
Estudioso acredita
que a Internet favorece cibercidadãos
Tribuna do Norte 1998
Com a amplitude dos computadores na vida moderna, a meta de alguns
estudiosos é agora investir na criação do cibercidadão, o homem como
ser integrante da grande rede de computadores e vice-versa.
Com essa idéia, chegou ao ar, em 1995 a Dhnet (www.dhnet.org.br), site
totalmente especializado na questão dos direitos humanos. O seu fundador,
Roberto Monte, reforça a idéia da construção de uma cibercidadania,
apostando no alargamento dessa temática em páginas da rede mundial.
Segundo ele, a sua home page é hoje a mais completa em direitos humanos
entre os países de língua portuguesa. "Esse é o resultado de mais
de 20 anos de pesquisa nessa área. Trabalho pelo menos oito horas
diárias nesse assunto", afirma.
A decisão de construir uma página dedicada ao exercício da cidadania
surgiu em 1994. Primeiramente foi construída um BBS temático. Depois de
dois anos, surgiu a home page.
Com provedor próprio, a Dhnet abre espaço para o internauta interessado
em direitos humanos. Segundo Roberto Monte, quem tiver uma página que
aborde o assunto, poderá hospedá-la gratuitamente.
Monte também é um dos fundadores do Centro de Direitos Humanos e
Memória Popular, que funciona no Centro de Natal
Para reforçar o conteúdo da página, a Dhnet se preocupou em manter
intercâmbio com pesquisadores e instituições do mundo inteiro. O
internauta que decidir navegar pelo site, vai poder conhecer, por exemplo,
o trabalho da Human Rights Watch, entidade internacional que também trata
dos direitos humanos.
Mais de 30 consultores de doze cidades do País prestam assessoria à
Dhnet. Roberto Monte avalia como positivo esse intercâmbio.
"Enriquece nosso banco de dados e amplia a área de
conhecimento".
PÁGINA — O coordenador revela que a construção da página foi pensada
de forma a atrair o visitante. "Em geral, tratar de assuntos como
cidadania é um pouco chato". Por isso, explica, buscou meios para
tornar o tema mais acessível.
Essa busca levou Monte a julgar necessária a inclusão de imagens
produzidas por fotógrafos e artistas locais e a um estudo sobre a
aplicação das cores.
O site da Dhnet é divididido em seis eixos temáticos. O primeiro fala
sobre Direitos Humanos, suas leis e tratados mais específicos.
O internauta pode conhecer de tudo relacionado ao tema, inclusive um
histórico sobre todas as leis, desde o Código de Hamurabi (1694 a.C)
até a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das
Nações Unidas (ONU), de 1948.
Quem quiser aprofundar os conhecimentos, o link oferece os serviços de
agências de notícias, conferências, listas de discussão, desaparecidos
políticos e organizações.
No item Desejos Humanos, a cidadania é tratada de forma mais
"filosófica", como define o próprio Roberto Monte. São
reflexões e performances dentro de uma perspectiva mais humanitária e
menos burocrática.
Outro item que chama a atenção é o Cibercidadania. A proposta de um
homem-rede faz jus ao chamado Manifesto dos Sem-Tela, lançado pelos
idealizadores do site. Esse manifesto é baseado no dos Sem-Terra, só que
as atribuições são relacionadas ao uso do computador em vez da terra.
No Memória Histórica, dentro do projeto Memória Viva, é possível
acessar documentos sobre figuras históricas como Djalma Maranhão e Luis
Carlos Prestes e observar o dossiê dos mortos e desaparecidos políticos
do RN, disponibilizado há pouco tempo na rede.
Há ainda uma relação de cursos, revistas e publicações especializadas
em Direitos Humanos. Segundo Roberto, o material à disposição é tanto
que ultrapassaria os 100 megabytes se fosse feito um backup total da
página.
A novidade são os discursos em Real Audio. Centenas de itens na Dhnet
estão também disponíveis em formato de vídeo ou em som. A Poesia
Circular, um dos destaques da página, tem mais de 75 arquivos desse tipo.
Monte destaca ainda a existência de fóruns de debate e chats que tratam
de cidadania. Ele afirma que em horários e datas definidos, é possível
conversar com pessoas de todo o mundo que estudam o tema. O usuário tem
orientação sobre como denunciar aos órgãos certos os desrespeitos aos
direitos humanos, no item Central de Denúncias. Vários itens ainda
estão em construção.
A Dhnet não tem sede própria. O serviço é descentralizado e conta com
o apoio de dezenas de estudantes e pesquisadores locais. "A grande
vantagem da Internet é que ela permite essa interatividade. Você pode
fazer seu trabalho em casa, normalmente, sem ter de arcar com os custos de
uma sede própria".
Julio Cesar Gurgel - Repórter |