Apresentação
do
Núcleo de Direitos Africanos Amilcar Cabral

O QUE
É O NÚCLEO
DE DIREITOS AFRICANOS
AMILCAR CABRAL
No início de um novo
milênio, consciente das agruras perpetuadas contra o povo negro e em
particular o negro africano oriundo das ex colônias sob jugo português,
enfrentando problemas de toda natureza e agora mesmo, o problema da AIDS
que cada dia está atingindo profundamente o continente africano, faz-se
necessário uma reflexão sobre o futuro do continente negro. Essa
reflexão se processo sob o ângulo da analise do progresso democrático
dos povos das ex colônias portuguesas, ou seja, como anda a implantação
das instituições democráticas naqueles países, notadamente se o
homem goza de mínima proteção quanto a sua integridade física e
moral.
Sabemos
infelizmente que a corrupção é uma constante nos
países apontados, com algumas exceções quase que
imperceptíveis, os referidos países vivem mergulhados
na mais absoluta pobreza, vivendo quase que a
margem do progresso mundial. Temos assim que doenças
erradicadas em muitas partes do mundo, ainda encontram
um terreno fértil no continente africano. O analfabetismo
anda mais presente que nunca. Em suma numa analise
geral, percebe-se que o povo africano ainda está
condenado a permanecer numa zona tenebrosa assolado
por todas as mazelas que se pode imaginar.
O que se
pretende através da criação do presente núcleo de estudos, é juntar
homens que possam discutir problemas relacionados aos direitos dos países
recém libertados da colonização portuguesa. Isto do ponto de vista
das liberdades individuais do cidadão. O que desde a independência
daqueles países se registrou de concreto nesse particular e o que está
sendo feito. Isto traça as linhas mestras desse encontro de homens
independentemente de raça, nacionalidade ao redor dos seguintes temas,
que constituem a razão de existir do núcleo. A saber:
1 – Estudos dos
Sistemas Africanos de Direitos Humanos;
2 – Disseminar
informações acerca dos Sistemas Africanos;
3 – Divulgar no âmbito
dos países africanos de língua portuguesa idéias objetivando a
consolidação de uma cultura democrática;
4 – Encontros
culturais, conscientização e denuncias, seminários acerca dos
problemas africanos na área dos direitos da cidadania.
O
nome de AMILCAR CABRAL emprestado a esse modesto
grupo de estudo, engrandece sem dúvida o empreendimento.
Pois como sabido esse grande leader, fundador
da nacionalidade guineense, foi quem juntamente
com outros companheiros, dividindo o mesmo ideal
iniciou a partir da Guiné-Bissau, o processo de
libertação das ex colônias portuguesas. Covardemente
assinado, não chegou a presenciar a realização
de seus sonhos, ou seja, a independência de sua
patria a Guiné-Bissau e de todas as ex colônias
portuguesas na África.
Amilcar Cabral morreu,
todavia suas ideais continuam vivos como nunca. Nunca será esquecido
pelas gerações presentes e futuras, pois entrou para a história.
Morreu defendendo seu povo, na conquista de sua dignidade. Abriu mão
dos privilégios de que gozava em Portugal como um dos primeiros quadros
de sua terra e voltou para a Guiné- Bissau para liderar o movimento de
independência que culminou com a vitória do povo guineense sobre um
governo português arcaico que não se sustentava mais e repudiado pelo
próprio povo português irmão. Foi assim a partir do processo iniciado
da Guiné-Bissau, a colonização portuguesa terminou no continente
africano.
Passada
a luta de libertação nacional, a guerra agora
nas ex colônias portuguesas é de desenvolvimento.
O Fervor que levou o colonizado a empunhar a arma
para se libertar do jugo colonial, parece ter
retrocedido. Colocados de repente frente aos destinos
de seus países, os novos dirigentes mostram-se
cada dia que passa incompetentes na condução da
afirmação de seus povos do ponto de vista do bem
estar. Repete-se o quadro que já era dos países
africanos, que já nos anos sessenta alcançaram
a independência, ou seja, a corrupção, o nepotismo,
a incompetência encontram terreno fértil nas novas
nações africanas.
Os países que comporão
as ex colônias portuguesas seguem assim fielmente a cartilha já rezada
pelos seus outros irmãos do continente. Não se registra nenhuma
proposta sólida capaz de fazer crer a um futuro melhor. Não fosse a
solidariedade internacional, poucos países africanos sobreviveriam como
nação. Mesmo assim a ajuda é insuficiente e o dilema da interna
submissão permanece. Cada dia que passa o desespero cresce. O quadro é
realmente de perder o juízo. Poucos países recém saídos do jogo
colonial português são capazes de oferecer a seus cidadãos uma vida
melhor.
É tempo do
ocidente enxergar que a política assistencialista destinada ao povo
negro não funciona, na medida em que os beneficiados são sempre um
grupo determinado, defensores de seus próprios interesses e o povo de
modo geral não tem acesso sequer as migalhas. Ao continuar as coisas do
jeito que estão, a situação tende a piorar e todo mundo tem a perder.
Na medida em que o problema africano não é mais simplesmente um
problema dos africanos, mas de todo mundo. Enquanto o continente estiver
abandonado a sua própria sorte, não providenciando o mundo
desenvolvido uma oportunidade de governos sérios, preocupados com os
problemas de seus concidadãos, o resultado será o invasão do mundo
ocidental. Isto se faz sentir já. São homens jovens, velhos, famílias
inteiras, confrontados com a falta total das condições mínimas de
subsistência que abandonam seus lares e iniciam uma peregrinação pelo
mundo ocidental, onde esperam ingenuamente encontrar uma vida melhor.
Não
se pode mais esperar nada, o momento é de ação.
Não importa a capacidade de cada um, sem dúvida
cada ser humano constitui em si um centro de riqueza
decorrente da vontade de fazer e assim tem algo
para dar, para transmitir. O núcleo espera a colaboração
de todos os homens de boa vontade, em particular
brasileiros, portugueses enfim de todos unidos
pela língua portuguesa, para ajudar na edificação
de um mundo novo, onde tudo mundo poderá viver
em paz e feliz.
Natal/RN, 23 de
dezembro de 2001.
ANTONIO PINTO
Coordenador
|