Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Apóstolos antigos
e contemporâneos
Vamos começar esta página
lembrando o Apóstolo Paulo que, a meu ver,
sintetizou o Cristianismo na epístola que
escreveu sobre o Amor. Ainda que eu falasse todas
as línguas dos homens, isso de nada valeria
se eu não tivesse Amor. Ainda que eu distribuísse
todos os meus bens aos pobres, nenhum significado
teria esse gesto se eu não tivesse Amor.
Podemos
colocar o Apóstolo Paulo no século
XXI e, dentro de sua linha de ensinamento, desdobrar
sua palavra: ainda que eu conheça e cumpra
todos os artigos do Código de Direito Canônico,
isso de nada valerá se eu não tiver
Amor.
O
Amor, na lição de Paulo Apóstolo,
é a grande diretriz da vida, é a
balança através da qual, com a medida
do Absoluto, pesamos tudo que é relativo.
A lei é relativa. O Amor é Absoluto.
Esta
reflexão sobre Paulo Apóstolo me
socorre quando penso nisto que se chama “segundo
casamento”. Casais, cujo primeiro casamento
naufragou, e que procuram uma nova morada para
o Amor.
Sem
dúvida, o ideal seria que todos os noivos
realizassem a promessa depositada sobre as alianças:
“prometo amar-te até o último
dia de minha vida, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença”. Entretanto,
somos falíveis, somos mesmo de barro. E
nem sempre os votos solenes têm a possibilidade
de durar até a morte. E então?
Parece-me
que à luz de Paulo Apóstolo, se
o Amor é a medida de todas as coisas e
a medida da própria lei, o segundo casamento,
a segunda tentativa de ser feliz tem as bênçãos
de Deus. O Código de Direito Canônico
há se ser interpretado sob a chancela do
preceito do Amor. Não cabem anátemas,
não cabem exclusões, cabe o Amor
que tudo compreende, tudo perdoa, tudo subverte,
tudo endireita, tudo sintetiza, tudo explica,
na dimensão cósmica de sua abrangência
infinita.
Conheço
tantos lindos casais em segundas núpcias.
Casais que constróem cada dia, na partilha,
na doação, na responsabilidade,
na fidelidade, o Sacramento do Amor.
Depois
de reverenciar o Apóstolo Paulo, vamos
trazer à lembrança três Apóstolos
contemporâneos: Dom Paulo Evaristo Arns
(católico), Reverendo Jaime Wright (evangélico)
e Rabino Henry Sobel (judeu).
Embora
seguissem rotas religiosas diferentes, esses três
Apóstolos encontraram sintonia na defesa
desassombrada da dignidade da pessoa humana. Quando
o Brasil estava sacudido pela ditadura, esses
três Apóstolos denunciaram a tortura,
sofreram toda sorte de ameaças, colocaram
a própria vida em perigo, na defesa dos
Direitos Humanos. O livro “Brasil Nunca
Mais”, o mais monumental documentário
sobre a tortura no Brasil, mostra como foram tristes
e perigosos aqueles dias e como o templo católico,
o templo evangélico e o templo judeu, sob
a liderança desses três Apóstolos,
foram o refúgio dos perseguidos, foram
antena capaz de ouvir os gemidos e as dores dos
que eram massacrados.
Presto
esta homenagem aos três maiores apóstolos
do Brasil contemporâneo, num momento em
que o Rabino Henry Sobel sofre constrangimento
decorrente de uma dilacerante enfermidade que
o atinge. |