
Querida
Margarida,
Você
me pediu um texto para o primeiro número do Jornal da Rede. Concluí, no
entanto, que mais útil que redigir um artigo - erudito e elaborado - seria
transcrever em uma carta pessoal algumas convicções que em outra ocasião
também transmiti a amigos que tinha um propósito parecido com o seu. O que
penso sobre educação
em Direitos Humanos é, de certa forma, provisório e, se
me permite, uma resposta em tom coloquial e modesto. Sendo assim, antes
de mais nada, aceite minhas mais sinceras desculpas.
E
começo por me justificar. O que acontece é que é impossível conter em uma
reflexão abstrata - muito menos em uma doutrina teórica - as características
necessárias aos educadores e educadoras em Direitos Humanos. Diante da
proposta de educar para os Direitos Humanos, minha perplexidade é grande ( e
suponho que a sua também por ter me pedido este artigo.
Se
os "Direitos Humanos" aparecem quase como uma "missão impossível"
o componente "educar" nos complica ainda mais as coisas. Educar,
sempre é, se cabe aqui a comparação, uma atividade mais complexa que as
outras, mesmo se tratando de governar um estado ou curar doentes. É
infinitamente mais fácil ser "tratado" por um doutor em ciências
que por um "doutor em humanidade". Entre outras coisas, porque aqui
temos que começar com "o ovo e a galinha" de uma só vez. E, quem
afinal, vai educar o educador em Direitos Humanos? A questão nos coloca no
cerne daquela insensatez e que me impediu de atender facilmente seu pedido.
Educar é ter sido educado de tal forma a ter sido afetado e modificado no
mais íntimo de seu ser pela presença do outro. Simplificando, podemos
lembrar o sábio Paulo Freire que repetia que "ninguém se educa
sozinho", "ninguém educa ninguém e que "os seres humanos se
educam em comunhão". A questão, no entanto, se agiganta infinitamente
quando acrescentamos os Direitos Humanos à educação.
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