
Tecnodemocracia
Revista Conexao 1998
"A técnica em geral não é nem boa, nem má,
nem neutra, nem necessária, nem invencível. É uma dimensão, recortada
pela mente, de um devir coletivo heterogêneo e complexo na cidade do
mundo. Quanto mais reconhecermos isto, mais nos aproximaremos do advento
de uma tecnodemocracia."
Pierre Lévy
Virtual, antes da Internet, era qualquer coisa "suscetível de
se realizar" ou que existisse "como faculdade, porém sem
exercício ou efeito atual", ensinava mestre Aurélio. Agora, se na
vida real o respeito aos direitos humanos e cidadãos ainda é virtual
para a grande maioria das pessoas, no chamado "mundo virtual" da
Web o clima de liberdade de expressão vem estimulando a ação dos mais
diversos grupos de interesses sociais. Apesar das poucas páginas, perto
dos mais de 36 mil endereços eletrônicos registrados pelo Cadê?, já se
pode vislumbrar o nascimento de uma cibercidadania brasileira.
A partir do site da DHNet, uma Rede de Telemática, Direitos Humanos &
Cultura, pode-se chegar a movimentos de "democracia digital" do
país e vários cantos do mundo. Lá fica-se sabendo, por exemplo, o que
é o Movimento dos Sem-Tela, o que defende a Rede Vozes do Silêncio,
quais são os sistemas internacionais de proteção ao direitos humanos e
os mecanismos de apoio. Há também uma central de denúncias sobre
violações dos DH no Brasil, na América Latina e em outros países. Da
página dos "desejos humanos" chega-se ainda a um painel
comemorativo dos 30 anos do Maio de 68, com cartuns e slogans da época.
Mas o uso das tecnologias da informação para a defesa de direitos civis
e sociais e melhor relacionamento entre o Estado e o cidadão não é
monopólio do mundo não-governamental. É o que mostra o governo de
Pernambuco com o Infovia de todos, um conjunto de projetos que inclui o
agendamento em rede de leitos de hospitais públicos, privados e
filantrópicos, uma sala de aula móvel para cursos de treinamento em
informática e a informatização de cartórios para emissão de
documentos a pessoas de baixa renda, entre outros.
A experiência mais adiantada desse "projetão" é a da
biblioteca virtual, descrita como "um espaço democrático criado
para permitir a todos, inclusive aos sem micro e sem telefone, acesso aos
recursos modernos da informática". É de fato uma biblioteca virtual
porque seu acervo não é de livros e sim eletrônico, operado por uma
rede de seis microcomputadores, todos com recursos multimídia e acesso à
Internet. O serviço abrange um atendimento especial a deficientes
visuais.
CONEX@O
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