
OS
150 ANOS DO MANIFESTO COMUNISTA
Homero
de Oliveira Costa -
prof. do Departamento de C.Sociais/UFRN
Publicado no início de
l848 por Marx e Engels, a pedido da Liga dos Comunistas, o Manifesto se
tornou um dos mais traduzidos documentos do mundo e certamente o mais
difundido da literatura socialista. Sua importância histórica é inegável.
Neste ano, em que se
comemora os 150 anos de sua publicação, há diversos eventos programados
em várias partes do mundo. Um dos principais, será na França, onde o
Coletivo de Estudos Marxistas programou um grande encontro internacional a
ser realizado entre os dias 13 e 16 de maio. No Brasil várias
Universidades estão organizando eventos que deverão ocorrer ao longo do
ano.
Há pouco, o prestigiado
caderno cultural da Folha de SP (MAIS) dedicou-lhe um dos seus números,
diversas revistas (Tendências e Debates, Princípios, Lutas Sociais etc)
publicaram artigos a respeito do manifesto e, mais recentemente, 3 novas
traduções do Manifesto foram publicadas no Brasil, acrescidas de artigos
de intelectuais marxistas, abordando distintos aspectos do Manifesto.
De que trata o manifesto?
Qual sua importância e relevância para os dias de hoje? Esta obra,
dividida em 4 partes, contém uma análise sucinta da sociedade européia,
o esboço (desenvolvido posteriormente) de uma teoria geral da história e
um programa para a ação revolucionária.
A primeira e segunda
parte (Burgueses e Proletários e Proletários e Comunistas) são as que
podemos considerar como as mais importantes e permanentes(as duas
primeiras são datadas, correspondendo ao embate intelectual e político
com seus adversários naquela conjuntura).nelas estão contidas, com uma
clareza e capacidade de síntese notáveis, o caráter geral e as
potencialidades da economia capitalista, antecipando, de forma genial, o
caráter transnacional do capitalismo europeu : a emergência de um
mercado mundial cada vez mais internacionalizado e cosmopolita,
apresentando uma visão geral do que hoje chamamos de “processo de
globalização” (...) a necessidade de mercados sempre impele a
burguesia a conquistar o globo terrestre”(...) . Embora reconheça o
papel revolucionário desempenhado pela
burguesia na sua luta contra o feudalismo, mostra como se torna
reacionária quando no poder e aponta para a necessidade da superação da
sociedade capitalista. O Manifesto é justamente uma plataforma programática
e política que os comunistas apresentam nesse sentido.
Colocado para os dias
atuais, o que permanece no Manifesto? Como vimos, Marx faz uma análise
sucinta mas genial do impacto da emergência do capitalismo, antecipando
seu caráter global, fornecendo elementos que permitem pensar a chamada
modernidade capitalista e, passados 150 anos, não há como negar a
centralidade da luta d classes (porque simplesmente elas não deixaram de
existir), o caráter de classe do Estado “O comitê executivo dos
interesses comuns da burguesia”, a tendência a centralização e
concentração de capitais, o aprofundamento das desigualdades sociais
(que a crise do Welfare States amplia para os países capitalistas mais
desenvolvidos, com a eliminação de benefícios sociais, crescimento do
desemprego etc), a intensificação e extensão da exploração que
acompanha a expansão e a competição
capitalista - situação agravada na periferia do capitalismo, como é o
caso do Brasil, que se insere, de forma subordinada, no capitalismo
internacional, desenvolvendo políticas econômicas em consonância com os
interesses do grande capital internacional.
Para
finalizar, é importante salientar que, num momento em que o capitalismo
está na ofensiva (econômica, política e ideológicamente) e o movimento
operário (e revolucionário) enfrentam uma crise sem precedentes - o que
coloca imensos desafios aos marxistas - talvez seja util reler obras como
o Manifesto Comunista, que podem ajudar a pensar em alternativas à
crescente barbárie capitalista.
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