Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
A comunidade e os presos
APAC é a sigla gloriosa
de uma instituição cujo nome completo
é "Associação de Proteção
e Assistência aos Condenados". Envolve
cidadãos e cidadãs sensibilizados
com a situação do sistema prisional.
Espalha-se por todo o Brasil.
Recebi
convite de Simone Berilli Jabour de Rezende para
comparecer ao seminário que a APAC promoveu
dias atrás, em Vitória.
Não
pude comparecer, mas registro meu aplauso ao magnífico
trabalho da "Associação de
Proteção e Assistência aos
Condenados".
A
APAC de Vitória, na linha de suas congêneres,
foi criada em dezembro do ano passado. Sob seus
auspícios realizou-se o seminário
a que me referi. O evento aconteceu em Ponta Formosa,
um espaço pertencente a "Arquidiocese
de Vitória do Espírito Santo",
porém marcado pelo espírito ecumênico.
Na Ponta Formosa, por inúmeras vezes, crentes
de várias confissões, ao lado de
homens e mulheres de boa vontade que não
professavam uma Fé particular, comungaram
projetos e ações em favor de um
mundo mais digno e mais justo.
No
Sermão das Bem-Aventuranças, a meu
ver a mais bela e poética página
do Evangelho, uma das bem-aventuranças
está destinada aos que debruçaram
seu coração a face dos presos. Nas
palavras de Jesus, não foram aos presos
que destinaram ternura, mas ao próprio
Cristo, na pessoa dos presos.
Quando
é tão comum na opinião pública
o sentimento de rejeição ou mesmo
de ódio ao preso, a APAC levanta a bandeira
da solidariedade para com os presos e condenados.
Isto
de presos me toca profundamente porque relembra
minha própria vida. Buscando a bem-aventurança
prometida, já na infância e adolescência
visitava os presos em Cachoeiro de Itapemirim,
por ensino de minha mãe. Como Juiz de Direito,
arrostando muitas vezes a incompreensão
de alguns, tive respeito para com o preso. A reincidência
criminal, por parte de presos que tiveram oportunidade
de trabalhar fora dos muros da prisão,
que receberam meu "voto de confiança",
foi incrivelmente baixa. Relatei a experiência
no livro "Crime, tratamento sem prisão".
Na Comissão de Justiça e Paz, da
Arquidiocese de Vitória, ao lado de companheiros
dedicados, denunciamos arbitrariedades, apontamos
falhas, sugerimos caminhos.
Em
matéria de compromisso para com o preso,
duas pessoas, no Espírito Santo, representam
inúmeras outras: um advogado e uma militante
da Pastoral Carcerária.
Através
de Isabel Aparecida Borges da Silva, homenageio
todos os batalhadores de Pastorais Carcerárias
e organizações de serviço
ao preso, em todo o país. Isabel, numa
luta que não conhece repouso, coerente,
corajosa, é bem o símbolo da mulher
bíblica que o Livro da Sabedoria exalta
como modelo.
Com
a menção de Sandro Chamon do Carmo,
homenageio todos os advogados brasileiros que,
no serviço ao preso, fazem de seu ofício
um gesto cotidiano de fraternidade. Sandro tem
dedicado sua vida ao semelhante, como expressão
de Fé. Seu devotamento ao preso alcançou
as altitudes do heroísmo quando, em visita
a presos em rebelião, foi seqüestrado
para depois ser libertado, sem qualquer exigência
dos amotinados. Sandro personifica a mais alta
grandeza que a profissão de Advogado pode
atingir. |