TRANSCRIÇÃO DA
FITA DE ÁUDIO GRAVADA PELO DELEGADO DR. PLÁCIDO MEDEIROS (P),
COM O INTERLOCUTOR (I)
(Toca o telefone...)
Plácido: Alô!
Interlocutor: Plácido?
P: Oi
I: É a pessoa
que...(Inaudível)...
P: Sim
I: Estou lhe acordando?
P: Não, estava só deitado...
I: É...
P: Diga aí...
I: Não aconteceu nada não, né?...(Inaudível)...
P: O que é que ele está dizendo?
I: Que vai ser uma coisa prá
agora... Não vai demorar não... Inaudível...Ele fala demais,
sabe?... Se eu fosse você, pagava ou contratava, ou sei lá,
botava uma escuta pessoal naquele telefone ali, na delegacia...
P: Eu não tenho condições
técnicas não...
I: Que é isso homem....
P: Quem tem condições de botar
uma escuta ali é o pessoal da Polícia Federal, eu não tenho
não... Tem equipamentos, tem...
I: E porque você não vai lá? P:
Rapaz, esse negócio de polícia...
I: Gaste dinheiro...Faça por
debaixo do pano...
P: Eu não tenho dinheiro não...
I: Mas você tem que gastar,
rapaz...Invista na sua vida, pô...Senão os cabras vão fazer
mesmo...
P: Mas é aquele negócio que eu
disse a você...Eu vou morrer um dia, né?
I: Ë...
P: Pode ser hoje, pode ser amanhã,
pode ser no ano 2000 e...
I: Mas o cabra não pode desistir,
tem que ir empurrando com a barriga...
P: Mas eu não me assombro muito
não, já houve muitas ameaças... Já fui para uma lista...
I: Ums coisa é ameaça, sabe...
P: Eu já fui para uma lista de dez
que iam morrer. Já mataram um, certo... E eu tô aqui ainda...
I: Uma coisa é ameaça...Outra
coisa é o negócio está organizado e pago...E é com
dinheiro...Não vão fazer não, vão pagar prá fazer...
P: Mas quem tem esse dinheiro prá
pagar? Porque o Jorge eu não acredito...
I: Eles mataram uma pessoa...Eu
acho que esse dinheiro que eles mataram uma pessoa...Vão usar
para pagar outra...Para fazer o seu...
P: Mas o Jorge participou desse
outro?
I: Não...(Inaudível).Ele
organizou tudo. Recebeu o dinheiro. Ficou contando lá... P:
Contando a aventura?
I: Contando o dinheiro, a aventura
não... Ele não contou a aventura...Certo...Mas ele bebe e ele
fala demais, e termina dizendo tudo...
P: É mesmo? Como é que ele...
I: É. Fala demais. Ele não disse
que matou. Que...Certo?... Mas ele vai dizendo uma parte, uma
parte, outra parte, aí a pessoa junta e dar uma geral...Certo?...
Ele fala demais....Se botasse...Alguma coisa prá escutar...Tem
gente aí da polícia que tem,,,Que escuta à distância...
P: Sei.
I: Tem, atrás da Delegacia...Tem
uma árvore lá...Que fica numa copa grande...Como se fosse, como
é o nome?...Bem grande....eu fica lá no chão...E lá atrás tem
uma mesa, um negócio, e eles ficam se reunindo lá, tomando
cachaça, sabe?...
P: Sei.
I: E às vezes ele se tranca, lá
no lugar dele lá, com gente lá...E dá prá botar alguma coisa
prá escutar lá...Ele sai dois dias, ele tá saindo dois dias
durante a semana, por ordem judicial, tá sabendo disso, né?...
P: Não. Não tô.
I: O Delegado consentiu que ele
saísse dois dias na semana...
P: Por ordem judicial?
I: É...Assim...O Delegado tem o
direito, não tem?
P: Sim. Não. Não tem.
I: Tem.
P: Ele é preso de justiça, o
Delegado não pode autorizar isso aí não...
I: Tem. O juiz concedeu o direito
do Delegado Ter o mesmo poder que o Diretor de uma Casa de
Detenção tem, sabe?
P: Mas veja bem rapaz, perante a
lei o Diretor da Casa de Detenção também não tem esse direito
não, só quem tem esse direito é só o juiz da Vara de
Execuções, e mais ninguém...
I: Mas eu acho que o juiz deu...
P: É, pode ser, né...
I: E deixou a cargo do delegado,
sabe?...
P: Sei.
I: Que tem lá no quadro lá...
P: E ele tem dia certo de sair de
lá?
I: É, é Sexta e
Quarta...É...Pronto?...Mas ele não sai prá participar desse
negócio não...
P: Eu sei, o que eu tô querendo
saber é quando ele sai prá Ter contato com alguém...
I: À tarde...
P: À tarde, né?
I: Viu?
P: Hoje deve ser um dia, né?, hoje
deve ser um dos dias, né?
I: É, é, viu...
P: Sim...
I: E essa outra morte, aí que
fizeram...
P: Essa de São José de Mipibú?
I: Sim. Você tem os dados, eu tenho um bocado de placas de carros
de pessoas que foi encomendar a ele...
P: Foi mesmo? Você pode passar
essas placas prá mim?
I: Eu dou.
P: Então me dê. (pausa)
I: Eu acho que ela encomendou,
sabe...Ele diz que é tia dele, não é tia de porra nenhuma...
P: Diz que é tia dele?
I: É nada. Conversa
fiada...Olhe...Eu acho que essa mulher, é uma mulher dos seus 45
anos, certo...
P: É...
I: Então, o Tempra azul que foi
achado com o cabra lá morto...
P: Sim...
I: Era, era, eu acho que era o
mesmo que ela foi com a placa MYO 8285...
P: Deixe eu anotar aqui...MYO
8285...
I: O carro tá em nome de Fernando
Antônio A. da Silva. Eu vou dar as placas e você levanta tudinho...Eu
vou dar só algumas coisas aqui...Eu tenho uma porrada de placas
aqui...Ela...Eu acho que isso tem carro roubado no meio...Porque
esse Tempra foi com essa placa, é de uma Parati...Branca...
P: Quer dizer que é fria,
então?...É placa fria?
I: É fria. Essa aqui...certo?
P: Sim.
I: É de uma Parati branca...É
desse tal de Fernando...Mas esse Fernando apareceu de novo, em
outras placas...
P: Sei.
I: Aí tem a Parati branca mesmo,
que a placa dela é MXQ...
P: Aí tem uma Parati branca que
aparece com MXQ...
I: É tem. Ele só fez trocar a
placa...
P: MXQ quanto?
I: 15000
P: 15000 ou 1500?
I: Não, 1500, aliás...
P: Um, cinco, zero, zero...É a
placa verdadeira dela?
I: MXQ 1500. É a placa verdadeira
dela. É no mesmo nome de Fernando A. da Silva...
P: Certo...
I: O CPF desse Fernando é...O CPF...Você
vai levantar a placa, vai?
P: Vou. Vou levantar a placa. Pode
deixar...
I: Aí você levanta tudinho, né...tem
o CPF dele aqui também...Ou quer que...Aí ela chegou numa
Saveiro branca...
P: Quem chegou?
I: A mesma mulher...
P: A mesma mulher...Ela chegou numa
Saveiro branca...
I: Saveiro branca...A placa JNU...
P: J Natal?
I: J Natal U 7289...
P: 7289...
I: Aí no documento tem o CGC,
sabe? Bem grande aqui o CGC...É bem capaz de ser de uma empresa
ali que eu vi onde o defunto morava...
P: Sei...
I: Aí isso que tá uma Saveiro
branca, mas é prata, não é nada de branca, ela é prata no
documento...
P: Tá pintado de prata? No
documento ela tem o quê?
I: No documento diz que é prata...
P: Mas é branca...
I: Mas de fato ela é branca...
P: Então já foi pintada, né?
I: Foi pintada. É a Saveiro...
P: Ou então a placa é fria...
I: É, não sei...Mas é de uma
Saveiro mesmo. Aí tem um Pálio verde...
P: Pálio verde...Também que ela
já foi lá...
I: Aí eu disse que a Saveiro tem
só um CPF...
P: Não, mas CPF não precisa
não...
I: Aí tem...Mas é só o CGC...Aí
tem o Pálio verde...
P: Pálio verde... I: MXZ
22...Agora pegou aqui...Eu...peraí...Não sei se é 50 ou 56. Mas
eu vou lhe dar mais dados aqui. Ela é um Fiat Pálio cor verde em
nome de Teresa Cristina. Eu não sei se é zero ou seis. Mas eu
acho que é um seis...
P: Eu verifico...Tá em nome de
Tereza Cristina...
I: É Praia do Câmara...Do
Câmara, sei lá...
P: Certo...
I: Tem o CPF...Não sei quê...Em
nome de Tereza Cristina...Aí deixe eu dizer mais aqui...Tem o
Corsa azul que ele tá aparecendo...
P: Corsa Azul...
I: É...Que é MXO 8493...
P: MXO 8493...
I: Viu?
P: Certo...
I: Aí tem também uma...Essa aqui
eu já lhe disse...Olhe os nomes dos cabras que está fazendo o
serviço...É um desses dois aqui...Que está matando...É Coelho,
viu...
P: Coelho, o agente?
I: É. E tem um cara com as
características de Coelho, também alto, magro...
P: Sabe o nome do outro?
I: O quê?
P: Sabe o nome do outro? Da outra
pessoa? Não? Eu tô dizendo, um é Coelho, e o outro?
I: Bem, o outro é Raimundo ou é
Jerônimo...Ele fala nesses dois nomes...Eu não sei se é...
P: Quer dizer que anda sempre os
dois?
I: Não. Sim, Coelho, eles se
comunicam muito...
P: Por telefone?
I: Por telefone...E eles vão lá
também...Esse Jerônimo é que não aparece...Raimundo é que
aparece num Opala preto, mas já vendeu esse Opala, tá em outro
carro...
P: Quer dizer que o Raimundo
aparecia num Opala preto?
I: É. Mas já não aparece nesse
Opala, vendeu esse Opala preto...
P: Sabe dizer se esse Raimundo é
polícia?
I: É não. Esse é bandido...
P: Certo. (Pausa...) Alô. Alô.
(Barulho de carros...) Alô.
I: Voou um papel aqui...
P: Alô.
I: Oi. Voou um papel aqui, que
venta prá danado. Olhe...
P: Sim...
I: Tem um Tempra azul, certo, que
foi do defunto...Antes de eu chegar logo com o defunto, eu vou lhe
dar logo esse...
P: Quer dizer que o defunto
apareceu dentro do Tempra azul que não era dele?
I: Era dele...
P: Era o MYO 8285? I: Era o MYO
7170. Placa quente...
P: 7170?
I: É, O não, desculpe, MXY...
P: MXY 7170...
I: 7170...
P: Esse é o verdadeiro do cara que
morreu...
I: É...Que eu acho que estava com
placa falsa...Da, da Parati branca, né?...
P: Certo, aquele primeiro que você
me deu...É a primeira placa do primeiro Tempra azul que você me
deu...
I: É o que o cara apareceu morto
dentro...É...Eu acho, antes ele estava com a placa fria...
P: Certo...
I: É...Apareceu morto e agora
está com a placa quente. É MXY 7170. Certo? O nome do defunto,
é...
P: Pode dizer...
I: Pedro Fortunato de Oliveira.
P: Pedro Fortunato de Oliveira...
I: Ele morava...Sabe onde é o
enderêço? Você vai puxar a placa?...E tá que ele...Mora
ali...Eu tenho aqui...Eu vou puxar aqui só por
curiosidade...Deixa eu ver se eu tenho mais alguma coisa prá te
dar aqui...Olhe, tem uma moto...
P: Uma moto...
I: Uma moto...Uma moto parece que
tá em Mirassol... P: Certo...
I: Sim, que apareceu por lá para
um cara receber dinheiro lá, e foi logo após a morte desse cara,
certo?
P: Recebeu dinheiro de quem? De
Jorge?
I: Foi. Ele tava com um bolo de
dinheiro lá...
P: Foi mesmo?
I: Foi. MYB...
P: MYB, B de Brasil?
I: É...4366, É uma moto Titan,
certo, Honda...
P: É...Sabe a cor dela, não...
I: Parece que é
azul...Parece...Uma moto CG 125 Titan, MYB, B de Brasil.
P: 4366...
I: Deixe agora eu lhe dar só umas
coiss aqui...Olhe o que eu digo...Você tenha cuidado...Você pode
ir de hoje...Amanhã...
P: Certo...
I: Os cabras tão querendo
mesmo...Se eu fosse você não andava só...Sabe...Pagava mesmo...
P: Esses caras tão andando de
quê...De carro? De moto?...
I: Eu acho que eles dão o bote de
moto...
P: De moto...
I: Sabe...Eu acho que é...Eu tenho
prá mim...Mas pode ser de carro...
P: Esse cara que apareceu morto,
esse de São José, sabe como foi?
I: Não sei...Esse aí ninguém
sabe...Amanheceu cheio de balas.
P: Ninguém sabe como foi...
I: Olhe deixe eu dizer só um
detalhezinho...Sabe quem deu a notícia à Polícia?...
P: Não...
I: Genésio Pitanga...
P: Genésio Pitanga...
I: Vive na Delegacia ali
conversando com ele...
P: Sei...É amigo
dele...É...Sei...Muito bem...
I: Olhe...E também, é, ele,
Genésio, foi Jorge quem avisou a Genésio, sabe, de manhã logo
cêdo...
P: Jorge avisou a Genésio que o
cara tava morto...
I: É...E disse aonde era...
P: Sei...
I: Ele tinha recebido um telefonema
de Coelho, de manhã bem cedo...Depois disso ele ficou pra cima e
pra baixo e terminou ligando pra Genésio...
P: Sei...
I: E que Genésio sabe que foi
Coelho que avisou. Certo? Então não tem como...Tava dentro do
mato e ninguém sabia...
P: É verdade...Teria que alguém
avisar...
I: Aí levou a Polícia
lá...Genésio...Viu, prá você ver que a coisa é verdadeira...
P: Certo...
I: Sei...Não é prova...
P: Não é prova, mas são
indícios...
I: É, são indícios...Olhe, deixe
eu dizer mais aqui...Agora eu vou pegar uns papéis aqui...Eu vou
lhe dar só uns endereços, pra você ver as coincidências...
P: Certo...
I: Olhe...Tem uma mulher, dona
desse carro...Eu acho que é a Tereza...Deixe eu ver aqui, ela tem
45 anos, da idade da mulher que aparece lá...
P: Sim...
I: Certo. Deixe eu ver que carro é
esse aqui...É...O placa 7170...
P: É essa que você me deu...Do
Tempra azul...
I: É...Do Pedro Fortunato...Esse
aqui é o defunto...Sim...Onde ele mora...Certo...
P: Ele quem?...
I: O defunto morava...
P: Sim...O endereço do cara que
morreu...
I: É...Quer ver...Logradouro...Rua
Xavier da Silveira, 1175...
P: Xavier da Silveira, 1175...
I: Lagoa Nova...Você sabe onde
fica a Xavier da Silveira, né?...
P: Sei, sim...
I: Você pega logo o início dela,
lá perto, já por trás do Correio, já saindo daquela rua do
Correio, lá nesse endereço é um mercado, um supermercadozinho,
viu?
P: Sei...Certo...
I: ...dessa mulher que tem 45
anos...Mora quase na Xavier da Silveira, mas lá embaixo, descendo
como se fosse na Bernardo Vieira, sabe, quase no meio da
distância entre a Bernardo Vieira e...
P: E Nova Descoberta...
I: É. Você vai na Xavier da
Silveira mesmo e pega logo a rua dela, a rua dela vai ser, deixa
eu ver aqui, é...proprietária...placa 7570...
P: 7570...
I: Eu dei isso? MXZ 7570?
P: Não. Deu ainda não...MX, essa
é placa?
I: Dei não...Ei então pode
anotar...
P: MX quanto?
I: 7570...Vou ver o que é isso
aqui...Esse não é a moto não? Deixe eu ver...7570...
P: Não. A moto é 4366...
I: Aqui...Sim...Não...É...Aqui é
outro que Fortunato tem, que o defunto tinha...Mas esse carro não
tem nada a ver não...Eu viu só pra ver se tinha outro carro...
P: Sim, você tava dizendo que essa
Tereza de 45 anos...
I: É...Deixa eu ver aqui uma
coisa...Ela mora na Rua Clementino Cavalcante, um negócio assim,
mas eu vou...Deixa eu ver aqui... (Pausa). (Barulho de
carros)...Olha...
P: Pode dizer...
I: É...Uma...Placa...É MYQ...É
MYQ 3493, eu dei essa?....
P: É o carro da Tereza...
I: Da Tereza...Ana...Proprietário
atual, Ana Maria N., N o quê?, acho que é Miranda, sei lá, acho
que é...Miranda, certo?, Proprietário anterior...
P: Esse é o carro que a Tereza,
ela vai no Jorge, essa Teresa?
I: Esses caras tudinho vão lá...
P: Sim...Certo...
I: Errado...Esse aqui eu botei
errado...Não sei porque...Deixe...Esse aqui eu não...Deixa eu
ver aqui...É o carro de Fernando Antonio A. da Silva, certo?.
Outro aqui...Deixa eu ver...
P: Esse carro de Fernando Antonio
é a Parati que você me deu...
I:
É...Documento...Natural...Pessoa... Documento...É sim...maior
coincidência do mundo...Logradouro...Aonde é o logradouro de
Fernando é, não, é Avenida Miguel Castro, 1152, em frente à
Delegacia de Furtos e Veículos, 1182, em frente. Em frente à
porta de entrada da Delegacia lá...No portãozinho de
entrada...Lagoa Nova...Deixa eu ver...Aí aqui a mulher dele...
P: A mulher de Fernando?
I: É Keila da Silva Fernandes...Ta
aqui...E parece que deve ser...Deixe eu ver
aqui...Documento...Detran...Logradouro...Rua Canavieira, Pajuçara
I...Deixe eu ver esse documento...De
quê...Detran...(Inaudível...)...Deixa eu ver aqui outra
coisa...É placa MXZ 2250...É de Tereza Cristina Pereira da
Câmara... P: Tereza Cristina Pereira de quê?
I: Eu acho que já lhe dei esse...
P: Deu não...É Tereza Cristina
Pereira de quê? Z de zulu?
I: Sim, Z de zuru. Tereza Cristina
Pereira da Câmara...É um Fiat Pálio...
P: Fiat Pálio...
I: Fiat Pálio...Verde...Deixe eu
ver aqui...Rua Clementino de Farias...Essa mulher tem 45 anos...No
documento aqui...
P: Rua Clementino de Farias...
I: De Farias...Isso é em Nova
Descoberta...Você pega a Xavier da Silveira descendo, perto você
vai ver uma placa do Fisk, uma parede branca, perto de uns
apartamentos, do lado direito, logo quando entra assim, é depois
de uma cigarreira, assim, uma cigarreira grande, é do outro lado,
do lado direito de quem vai, do Campus para a Bernardo Vieira...
P: Tem o número da casa, não?
I: Tem o número da casa, sim...
P: Rua Clementino de Farias...
I: Ta certo...Ta certo...Número
2046...
P: 2046...
I: Viu...Pronto...Ta bom...
P: Essa é a Tereza...
I: É a Tereza, que eu acho que é
a mulher que aparece, que ele diz aí que é tia...
P: Deve ser a mulher que pagou o
crime...
I: Que pagou o crime...Eu acho que
essa mulher tem um caso com esse velho que morreu...
P: Alguma coisa assim...
I: Parece que tem uns problemas de
uns terrenos lá, ou é sobrinhos, eu não sei...O velho tem
72...77 anos...É ex-combatente o velho que morreu...
P: É mesmo...Me diga uma coisa,
tem idéia do valor, quanto ele recebeu em dinheiro?...
I: Uma faixa de 08 a 10 mil
reais...
P: 08 a 10 mil reais...
I: É...Olha, deixe eu ver aqui
outra placa...JNU 7289...
P: JNU...
I: É da Bahia...Aí tem o
endereço da Bahia...Aqui eu acho que não interessa...
P: JNU, quanto?
I: 7289...
P: 7289...É da Bahia essa placa...
I: É da Bahia essa placa...Aí tem
aqui...Essa aqui é uma Saveiro branca...
P: Saveiro...
I: Prata...Tem aqui...aqui no
documento...Eu já lhe dei essa placa...
P: Há já...Ta aqui Saveiro
branca...
I: Que no documento é prata...
P:...Divergência de cor...
I: Eu já botei...Que é da
Bahia...Isso pode ser carro roubado...
P: É a que a placa é fria, né?...
I: É...Aí tem aqui o
proprietário...Transporte Interestadual Ltda...Tem aqui LM
Transporte...
P: LM ou LN?
I: M de Maria...LM Transporte
Interestadual Ltda...
P: Certo...Essa LM é uma locadora
de carros...
I: É...LM
Transporte...Certo...Deixa eu ver aqui...
P: Eles podem ter alugado esse
carro, prá fazer alguma coisa...né?
I: Eu acho que na casa dessa
mulher, ali onde você vai ver, tem uma locadora de lado...Talvez
seja ela mesmo a proprietária...Ela anda todo dia com um carro
diferente...Deixe eu ver aqui...O MYB 4366...Eu já lhe dei
também...Uma Honda, azul...É uma Titan...Olhe, Rua das
Orquídeas...
P: Rua das Orquídeas...
I: Sete, sete, zero, Mirassol...
P: Certo...
I: 770, Rua das Orquídeas,
Mirassol...
P: Tem o nome do proprietário?
I: Nome do proprietário...Deixa eu
ver aqui...É uma mulher...Proprietário atual, Luzia Varela de
Souza...Essa aqui andou por lá também...Não sei
certo...Parece...Pode ser que ela podia estar devendo a alguém,
pagou a alguém, não sei, mas de todo jeito é bom olhar...
P: Certo...
I: Ta bom...Aí é como eu lhe
digo, viu?...Contrate alguém, meu amigo...Procure...Contrate
alguém...Se você colocar uma escuta, você vai conseguir
provas...Ele fala demais...
P: É...Ele conversa sempre com
quem esses assuntos?
I: Com todo mundo...Quando ele ta
bêbado, ele fala besteira demais...
P: Fala em nomes? Também falou em
meu nome?
I: Não. Não fala em seu nome
não, mas a gente junta pó...O endereço que ele tava falando no
telefone com uma pessoa, que é perto da sua casa, dizendo que vai
acontecer um rebuliço grande, na época daquele negócio de
Alcançuz, ele vivia dizendo também, e vivia com reuniõeszinha
lá pela Delegacia, um bocado de gente indo lá, não sei o
quê...Ele...antes...
P: Ele falou no meu nome?
I: Não. Não falou no seu nome
não...Mas é um xadrez meu amigo...Diz aqui...Ali...E só dá
você mesmo...
P: E você que sou porquê?
I: Olhe, eu não sei bem...Porque
não fui eu que escutei...
P: Já sei que lhe disse assim...
I: Mas é você, e provávelmente o
endereço que ele deu é o seu endereço...
P: Você sabe onde é o meu
endereço?
I: É ali perto da casa do
governador...
P: Certo. É isso mesmo...
I: Viu? É o seu endereço
rapaz...Deixe eu dizer outra coisa...
P: E eles pretendem vir na minha
casa, vir me procurar, vir na minha rua?
I: Se eles vão lhe procurar?
P: Não. Os cabras que devem fazer
o atentado, vem vir na minha casa ou noutro canto, você não
sabe?
I: Não. Não sei não. Não onde
vai, qual vai ser, aonde...Sabe, eu acho que é a qualquer
momento...A pessoa que falou disse que pode ser a qualquer
momento...Hoje, quando você sair daí...Qualquer hora...Então se
previna pra botar um coletezinho, sabe, se previna, e deixar a
arma fora, quase na sua mão...
P: Mas esses caras só atiram na
cabeça...Esses caras só atiram na cabeça...Eles conhecem
colete...
I: ...Não deixe moto se
aproximar...Esses negócios...Era bom você ter uma pessoa do seu
lado, com as mãos nas armas, prestando atenção a tudo e
apontando as armas para quem chegar perto...Na hora que o pipoco
come, tiro vai tiro vem, ninguém sabe do resultado, né?...
P: É verdade...
I: Porque quem tem cu, tem
medo...Não tem esse negócio não...O cabra ta pensando que ta na
limpeza, quando você ver o pipoco, ele, sabe, se bem que são
pessoas experientes, cabras acostumados...Sabe, não é
menino...Você tem que pegar também um cabra frio...
P: É verdade...
I: E invista. Invista. Porque se
não você vai embora mesmo, ligeirinho, ligeirinho mesmo...E uma
coisa que eu tava querendo dizer...Olhe esse negócio...Era
Coelho, eram dois caras que lhe falei...Raimundo e sei lá
Jerônimo, sei lá se é nome fictício ou o que diabo é...E
Maurílio Júnior...
P: Maurílio Júnior?
I: Maurílio pai não sabe disso de
jeito nenhum...
P: Só o filho...
I: É só o filho, é só o filho,
se o pai souber meu amigo...
P: Quer dizer que o filho também
vai lá na Delegacia?
I: Se ele vai? Ele vai muito pouco,
mas fala muito no telefone...
P: Muito no telefone, certo...Mas
você deve saber que parentes de Maurílio já fizeram um atentado
aqui contra mim?
I: Eu ouvi dizer...Mas o pai não
sabe de nada disso...Os cabras chegam pra ele, e todas as coisas
de errado que ele faz, Seu Maurílio geralmente não sabe de porra
nenhuma...Os caras só chegam com tudo feito...Contam só um lado
da conversa, e ele, abestalhado velho, acredita...Mas o filho
sabe...Infelizmente eu não gostaria que isso fosse verdade, mais
sabe...É, eu já sei de muita coisa dele...
P: De Maurílio Júnior?
I: É...Ele parece que não é uma
pessoa muito...Mas o pai, o pai não é...Ele não é dessas
coisas não...Não é de pistolagem...Ele gosta de botar bandido
na cadeia, mas ta muito mal assessorado...
P: É, mas o filho dele já matou
muita gente e até agora ele não fez nada...
I: E eu não digo isso que eu to
dizendo a você pra ele...Porque diabo ele vai contra ele, contra
o próprio filho...Ele não faz...Não tem coragem...
P: Pois é isso que eu estou
querendo dizer a você...Ele sabe, mas não faz nada... I: Mas
isso ele não sabe não...
P: Isso eu não sei...Mas outras
coisas que eu sei ele sabe...
I: É, viu, ele só faz depois que
acontece... (Fim das vozes). (Fim da fita.)
FIM
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