
A
Escola Contra o Preconceito
Ações
da Escola Municipal de São Paulo Oliveira Viana dão exemplo de como
integrar comunidade e alunos e promover um verdadeiro resgate da
cidadania.
“Eu
moro no Ângela”. Essa é uma frase proibida para a maior parte dos
jovens que querem um novo emprego. Desde que o imenso complexo de
bairros que formam a região mais conhecida por Jardim Ângela, na zona
sul de São Paulo, foi considerada pela UNESCO como o local mais
violento do mundo, os moradores passaram a conviver com mais uma forma
de preconceito: a origem da moradia.
A
estudante Roberta Silva relata que é bastante comum ver as portas de
empresas se fechando no instante que alguém se declara ser morador do
Jardim Ângela, “Quando vêem que a pessoa é do Ângela, já separam
a ficha na hora, acham que aqui só tem bandido”, conta. Essa forma de
mutilação da cidadania é apenas uma das facetas do preconceito que
ronda o bairro.
O
que pouca gente sabe é que aquele Jardim Ângela considerado o lugar
mais violento do mundo não é mais o mesmo, apesar de apresentar a
triste estatística de um bar para cada dez casa de moradores. Com a
organização da sociedade civil, muitos dos aspectos que são fontes de
violência, inclusive álcool e drogas, estão sendo discutidos
abertamente em comunidade e algumas soluções para o problema começam
a aparecer. É claro que quem passa pela estrada do M. Boi Mirim pode
facilmente intuir as condições de pobreza daqueles que vivem
encerrados num grande mar de concreto, de topografia irregular, repleto
de construções desordenadas. O que não se sabe é dos diversos
exemplos de como reverter a gravidade das condições de vida dos
moradores da região.
ESCOLA
Nesse
processo de resgate da cidadania, a Escola Municipal Oliveira Viana tem
desenvolvido um papel de protagonismo. Envolvida organicamente na vida
da comunidade, a escola dá uma série de exemplos de como transformar
um local de ensino de primeiro grau em um grande centro comunitário.
“Desenvolvemos
uma série de parcerias para dar melhores condições de vida aos nossos
alunos. Buscamos fórmulas em que os alunos se fixem na escola e tenham
uma série de atividades extra-curriculares que vão ao encontro do que
gostam de fazer. Entre essas parcerias estão aulas de street
dance, o curso de produtor cultural, o jornal interno da escola, e o
curso do Serviço Civil Voluntário. Essas atividades nos deixam muito
próximos dos alunos e rendem frutos para toda a comunidade. Um exemplo
é a abertura da escola de dia e de noite. Com medidas como essa,
conseguimos eliminar problemas muito freqüentes antigamente como roubos
e furtos destro da escola”, esclarece a diretora Jucileide Rodrigues
da Silva.
Um
dos grandes orgulhos da escola é seu jornal, que conta com a participação
de todos os alunos. Com os primeiros exemplares rodados em mimeógrafo,
hoje o jornal já é feito no computador. Outro projeto que ganhou espaço
dentro da escola foi o Produtor Cultural, um curso que forma jovens DJs
e produtores culturais, trabalhando com os elementos da cultura local.
Esse projeto é uma parceria com a Sociedade Santos Mártires e
Comunidade Solidária. Os futuros DJs vão embalar os alunos que
praticam a street dance dentro
da escola.
No
dia em que o reportagem do Jornal da Rede visitou a escola, os novos DJs
estavam se formando e colocando todos os alunos para dançar. Também
neste dia a prefeitura de São Paulo estava plantando árvores junto com
os alunos para recuperar um mínimo verde numa área rodeada por blocos
de concreto.
EDUCAÇÃO
Do
ponto de vista educacional, dois projetos chamam a atenção. Os
primeiros são as aulas de pré-vestibular, dadas a alunos do segundo
grau da região. Também para os alunos do segundo grau foi desenvolvida
uma parceria com a Cio da Terra, uma ONG local, para dar o curso do
Serviço Civil Voluntário. Os alunos aprendem noções de cidadania,
direitos humanos, ecologia e informática e parecem já começar a aplicá-los.
“A primeira vez que eu usei os ensinamentos do curso foi com minha
professora de matemática, depois com minha mãe. Aprendi que tenho
direitos e deveres e que devem me escutar”, diz a estudante Roberta
Silva. Outro trabalho importante realizado pela Cio da Terra é o Centro
de Integração da Cidadania, que trabalha com música.
Com
todas essas medidas, a Oliveira Viana conseguiu espantar um dos maiores
problemas do ensino público brasileiro que é a evasão escolar. Mas a
atuação da escola não pára por aí. “Estamos realizando uma ampla
pesquisa com os pais de alunos para saber qual a real condição que têm
dentro de casa. Se já sofreram violência, quantos moram na mesma residência,
como é a questão do emprego, o acompanhamento escolar. Ou seja, uma
radiografia, para que possamos integrar ainda mais escola, pais e
alunos”, comenta a professora Dolores Müller Batisteli.
COMUNIDADE
A
participação da escola em encontros comunitários é de fundamental
importância para o seu desenvolvimento, de seus alunos e dos moradores
que a freqüentam. Semanalmente, professores
participam do Fórum Comunitário, que decide quais as ações que deverão
ser implantadas para o resgate da região. Uma das grandes conquistas do
Fórum, que conta com a participação de ONGs, agentes comunitários,
professores, policiais, moradores e igreja, foi a adoção da polícia
comunitária, que humanizou o serviço de repressão policial.
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