
A história
de quem se beneficiou pela anistia
A história da anistia no Rio
Grande do Norte está sendo recontada. Longe dos registros
oficiais produzidos sob o filtro da ditadura militar, agora são
os próprios personagens beneficiados pela lei promulgada em
28 de agosto de 1979 que narram episódios que compõem o
painel sombrio da época em que, por pressão da sociedade
brasileira, o regime militar finalmente cedeu em libertar os
presos políticos e permitir a volta dos exilados ao país.
Estes depoimentos estão no livro Anistia 20 Anos – Um
resgate da luta no Rio Grande do Norte –, lançado na última
sexta-feira pelo Sindicato dos Bancários e Câmara Municipal
de Natal.
O professor de Ciências Sociais da UFRN e presidente do diretório
municipal do Partido dos Trabalhadores, Moisés Domingos, é
autor de um dos dez depoimentos que compõem o livro. Ele se
mostra entusiasmado com a iniciativa de sua publicação.
‘‘O livro permite resgatar, reconstituir uma página histórica
e permite incluir na hist???E???oriografia local os personagens que
participaram desta luta política. Nós vamos mostrar um outro
lado da história que não é mostrada pela historiografia
oficial, construir uma outra verdade que não a oficial’’,
comentou.
Para Moisés Domingos, o trabalho representa um primeiro
momento do resgate dos acontecimentos que culminaram na Lei da
Anistia, que é o de colocar o assunto para o público.
‘‘Estamos mostrando que nós também tivemos mortos,
desaparecidos e torturados’’.
Segundo ele, deve-se seguir um segundo momento, que será o de
discutir politicamente este período. ‘‘Como se
desenvolveu esta luta? O que era estar ligado a uma organização
clandestina? Quais eram as operações que elas
desenvolviam?’’, questiona o presidente do diretório
municipal do PT.
DELAÇÃO
O prefácio do deputado federal Nilmário Miranda - presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados -
traz dados que ilustram bem o cenário da política brasileira
na época da anistia.
Quando a lei foi promulgada, havia mais de 300 mil pessoas
vinculadas voluntária ou involutariamente ao Serviço
Nacional de Informação (SNI) apenas para delatar. 15 mil
trabalhadores perderam seus empregos por perseguição política
e mais de mil sindicatos sofreram intervenção.
Há outros números: 774 parlamentares tiveram seus mandatos
cassados. Quase 15???E??? mil brasileiros foram exilados ou expulsos
do país, enquanto aproximadamente 200 perderam a própria
cidadania. 424 pessoas foram mortas, por ação direta ou
indireta da ditadura.
Na orelha do livro, o professor da UFRN Tarcísio Gurgel
resume a importância da iniciativa do sindicato e da Câmara
num paradoxo: ‘‘o instituto jurídico da anistia existe
para fazer com que as pessoas que tenham sido levadas a
extremos, em momentos de conflagração, sejam perdoadas.
(...) Aqui, busca-se não esquecer’’
Iranilton
Marcolino
Repórter de Política
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