Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
 
 Direitos Humanos
 Desejos Humanos
 Educação EDH
 Cibercidadania
 Memória Histórica
 Arte e Cultura
 Central de Denúncias
 Banco de Dados
 MNDH Brasil
 ONGs Direitos Humanos
 ABC Militantes DH
 Rede Mercosul
 Rede Brasil DH
 Redes Estaduais
 Rede Estadual RN
 Mundo Comissões
 Brasil Nunca Mais
 Brasil Comissões
 Estados Comissões
 Comitês Verdade BR
 Comitê Verdade RN
 Rede Lusófona
 Rede Cabo Verde
 Rede Guiné-Bissau
 Rede Moçambique

Militantes Brasileiros dos  Direitos Humanos
Joćo Baptista Herkenhoff
Idade para ser juiz

Estão em pauta as discussões em torno da reforma da Justiça. Um dos pontos que, a meu ver, merecem debate é o da idade mínima para ser juiz.

À primeira vista pode parecer uma questão secundária. Mas não me parece que a matéria seja de pequena importância. O passar dos anos gera uma presunção de amadurecimento. Sem dúvida, é apenas uma presunção, porque as pessoas não amadurecem no mesmo ritmo. Entretanto, apesar de se tratar de uma presunção, isso não impede que o critério de idade fixe a maioridade civil, a maioridade eleitoral, a responsabilidade penal.

A Constituição Federal estabelece a idade mínima de 35 anos para que alguém possa ser senador. Quer a Constituição que somente pessoas amadurecidas ocupem uma cadeira no Senado da República.

Observe-se, entretanto, que cada senador dá apenas um voto, nas deliberações do Senado. O Senado só decide coletivamente.
Já as decisões dos magistrados, salvo nos tribunais, são individuais, solitárias, subordinadas apenas à consciência e à experiência do juiz. Serão menos relevantes do que as de um senador as decisões de um magistrado?
É um magistrado que declara alguém culpado de um crime, não é um senador. É um magistrado que decide sobre questões de família, não é um senador. É um magistrado que restaura a honra eventualmente ferida por uma calúnia, não é um senador.
Quando fiz concurso para juiz, no Espírito Santo, a idade mínima para ingresso na magistratura era de 28 anos. Depois essa exigência foi abolida. Olhando para trás, sinto que, com 28 ou 30 anos, eu não estava suficientemente maduro para ser juiz, embora tivesse competência para o ofício.

Certa vez, numa de minhas primeiras sentenças, deferi busca e apreensão de uma criança, requerida a ação pelos pais sangüíneos. Estes, por não se sentirem em condições de criar o próprio filho, ''deram'' o menino, com menos de um ano de idade, a um casal ''adotivo''. Tanto os pais de sangue, quanto os pais ''adotivos'' eram desprovidos de instrução. Fizeram tudo verbalmente, à margem da lei, sem a interveniência do juiz. Quando o menino havia completado seis anos, os pais de sangue reivindicaram a posse da criança, através de uma ação de busca e apreensão. Minha decisão, favorável aos pais sangüíneos, foi rigorosamente legal, à luz dos princípios jurídicos vigentes na época. A lei dizia que cabia busca e apreensão, em favor dos pais (biológicos), contra quem detivesse ilegalmente o filho alheio.

Lembro-me até hoje do olhar de horror da criança, quando saiu dos braços de sua mãe do amor e foi para os braços da estranha que era sua mãe de sangue. Se pudesse retroceder no tempo, não daria a sentença que dei.
Naquela tarde firmei propósito de que abandonaria a magistratura se não encontrasse caminho para decidir as questões de outra forma. Mas, felizmente, os percalços da vida, os sofrimentos me ensinaram, ou, numa síntese, a idade me ensinou a ser juiz. O inconveniente do exercício da magistratura por jovens muitas vezes brilhantes mas sem o crivo da experiência pode e deve ser corrigido.

^ Subir

< Voltar

Desde 1995 © www.dhnet.org.br Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: enviardados@gmail.com Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Notícias de Direitos Humanos
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
História dos Direitos Humanos no Brasil - Projeto DHnet
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Memória e a Verdade
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multimídia Memória Histórica Potiguar