Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Alegrias e tristezas
Alegrias e tristezas fazem o
fluxo da vida. Nos últimos dias, esses
sentimentos díspares freqüentaram
minha alma.
Encheu-me
de alegria saber que uma idéia que defendemos
em “A Gazeta”, de Vitória (18/10/2002)
está para ser transformada em lei. Trata-se
de possibilitar ao contribuinte do imposto de
renda o direito de deduzir os salários
pagos a empregados domésticos. A cláusula
teria a finalidade de incentivar a contratação
de trabalhadores domésticos com carteira
assinada. Segundo o secretário da Receita
Federal essa dedução é uma
afronta à Matemática. Mas desde
quando devemos ser governados pela Matemática?
Certamente foi por razões idênticas,
de zelo pela Matemática, que governantes
pretéritos aboliram a possibilidade de
deduzir no imposto de renda o que se gasta comprando
livros.
Feriu-nos
de grande tristeza a notícia do falecimento
do Jornalista Joel Pinto, em Cachoeiro de Itapemirim.
Joel Pinto foi um símbolo da imprensa em
nossa terra natal. Desde a juventude, fez-se jornalista
profissional, o que é uma façanha
numa cidade do interior. Quanta persistência
e criatividade essa opção de vida
exigiu! A paixão de Joel era pelo jornal,
o texto escrito, o cheiro de tinta. Interessou-se
pouco pelo rádio e não se aproximou
da televisão. Além dos jornais que
criou, sempre apoiou os jornais que surgiam por
iniciativa de outros, como foi o caso da “Folha
da Cidade”, que fundei com outros membros
de minha família, e que teve de pronto
a simpatia e ajuda do Joel. Algum dia um pesquisador
cuidadoso haverá de resgatar a saga gloriosa
percorrida pela imprensa no interior do Brasil.
No
entrelace da tristeza, uma outra alegria, por
motivo semelhante ao da primeira alegria relatada.
Está para ser reconhecido o direito de
voto em favor do preso.
Escrevemos
no Jornal do Brasil (10/04/1998): “Já
é pena mais que gravosa retirar de alguém
a liberdade de ir e vir através do encarceramento.
A supressão dos direitos políticos,
excluindo da cidadania o indivíduo preso,
marginaliza ainda mais o condenado, dificultando
sua ressocialização.”
Por
duas vezes, batemos às portas do Tribunal
Regional Eleitoral do Espírito Santo, em
nome da Pastoral Carcerária, pleiteando
o “direito de voto” para os presos,
através de habeas-corpus. Uma vez antes
da Constituição de 1988, com base
simplesmente na Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Outra vez, após a
promulgação da Constituição.
Infelizmente, nem antes, nem depois, a Justiça
acudiu nosso apelo.
E
finalmente mais uma tristeza, mais uma perda,
também em Cachoeiro. Faleceu José
Soares, serventuário da Justiça,
uma pessoa permanentemente disponível para
o serviço ao próximo e para colaborar
com todas as iniciativas de interesse coletivo.
Começou a vida modestamente, foi funcionário
de portaria da Escola de Comércio local.
Sempre se orgulhou de sua origem humilde. José
Soares foi um padrão de Cidadania. |