Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Heróis da selva
No acidente com o avião
da Gol morreram catorze capixabas sendo que dez,
de Cachoeiro de Itapemirim (ES), conforme amplamente
noticiado pela imprensa. Não me lembro
de outra tragédia que tenha, num único
dia, ceifado a vida de dez pessoas, em minha cidade
natal.
Na
teia dos entrelaçamentos familiares e de
amizade, parentes de parentes, amigos de amigos,
pode-se dizer que o luto alcançou a comunidade
cachoeirense por inteiro. Ninguém ficou
ileso.
A
catástrofe, por si mesma imensa, agiganta-se
porque as vítimas eram cidadãos
prestantes, extremamente úteis, gente muito
querida.
Dentre
os passageiros do vôo fatídico estava
Luiz Albano Vieira Custódio, dentista,
chefe de família e homem exemplar, meu
primo emprestado, sobrinho sangüíneo
de uma querida tia por afinidade.
Quando,
ainda crianças, ficávamos na casa
dos tios Bráulia e Augusto Lins, tanto
eu, quanto ele, Luiz, ou seus irmãos Tito
e José Albano, não entendíamos
de modo algum a lógica de não sermos
primos integrais, já que chamávamos
de tio e tia as mesmas pessoas.
Nestes
momentos de angústia e sofrimento, há
gestos que confortam e que, pela grandeza ética
de seu significado, contrapõem-se à
dureza dos fatos.
É
neste esforço de olhar o infinito para
ver a estrela que brilha na noite escura, que
eu me debruço à face dos militares
da Força Aérea Brasileira que realizam
as operações de resgate das vítimas.
Descendo
de helicóptero em sucessivas e arriscadas
manobras, embrenhando-se na mata virgem, arrostando
o perigo, não recuando diante de qualquer
dificuldade, incômodo ou tropeço,
esses bravos militares dão uma lição
viva de Cidadania ao povo brasileiro.
Como
se não bastasse todo o sacrifício
que fizeram, esses homens de escol ainda tiveram
a oportunidade de escrever um poema à vida.
Isto porque conduziram, num avião militar,
a parturiente Francisca de Souza Oliveira, moradora
de Novo Progresso, um município de Mato
Grosso onde não existe maternidade, para
que ela desse à luz num hospital próximo
de sua cidade. Não houve tempo, entretanto,
de chegar ao hospital, daí porque, dentro
do avião, com o auxílio dos médicos
da Força Aérea Brasileira, nasceu
um menino que recebeu o nome de Fabiano, numa
homenagem à FAB.
Quando
são comuns as atitudes de egoísmo,
busca do interesse próprio, irresponsabilidade,
descompromisso para com o social, esses militares
devolvem a crença na grandeza do ser humano
a todos aqueles que tenham perdido essa crença.
Não
existem galardões, condecorações,
insígnias para honrar o mérito?
Esses militares merecem receber uma Medalha por
Ato Heróico, que lhes outorgue o Presidente
da República, o Ministro da Justiça,
o Ministro da Defesa, o Ministro da Aeronáutica,
em nome do Povo Brasileiro. |