
Voto, Cidadania e
Direitos Humanos
Paulo César
Carbonari
Os mais de cinco mil
municípios brasileiros estão vivendo o período eleitoral que antecede
e prepara a escolha dos futuros prefeitos e vereadores. É momento para
que a cidadania conheça os projetos e as propostas que os vários
candidatos defendem como alternativas para organizar a vida pública do
município. É momento em que cada eleitor é convocado a exercer a
cidadania pelo voto. É momento de exercer o poder, com liberdade e
consciência. Afinal, voto
é direito, é direito humano fundamental, é poder, é exercício de
cidadania.
Nas eleições
municipais está em jogo a criação de condições para que a cidadania
possa dizer o que quer e como quer organizar o município, o mais próximo
espaço coletivo de convivência e de exercício da cidadania. Não se
trata apenas de escolher este ou aquele candidato a prefeito, este ou
aquele candidato a vereador. Trata-se de escolher prefeito e vereadores
que efetivamente demonstrem respeito à cidadania e compromisso com a
implementação de políticas públicas que venham para atender às
necessidades da população.
A escolha de cada
eleitor precisa ser livre e cidadã. Para isso, é necessário basear o
voto em convicções e em argumentos. Não basta votar por qualquer
motivo. É preciso que cada eleitor tenha bons motivos para votar.
Receber algum favor pessoal, promessas vazias ou de boa vontade, o
bueiro na frente de casa, a dentadura, um jogo de camisetas para o time,
uns metros de brita ou areia, alguns tijolos e até dinheiro não são,
definitivamente, bons motivos para votar. Aliás, são motivos muito
ruins. São exatamente motivos para não votar em candidato que os
apresentar ou propuser. Votar dessa forma é deixar de ser livre e fazer
do voto um produto de compra e venda.
Assim como no ato da
compra de um sapato, por exemplo, este objeto deixa de ser da loja e
passa a ser do comprador, se o voto for vendido, o poder de escolher e
de dizer sempre o que o eleitor quer para seu município fica
prejudicado. Vender voto é vender poder. É vender a possibilidade de
discutir, de concordar e de discordar com tudo aquilo que vier a ser
feito por quem for eleito. De outro lado, comprar o voto dos eleitores
é demonstração clara de desrespeito com a cidadania, de falta de
compromisso com a comunidade, de que o candidato só quer representar
seus próprios interesses, quando não interesses de grupos.
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A sociedade
civil brasileira, preocupada com a garantia de condições para que a
população possa escolher livremente seus representantes, propôs e foi
aprovada uma lei de combate à corrupção eleitoral, a Lei nº
9.840/99. É a primeira lei de iniciativa popular porque foi resultado
de mais de um milhão de assinaturas colhidas em todo o País. Votada
pelo Congresso Nacional, passou a vigorar a partir de setembro do ano
passado, de tal forma que as eleições deste ano serão as primeiras
depois da nova lei. A mesma sociedade que propôs a lei, agora se
mobiliza para fazê-la valer, em conjunto com todas as demais leis que
regulam o processo eleitoral, através da criação de Comitês 9840 por
todo o País (www.lei9840.org.br). Daí que, é momento de promover a
conscientização da sociedade para que a ação cidadã tenha força
para inibir duramente toda e qualquer forma de corrupção eleitoral e
para que os eleitores exerçam livremente o direito de votar. Afinal,
como diz o mote da campanha nacional: “Voto não tem preço, tem
consequências”.
Enfim,
promover o voto é promover a cidadania; promover o combate à corrupção
eleitoral é criar mecanismos para que a árvore da democracia, que
precisa ser grande e garantir sombra e frutos para todos, seja
fortalecida. Não é possível aceitar que irresponsáveis ateiem fogo
à esta árvore, através da corrupção eleitoral, gerando graves
riscos que podem vir a destrui-la. Somente com a sociedade organizada e
participando ativamente e de maneira vigilante de todo o processo político
democrático é que esta árvore poderá crescer forte e dar frutos para
todos. O caminho não é fácil. Mas, como diz o povo: é preciso pôr a
boca no mundo, denunciar a corrupção, e o voto na urna. Estes são os
meios mais eficazes e disponíveis a todos para afastar os corruptos e
todos aqueles que garantem o poder pela compra do voto, que, via de
regra, resulta na continuidade da miséria do povo. Dessa forma
estaremos garantindo que o voto seja efetivamente exercício de um
direito humano fundamental.
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Paulo
César Carbonari, é sócio da CDHPF, Coordenador Nacional do
MNDH e professor de filosofia no IFIBE. Escrito por ocasião do processo
eleitoral 2000.
Sugestão
de olho:
A
sociedade organizada, participativa e vigilante é que pode fazer com
que a democracia cresça forte e dê frutos para todos.
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