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Dos
Filhos Deste Solo
AS MORTES DOS
FILHOS DESTE SOLO
Elio Gaspari
JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO - 08/08/1999 - pág. 03 |
Como parte das comemorações dos 20 anos da anistia,
vale a lembrança do próximo lançamento de um bom livro.
É "Dos filhos deste solo", organizado pelo
deputado Nilmário Miranda (PT-MG) e pelo jornalista Carlos Tibúrcio.
Conta a história dos trabalhos da comissão especial criada pelo
Congresso para determinar a responsabilidade do Estado no assassinato de
dissidentes políticos durante a ditadura militar.
A comissão, ajudada por legistas e pelas famílias
dos mortos, conseguiu documentar absurdos. Fez isso estudando documentos
oficiais. Por exemplo: segundo a requisição de necropsia feita pela
polícia, Helber José Gomes Goulart, militante do marighelismo morreu
às 16 h do dia 16 de julho de 1973 e seu corpo chegou ao Instituto Médico-Legal
às 8h desse mesmo dia. Isso mesmo. Chegou ao necrotério oito h?????J?oras
antes de morrer. Pior: as fotos guardadas no IML foram tiradas quando
ele ainda estava vivo.
Noutro caso, os documentos da polícia informaram que
Frederico Eduardo Mayr, do Molipo, morreu no dia 23 de fevereiro de
1972, num tiroteio de rua. Uma ficha do DOPS paulista, datada do dia
seguinte, mostra que ele fora fotografado e identificado em alguma
repartição do governo, na véspera. Mary fora preso com um ferimento
superficial na barriga. Mataram-no porque, no jargão do aparelho
repressivo, "era um cubano" (tinha vindo de Cuba, onde
recebera treinamento militar).
"Dos filhos deste solo" cataloga cada um dos
136 casos de desaparecidos políticos reconhecidos antes da criação da
comissão especial e os outros 148 assassinatos que elucidou.
É mais um documento do que uma peça de leitura. Seu
imenso valor está no registro e na preservação do metódico resgate
que a comissão de Nilmário Miranda produziu.
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