
DESPACHO QUE LEVOU À PRISÃO
DO GENERAL AUGUSTO PINOCHET
JUIZ BALTAZAR GARZÓN REAL
Procedimento: SUMARIO 19/97 P.S.
TERRORISMO EY GENOCIDIO
JUZGADO CENTRAL DE INSTRUCCIÓN
NÚMERO CINCO
AUDIENCIA NACIONAL
MADRID
AUTO
Em Madrid aos dezoito de Outubro de mil novecentos e noventa e
oito
FATOS
PRIMEIRO.- No dia 16 de outubro se lavra Auto de prisão cujos fatos
dizem:
ÚNICO.- Dos autos consta que no Chile, a partir de setembro de 1973, da
mesma forma que na República
Argentina a partir de 1976, produziram-se toda uma serie de
acontecimentos e atividades delitivas cometidas
sob o manto da mais feroz repressão ideológica contra os cidadãos e
residentes destes países. Para o
desenvolvimento das mesmas seguem-se planos e tramas preestablecidas a
partir das estruturas de Poder,
que têm como fim a eliminação física, o desaparecimento, seqüestro,
bem como a prática generalizada de
torturas de milhares de pessoas, tal como se relata no "Informe
Rettig".
No âmbito internacional se constata uma coordenação que receberá o
nome de "Operativo Cóndor", na qual
intervirão diferentes países, entre eles Chile e Argentina, e que tem
por objeto coordenar a ação repressiva
entre eles.
Neste sentido, Augusto Pinochet Ugarte, à época Chefe das Forças
Armas e do Estado chileno, desenvolve
atividades delitivas em coordenação com as autoridades militares da
Argentina entre os anos 1976-1983
(período ao qual se estende a investigação nesta Causa) expedindo
ordens para a eliminação física de
pessoas, torturas e seqüestro e desaparecimento de outras do Chile e de
diferentes nacionalidades e em
diferentes países através das atuações dos Serviços Secretos (DINA)
e dentro do precitado "Plan Cóndor".
Entre estes casos se enumera um total de setenta e nove supostos e, em
concreto, sem prejuízo de
aumentar os fatos, o seqüestro, no Chile, de Edgardo Enríquez
Espinoza, aos 10 de abril de 1976.
Deste país ele é transportado aos campos de concentração de "El
Olimpo", "Campo de Mayo", e "Escuela
Mecánica de la Armada" (ESMA), na Argentina, sem que
posteriormente se tenha voltado a ter notícias do
mesmo.
SEGUNDO.- No contexto descrito, Augusto Pinochet Ugarte, nascido em
Valparaíso (Chile), aos 25 de
novembro de 1915, com cédula de identidade chilena nº 1.128.923,
aparece como um dos responsáveis
máximos da organização e líder, em coordenação com outros
responsáveis militares ou civis de outros
países, entre eles, e de forma principal, a Argentina, da criação de
uma organização internacional, que
concebeu, desenvolveu e executou um plano sistemático de detenções
ilegais (seqüestros), torturas,
deslocamentos forçados de pessoas, assassinatos e/ou desaparecimentos
de numerosas pessoas, incluindo
cidadãos da Argentina, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Chile e
outros estados, em diferentes
países, com a finalidade de alcançar os objetivos políticos e
econômicos da conspiração, exterminar a
oposição política e múltiplas pessoas por razões ideológicas, a
partir de 1973 e que coincide no tempo com
os acontecimentos similares ocorridos na Argentina a partir de 1976 e
1983. Outrossim, há de ressaltar-se
que, além dos casos a que se refere este auto, também existem outros,
que, embora tendo acontecido em
datas anteriores, integrariam a mesma dinâmica e perduram em seus
efeitos eis que se trata de pessoas cujo
paradeiro ainda se desconhece.
TERCEIRO.- Os casos concretos e que confirmam o objeto concreto da
imputação contra Augusto
Pinochet Ugarte até este momento, sem prejuízo de sua ampliação,
ascendem a noventa e quatro:
1º. Edgardo Enrique Espinoza, que se cita no anterior auto de prisão,
militante destacado do MIR e irmão
do falecido Secretario Geral do dito Partido, é seqüestrado aos 10 de
abril de 1976 em Buenos Aires
(Argentina), quando, à tarde saía de uma reunião da Junta
Coordenadora Revolucionária. Ingressou
sucessivamente nos campos de concentração argentinos El Olimpo, Campo
de Mayo na Escuela Mecánica
de la Armada (ESMA), perto daquela capital. Segundo a Comissão Rettig,
esta pessoa, que gozava da
proteção de ACNUR, foi trasladado dos locais de detenção argentinos
para a Villa Grimaldi, em Santiago,
sem que posteriormente se tenha voltado a ter notícias suas. Juntamente
com este, é detida e permanece
desaparecida a cidadã brasileira Regina Marcondes e várias pessoas
mais. Na data de 23 de dezembro de
1975, ou seja, quatro meses antes de sua captura, a DINA já tinha
montado o cerco ao redor do alto
dirigente do MIR e de várias pessoas mais, ordenando a seus agentes no
estrangeiro seu traslado ao Chile,
depois de capturá-los. Expede-se, então, um telex que dá missão por
cumprida. A DINA dependia
diretamente de Augusto PINOCHET UGARTE.
2º. Aos 3 de abril de 1976, Luis Gonzalo MUÑOZ VELÁSQUEZ,
ex-secretário da Seção local do Partido
Socialista em San Bernardo do PS e candidato a Regedor, Juan Humberto
HERNÁNDEZ ZASPE,
ex-presidente da Federación de Estudiantes Industriales y Técnicos
(Feitech), e Manuel Jesús TAMAYO
MARTÍNEZ, sociólogo, dirigente socialista, que trabalha estreitamente
com os membros do Comité Central
de seu Partido, tendo o rol de "enlace" entre Carlos Lorca,
Ricardo Lagos, também desaparecidos, e outra
fração socialista, foram detidos, junto a outros chilenos, na via
pública, em Mendoza.
Os três eram amigos e haviam chegado à Argentina no transcurso do ano
de 1974, abandonando o Chile
onde estavam perseguidos por razões políticas, trabalhavam juntos na
empresa Modernflood de Mendoza e
estavam encarregados de reorganizar uma coordenação socialista,
participando em atividades da denominada
Comisión de consenso do PS.
Na operação militar participaram forças conjuntas da Polícia Federal
Argentina e agentes da DINA.
Os três detidos foram trasladados por terra de Mendoza até Villa
Grimaldi, nos fins do mês de abril de
1976.
3º. Aos 15 de abril de 1976, foram detidos em Buenos Aires, os
estudantes e militares do MIR Frida Elena
LASCHAN MELLADO, casada com o estudante argentino Minguel Angel
ATHANASIU JARA e seu filho
recém nascido Pablo ATHANASIU LASCHAN.
O jovem casal igualmente havia abandonado o Chile depois de 11 de
setembro de 1973, logo que Frida
Laschan founcionaria de CORA em Lautaro, foi detida por carabineiros
dessa cidade e processada pela
Fiscalização Militar. Ambos sentiram temor e vigilância na Argentina.
A Comissão estabeleceu que este casal e seu filho foram vítimas de
desaparecimento forçado na Argentina,
em violação de seus direitos humanos, no quadro da situação antes
referida.
4º. Aos dois de julho de 1976 foi detido em La Paz, Bolivia, o contador
agrícola Julio del Tránsito
VALLADARES CAROCA. Foi entregue, conjuntamente com outros chilenos,
pelas autoridades bolivianas
às autoridades chilenas na fronteira de Charaña em 13 de novembro de
1976, data desde a qual não se tem
mais notícia. O Ministério do Interior reconheceu a detenção do
referido, e ainda que requerido pelo
Tribunal, se negou a proporcionar as identidades dos agentes que o
detiveram por "razões exclusivas de
segurança".
5º. Na madrugada de 16 de julho de 1976, membros do Exército
Argentino, detiveram em seu departamento
da cidade de Córdoba em Buenos Aires o casal formado por Guilhermo
TAMBURINI e Maria Cecilia
MAGNETE FERRERO. Ele, médico de nacionalidade argentina, militante do
MIR, radicado no Chile
durante vários anos, que havia fugido da repreção desatada com
posterioridade à 11 de setembro de 1973.
Ela, chilena militante do MAPU e socióloga, havia chegado a Buenos
Airies nos fins de 1973. Na detenção
Guillermo Tamburini foi ferido à bala.
6º. Aos dias 27 de julho de 1976, 25 dias depois da chegar a Argentina,
Luis Enrique ELGUETA DÍAZ foi
detido junto com sua companheira e a irmã desta, ambas de nacionalidade
argentina. Ele havia se refugiado
nesse país, depois de ter sido expulso da Escola de Música da
Universidade do Chile devido a sua
conhecida participação no MIR de Santiago.
Antes de viajar deixou um amigo no endereço de um parente onde se
alojaria, na capital da Argentina. Seu
amigo, Sergio Fuenzalida, foi detido em Santiago pela DINA em 28 de
junho de 1976, junto com outras seis
pessoas, todas das quais se encontram desaparecidas.
A Comisión Rettig estabeleceu que a vítima, intensamente procurada no
Chile depois da operação da
DINA que aniquilou o grupo de seus amigos em Santiago, foi posta a
disposição de agentes da DINA em
Buenos Aires.
7º. Em julho de 1976 desaparece Miguel Iván ORELLANA CASTRO, de 27
anos, militante do MIR, o qual
estava exilado em Cuba. O desaparecimento se produziu quando a vítima
se dirigia a Buenos Aires
clandestinamente a uma reunião política.
8º Aos 24 de setembro de 1976, foi detida no centro de Buenos Aires a
instrutora Rachel Elizabeth
VENEGAS ILLANES, militante do MIR e desde esse momento não se soube
mais dela. Havia sido
processada pela Fiscalização Militar de Victoria e condenada a uma
longa detenção domiciliar, depois da
qual abandonou o Chile. Estando emm Buenos Aires obteve visto para
viajar para a Holanda poucos dias
antes de sua detenção.
9º. Em julho de 1976 foi detido Patricio BIEDMA SCHADEWALT, o último
dos líderes de MIR
vinculado à Junta Coordendadora Revolucionária que havia detectado os
órgãos de segurança.
De nacionalidade argentina, mas com residência definitiva no Chile
desde 1968, o sociólogo Patricio Biedma
voltou a Argentina, posteriormente em 11 de setembro de 1973, devido à
perseguição política da qual foi
objeto no Chile. Manteve sua atividade política no interior de MIR
chileno, trabalhando junto aos máximos
líderes desse movimento.
Se tem acreditado que Patricio Biedma foi preso em um registro
"tipo rastrillo" em julho de 1976, em
Buenos Aires e levado a vários recintos, entre os quais
"Automotores Orletti" dependente de SIDE -
organismo de segurança com o qual a DINA mantinha estreitas
relações-. Neste recinto, Patricio Biedma foi
interrogado por um militar chileno, o que consta em vários testemunhos
de presos argentinos.
A sorte final do sociólogo deve ser relacionada com a de Edgardo
Enríquez e Jorge Fuentes. Durante seu
cativeiro Patricio Biedma comunicou a uma testemunha a sua apreensão de
que seria trasladado para o Chile.
10º. Aos 3 de agosto de 1976 foi detido em São Bernardo, ante
testemunhas, o militante comunista Eduardo
Enrique HERNÁNDEZ CONCHA, desconhecendo-se os recintos nos quais
peremaneceu recolhido e sua
sorte posterior à detenção.
11º. Aos 10 de janeiro de 1977, José Luis APPEL DE LA CRUZ foi
sequestrado por um grupo de civis
armados, em plena via pública da cidade de Cipolletti, provincia de
Neuquen, Argentina, na frente dos
olhos de sua esposa, Carmen Angélica DELARD CABEZAS e de sua filha.
Carmen Delard desapareceu na
comisaría dessa cidade ao fazer a denúncia do desaparecimento de seu
marido.
12º. Aos 17 de janeiro, uma semana mais tarde, sua irmã Gloria Ximena
DELARD CABEZAS foi detida em
seu domicílio de Buenos Aires junto com seu marido Roberto CRISTI
MELERO e seus dois filhos. Gloria
Delard estava grávda de seu terceiro filho. A patrulha de agentes da
Policía Federal os trasladou para a
Escuela Mecánica de la Armada (ESMA), recinto no qual desapareceu.
As irmãs Carmen y Gloria Delard eram estudantes e militares de MIR da
Universidad de Concepción.
Perseguidas no Chile depois de 11 de setembro 1973, aceitaram a proposta
de um amigo da família, ex
coronel do exército, de ajudar-lhes a cruzar a froteira
chileno-argentina, instalando-se em Neuquen e
Buenos Aires respectivamente.
Dos antecedentes se depreende que na captura do dirigente da MIR
participaram também os serviços de
inteligência argentinos, que deram os dados do passaporte falso de
Jorge Fuentes.
Existem vários testemunhos e coincidências sobre a permanência de
Jorge Fuentes em Villa Grimaldi onde
lhe trataram de uma sarna, ao mesmo tempo em que seguiam lhe torturando
e submetendo a tratamento
degradante.
13º. Aos 6 de abril de 1977 o ex Director de Aeronáutica da FACH,
Jorge SAGAUTA HERRERA, de 51
anos, foi detido por forças de segurança argentina no domicílio de um
amigo seu em Buenos Aires. Como o
encontraram registrado na lista de presos políticos chilenos, foi
levado pelos agentes que o fizeram
desaparecer.
14º. Aos 16 de maio de 1977 fue sequestrado em Buenos Aires o estudante
chileno-suíço, Alexei Vladimir
JACCARD SIEGLER, o qual havia chegado nesse país no dia anterior, em
escala de viagem que devia
continuar até o Chile no dia seguinte.
Segundo antecedentes proporcionados à Comisión, Alexei Jaccard trazia
consigo dinheiro que devia
interessar ao Chile.
Na mesma operação foram presos Ricardo Ignacio RAMÍREZ HERRERA,
encarregado da organização e
das finaças do Partido Comunista do Chile em Buenos Aires, e Héctor
Heraldo VELÁSQUEZ
MARDONES, tambem militante comunista chileno. Os agentes chilenos e
argentinos capturaram em um
mesmo dia a três cidadãos chilenos e a cinco argentinos membros do
Comitê de Solidariedade entre Chile
eArgentina, que albergavam os detidos. Os oito estão até hoje
desaparecidos.
Alexei Jaccard é preso em via pública e trasladaado para um recinto da
Policía Federal Argentina onde será
interrogado e logo transferido para a Escuela Mecánica de la Armada
(ESMA) de Buenos Aires.
O papel especialmente ativo que atribui-se à DINA e ao Governo do Chile
neste caso começa com a tripla
prisão ilegal em território estrangeiro graças à cumplicidade dos
serviços de segurança argentino, e termina
com a entrega de falsa informação aos diplomatas suíços dedicados à
busca de um nacional helvético.
E quanto a Ricardo Ramírez, a Policía Internacional de Chile informou
falsamente ao Ministerio de
Relaciones Exteriores Argentino sobre as supostas viagens da vítima,
nos anos 1977 a 1983. Tal informação
havia sido solicitada a referida repartição pelos Tribunais da
República Argentina.. Outro informe enviado
pela polícia a esta Comisión, concordadando com os fatos reais, mostra
que a vítima só viajou de Santiago à
Alemanha em março de 1976, dada que conseguiu sair na qualidade de
exilado político para radicar-se na
Hungria.
Posteriormente à tripla detenção em Buenos Aires dos militantes
comunistas chilenos, os organismos de
segurança chilenos e argentinos usaram um arsenal de documentos falsos
e informações para cobrirem-se
mutuamente contra a pressão do governo suíço que insistia em conhecer
o paradeiro de um nacional em
trânsito.
15º. Aos 23 de maio foi preso Humberto CORDANO LÓPEZ, enfermeiro,
membro do PC, exilado em
Comodoro Rivadavia depois de 11 de setembro de 1973. A vítima foi detid
no dia já indicado nas cercanias
do Hotel Céntrico de Comodoro Rivadavia. Membro do Comitê Argentino de
Solidariedade entre Chile e
essa provincia, Humberto Cordano havia feito solicitações em favor dos
presos chilenos, razão pela qual foi
seguido de forma notória por agentes da DINA naquela cidade argentina.
16º. Aos 19 de maio de 1977 foi detido junto com sua esposa Oscar
Lautaro HUERAVILO SAAVEDRA,
de 23 anos, empregado, sem militância conhecida, jovem chileno radicado
en Buenos Aires casado com uma
nacional argentina, Mirta Mónica ALONSO, grávida de seis meses. Essa
criança nasceu no cativeiro sendo
recuperada por sua vó. O casal desapareceu.
17º. Aos 29 de maio de 1977 foi preso na chegada do vôo que se
realizava entre Santiago e Buenos Aires,
antes de passar pelo controle da Polícia Internacional, o casal chileno
formado por Matilde PESSA MOIS e
Jacobo STOULMANN BOERTNIK, sem militância ou vinculações do tipo
político. Posteriormente a sua
detenção foi encontrado o registro do casal no Hotel Winston Palace de
Buenos Aires, nessa época, usado
pelos serviços de segurança da Argentina.
18º. Aos 19 de maio de 1977 foi detido José Liberio POBLETE ROA,
membro da comunidade "Cristianos
por el Socialismo", junto com sua esposa de nacionalidade argentina
e sua filha de oito meses Claudia
POBLETE HLACZIK. O casal e sua filha desapareceu, existindo testemunhos
que indicam a estadia dos
mesmos nos centros de detenção do Banco y El Olimpo em Buenos Aires,
perdendo-se a pista em meados
de 1979.
19º. Aos 11 de setembro de 1977 foi detido no bairro Quilmes, Buenos
Aires, Argentina, Cherif Omar
AINIE ROJAS, estudante de química na universidade dessa cidade, o qual
estava radicado na Argentina
desde sua infância. No dia seguinte, efetivos das Forças Armadas
Conjuntas resgistraram seu domicílio,
levando a cédula de identificação da vítima.
20º. Aos 10 de janeiro de 1978 foi preso por policiais argentinos Guido
Arturo SAAVEDRA INOSTROZA,
estudante da Universidade de Buenos Aires e empregado em Textil Gloria.
Até essa data encontra-se
desaparecido.
O jovem universitário havia saído do Chile em data posterior à 11 de
setembro de 1973, depois de haver
sido detido na Universidade Federico Santa María de Valparaíso. As
informações a disposição da Comisión
Rettig permitiram estabelecer que Guido Saavedra foi objeto de uma
detenção ilegal e desapareceu,
cometida fora do território nacional por agentes do Estado do Chile ou
com sua participação. Outrossim, se
constata o alto grau de comunicação existente entre os serviços de
serugança argentinos e chilenos naquela
data.
21º. Em 1978 foram detidos em Buenos Aires os cidadãos chilenos Raúl
TAPIA HERNÁNDEZ, Jaime
Nury RIQUELME GANGAS y Luis ESPINOZA GONZÁLEZ. Tratam-se de exilados
que trabalhavam
legalmente na Argentina e que desapareceram no contexto antes referido.
22º. Em abril de 1978 desapareceu Carlos Patricio ROJAS CAMPOS,
militante comunista, o qual havia sido
perseguido em Calama e Tocopilla até o ano 1977, data em que se
refugiou em Buenos Aires, mantendo
contato escrito com sua família no Chile. Desde a data indicada não se
tem tido mais notícias suas.
23º. Aos 26 de julho de 1978 desapareceu na Argentina Cristina
Magdalena CARREÑO ARAYA, militante
comunista. Havia chegado nesse país da Hungria no princípio do mês.
Aos 24 do mesmo mês revelou para
o departamento do CEAS, repartição da Igreja Católica que trabalhava
em coodenação com ACNUR, na
capital federal, sentir-se perseguida e solicitou status de refugiada.
24º. Aos 27 de janeiro de 1979 Óscar Orlando OYARZUN MANZO, militante
do PC do Chile, refugiado
na Argentina desde 1974, foi sequestrado por agentes a paisano e morto
nas cercanias de Buenos Aires.
25º. Aos 19 de fevereiro de 1981, foram detidos na fronteira
chileno-argentina no setor de Paimún, José
Alejandro CAMPOS CIFUENTES, estudante de enfermaria e Luis QUINCHAVIL
SUÁREZ, ex dirigente
mapuche, ambos militantes de MIR, os quais tentavam regressar ao Chile
clandestinamente, na denominada
"Operação Retorno". Eles haviam sido condenados
anteriormente pelo Conselho de Guerra a penas
privativas de liberdade, que lhes foram comutadas por extradição no
ano de 1975, razão pela qual estavam
proibidos de ingressar no território nacional.
Os antecedentes que se conheceram sobre estes fatos, realacionados com
as operações da CNI deram como
resultado na desarticulação de atividades guerrilheiras no setor de
Neltume no ano de 1981, conduziram a
Comisión a estabelecer que José Campos e Luis Quinchavil foram detidos
por guardas argentinos na
fronteira, os quais os puseram à disposição de agentes de segurança
nacional, em mãos dos quais
desapareceram.
QUARTO - Da mesma forma as onze pessoas seguintes de nacionalidade
chilena foram detidas ilegalmente
e permanecem desaparecidos:
-Nelson Martín Cabello Pérez, 23 anos, detido em 9 de abril de 1976 em
La Plata, Argentina, junto com sua
esposa e seu cunhado.
-Oscar Julián Urra Ferrarese, 24 anos, detido às 13.30 horas do dia 22
de maio de 1976, en Buenos Aires,
Argentina, junto com sua esposa. Na operação participou pessoal da
Aeronáutica Argentina. O casal foi
levado ao cárcere de Campo de Mayo, de lá trasladada à prisão penal
militar de Magdalena. Desde então
não se tem mais notícias.
-Rafael Antonio Ferrada, 49 anos, detido aos 3 de agosto de 1976 em sua
residência em San Martín,
provincia de Buenos Aires, Argentina. Sua prisão foi denunciada no
julgamento número 2 de San Martín
sem se obter resposta.
-José Francisco Pichulmán Alcapán, 20 anos, detido em 12 de agosto de
1976 em seu domicílio em
Neuquén (Argentina) por um grupo de militares. Segundo testemunhos foi
visto pela última vez por guarda
em um recinto da localidade de Río Mayo.
-Juan Raúl Pichulmán Alcapán, 24 anos, detido em 27 de janeiro de
1977, em seu domicílio, na localidade de
J.J. Gómez en Río Negro (Argentina), junto com sua esposa por efetivos
do exército, integrado por um
grupo de 20 a 30 pessoas que disseram pertencer às "forças
conjuntas".
-Nelson Flores Ugarte, 28 anos, detido em 18 de fevereiro de 1977 em seu
domicilio, em Buenos Aires, por
um grupo de indivíduos fortemente armado. A prisão deste cidadão
chileno nunca foi reconhecida pelas
autoridades argentinas, se desconhece seus paradeiro.
-María Isabel Navarrete, 24 anos, foi detida em 17 de maio de 1977 na
saída da Facultade de Medicina de La
Plata.
-Reinaldo Miguel Pinto Rubio, 23 anos, detido em 19 de junho de 1977 em
Buenos Aires por un grupo de
indivíduos. Opôs resistência pelo que foi baleado e conduzido à
Delegacia de Claypole.
-María Angélica Pinto Rubio, 21 anos, vista pela última vez em Buenos
Aires em 10 de fevereiro de 1977.
Aparentemente sua detenção está vinculada com a do seu irmão.
-José Luis de la Maza Asquet, 27 anos, detido em 1 de novembro de 1977
na via pública da cidade de
Tucumán (Argentina) e desapareceu. No se pôde determinar o seu
paradeiro.
-Juan Adolfo Coloma Machuca, detido em 11 de dezembro de 1978 em Buenos
Aires, junto com a esposa.
Juan Adolfo Coloma, a quem chamavam Hernán foi visto no campo de
prisioneiros de El Olimpo nos fins
de 1979.
QUINTO.- Da mesma forma foram sequestrados, no mesmo esquema organizado
de eliminação física
desenhado, entre outros por Augusto Pinochet Ugarte as seguintes
pessoas:
ANO 1976
-María Eliana Acosta Velasco, de 34 anos de idade, de nacionalidade
chilena, foi detida em La Plata
Argentina aos 28 de setembro e internada nos Centros de detenção
clandestinos conhecidos como "BIM-3"
y "ARANA" e desapareceu em janeiro de 1977.
-Luis Adolfo Jaramillo, de 42 anos, desaparecido em 26 novembro,
Quilmes, Argentina.
-José Heriberto del Carmen Leal Sanhueza, de 25 anos de idade, soltero,
estudante universitário,
desaparecido provavelmente em Córdoba, Argentina.
-Luis Guillermo Guzmán Osorio, de nacionalidade chilena, que
desapareceu na Argentina e que aparece
registrado nas litas da Assembéia permanente de Dereitso Humanos desse
país.
-Enrique Lomas Pontigo, desaparecido em 24 de maio, em Buenos Aires,
desaparecimento que aparece
resgistrado em ACNUR-Argentina.
-Luis Arnaldo Zaragoza Olivares, empregado, detido na Argentina em 17 de
agosto, Argentina, desapareceu
desde essa data segundo consta nas listas da CONADEP e APDH desse país.
-Gaspar Medina Medina, de 42 anos, detido em 9 de setembro em
Futaleufú, Argentina, seu
desaparecimento aparece registrado na Assembléia Permanente de Dereitos
Humanos e em CELS (Centro
de Estudios Legales y Sociales de Argentina).
-René Alejandro Moscoso Espinoza, fotógrafo, detido em 15 de setembro
na fábrica onde trabalhava
GRAFFA S.A. de Buenos Aires, Argentina, segundo const dos registros da
Assembléia Permanente
Dereitos Humanos y CONADEP.
-Salvador Cubillos Maturana, detido em 10 de novembro de Buenos Aires,
Argentina e desaparecido nessa
data segundo consta da lista da APDH da Argentina.
-Nora Mardikiand, de nacionalidade argentina, casada com o chileno
Nelson Cabello, permanece
desaparecida.
-Susana Ossola, cidadã argentina, casada com o chileno Oscar Urra e
grávida até o momento de sua prisão,
permanecendo até esta data desaparecida.
-Clara Haydeé Fernández, de nacionalidade argentina, casada com o
chileno Luis Elgueta, permanece
desaparecida desde a data do sequestro de seu marido.
-Cecilia María Fernández, de nacionalidad argentina, cuñada del
chileno Luis Elgueta y desaparecida desde
la misma fecha que éste.
-Esteban Badell, argentino, casado com a chilena M. Eliana Acosta,
permanece desaparecido desde a mesma
data que esta.
-Julio Badell, irmão do anterior e permanece desaparecido desde a mesma
data que este.
ANO 1977
-Carmen Angélica Delard Cabezas, 24, 10 de janeiro, Cipolletti,
Argentina.
-María Eugenia Escobar Silva, desaparecida em 18 de fevereiro em Buenos
Aires, Argentina.
-Daniel Tapia Contardo, de 26 anos, detido em 26 de março em Buenos
Aires, Argentina, segundo parece
na APDH e na CONADEP.
-Hernán Leopoldo Caballero, de 26 anos, detido em 26 de março em
Buenos Aires, Argentina. Segundo
dados da APDH e da CONADEP.
-Gastón Riquelme Cifuentes, detido 5 de junho, Argentina.
-Norma Riquelme Cifuentes, detida 5 de junho, Argentina. Segundo
registros de APDH e CONADEP.
-Hernán Artemio Rojas Fajardo, albanês, detido em 7 de junho em Mar
del Plata, Argentina, data desde a
qual permanece desaparecido, segundo os registros APDH e CONADEP.
ANO 1978
-Luis Alfredo Espinoza González, de 25 anos, detido 3 de dezembro em
Mendoza, Argentina, dta desde a
qual permances desaparecido.
-Eduardo Kurt Fuentes, detido em janeiro na Argentina, segundo as listas
de APDH.
-Ester Elena Jiménez Torrealba, desaparecida em janeiro na Argentina,
segundo registros ACNUR, data
desde a qual permanece desaparecida.
-Rafael Eduardo Ulloa Sánchez, detido em Argentina aos 12 de junho,
data desde a qual permanece
desaparecido.
-Rubén Gómez Quesada, periodista, detido em 30 de dezembro em Salta,
Argentina, data desde a qual
permanece desaparecido segundo consta na APDH.
-Susana Larubia, detida em 11 de dezembro em Buenos Aires e desaparecida
desde então.
ANO 1979
-Juan Antonio Rodríguez, chileno, detido em 8 de janeiro em Mar del
Plata, Argentina, data desde a qual
permanece desaparecido.
-Sylvia Lilian Almendras Zapata, desaparecida em Argentina.
-Santiago Pedro Astelarra, desaparecido em Argentina.
-Yolanda Barria Santana, desaparecida em Argentina.
-Omar José Ojeda Mera, desaparecido em Argentina.
-Mario Juan Villa Colombo, desaparecido em Argentina.
-Ricardo Lancelot Carvajal Vargas, desaparecido em Argentina.
-Gary Nelson Olomos Guzmán, desaparecido em Argentina.
-José Fernando Fanjul Mallea, desaparecido em Argentina.
-Silvia Teresa Marrambio Silva, desaparecida em Argentina.
-Angel Manuel Martínez Fernández, desaparecido em Argentina.
-Luisa Aurora Arredondo Fernández, desaparecida em Argentina.
RAZÕES JURÍDICAS
PRIMEiRO.- Os fatos relatados nesta resolução poderiam constituir,
relativamente ao imputado Augusto
Pinochet Ugarte, um delito de genocídio, que se integra por uma série
de detenções ilegais, seguidas, em
alguns casos de assassinato ou desaparecimentos das 91 pessoas vítimas
que se relacionan, e que, segundo
os testemunhos e dados recolhidos na causa, foram precedidos de torturas
em cada um dos casos; delito
tipificado no artigo 607 do Código Penal, combinado com os artigos 139
(homicídio), 163, 166 e 167
(detenção ilegal e seqüestro), todos do Código Penal; do delito de
terrorismo, referido nos artigos 515,
516.2, 571, 572 e 577 do Código Penal; dos delitos de torturas dos
artigo 174 do Código Penal; todos estes
estavam tipificados como delitos no Código Penal vigente, no momento em
que ocorreram os fatos.
Ademais, a qualificação jurídico-penal dos fatos se apoia na
seguintes normas de caráter internacional:
a) Declaração de Moscou, de 1943, subscrita pelo Reino Unido da
Grã-Bretanha, EEUU e a União
Soviética, sobre crimes contra a Humanidade.
b) O Estatuto do Tribunal de Nüremberg, de 1945, subscrito pelo Reino
Unido.
c) A resolução de 16 de dezembro de 1946 da Assembléia Geral das
Nações Unidas, aprovando os
princípios dos Estatutos e da Sentença de Nüremberg.
d) O Convênio das Nações Unidas, de 9 de diciembre de 1948, contra o
genocídio.
e) O Pacto de Direitos Civis e Políticos das NN.UU., de 16 de dezembro
de 1966.
f) A Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, de dezembro
de 1973, sobre persecução de crimes
contra a Humanidade.
g) A Convençãon contra a tortura, das NN.UU., de 10 de dezembroi de
1984.
h) A Declaração da Assembléia Geral das NN.UU. sobre o
desaparecimento forçado de pessoas, de 1992.
i) A Convenção Européia sobre repressão ao terrorismo, de 27 de
janeiro de 1977.
Segundo tais disposições, aplicáveis no Reino Unido, os crimes desta
natureza são imprescritíveis, seus
responsáveis não desfrutam, de imunidade diplomática, nem podem obter
estado de refugiado nem asilo
político, e todos os Estados do mundo estão obrigados a investigá-los
e a colaborar na investigação que de
tais crimes façam outros Estados.
SEGUNDO.- Tal como consta estabelecido, cria-se uma organização
armada, aproveitando a estrutura
militar e a usurpação do poder para, com impunidade, institucionalizar
um regime terrorista que subverteu a
si mesmo e à ordem constitucional, para desenvolver com eficácia o
plano de desaparecimento e eliminação
sistemática de membros de grupos nacionais, impondo-lhes deslocamentos
forçados, seqüestros, torturas,
assassinatos e desaparecimentos, aproveitando a ajuda e coordenação
com outros países, em particular a
Argentina.
De acordo com o disposto no artigo 23.4 da Lei Orgânica do Poder
Judiciário, a jurisdição espanhola é
competente para tramitar o Procedimento, tal como está estabelecido nos
Autos de 28 de junho de 1996, 25
de março e 11 de maio de 1998 y no de 16 de outubro de 1998, de
admissão de querela. Por isso, e em
atenção à gravidade dos fatos que se imputam e à situação do
querelado, que se encontra fora do alcance da
jurisdição espanhola, é procedente concordar com a prisão
provisional incondicional de AUGUSTO
PINOCHET UGARTE, ao amparo do disposto nos artigos 503, 504 e 539 da Lei
de Processo Criminal, em
relação aos preceitos penais citados, para o que se expedirão as
correspondentes ordens de busca e captura
internacionais, para proceder à sua detenção para efeitos de
extradição.
Resulta evidente que por não se achar o imputado à disposição deste
Juízo, não se pode realizar a audiência
prevista no artigo 504 bis 2 da Lei de Processo Criminal Criminal,
tendo, portanto, o Juiz poder para decretar
a prisão como única medida para impulsionar adequadamente a
instrução e possibilitar que aquele
compareça perante a autoridade judicial.
Pelo expostos e vistos os artigos citados e os demais de aplicação
geral,
DECIDO
Ampliar a prisão provisional incondicional de AUGUSTO PINOCHET UGARTE
pelos fatos descritos
nesta resolução que integramn os presumidos delitos de genocídio,
terrorismo e torturas, em relação com o
Auto de Prisão com data de 16.10.98, ditado contra o mesmo.
Expedir urgentemente ordem internacional de detenção perante as
Autoridades Judiciais Britânicas para sua
incorporação à de 16.10.98, da qual é ampliação, ditada contra ol
mencionado Augusto Pinochet Ugarte.
Assim o manda e assina o Ilmo. Sr. D. Baltasar Garzón Real,
Magistrado-Juez del Juzgado Central de
Instrucción Número Cinco de la Audiencia Nacional.
DILIGENCIA; seguidamente se cumple lo acordado. Doy fe
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