
2001-2010
DÉCADA
PARA
SUPERAR A
VIOLÊNCIA
PARCEIROS
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CESE,
CENACORA, IGREJA BIELORRUSSA ESLAVA, KOINONIA, CEBI, CECA,
CEDITER,
CESEP, GTME, MNDH, MUR-Brasil
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INTRODUÇÃO
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O
Conselho Mundial de Igrejas – CMI, na 8ª Assembléia
Geral, em Harare, África, decidiu conclamar, em nível
mundial, as igrejas a realizar uma DÉCADA PARA SUPERAR A
VIOLÊNCIA nos anos 2001 a 2010. Essa iniciativa integra
o movimento lançado pela UNESCO, a “Década Internacional
de uma cultura de paz e não-violência para as crianças do
mundo”, também a ser realizada nos mesmos anos.
O
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC
e o Conselho Latino Americano de Igrejas – CLAI,
juntamente com outras organizações, como parceiras,
resolveram assumir esta campanha mundial e promovê-la no
contexto brasileiro. É a continuação do tema “DIGNIDADE
HUMANA E PAZ” lançado pela Campanha da Fraternidade
2000 Ecumênica.
No CONIC, a Década foi assumida na IX Assembléia Geral,
realizada em Brasília, nos
dias 13 e 14 de novembro de 2000, enquanto o CLAI fez o
lançamento latino-americano na sua Assembléia Geral,
realizada em Barranquilla, Colômbia, entre os dias 10 e 19 de
janeiro de 2001.
A presente cartilha servirá de ponto de partida e referência
para a adoção de medidas preparatórias à DÉCADA PARA
SUPERAR A VIOLÊNCIA.
No
decorrer dos anos a Comissão Ecumênica no Brasil e o Comitê
de Programas do CMI acompanharão atentamente o processo para
que os objetivos e métodos se concretizem.
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OBJETIVOS
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A
campanha da DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA, no
Brasil, tem como objetivo colocar a preocupação e o esforço
de superar a violência e de promover a Dignidade Humana e a
Paz no centro da vida e do
testemunho das Igrejas, organismos ecumênicos, redes,
organizações não governamentais, movimentos sociais –
populares, de modo a construir uma cultura da Paz.
Para
isso:
-
fazer
frente, com enfoque global, às diferentes formas de violência,
tanto direta como estrutural, nos lares, nas comunidades
e, nas
esferas nacional e internacional aprender, com as análises
locais, regionais e nacionais, formas de superação da
violência;
-
Instar
as Igrejas para que superem o espírito,
a lógica e a prática da violência. Isso exigirá
renúncia à justificação teológica da
violência e a reafirmação de uma espiritualidade
que valorize a reconciliação;
-
denunciar
todas as formas de violência principalmente a violência
política, econômica e religiosa, atuando junto a
organismos internacionais para que adotem medidas para
superar essas formas de violência;
-
aprofundar
o conceito de segurança, nos níveis pessoal, local,
regional, nacional, trocando a perspectiva de dominação
e rivalidade pela de cooperação e solidariedade;
-
reconhecer
em todas as religiões sua contribuição para a construção
da paz e aprender com elas. Alertar as igrejas,
organismos ecumênicos e outras entidades
sobre o mau uso da identidade religiosa e étnica,
num mundo pluralista;
-
opor-se
à militarização e em especial à proliferação de
armas rápidas (leves) “eficientes” de grande e
pequeno porte.
A
campanha DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA exorta a
todos a:
-
não
tolerar mais nenhum tipo de
violência;
-
ter
a sinceridade de perguntar-se até que ponto as próprias
palavras e ações contribuem para potencializar a violência;
-
denunciar
todas as formas de violência;
-
defender
as vítimas da violência;
-
trabalhar
para que nas igrejas, congregações, movimentos e grupos
haja uma convivência
isenta de violência entre as pessoas;
-
experimentar
métodos e soluções não violentos para os
conflitos;
-
trabalhar
em uníssono em favor de um mundo de paz, com as
comunidades locais, os movimentos leigos e os crentes de
outras religiões.
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PROPOSTA
BÁSICA
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A
DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA buscará:
-
elaborar
estratégias de colaboração entre as igrejas com vistas
à criação de uma cultura da não violência;
-
estabelecer
uma relação de intercâmbio e troca com outros
interlocutores e organizações, adotando novos enfoques
para a mediação dos conflitos no atual contexto sócio-político
e econômico;
-
fomentar
a solidariedade com as regiões e setores empobrecidos e
penalizados pelas conseqüências do sistema econômico
vigente;
-
colaborar
com a comunidade nacional (instituições e
pessoas) que estão contribuindo para a cultura da não
violência e construção da Paz;
-
estimular
as atuais experiências positivas de igrejas, organismos
ecumênicos, redes, ONG’s, movimentos e grupos que
estão se esforçando para superar a violência;
-
facilitar
com base na experiência e no trabalho das igrejas locais
e em experiências comunitárias, o intercâmbio entre
igrejas, grupos e instituições,
tornando conhecidas as experiências de
construção e manutenção da Paz e a prevenção
da violência local;
-
incluir
sempre as igrejas membros do CMI, do CONIC e do CLAI, mas
também as igrejas não membros, os organismos
ecumênicos, as ONG’s, os movimentos organizados pela
população local e pela sociedade civil, nos esforços
combinados para a superação das diversas formas de
violências e de trabalhos pela Paz;
-
relacionar
os trabalhos, programas e estruturas com os da “Década
das Nações Unidas para uma cultura de Paz e não violência
no mundo (2001-2010)”, bem como a todas as
campanhas que promovam a “Dignidade Humana e a Paz”;
Com
base nas experiências do CMI, do CONIC e do CLAI, e de tantas
outras organizações que mantém programas para a Paz e a
Justiça, a DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA observará
as seguintes metodologias: visitas; a rede de Internet; vídeos;
materiais impressos; etc. |
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SUPERAR
A VIOLÊNCIA E PROMOVER DIGNIDADE HUMANA E PAZ
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A
campanha DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA no Brasil
incorpora a continuidade da Campanha da Fraternidade 2000
Ecumênica – “Dignidade Humana e Paz”, bem como assume
como subsídio importante para o seu desenvolvimento o texto
base, da mesma.
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A
Dignidade ferida às escondidas
|
-
Há
atos de desrespeito à Dignidade Humana que, por serem
tão vergonhosos e violentos, a própria sociedade
automaticamente os caracterizou como criminosos. Não
conseguindo impedi-los, também não aceita conviver com
eles às claras. Ficam assim escondidos nos “subterrâneos”,
nos escuros "porões” das nossas cidades e campos.
Infelizmente, tais atos são freqüentes na vida
quotidiana do povo brasileiro, atingindo um grande número
de pessoas. É o que se passa, entre outras situações,
nos esconderijos do tráfico de crianças e do comércio
de órgãos, ou entre os dominados pela droga ou que a
traficam, ou dentro de nossas prisões, onde, por exemplo,
além dos presos viverem em condições degradantes, a
tortura é muito mais freqüente do que se pensa. Há
ainda os casos de trabalho escravo, em áreas fora do
alcance das denúncias ou da fiscalização governamental.
-
Há
atentados gravíssimos à dignidade humana, antes
totalmente escondidos, e que agora afloram à superfície
dos “porões”. Entre eles citamos a prostituição, em
suas várias modalidades, inclusive infantil, antes na
calada da noite, e que agora se escancara nas ruas. A
exploração do trabalho infantil, uma forma de violência
no trabalho equivalente ao trabalho escravo, praticamente
aceita como uma decorrência inelutável das dificuldades
econômicas vividas pelo povo. A
multidão dos sofredores de rua, jogados à mais completa
abjeção nas cidades, pois não têm onde morar e, entre
eles, há um elevado número de idosos e de crianças sem
família. É uma cruel realidade com a qual muita
gente, aos poucos vai se acostumando como natural...
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A
Dignidade Humana visivelmente ferida
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Há
situações de desrespeito à dignidade humana e de violência
que ocorrem de forma aberta, sem subterfúgios, "à luz
do sol". A maior parte do povo brasileiro é vítima
quotidiana de um verdadeiro massacre em suas condições de
vida:
-
As
escandalosas condições de atendimento às necessidades
de saúde da população
nos hospitais ou nos postos médicos...
-
O
transporte coletivo dentro das cidades, um gigantesco
drama quotidiano, com as longas filas e tempo de espera, a
insegurança, a superlotação, a falta de limpeza...
-
No
campo são freqüentes os desastres com ônibus e caminhões
que transportam trabalhadores das favelas, das cidades do
interior ao trabalho rural, como bóias-frias e volantes.
-
As
favelas que surgem da noite para o dia nas cidades
brasileiras são um exemplo visível da degradação que
atinge as condições de moradia de nosso povo.
-
Os
cortiços constituem outra forma degradada de morar a que
são submetidas grandes parcelas da população de nossas
grandes cidades.
-
A
falta de segurança nas condições de trabalho leva o
Brasil a liderar
o número de mortes em acidentes de trabalho e de trânsito,
no continente americano.
-
Cresce
vertiginosamente o número de brasileiros acometidos por
doenças ocupacionais.
-
É
sabido que há condições de trabalho que chegam a ser
atrozes, como a morte relatada
de um trabalhador de Manaus: "Morreu mais um
"homem-mula", como são chamados os carregadores
de produtos regionais na orla fluvial de Manaus.
-
O
povo brasileiro conhece o sofrimento até mesmo para
conseguir o cumprimento de seus direitos óbvios, como se
vê continuamente nas imensas e angustiantes filas.
-
Não
podemos esquecer as dificuldades vividas pelos idosos,
pelos portadores de deficiências de qualquer tipo e as
diversas categorias de discriminados sociais.
-
O
desemprego, com sua multidão de vítimas. Este magno
problema do desemprego afeta visceralmente toda a
realidade brasileira, e da solução dele depende
profundamente a luta pelo resgate e promoção da
dignidade humana de cada cidadão e cidadã.
-
Os
escândalos, falcatruas, a corrupção que surge a cada
dia envolvendo políticos e a elite dominante os quais
utilizam o dinheiro público, os bens públicos como se
fossem propriedades deles.
A
verdade é que se instaurou em nosso País um perigoso estado
permanente de desrespeito aos direitos humanos que explode
todos os dias nos salários injustos, na exploração da mão
de obra, na entrega de nosso País aos estrangeiros, na corrupção
política e econômica, na crescente onda de violência,
degradação, prostituição, roubos, assaltos, corrupção de
todos os tipos... As ações de violência , às vezes
organizada à maneira mafiosa e outras vezes como recurso
desesperado para alcançar meios inadiáveis de subsistência,
ferem definitivamente a dignidade tanto dos protagonistas como
das vítimas, enfim de todos.
Nesta
situação, e não podendo tratar todos os temas, é preciso
dar ênfase especial aos "filhos e filhas" da história
de 500 anos de dominação de nosso país: os índios, os
negros e as mulheres, que foram e continuam sendo vitimados de
forma sistemática. São os segmentos de nossa população que
têm sua dignidade quotidianamente ferida por condutas
discriminatórias.
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Nos
bastidores
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Abordaremos
três grandes questões:
a)
as relativas ao que se passa nas mentes e corações
das pessoas;
b)
as relativas às estruturas econômicas que foram
construídas em nosso País;
c)
e as relativas ao nosso sistema político e seu
funcionamento.
Em seguida indicaremos algumas ações possíveis que já vêm
sendo desenvolvidas em torno dessas questões, sobretudo na
luta pelo resgate das dívidas sociais, e algumas pistas que
precisamos ainda abrir, no referente à educação para a paz.
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Mentes
e corações
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Um
dos importantes “bastidores” está dentro da cada um. Quem
atenta contra a dignidade dos seres humanos são outros seres
humanos, igualmente portadores dessa mesma dignidade, ainda
quando ajam de forma indigna. Essas pessoas estão
condicionadas pelas circunstâncias em que vivem, pelas
idéias que assimilam, pelo sistema que regula a sociedade. A
liberdade e a responsabilidade nas decisões humanas têm
muito a ver com a maior ou menor consciência dos mecanismos
sociais, econômicos e políticos destinados a fazer a nossa
cabeça. Gente iludida pensa que é livre quando está sendo
manipulada. O condicionamento é poderoso, mas não é
absoluto. Antes de cada atentado à dignidade humana há
sempre uma decisão humana, que pode ser tomada com maior ou
menor consciência do que ela significa ou de suas
conseqüências. Tudo depende, portanto, do que se passa nas
mentes e corações das pessoas.
No Brasil, as idéias e sentimentos que levam ao desrespeito
permanente da Dignidade Humana têm duas raízes principais. A
primeira é a aceitação, como algo inapelável, de uma
sociedade dividida em duas: a dos que têm importância e
a dos que não precisam ser
considerados como seres humanos.
A segunda é a banalização do inaceitável: as tragédias
que de tão vistas, se tornam paisagens comuns que não
despertam mais reação. A sociedade já se acostumou com elas
e age como se não houvesse nada a fazer
e cada um tivesse que cuidar da sua vida sem pensar
mais no outro nem nas
questões que o prejudicam....
Essas
atitudes são reforçadas pelo consumismo, a competição
permanente e o enriquecimento como objetivo da vida. E a educação
que prevalece leva para o individualismo egoísta, o hedonismo
e a concorrência sem ética e sem limite. Aos poucos o ser
humano fica reduzido a mero instrumento de produção, consumo
e prazer. As mercadorias, o dinheiro, o erotismo e a exploração
das emoções fortes valem mais do que a pessoa e seus
valores.
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Estruturas
econômicas
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“Nos
bastidores” do desrespeito à Dignidade Humana, no Brasil,
encontramos também um sistema onde tudo gira em torno de
produção e de lucro. Nesse sistema tudo deve estar a
serviço do crescimento econômico: a natureza, as
instituições estatais, as leis, a religião, a arte e a
cultura, os seres vivos, o espaço e a própria pessoa humana.
É o que as Igrejas chamam de idolatria do mercado, onde tudo
é sacrificado para servir ao deus lucro. Esse
sistema vem predominando no mundo nos últimos séculos. E
este predomínio está levando a que a humanidade viva hoje
seu maior risco de autodestruição – paradoxalmente no
momento em que têm nas mãos todas as possibilidades de
realizar o bem estar material de todas as pessoas.
Na verdade, essa crença de que tudo se acertaria, se
ajustaria deixando as leis do mercado agirem por conta
própria, já se mostrou falsa, em todo o mundo e de modo
especial nos países dependentes e endividados.
Como decorrência desse processo, toda a humanidade,
atualmente, e assim também nosso País está nas mãos do
capital financeiro internacional, concentrado nas mãos de
poucos.
Ora, se a pessoa humana só vale se é produtora e
consumidora, todos que não possuem este perfil não são necessários.
São descartáveis.
Por
isso mesmo, a denúncia, inspirada nos profetas e em Jesus, em
relação ao que se passa no mundo nos dias de hoje, é esta:
oráculo do Senhor Deus da vida: é crime contra a humanidade
acumular alimentos, dinheiro e poder até causar miséria e
morte de um bilhão de pessoas; é um crime que fere de morte
a dignidade humana alimentar um processo de exclusão social
que vai atingindo a maior parte da humanidade, especialmente
os mais jovens e os mais idosos.
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Sistema
político
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A
agressão à dignidade humana, no mundo e no Brasil, tem como
causa opções humanas. Não tem uma causa natural e nem se
origina da falta de capacidades, de recursos e de produtos.
Ela é fruto de escolhas políticas. Nossos governantes, por
exemplo, decidiram assumir e impor a todos os brasileiros a
reprodução de um sistema político e social sem freios
éticos. Este sistema é promovido e mantido pelos países
ricos, que dele se beneficiam. É reforçado também por
instituições multilaterais como o FMI, o Banco Mundial e a
Organização Mundial do Comércio. Por isso, para enxergar
“os bastidores” do desrespeito à dignidade humana no
Brasil é preciso analisar o nosso sistema político, que leva
a que tais decisões sejam tomadas.
O Estado brasileiro continua controlado por políticos que
usam de suas instituições em benefício de seus interesses e
privilégios.
O sistema político brasileiro tradicional é instrumento de
manutenção e reprodução dos interesses dos grandes
proprietários das regiões mais pobres do país e dos setores
mais ricos das áreas urbanas.
Nossa democracia política é frágil e as demais dimensões
da vida - a economia, a cultura, a comunicação e os direitos
sociais - não foram ainda devidamente democratizados.
Poderosos interesses impedem providências urgentemente
necessárias como a reforma agrária e a reforma urbana.
Num
sistema político assim organizado o desrespeito à Dignidade
Humana chega a ser útil para os que dele se beneficiam.
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Superar
a violência e criar condições de Vida Digna
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O
“agir” junto às causas do desrespeito à Dignidade Humana
tem de atingir os sistemas e mecanismos que se encontram “nos
bastidores” desse desrespeito. Para indicar, neste texto,
pistas para esse tipo de atuação, identificamos algumas
ações que já se encontram em andamento, por iniciativa das
Igrejas. E, entre estas, ressaltamos aquelas que já vem sendo
desenvolvidas de forma ecumênica: o processo de discussão
das dívidas sociais, no quadro das Semanas Sociais, a
luta pela reforma agrária, a luta contra a corrupção
eleitoral, a denúncia da questão da dívida externa , a luta
contra o modelo econômico e a resistência às imposições
externas, campanha para superação de racismo e classismo
nas igrejas.
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O
que fazer concretamente no cotidiano das nossas comunidades?
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Igrejas
são lugares privilegiados onde se trabalha a formação de
mentes, corações, consciências. Cabe avaliar o que cada
comunidade está fazendo para educar para os Direitos Humanos,
a paz, a solidariedade, a justiça, o diálogo. Que espaço
esses objetivos têm na educação religiosa de jovens, crianças
e adultos? Como isso aparece nas nossas pregações, no
material escrito que divulgamos, nos subsídios que colocamos
a disposição da comunidade?
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Educação
para a Paz
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Sabemos
que a paz é fruto da justiça. E a garantia da vida e da
dignidade de todas as mulheres e homens é a pedra angular da
paz. Por isso, a superação de todas as formas de injustiça
é uma obrigação ética que envolve a humanidade inteira.
Esse é um dos aspectos mais centrais da missão dos
seguidores de Jesus Cristo: testemunhar e viver o amor
fraterno. Para nós, cristãos, todos os que têm sua
dignidade ameaçada, ferida e negada são como o assaltado e
abandonado na beira do caminho, daquela bela parábola de
Jesus (cf. Lc 10, 25-37; cf. Mc 11,15-19). Para amar a Deus e
herdar a vida eterna só temos uma alternativa: tornar-nos o
próximo de todos, especialmente, das vítimas de todas as
formas de ladrões da vida e da dignidade humana.
Afirmar a dignidade da vida como centro da vida social
significa também repensar a relação com os demais seres
vivos e com a natureza como meio ambiente, como mãe pródiga
da vida, retomar a experiência de que ela é viva, fonte de
vida, condição de vida. Por isso, é inaceitável a redução
da terra e de tudo o que ela tem a objeto dos desejos de
alguns indivíduos, que se assenhoram como proprietários
vorazes e absolutos dos espaços, da terra, da água, do ar,
do mar, das praias, dos rios, das montanhas, das florestas.
É por isso tudo que educação para a paz é uma das
prioridades para a conquista e construção de uma sociedade
assentada e centrada na vida digna de cada pessoa e na convivência
solidária entre as pessoas.
Conquistar e apaixonar as pessoas para um caminho
alternativo, em que o valor da vida de cada um e de todos seja
o ponto de referência das decisões, é um trabalho,
desafiante e difícil, de persuasão, pois precisa chegar à
consciência, às convicções. E nesta batalha só consegue
perseverar quem está convencido de que, contra toda
desesperança, é perfeitamente possível chegar até lá. Na
verdade, já temos todas as condições para que exista esta
sociedade em que as pessoas convivam fraterna e solidariamente
na paz e sejam felizes. Basta colocar a serviço de todos o
saber acumulado, os conhecimentos, as tecnologias, os bens e
os recursos já produzidos por toda a humanidade em sua longa
história, com uma maior dose de solidariedade, justiça e
amor.
As Igrejas Cristãs têm uma grande responsabilidade nesta
tarefa histórica de educar
para superar a violência e para a paz, pois são
portadoras do Evangelho de Jesus, que é Evangelho da
liberdade, do amor e da paz. Elas têm a missão de
testemunhar juntas, no exemplo entre elas de respeito, entre
ajuda e paz, Jesus Cristo, para quem o outro, desconhecido e
caído nas diferentes beiras dos caminhos, é o próximo que
abre a porta para o verdadeiro amor a Deus (Lc 10, 29-37);
para quem a pessoa amada vale até mesmo a doação da própria
vida (Jo 15,13). E além disso, as Igrejas são reveladoras da
presença do Reino no meio de nós e, ao mesmo tempo, do
convite permanente para novos
passos em direção ao Reino de Deus, que é
Reino de verdade e justiça, de amor e paz, que pode
avançar sempre na terra, pois seu limite - sem limites - é a
perfeição da Trindade.
Desta
forma o CONIC, O CLAI , os organismos ecumênicos parceiros,
convocam todas as denominações cristãs, ONGs, redes,
movimentos, grupos e todas as pessoas de boa vontade a se
unirem nessa
DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA
na promoção da DIGNIDADE HUMANA e no resgate
do profetismo bíblico: “A JUSTIÇA PRODUZIRÁ A PAZ”
(Is. 32,17).
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ETAPAS
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a)
de 2001 a 2005
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b)
de 2006 a 2010
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FASE
I – 2001
Preparação:
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FASE
II – 2001-2004
Início
da atuação:
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Organizar
lançamentos da DÉCADA em conjunto com as
organizações e iniciativas já existentes no local e/ou
região, com a participação das igrejas, congregações,
organismos ecumênicos, ONGs, movimentos e grupos locais.
Também, quando for possível, marcar presença nas reuniões
em nível nacional, para que haja maior repercussão e maior
“eco” , utilizando as metodologias adequadas em cada caso
e lugar.
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FASE
III – 2004
Síntese
(análise intercontextual de experiências):
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Ao
mesmo tempo que alguns programas e ações continuam,
facilitar os intercâmbios entre experiências criativas de
trabalhos pela Paz estabelecidos nos anos anteriores, com a
finalidade de reforçar redes de contatos e novas formas de
atuação.
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FASE
IV – 2005
Análise,
avaliação e revisão do processo e preparação para os
cinco anos seguintes, respondendo:
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-
Que
lições nós aprendemos nesse tempo?
-
Com
quais problemas as igrejas, organismos ecumênicos,
instituições, movimentos e grupos se depararam?
-
O
que fizeram as igrejas, organismos ecumênicos, instituições,
movimentos e grupos?
- O
que ainda há para fazer?
Os
intercâmbios, as
visitas, a troca
de experiências ajudarão a que se possa ouvir e aprender uns
com os outros. e será um trabalho que dará novo impulso para
a etapa de 2005 a 2010 da DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA.
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FASE
V – 2005 – 2010
Planos,
Ações e orientações para 2006-2010
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METODOLOGIAS
E ENFOQUES POSSÍVEIS
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1.
Processos de Estudo
-
Reflexão
teológica sobre a violência do ponto de vista da
Dignidade Humana e dos Direitos Humanos;
-
Estudos
Bíblicos accessíveis a todos;
-
Análises
da realidade;
-
Reflexão
sobre a violência e a construção da Paz, enfrentando os
problemas atuais como o racismo, a globalização, a violência
contra as mulheres, os jovens, as crianças, etc;
Realizar
esses estudos sempre com participação das Igrejas, redes,
grupos regionais e locais, etc. |
2.
Campanhas
-
Oferecer
apoio prático e solidariedade às igrejas e grupos que se
esforçam para organizar campanhas dinâmicas sobre temas
específicos de superação da violência, com o objetivo
de buscar as causas, prevenir e ajudar a superação no
seu próprio meio. E incentivar as igrejas e organizações
a se constituírem em grupos e redes de ação, para a
realização de campanhas nacionais concretas.
|
3.
Educação
-
Retomar,
reunir e tornar conhecidas as iniciativas e planos de
formação para a Paz, destinadas a crianças, jovens e
adultos;
-
Estabelecer
grupos, redes de contato entre educadores, especialistas,
bem como, instituições teológicas, que se ocupem de
buscar as causas, prevenir e resolver conflitos.
|
4.
Culto e espiritualidade
-
Tornar
conhecido o material e as práticas de culto e oração de
diversas tradições e
culturas, para que sirvam de inspiração para os
nossos esforços comuns em favor da Paz e da
reconciliação. Particularmente importante é o conceito
de “metanóia”: as igrejas devem assumir a
responsabilidade que tiveram em ações violentas do
passado e do presente.
A “metanóia” compreende a confissão, o
arrependimento, a renovação e a celebração da fé e se
constitui, portanto, no fundamento principal, adequado
para uma cultura de Paz.
|
5.
Relatos pessoais
-
As
igrejas, as comunidades e os grupos poderão relatar suas
experiências sobre a questão da violência mediante a
rede Internet, os textos impressos, os vídeos, os
diferentes atos que foram organizados, e através de
contatos pessoais, e desse modo buscar formas criativas de
superar a violência.
|
6.
Relatório anual |
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DIFERENTES
FORMAS DE VIOLÊNCIA
|
A
“violência” não é somente física. Existe também uma
violência emocional, intelectual e estrutural. Na DÉCADA
PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA, o importante é a prevenção e
a superação das diferentes formas de violência tais como:
-
Superar
a violência no lar, no meio da família
-
Superar
a violência contra mulheres e crianças
-
Superar
a violência nas comunidades locais
-
Superar
a violência entre os jovens
-
Superar
a violência e intolerância nas igrejas
-
Superar
a violência associada à linguagem e a práticas
religiosas e culturais
-
Superar
a violência sexual
-
Superar
a violência contra a criação e contra a “natureza”
-
Superar
a violência resultante do racismo e das diferenças étnicas
-
Superar
a violência dos sistemas jurídicos
-
Superar
a violência sócio-econômica
-
Superar
a violência como resultado de medidas de bloqueios econômicos
e políticos
-
Superar
a violência das nações
-
Superar
a violência entre as nações
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REFLETINDO...
|
-
Que
formas de violência existem em sua casa,
comunidade, lugar de trabalho, escola, e em seu país?
-
Como
você percebe a violência na linguagem utilizada no
cotidiano?
-
Quem
e que motivos
causam essa violência?
-
Como
você crê que pode superar essas formas de violência?
-
Que
dúvidas e obstáculos você encontra?
-
A
que instâncias religiosas você pode recorrer?
-
Quem
são os seus companheiros?
-
Quais
são suas prioridades?
-
Que
pessoas o apóiam e como pensa trabalhar com elas ?
-
Que
tipo de relações desejaria estabelecer com outras
pessoas que
lutam pela justiça e pela libertação?
- Que
tipo de Paz deseja?
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OBSERVAÇÕES
FINAIS
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A
DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA deseja e aspira
suscitar interesses e expectativas das igrejas, das organizações
ecumênicas, dos grupos e dos movimentos sociais de todo o
mundo enquanto contribuição positiva, concreta e específica
em favor da construção da cultura da paz.
A configuração e a metodologia da
DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA deverão
ser bem definidas, ainda assim deverão permanecer abertas
para dar lugar à criatividade e à energia dinâmica das
igrejas e dos diferentes grupos sociais.
A
estrutura da DÉCADA PARA SUPERAR A
VIOLÊNCIA dependerá das sugestões, dos planos e
das orientações das igrejas membros , do CMI, do CONIC, do
CLAI e das organizações ecumênicas que determinarão os
problemas e definirão os processos mais adequados para alcançar
os objetivos propostos.
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