
Guerrilha Digital
Cidadania ao alcance das
mãos: tecnologia
Paulo Augusto
Subeditor de Cidades
O Poti - Natal/RN
A proliferação da informação,
hoje em dia, se dá num processo muito rápido e o mundo, sob
alguns enfoques, realmente começa a ser uma aldeia global. Nós
é que moramos num pequeno estado, de um lugar muito longe de
onde as coisas acontecem. Mas é preciso ficarmos atentos para o
fato de que a questão do local e do global ganha uma nova
dimensão quando a gente começa a ter uma sociedade civil
planetária.
A observação é do economista
Roberto Monte, secretário executivo do Centro de Direitos
Humanos e Memória Popular, que acaba de voltar de um périplo
realizado nos Estados Unidos, nos quais visitou cerca de 40
cidades, no espaço de 22 dias. A convite do Departamento de
Estado norte-americano, Roberto Monte conheceu experiências na
área de direitos humanos e trocou idéias com especialistas
norte-americanos sobre educação e cidadania.
O interesse maior do Departamento
de Estado ficou evidente em torno da Rede Telemática de
Direitos Humanos – a Dhnet, www.dhnet.org.br
–, mantida pelo CDHMP, considerada hoje o maior provedor de
informações em língua portuguesa. O resultado mais imediato
da viagem ele define em poucas palavras: ’’Na verdade,
estamos querendo utilizar os novos meios de comunicação para
agregar militantes de direitos humanos em nível planetário.’’
E uma das novas tarefas do Centro
que dirige no Estado ganhou um perfil ainda antes de Monte
aterrissar em Natal: ‘‘Encaramos o desafio de fazer da luta
pelos Direitos Humanos uma coisa gostosa, em que não se fale
apenas de sangue e miséria, mas que a gente fale efetivamente
de educação. Porque sem educação, este País não vai
adiante. A gente tem que criar pessoas antenadas com o tempo,
pessoas cônscias de suas responsabilidades e seus deveres,
enquanto cidadãos participantes. Numa palavra: formar cidadãos
críticos.’’
Internet ajuda direitos humanos
Sobre as novas tecnologias, Roberto
Monte teve oportunidade de vê-las sendo utilizadas diretamente
nas ruas em prol do bem-estar do cidadão. No Brasil, ele
acredita que o uso intensivo da Internet, como instrumento de
trabalho para os militantes em Direitos Humanos, será ’’uma
questão de tempo’’.
Junto à ONG Witness, Roberto
informa que conseguiu, para a Dhnet, uma máquina fotográfica
digital e uma máquina de filmar digital. ’’A partir de
agora, a gente está na última linha, em termos de material e
tecnologia, que a gente vai utilizar em julgamentos tipo esse de
Otávio Ernesto (Caso Gilson Nogueira). Eu não estou querendo
ter um pensamento basista, eu estou querendo trabalhar com
multiplicadores, e a questão da Internet é questão de tempo.
Eu não consigo ver um veículo de comunicação que agregue, a
um preço tão baixo, todo esse acúmulo de informação. Você
vai ter acesso a cartilhas das mais variadas, você vai ter
acesso aos antecedentes, aos históricos das lutas pelos
Direitos Humanos. Você vai ter acesso aos mecanismos
internacionais de proteção aos direitos humanos, o que é o
Tribunal Penal Internacional. Naquilo ali, na verdade, nós
estamos montando uma grande enciclopédia virtual de cidadania.’’
Outra grande novidade, segundo os
projetos do CDHMP, é o próximo envolvimento da camada jovem da
população no interesse dos temas da Dhnet. ’’Será o
grande lance. Porque, mesmo que não atinja milhões e milhões
de pessoas, eu diria que tem dia que entram na nossa rede mais
de 200 pessoas.
E eu nunca vi 200 pessoas
chegarem aqui no Centro de Direitos Humanos. Acho que você vai
ter um pouquinho de paciência e, a partir de agora, a gente
também quer trabalhar tipo uma Dhnet Kids, para jovens.’’O
Centro de Memória Popular acaba de fechar um projeto, para
lançamento de três mil CD-Roms da Dhnet, adianta Monte. Em
setembro, em Brasília, participa do Seminário de Comunicação
e Direitos Humanos, no qual irá ministrar uma palestra sobre
Iniciativas Educacionais e ONGs.
Um diálogo para troca de idéias
A visita permitiu ao economista
manter diálogos com professores, pesquisadores e figuras de
proa de universidades como Harvard e Berkeley, além de
vivenciar e trocar idéias com membros de famosas ONGs
(Organizações Não-Governamentais) americanas, como ocorreu em
São Francisco, onde manteve colóquio com a ONG que interferiu
e influenciou a reunião dos membros do G-7, grupo dos sete
países mais ricos do mundo, que passou a ver-se cobrado pela
cidadania internacional acerca de seus interesses visando o
futuro do planeta.
‘‘Acho que, com a tecnologia
de ponta, os novos meios de comunicação fazem com que uma
experiência seja planetarizada; com criatividade, faz tornar o
que é local em global, e o que é global, em local. Nossa Rede
Telemática de Direitos Humanos e Cultura tem uma
característica que os gringos adoraram, porque nós trabalhamos
com os povos de língua portuguesa. E da parte deles há essa
preocupação: alguns centros americanos discutem muito a
questão do Timor Leste, Angola, Moçambique. E a Dhnet pretende
isso: a gente tem um grande projeto para reunir os povos de
língua portuguesa.’’
Roberto irá elaborar um projeto,
no qual pretende reciclar a Dhnet, já considerada como o maior
provedor de informações em língua portuguesa, colocando-a, a
partir de agora, como provedor para usuários dos idiomas
inglês e espanhol. ‘‘Nesse sentido, iremos mandar pessoas a
Portugal, pegar toda a legislação pertinente à área de
direito e cidadania, assim como dos povos de língua portuguesa,
como o material que se tem em Macau, na China.
Da mesma forma que a gente está
reconfigurando a Dhnet como um grande portal de direitos humanos
em língua portuguesa, também será em espanhol e inglês, e
multimídia. Os gringos ficavam de bobeira, quando eu dizia: ’Nós
estamos enriquecendo urânio em plena caatinga’.
Porque sem isso a gente não
sobrevive. A gente está trabalhando tecnologia de ponta
exatamente para cuidar desse tipo de coisa. E a gente imagina
fazer um encontro, colocar dados de legislação de cidadania de
Brasil, que já tem, Portugal, Angola e Moçambique.’’
De Angola, terceiro país em importância na África, Monte
contatou com um dos representantes do Partido de Renovação
Social, Eduardo Kuananga, um partido de centro-esquerda.
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