, foi e é simplesmente desconsiderado, minimizado,
frente a todas as outras coisas a fazer na vida? Pense um pouco sobre
isto, procure na sua mente, o lugar onde você se colocou em sua vida,
e pergunte-se o porquê de ter sido assim. Em que ponto da minha estrada
eu me perdi de mim, do meu valor intrínseco, da responsabilidade e importância
que mereço ter frente a mim mesmo? E se isto está assim comigo, se assim
me trato e des-considero, com que olhos tenho olhado para os outros
seres humanos à minha volta? Será que é apenas em mim que não vejo importância,
ou será que não estou mais conseguindo ver importância nos seres humanos?
Ou, será ainda, que considero que alguns tem valor e importância e outros
não? Enfim, como andam meus sentimentos e pensamentos com relação a
mim e aos outros, como tenho olhado a vida e em que lugar nela me colocado?
Dois pescadores seguravam
suas varas à espera de um peixe. De repente, gritos de crianças trincaram
o silêncio. Assustados, os pescadores procuraram e nada encontraram.
Os berros continuaram. A correnteza do rio trazia duas crianças quase
afogadas, pedindo socorro. Os pescadores pularam na água. Mal conseguiram
salva-las, quando escutaram mais gritos: outras quatro crianças se debatiam.
Novos gritos: são mais oito crianças vindo correnteza abaixo. Um dos
pescadores virou as costas e começou a ir embora. Seu amigo não entendeu
seu comportamento: - "Você está louco, não vai salva-las"?
E ele respondeu: - "Acho que está na hora de descobrir quem está
jogando as crianças no rio."
Gilberto Dimenstein
Pois é, parece que está
na hora de descobrir quem está jogando as crianças no rio. No nosso
caso, as crianças representam o não exercício da cidadania e os desrespeitos
e violações aos direitos humanos. Se acima refletíamos sobre "coisa
tomando lugar de gente, gente tomando o lugar de coisa" que sentido
faz estarmos falando em cidadania? Se não tomamos conhecimento de nós
mesmos e de nossas necessidades e se, aos outros damos igualmente tão
pouca importância, que sentido faz falarmos em direitos humanos? Onde
estão os "cidadãos"? Onde estão aqueles que percebem a si
e aos outros como seres humanos, com a dignidade que isto lhes confere?
Ao que parece, vamos precisar deter-nos nas raízes daquilo que nos aflige,
olhar estes temas, cidadania e direitos humanos, de uma perspectiva
radical ou correremos o risco de que, daqui a vinte anos (ou até que
alguém descubra quem está jogando as crianças no rio), continuemos a
necessitar educar para aquilo que a nós deveria ser o mais natural:
a vida vivida com cidadania e respeito aos direitos humanos. Até onde
nossas reflexões nos levam, olhar estas questões desde suas raízes significa
olhar para os indivíduos, recompor sua trajetória neste desviar-se de
si mesmos para, assim, poder contribuir na retomada do caminho da autoria
e direção da própria vida. A trilha que seguiremos é a do entendimento
de como nos desenvolvemos, como se foi constituindo nossa personalidade,
como chegamos a ser quem hoje somos. As ferramentas que utilizaremos
para isto virão da Análise Transacional, um sistema de psicologia individual
e social que muito irá contribuir para esta análise, por ocupar-se do
indivíduo e de suas interações no grupo, por faze-lo, ao mesmo tempo,
com seriedade e simplicidade e, principalmente, por ter como base uma
profunda crença no ser humano.
Todos temos um núcleo básico
estimável, com a força e o desejo de auto-cresimento e realização, portanto,
eu sou OK e você é OK e podemos trabalhar em cooperação e mutualidade,
e a partir de um contrato, fazendo nossas próprias escolhas e exercendo
nossa autonomia com responsabilidade. Eric Berne (adaptado) Ao olharmos
para nós mesmos, o que vemos? Vemos a mulher, vemos o homem que somos,
que se movimenta na vida, ama, se alegra, sente raiva, se entristece,
trabalha, estuda, busca soluções para os problemas que a vida lhe apresenta,
tem êxitos e fracassos...enfim, vemos alguém envolvida/o naquilo que
é próprio do que chamamos de "vida adulta". Mas, esta pessoa
que somos hoje, não começou aqui. Tem uma história, percorreu um caminho
e, deste ponto da vida em que está, necessita olhar para trás, para
este caminho, para poder recolher as experiências e transforma-las em
aprendizagens, para enriquecer seu presente e ajuda-la a projetar seu
futuro. Convido-os a que este não seja um olhar queixoso, sobre uma
caminhada sofrida, tampouco raivoso pelas injustiças que ali encontrou,
ou ainda, um olhar que lamenta o tempo que passou... Não que nossas
dores não mereçam ser olhadas e tratadas, não que nossa raiva não mereça
ser expressada, não que nossas perdas não mereçam ser choradas. Ao contrário.
Tudo o que existe dentro de nós, tudo aquilo de que se compõe a nossa
vida merece respeito. Mas, antes de tudo, é importante darmos valor
à própria vida e aquilo que ela diligentemente nos ensina, se estamos
dispostos a aprender. Não recebemos, ao nascer, nenhum "certificado
de felicidade, saúde e prosperidade..." fornecido pela vida, como
garantia de que tudo iria transcorrer sempre muito bem. Mas recebemos
um certificado de vida, e a possibilidade de construí-la, transforma-la,
enriquece-la...ou não...
"Quando iniciamos
a vida, cada um de nós recebe um bloco de mármore e as ferramentas necessárias
para converte-lo em escultura. Podemos arrasta-lo intacto a vida toda,
podemos reduzi-lo a cascalho ou podemos dar-lhe uma forma gloriosa."
E, olhando para trás, encontramos
a criança que fomos um dia. Você tem tido a oportunidade de observar
crianças? Desde bebês recém-nascidos, até aquelas já quase adolescentes.
Ao olhar um bebê, pode-se imaginar momentos de maior fragilidade e dependência
em uma vida? Você já pensou em você mesmo, bebê, completamente vulnerável,
entregue, dependente e, ao mesmo tempo, confiante? Pois é, foi assim
que tudo começou. Com um bebê que aqui chegou, trazendo consigo uma
bagagem genética que lhe conferia, por um lado, sua genuinidade (a não
ser os gêmeos univitelinos não existem duas pessoas com a mesma carga
genética) e, por outro, uma imensa gama de possibilidades, de potencialidades
a serem desenvolvidas. Além disto, em um meio ambiente, formado por
aqueles que estariam à sua volta, aqueles que se ocupariam dele na maior
parte dos casos, a mãe, o pai, em outros uma avó, irmãos maiores, as
"tias" da instituição...enfim, aqueles que contribuíram para
suprir aquela total incapacidade daquele novo ser de cuidar de si mesmo.
Propositadamente, deixamos de fora a referência a trazer ou não, esta
criança, uma bagagem espiritual. Este é um espaço que deixamos para
ser completado por cada um, de acordo com aquilo que acredita e, com
isto, só enriquecerá a teoria. Pois este bebê, que através de suas características
individuais sentia este mundo em que havia chegado, começou a aprender
sobre ele. Bem no início, para ele não havia diferença entre ele próprio
e este mundo externo especialmente entre ele e sua mãe, mas devagar
foi se estabelecendo dentro dele esta diferença, quando o desconforto
da fome demorava a ser saciado, quando a dor na barriga era aliviada
por algum movimento vindo de fora dele, enfim, foi aprendendo que existe
um "dentro dele" e um "fora dele" e que, (descoberta
terrível!) aquilo que se passava dentro dele, dependia daqueles que
estavam fora dele! E como eram grandes estes de quem ele dependia! (Dá
para imaginar como se sente um bebê frente a um pai ou a uma mãe?).
Talvez desde as primeiras percepções e durante ainda um bom tempo na
vida da criança seus pais lhe pareçam deuses onipotentes, que tem sobre
ela poder de vida ou morte, e realmente o tem. Isto pode explicar, em
boa parte, com é difícil a certos filhos, já em sua vida adulta, abandonarem
certas práticas destrutivas que herdaram de seus pais, mesmo sabendo
dos prejuízos que lhes causam. Mas isto já é uma outra história. Assim,
aprendendo a viver, esta criança vai crescendo, desenvolvendo a capacidade
de obter em seu meio satisfação para suas necessidades e desejos. Terá
feito, até aqui, já uma boa parte do aprendizado do exercício ou não
da cidadania. Como foi isto? Quando um bebê começa a perceber que existe
um dentro e um fora dele, começa também a perceber que existem "pontes"
entre este dentro e este fora. A de que primeiro lançou mão foi o choro.
Desde seu aparecimento, o choro se constitui em uma ponte entre o bebê
e seu meio. É ele que sinaliza que algo não está bem, que algum desconforto
existe, que algo precisa ser feito. Como este choro foi recebido no
ambiente? Com um olhar amoroso acompanhando os cuidados necessários
para restabelecer o conforto, com um olhar de pânico ante as necessidades
desta criança? Ou ainda, com um olhar cheio de cólera e com movimentos
bruscos? Será que este choro pode ter resultado em algum tipo de agressão
a esta criança ou não tenha simplesmente resultado em resposta alguma
e a criança, quando já cansada, calou o choro e o desconforto dentro
de si? E também tem aquela criança que nunca precisou chorar! Aquela
que tinha suas necessidades atendidas mesmo antes de tê-las e que foi
se acostumando a que seus desejos são ordens e que não suporta qualquer
frustração. Não estamos falando de alguma situação isolada na vida desta
criança, e sim, de situações repetidas. O que se imagina que esta criança
terminará por aprender, de acordo com estas diferentes respostas do
ambiente às suas manifestações? Podemos deduzir que, uma criança que
lançou sua "voz" no ambiente e foi ouvida, foi atendida, com
a repetição disto aprende que vale a pena manifestar-se, vale a pena
ir em busca daquilo de que necessita, que é possível esperar resposta
àquilo que reivindicamos. Aprende sobre si mesma que é alguém que merece
respeito. Se a isto acrescentamos uma educação onde direitos e deveres
foram equilibrados, onde a criança aprendeu dentro de casa a exercer
esta cidadania, ouvindo e sendo ouvida, respeitando e sendo respeitada,
sendo estimulada a pensar, ter pensamentos próprios e iniciativa, mas
onde também aprendeu a pensar e construir em conjunto, bem com a respeitar
o pensamento alheio, não é difícil imaginar esta criança, no futuro,
como um cidadão, como uma cidadã. Por outro lado, vejamos as outras
situações: se, ao contrário, esta criança aprendeu que a manifestação
de suas necessidades é alguma coisa assustadora? (ela, criança, não
sabe o que é, mas se mamãe está assustada, a causa só pode ser ela!
E, além disso, mamãe sempre tem razão.) Com a continuidade disto (existem
pais que passam a vida sentindo muito medo ante as manifestações de
seus filhos) esta criança poderá aprender, por exemplo, que aquilo que
vai dentro dela, suas necessidades, desejos, pensamentos, etc., são
assustadores e que deve poupar as outras pessoas disto, tal como fez
para proteger seus pais, ou poderá desenvolver uma fantasia de que é
poderosa e assustadora e passar a buscar resolver seus problemas pela
intimidação dos outros, conforme dava certo em sua casa. E aquela outra
criança, aquela cujas manifestações resultaram em cólera e movimentos
bruscos ou, no outro caso mais grave, em agressão? Nestes casos, uma
criança aprende que, não só suas manifestações não são bem vindas ou
até que é perigoso manifestar-se, como também aprende a esperar o pior
do ambiente. É de se imaginar que nas etapas seguintes da educação desta
criança não haja muita diferença neste quadro, o que poderá resultar
em um indivíduo que sente muito medo ao fazer qualquer reivindicação,
por justa que seja. Já para aquela criança que não obteve resposta alguma,
o que fica é o sentimento de "não adianta". Para que brigar?
Para que manifestar-se, se nada adianta? "Vamos só perder nosso
tempo...!" Assim, não se envolverá com nada ou será uma daquelas
pessoas que terminam por não ser levadas a sério, porque reivindicam
aos gritos, por vezes em momentos inadequados, ou com as pessoas mais
erradas e que, enfim, acabam saindo destas situações de novo com um
enorme sentimento de "não adianta".Quando uma criança chora
e chora muito e como não obtém resposta chora mais ainda, chega a um
ponto em que ela estará exausta e que, por uma questão de sobrevivência,
seu organismo entrará em um estado de letargia, acalmando todos os seus
sistemas. Continua sendo um tanto assim o funcionamento desta pessoa.
Quanto à criança que teve suas necessidades atendidas "preventivamente"
e que acabou por não aprender a suportar frustrações, esta está por
aí, recebendo da vida os limites que não recebeu em casa ou fazendo
ainda seu papel de "monarca entre vassalos". Assim foi se
desenvolvendo (ou não) nosso cidadão. Como nossa vida vai se alargando
e enriquecendo a partir das interações, quando estas diversas crianças
vão para a escola, existe a possibilidade de que estes quadros se revertam.
Dependendo de como for este meio maior e dependendo das características
próprias destas crianças, cada uma delas terá agora a oportunidade de
viver em um universo onde as interações poderão ser outras e, conseqüentemente,
as experiências e aprendizagens também. Infelizmente, a maior parte
das escolas tem um estranho senso de cidadania e de distribuição de
direitos e deveres. Penso que as escolas precisam ser olhadas muito
de perto quando procuramos descobrir "quem está jogando as crianças
no rio." Não estou com isto colocando sobre as escolas papéis que
pertencem aos pais, e acabei de apontar algumas situações no trato com
os filhos que mostram isto. Pais são, efetivamente, os primeiros educadores
de seus filhos e aqueles sobre os quais pesa uma enorme carga afetiva
nesta relação, o que lhes dá contornos imensos. Entretanto, as escolas
estão a meio caminho entre a família e a sociedade como um todo e, por
esta posição, teria como exercer um papel de educadora, tanto desta
família como desta sociedade. Simplificando, a educação e orientação
dada a estas crianças na escola, através delas voltaria para dentro
de suas casas, contribuindo para sua promoção. Por outro lado, na escola
se daria a permanente reflexão sobre a sociedade para a qual está preparando
esta criança, transformando-se em um espaço onde elas, crianças, descobrissem
seu papel de protagonistas em uma sociedade que se constrói como o reflexo
daquilo que de melhor cada um tiver para dar. Entretanto hoje, quando
as crianças vão para a escola, deparam-se com um espaço onde todo o
conhecimento já está pronto, todas as descobertas feitas, tudo resolvido...e
sem qualquer contribuição dela, inclusive as normas de convivência às
quais ela estará submetida. O mesmo aconteceu em muitos dos seus lares.
Já estava tudo feito e determinado. A ela só cabia obedecer ou rebelar-se.
Será que ela não teria com o que contribuir? Será que isto não lhe daria
um maior senso de responsabilidade com esta sociedade se a tivesse ajudado
a construir? Será que isto não lhe garantiria uma boa dose de auto-estima,
pela percepção de que, seja qual for sua parte nesta construção, é sua
parte e sua contribuição é única?
Não penso que devêssemos
reinventar a roda a cada criança que entrasse na escola. Sei perfeitamente
dos benefícios que resultam da possibilidade de partir de onde o caminho
já esta feito. Estou falando da riqueza que reside no pensar livre,
no questionamento daquilo que já está constituído, na busca de novas
e criativas soluções para as questões que a todo o momento a existência
traz Estou falando do questionar de "verdades incontestáveis",
de rebuscar na história e não se contentar com explicações que não explicam,
de quebrar paradigmas sem precisar levar séculos para isto, enfim, estou
falando em devolver ao ser pensante, curioso e investigativo que somos,
estas qualidades. É triste pensar que tenham sido os anos de escola
aqueles que mais nos afastaram delas, por vezes de forma irrecuperável
e é mais triste ainda pensar em toda a imensa contribuição que cada
criança poderia ter dado à escola... "A vida de uma criança pode
nos ensinar tanto quanto a vida de um sábio." Rachel N. Remen -
Histórias Que Curam A escola exerce um grande fascínio sobre a criança.
Se aí ela encontra um ambiente de crescimento, onde suas potencialidades
têm espaço de desenvolvimento, onde suas características são somadas
para benefício do todo, a escola estará cumprido seu papel na formação
dos futuros cidadãos. Acrescente-se a isto a alegria das descobertas,
o aprender como um grande jogo, divertido e sério a um só tempo, do
qual saímos com uma sensação de satisfação. E a tudo isto some o afeto,
a felicidade de acompanhar os passos daquele que aprende e de vê-lo
descobrindo e desenvolvendo suas capacidades à medida que descobre o
mundo, a compaixão frente às dificuldades, a presença que incentiva
e orienta. "Quando amas alguém e sabes que ele está pronto para
aprender e crescer, tu o deixas em liberdade." Richard Bach - Um
Um aspecto particular das
tantas potencialidades com que chegamos neste mundo, diz respeito à
capacidade de sentir emoções. Nascemos fisiologicamente equipados para
sentir emoções: alegria, afeto, tristeza, raiva e medo. Estas são as
emoções que fazem parte deste "equipamento" e estão inclusive
diretamente ligadas à preservação de nossa espécie. Entretanto, se nascemos
preparados para sentir estas emoções, não nascemos sabendo nomeá-las
e, menos ainda expressa-las de uma forma adequada. Isto será tarefa
para ser aprendida junto àqueles que de nós irão se ocupar bem como
com todos aqueles que cruzem nosso caminho, isto é, isto será aprendido,
ou não, na vida, em qualquer tempo. E o que isto significa? Significa
que uma criança pode sentir raiva e reagir dando um tapa quando outra
criança lhe arranca o carrinho com que brincava mas apenas se sua mãe,
ou qualquer outra pessoa naquele momento, traduzir aquele sentimento
como raiva, terá a possibilidade de saber o que sentiu. Além disto,
só irá aprender que existem outras formas de resolver a situação e de
que bater não será permitido, de novo, se isto lhe for sinalizado. Vamos
por partes: Pedrinho brincava com seu carrinho, quando Fábio inesperadamente
o arranca de suas mãos. A reação de Pedrinho é imediata e Fábio recebe
um tapa acompanhado de um grito. Isto chamou a atenção da tia que cuidava
da sala que se aproximou dos dois. Ao mesmo tempo em que consolava Fábio
a tia se dirige a Pedrinho e lhe diz em tom ao mesmo tempo firme e amoroso:
-Pedrinho, eu vejo que você ficou com muita raiva quando Fábio arrancou
o seu carrinho. (está nomeando para Pedrinho, a emoção que ele sentiu).
Tudo bem que tu sintas raiva quando te arrancam um brinquedo assim,
eu também sentiria. (está garantindo para Pedro que é OK ele sentir
o que sente, não há nada de errado com os sentimentos dele), mas eu
não vou permitir que tu batas no Fábio ou em qualquer outra criança,
assim como nenhuma outra criança poderia fazer isto (está dando o limite,
mostrando o que não está adequado) e nós vamos ver como poderemos resolver
esta situação. (mostra que existem outras formas de resolver as situações
o que o ensina a, por um lado, não ficar passivo diante do que ocorre
e, por outro, que há formas adequadas e formas inadequadas de resolver
problemas/situações). O mesmo se dá em relação às demais emoções, há
que ensinar para a criança o nome daquilo que ela sente, certifica-la
de que está bem ela sentir o que sente e orienta-la na melhor forma
de expressão daquilo que sente e na resolução disto. Utopia? Pode ser,
mas pense que U-TOPIA não significa o impossível, mas sim o contrário-
U- do que ocorre na realidade de hoje - TOPOS. Tudo isto diz respeito
a processos educativos em sentido amplo. O complicado é que, para ensinar,
é preciso ter aprendido e, para ter aprendido, é preciso que alguém
tenha ensinado antes. Não podemos exigir que os pais, professores, as
pessoas de maneira geral, saibam aquilo que jamais lhes foi ensinado.
Não só não sabemos nós mesmos, muitas vezes, o que estamos sentindo,
como também fomos acostumados a ignorar algumas de nossas emoções e
a superdimensionar outras. A muitos de nós foi ensinado que sentir raiva
é uma coisa feia, que merece castigo e o mesmo repetimos com nossos
filhos. Em outros casos, meninos quando expressam medo, não só não recebem
proteção, como também são chamados de "maricas" e humilhados.
Mas, se chegam da escola rasgados porque, num acesso de raiva brigaram
com o colega, são elogiados e estimulados neste comportamento. Podemos
imaginar que este menino, com a continuidade de situações como esta,
será um homem que encobrirá seus medos sob comportamentos violentos
(aliás, o violento é alguém com medo). Mesmo emoções consideradas "positivas"
como a alegria, por vezes são desestimuladas na criança, por exemplo,
quando uma criança cresce em uma casa onde há alguém doente, e onde
sistematicamente suas demonstrações de alegria são de alguma maneira
podadas, ou aquela criança que cresce junto a uma mãe ou a um pai deprimido,
a/ao qual ela jamais vê rir. Enfim, embora tendo nascido com a capacidade
de sentir e expressar nossas emoções, estas são capacidades, possibilidades
e vão depender muito do meio para que sejam efetivamente vividas. Assim,
durante os anos de nossa infância, fomos nos desenvolvendo e nossa personalidade
foi se completando pela crescente capacidade do uso da razão, da lógica,
do pensamento e, por outro lado, pela aquisição das normas e valores
da cultura em que nós e nossa família nos inseríamos, das regras e preceitos
familiares, dos modelos que elegemos para seguir. Na linguagem própria
da Análise Transacional a personalidade total resultante deste processo
fica assim diagramada:

Este é, como dizíamos,
o esquema da personalidade total. Nele vemos a Criança, o Adulto e o
Pai. Notem que estas palavras, agora, estão escritas com letras maiúsculas.
Isto significa que estamos falando não de uma criança, mas da parte
Criança de nossa personalidade, não de uma pessoa Adulta, mas da parte
Adulta de nossa personalidade, não dos pais, mas da parte Pais de nossa
personalidade. Explico melhor: Eric Berne(1910-1971), o criador da Análise
Transacional, chamou a cada um destes círculos de "Estados do Ego".
Isto porque, em sua prática clínica e a partir de seus estudos, percebeu
que em nossa personalidade total, guardamos como que "partes",
e que cada uma delas tem sua própria forma de sentir, pensar e agir.
Parece complicado? Na prática fica mais fácil. Imagine-se frente a uma
pessoa de suas relações, em um momento em que você está tentando que
ela compreenda suas razões, você já está cansada/o de argumentar, mas
a pessoa continua "batendo pé" no mesmo tema. Você certamente
já se ouviu dizendo em um momento destes algo como - "Você parece
uma criança!" Agora se imagine em um outro momento, frente a uma
pessoa que está falando com você dando conselhos que você não pediu,
ou chamando sua atenção com o dedo polegar levantado, ou ainda, insistindo
para que você coloque um agasalho que você avaliou que não precisa.
Talvez neste momento você tenha dito (ou tido grande vontade de dizer)
"Você parece minha mãe/pai!" Pois é, é assim que funciona.
No primeiro exemplo, embora se tratasse de uma pessoa adulta (note o
a minúsculo), naquele momento, estava funcionando como, provavelmente,
havia funcionado quando pequena e, no segundo exemplo, você já percebeu,
a pessoa estava agindo tal qual vira seu pai ou sua mãe ou talvez uma
avó, agir, ou seja, copiando um modelo. A maneira de sentir, pensar
e agir nas duas situações eram bem diferentes e, por vezes, alguém poderia
ter se lembrado destes dois momentos com relação a uma mesma pessoa.
Esta foi a descoberta que Berne fez, algo que intuitivamente nós já
sabíamos. Porque isto se dá assim? Quando vamos crescendo, a criança
que fomos não desaparece de dentro de nós e com isto, permanece também
a forma como pensávamos, sentíamos e agíamos naquela época, lá na infância.
Isto constituiu a nossa Criança interna e representa nosso conceito
sentido da vida, o que gostamos de fazer, o depositário de nossa infância,
o lugar dentro de nós onde estão guardadas nossas relíquias. É o componente
biológico desta personalidade total e o primeiro estado do ego a existir.
Nele, como dissemos, estão nossa bagagem genética somada às experiências
que vivemos na infância e representa, nesta personalidade, a grande
fonte de energia, espontaneidade, prazer, criatividade e capacidade
de experimentar emoções. Bem, é certo que não permanecemos congelados
aí. Crescemos e desenvolvemos o Adulto em nós. Este Adulto que teve
seu início em torno dos dois anos de idade (Adulto com esta idade????).
Pois é, o que chamamos de Adulto na constituição da personalidade, começou
assim cedo. É certo que seu conceito é um tanto diferente daquele que
temos usado. Neste caso, Adulto significa como que um "computador"
interno, que organiza as informações que vai recebendo tanto de dentro
de si mesmo quanto do ambiente, que analisa com objetividade e transforma
estas observações em aprendizagem, em experiência, em subsídios para
responder às demandas da realidade de forma lógica e adequada.É, portanto,
dentro de nossa personalidade total, o "administrador" que
adequa o interno ao externo e vice-versa, sendo o único dos estados
do ego que está permanentemente em contato com o aqui e agora. É o conceito
refletido da vida que nos mostra o que convém fazer. E o Pai interno?
Eric Berne descreveu-o como "...uma coleção de atitudes, pensamentos,
comportamentos e sentimentos absorvidos pela pessoa de fontes externas,
que fizeram às vezes das figuras parentais." É, por isto mesmo,
um estado do ego que não possui autonomia, seus conteúdos foram introduzidos
de fora e sua ação é apenas imitativa. Constitui-se em um receptáculo
de tradições, valores, preceitos e modelos de conduta recebidos. É o
conceito aprendido da vida onde buscamos resposta para o que deve ser
feito. Isto significa que, quando estamos atuando em nosso estado do
ego Pai vamos estar simplesmente copiando, imitando modelos que recebemos,
repetindo fórmulas prontas, frases feitas, ditados, etc...Na personalidade
total, seu desenvolvimento acontece mais tarde que o Adulto, dando-se
por volta dos 10 anos. Se olharmos esta personalidade como um todo,
veremos a nós mesmos e talvez nos pareça mais fácil compreender certos
eventos em nossa vida e na daqueles que nos cercam, bem como e, nossas
interações com os outros. Esta pessoa, que está constituída por uma
Criança, um Adulto e um Pai é este profissional, este pai, esta mãe,
esta esposa, este esposo, namorado, etc... que se movimenta na vida,
neste perpétuo cotidiano e que, porque está distanciado de si mesmo,
alheio às si, não se apercebe de suas necessidades e, tampouco de seus
potenciais. Termina por ter de si próprio uma imagem nebulosa, muitas
vezes diminuída e sem graça e, quando as dores surgem de dentro dele,
ainda assim não se detém em olhar para suas feridas. Muitas vezes, sequer
toma delas conhecimento. "Não quero pensar nisto" "Não
quero olhar para isto. É passado." "Não tenho tempo para bobagens."...
Até quando? Está bem, você não tem tempo para bobagens. Vamos aproveitar
seu gosto por "ser produtivo". Pense conosco. Não será mais
produtivo ter esta "equipe" aí dentro trabalhando com harmonia?
Talvez você não saiba, mas a criança tem uma força e uma energia imensas.
Com a nossa Criança interna não é diferente. Se esta força estiver "trabalhando"
a seu favor, isto será de grande valia para maior criatividade, vigor,
beleza, energia em sua vida. Se, ao contrário, esta força estiver a
serviço de necessidades não resolvidas, falsas crenças sobre a realidade,
emoções desgovernadas ou completamente negligenciadas, você provavelmente
irá sentir os efeitos negativos disto também em sua vida. O mesmo se
dá com seu Adulto. Você já reparou nas tantas vezes em que não consegue
pensar com clareza? Já se deu conta de momentos em que você sente claramente
que seu pensamento está bloqueado ou perdido em um redemoinho de emoções
confusas? Já sentiu um profundo desejo de que alguém o tomasse pela
mão e resolvesse seus problemas? Já experimentou um sentimento de medo
frente à vida, tal como se não passasse de um menino/menina sobrecarregado/a
de obrigações? Nestes momentos, boa parte de seu Adulto estará afundado
em dramas da Criança. De outras vezes, seu Pai interno poderá estar
atuando dentro de você como um tirano. Então, você passa criticando
e maltratando a si mesmo e aos que o cercam, eternamente insatisfeito,
enxergando a você mesmo com olhos implacáveis, incapaz de perceber,
de reconhecer, seus próprios esforços seus próprios méritos, seu próprio
sofrimento. Nunca está bom o bastante. Nunca. Viver tranqüilo, ser feliz,
isto é para os outros. Por alguma razão, para você sobrou o trabalho,
o sofrimento. E você chega a achar que isto é assim mesmo! Lembre-se:
seu Adulto é o administrador desta casa interna. Como poderá fazer seu
trabalho com clareza e objetividade, discriminar, decidir, adequar,
se está afogado entre uma Criança negligenciada e um Pai tirânico? Além
disto, este é o estado do ego que está permanentemente em contato com
o momento presente e com o que está acontecendo nele. A Criança veio
do passado, daquela criança que fomos um dia, O Pai também veio do passado,
como resultado de nossa relação com aqueles que de nós se ocuparam.
Só o Adulto está atualizado e pode, portanto, atuar em seu interno e
em seu entorno. É o Adulto em nós que, na hora da festa, na hora da
brincadeira, na hora do prazer "libera" a Criança para assumir
o controle. É também ele que, naqueles momentos em que estamos cuidando
de alguém que está necessitando de nós "libera" o Pai para
fazer o que melhor sabe fazer e que assume, ele próprio a situação na
hora do trabalho a fazer, das reuniões a participar, dos problemas a
resolver. É o Adulto em nós que está preparado para o exercício da cidadania,
pelo uso da razão que lhe permite a avaliação da realidade e pela condição
de funcionar no aqui e agora. Quando as pessoas ficam funcionando na
Criança, realmente comportam-se como crianças e sua postura é queixosa
("É tudo tão difícil. O governo tinha que melhorar a nossa vida"),
ou medrosa ("Deus me livre me meter nestes movimentos, a corda
sempre estoura no lado mais fraco), ou rebelde ("Ninguém vai me
dizer o que eu tenho que fazer."). Nenhuma destas posturas significa
atuar como cidadão, como cidadã. Por sua vez, quando as pessoas funcionam
no Pai, sua postura será à imagem e semelhança do comportamento de seus
pais e se dará de uma forma imitativa, sem critérios atualizados, agindo
"como papai (ou mamãe) teria agido." Perceba a riqueza de
que somos constituídos. Há em nós potenciais para uma infinidade de
coisas, possuímos as ferramentas de que necessitamos para cuidarmos
de nós mesmos. Além disto, sempre poderemos pedir aquilo de que não
dispomos e desenvolver assim a cooperação entre nós. Há que olhar para
isto. Há que ter de si mesmo uma escuta atenta, sensível e compassiva.
Do contrário, como dar a nós mesmos aquilo de que necessitamos? Vamos
deixar passar nossa vida e nossas oportunidades, esperando que alguém,
algum dia, descubra nosso sofrimento e o cure? Ou vamos passar a vida
nos enganando a nosso próprio respeito e correndo atrás de coisas que
imaginamos querer muito mas que, quando alcançadas, rapidamente deixam
de importar e perdem lugar para outra "importante conquista",
e mais outra, e mais outra...? " Era uma vez um rei que estava
com sede. No entanto, não entendia muito bem o que é que estava se passando
com ele. Então, disse aos cortesãos: -"Minha garganta está seca".
Os cortesãos correram e foram buscar óleo lubrificante para aliviar
o problema da garganta do rei. O rei bebeu o óleo, mas sentiu-se pior.
Começou a sentir náusea. Os cortesãos saíram depressa e voltaram trazendo
vinagre, que o rei bebeu, esperando ficar melhor. Mas não adiantou.
Logo, o seu estômago estava doendo e seus olhos lacrimejando. Mas todo
esse incômodo havia feito o rei pensar um pouco e levou-o a concluir:
-"Sabem, estou achando que estou é com sede"... -"Sede?
E quem é que disse que sede faz os olhos lacrimejarem"?, responderam
os cortesãos. Mas, enfim, como os reis são muitas vezes caprichosos,
os cortesãos saíram para buscar Água de Rosas feita especialmente para
os reis. No meio dessa crise, apareceu na sala do trono um dervixe,
que às vezes, atuava como conselheiro do Rei: -"O que o rei precisa
é de água comum", disse. Imediatamente os cortesãos replicaram:
-"Água comum? Onde é que já se viu um rei tomar água comum"?
O rei respondeu: -"Eu me sinto duplamente insultado com essa sugestão,
como rei e como paciente. Como rei, porque aos reis certamente não se
oferece água comum. E como paciente, por você fazer tão pouco caso de
uma doença tão séria como a minha. Declaro que sua sugestão é boba e
ofensiva"! Foi assim que, o único homem de bom senso na Corte,
veio a ser apelidado de O Idiota. Texto recolhido da tradição Sufi .
(Adaptado por Rosângela Alves)
Conhecer nossa própria
história pode nos ajudar muito e é uma forma de reação à vida, de tomar
posse e ter poder sobre nós mesmos. Não tenha medo do que vai encontrar
aí, pois seja o que for, uma criança foi capaz de viver isto e de traze-lo
até este ponto da vida em que você está. Você certamente terá mais condições
do que ela teve de suportar. E lembre-se: todas as feridas cicatrizam.
Basta que as deixemos cicatrizar ou que coloquemos o bálsamo necessário.
Além disto, junto às coisas ruins ou não tão boas, tenho certeza de
que, algum tesouro você também vai encontrar pois, esteja certo, sem
ter recolhido alguns tesouros em sua existência, você não estaria aqui
hoje. Quem você verdadeiramente é, e aquilo de que você verdadeiramente
necessita, está dentro de você. Sua força também, uma força que talvez
até este momento você desconheça, mas da qual sua caminhada de vida
dá testemunhos. "Tens que aprender que tu és o teu próprio instrutor.
O que necessitas é encontrar a ti mesmo um pouco mais a cada dia."
Richard Bach - Fernão Capelo Gaivota
Espero ter conseguido falar
do quanto você é importante e do cuidado que merece. Se você perceber
e sentir isto, poderemos falar sobre direitos humanos e cidadania, pois
você estará bem próximo de si, do ser humano que é, desejando o melhor
para si mesmo e para os outros, pois o bem não é algo que possa realmente
existir sem que todos dele se beneficiem. Você merece, eu mereço, todos
merecemos um mundo onde possamos desenvolver o melhor de nossa humanidade,
e este "melhor de nossa humanidade" está dentro de nós, tal
como o David estava dentro do mármore: "Certa vez, estava Michelangelo
mais uma vez recolhendo os elogios daqueles que estavam a observar uma
de suas obras mais conhecidas, o David. Ante a perfeição daquele corpo
que parecia necessitar de nada mais que um sopro para chegar à vida,
exclamavam extasiados: -"Mas é perfeito este David que criastes,
mestre"! -"Mestre, construístes uma obra magnífica"!
E se seguiam os comentários. Entretanto, em dado momento, apercebendo-se
de que o Mestre permanecia em silêncio,quiseram saber o que se passara,
talvez tivessem dito alguma impropriedade, quem sabe? E Michelangelo
respondeu: -"Eu os escuto, mas quero dizer-vos que eu não criei,
eu não construí, não esculpi o David. Ele já estava ali, dentro do bloco
de mármore. Sempre esteve. Eu apenas retirei o excesso que o encobria,
eu apenas o trouxe à luz, o revelei."
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