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Fábrica de homens-bomba
Shawqi Nasser

Ver a crise em curso no Oriente Médio apenas pelo prisma das dicotomias religiosas encobre as realidades que enchem os olhos do mais desatento turista que visite Israel e a Palestina nos dias de hoje, onde pululam a pobreza, a miséria e a injustiça, verdadeiras usinas do terror.

Em recente visita a Jerusalém, pude constatar que 40% do comércio da cidade velha cerrou suas portas por falta de clientes, expulsos pela ausência de segurança, que impede a prosperidade de qualquer tipo de atividade econômica. Lembrei-me, então, de outra viagem que fizera dois anos atrás, quando uma estabilidade política mínima levava milhares de pessoas das mais variadas partes do mundo aos mercados, às mesquitas, às igrejas, ao muro de lamentações, aos lugares sagrados da chamada Terra Santa.

Na nova e lamentável realidade pude constatar que os israelenses vivem agora sobressaltados com aqueles que oprimem, e os oprimidos palestinos, tratados como sub-raça, como dejetos da humanidade, a quem não resta ao menos a esperança de uma vida digna, reagindo como animais à fome, à pobreza, à miséria e a todo tipo de humilhação, movidos por instintos puramente animais.

A política opressora imposta ao povo palestino (se é isso que podemos chamar de política), está aquém da política ambiental, pois transforma seres humanos em dejetos. Jovens e adultos, mulheres e crianças palestinos são submetidos às mais terríveis humilhações, como serem obrigados a tirar as roupas nas barreiras militares, passarem todo o dia sob frio inclemente para somente à noite serem liberados. Liberados para a angústia, para o sofrimento, para o desatino de se tornarem ‘‘homens-bomba’’ ou qualquer serventia que possam dar a seus corpos e às suas mentes mutilados.

Foi justamente essa política que deu origem à explosão de suas intifadas, ameaçando e destruindo mesmo a autoridade e a liderança da Autoridade Palestina e de seu líder máximo, Yasser Arafat, que, negando-se a adotar a política de Israel contra os próprios irmãos, é acusado de não ter pulso para controlar sua gente. Ele, que não é responsável pela desgraça a que a política de Sharon submeteu seu povo, teria que contê-lo na hora do desespero. Missão impossível. Pois, desesperados e desesperançados, jovens ou velhos, relegados à condição de subgente, tornam-se alvos fáceis de transmutarem-se em homens-bomba, na descrença de uma vida digna que as leis internacionais asseguram a todos os seres humanos.

Assim, Sharon encontra justificativa para continuar o massacre contra o povo palestino, com apoio dos Estados Unidos, e Israel segue a sua política de matar, como na recente chacina da aldeia de Betrima, que teve 26 mortos e centenas de feridos, onde estive e pude ver a repetição do massacre de Sabra & Shabila. O revide pelos homens-bomba era inevitável e incontrolável, pois são homens que vivem em campos de refugiados sem esperança de serventia senão a de usar o próprio corpo, com sacrifício da vida, chamando a atenção do mundo para a desgraça de seus irmãos e das futuras gerações. Clamam assim pelo respeito às resoluções 242, 338 e 194 da ONU, que estipulam o fim da ocupação israelense aos territórios palestinos, inclusive Jerusalém Oriental, e a volta dos refugiados, a suspensão dos bloqueios militares e econômicos e a abertura de postos de trabalho que proporcionem condições dignas de vida aos seus cidadãos.

Fica claro que o combate a essa política de autodestruição para ambos os lados contendores — Israel e Palestina — não se dará pelo uso da força, que até hoje tem se mostrado inócua e alimentadora de novas ondas de violência, mas pela suspensão das agressões de toda ordem — militar, econômica e psicológica. As raízes das lutas contra a ocupação israelense não serão arrancadas com mera conquista de uma das regiões mais destroçadas e esgotadas do mundo. É preciso que se desenvolva uma guerra contra a pobreza, a miséria e a injustiça, para que os erros do passado não se repitam. Só então poderão brotar as sementes da esperança que ocuparão o lugar do terror.


Shawqi Nasser é presidente da Associação Árabe Palestina Brasileira
Correio Brasiliense, quinta-feira, 24 de janeiro de 2002

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