TERMO
DE DECLARAÇÃO QUE PRESTA
ÉRICA MONWIERE DOS SANTOS
Aos
02 (dois) dias do mês de agosto de 2001, pelas 10:40 horas, na 2ª
Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó-RN, com sede no Fórum
Municipal de Caicó-RN, compareceu espontaneamente a Srtª Érica
Monwiere dos Santos, brasileira, solteira, estudante, menor de 16
anos, residente na Rua Padre Celestino, 53, conjunto Salvino
Santos nesta cidade, acompanhada de sua mãe a Srª Santina
Severina dos santos, ocasião em que disse ter algumas declarações
a prestar e ao Ministério Público, também comparecendo ao
presente depoimento o Bel. Francisco Canindé de França, OAB/RN
3911, e o Sr. Geraldo Soares Wanderley, membro do Coordenador
Regional da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente,
dizendo o seguinte: Que na última segunda-feira estava na casa da
sua mãe quando foi procurada por volta das 22:oo horas pelos
policiais militares Cabo Alexsandro e Tenente Marcelo, que estavam
em trajes civis e um terceiro que não sabe quem era; Que os
policiais disseram a declarante que ela estava sendo chamada pelo
Delegado de Polícia, na Delegacia local; Que no caminho a
declarante também foi acompanhada do Delegado Dr. Ronaldo, e
quando chegou na delegacia os policiais a levaram para uma sala e
deixaram o seu irmão, Eugênio, na recepção; Que quando entrou
na sala, o Delegado Dr. Ronaldo se dirigiu a ela depoente dizendo
que ela falasse toda a verdade, ao mesmo tempo em que puxava suas
orelhas e dava um “telefone” nos ouvidos, ou seja, batia com
as duas mãos nos ouvidos dela declarante; Que passou a ser
interrogada pelo Delegado sobre a morte de um mototaxista, dando
ela declarante uma versão e o delegado Ronaldo insistindo que
queria outra versão, ao mesmo tempo em que o terceiro
desconhecido puxava os cabelos da declarante e pisava nos seus pés;
que o cabo Alexsandro e o Tem. Marcelo apenas assistiam ao
interrogatório da declarante sem qualquer interferência; que não
sabe precisar quem era essa terceira pessoa, que poderá identificá-lo
se voltar a vê-lo em outra ocasião, que já pela madrugada o
delegado Ronaldo fez várias ameaças a ela declarante sempre
insistindo que ela assumisse a autoria da morte do mototaxista,
dizendo inclusive, que ela seria levada para um matagal e lá
seria torturada, como também colocaria para a imprensa que ela
seria autora do crime do mototaxista, ao mesmo tempo em que a
imprensa se encarregaria de mobilizar os mototaxistas a
comparecerem na delegacia e ela declarante seria entregue pelo
delegado aos mototaxistas revoltados; que o delegado insistia com
a declarante para que ela assumisse a autoria do crime e
incriminasse o seu marido Francisco Laurindo de Oliveira,
perguntado inclusive se Francisco estaria, o que a declarante
inicialmente negou, mas ao final pressionada pelas ameaças
resolveu confirmar tudo o que inicialmente negara, apenas para se
livrar da pressão do delegado e também para se livrar das agressões
físicas impostas; que cabo Alexsandro e Tem. Marcelo apenas
faziam perguntas a ela declarante, mas não a agrediram e nem lhe
ameaçaram, isso foi feito pelo delegado Ronaldo e por esse
terceiro não identificado; que assinou aproximadamente sete
folhas de papel; que quando terminou o depoimento Dr. Ronaldo
disse a ela declarante que fizesse de conta que não tinha
acontecido nada na delegacia, e que no dia seguinte não
comentasse com ninguém o que ali tinha se passado, sendo essas
palavras proferidas em tom de ameaça, que foram num carro Uno
para a casa, ela declarante, seu irmão Eugênio, o cabo
Alexsandro e o delegado Ronaldo, ficando o delegado no Edifício
Liberdade, antigo Vaposão, e ela declarante e seu irmão foram
deixados em casa no conjunto Salviano Santos pelo cabo Alexsandro;
que ainda durante o depoimento Dr. Ronaldo lhe dizia que a mesma
seria procurada depois para “dar umas voltas”, e dizer quem
havia assassinado o mototaxista; que o depoimento foi assinado
também pelo irmão da declarante, embora ele não estivesse na
sala no momento em que o mesmo foi colhido, não tendo tido, nem
ela declarante bem o seu irmão, oportunidade de ler o depoimento
antes de assinar, e nem o delegado fez a leitura do depoimento
para ela declarante ou seu irmão antes de colher as assinaturas
dos mesmos; que durante a colhida do depoimento da declarante ela
percebeu quando o telefone celular do cabo Alexsandro tocou, e o
cabo Alexsandro disse a ela declarante, que aquele telefonema era
da mãe dela, e cabo Alexsandro dizia no telefone que estava tudo
bem, e que ela estava sendo interrogada pelo Delegado Ronaldo, mas
ela declarante estava sendo torturada e chorava nesse momento.
Estado
do Rio Grande do Norte
Ministério Público Estadual
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