Encontro
incentiva o ensino da cidadania
Diário de
Natal/RN 30/11/1999

Encontro reuniu representantes
do Governo e educadores.
Uma proposta metodológica para
a inclusão da temática de Direitos Humanos nas diferentes disciplinas, tendo o ensino
fundamental como meio, foi o que resultou do 1º Seminário Estadual de Educação e Cidadania, realizado na semana
passada, no auditório do Sesc da Cidade Alta, reunindo cerca de
350 pessoas, ligadas à educação e aos direitos humanos. O evento, promovido pelo Diário de Natal e pelo Centro de
Direitos Humanos e Memória Popular, contou com a participação da socióloga Margarida Genevois, coordenadora
nacional da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos,
que está estabelecendo os primeiros contatos no Rio Grande do
Norte.
Todo homem tem direito à educação. Este é um dos princípios
colocados na Declaração Universal dos Direitos Humanos que,
apesar de ter sido redigido há mais de 50 anos, ainda não tem verificada sua viabilidade, não sendo, até hoje, colocado
integralmente em prática. É justamente tentando mudar essa realidade que o seminário reuniu políticos, secretários de
Educação e sindicalistas que discutiram a melhor maneira de integrar educação e cidadania.
Na quinta-feira, antes mesmo que os trabalhos fossem abertos, os participantes tiveram oportunidade de presenciar um
verdadeiro exemplo de integração e cidadania. O Coral do Napes — Núcleo de Atendimento Psicossocial deu um show,
cantando grandes sucessos da música popular brasileira, com sincronia e ritmo. Em seguida, veio o grupo Cervantes do Brasil,
fazendo uma leitura dramatizada, bastante crítica, da realidade
dos direitos humanos no País.
Depois de todo esse subsídio cultural, teve início a palestra de
Margarida Genevois. Fundada em 1996, a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos tem como proposta principal
trabalhar diretamente com a escola pública, visando a integração entre educação e cidadania. O primeiro passo é a
concientização do professor que, na opinião da socióloga, é o
principal agente multiplicador do conhecimento e de ideais. ‘‘Através da escola, formamos o caráter, ética e moral do
cidadão e este é um despertar que precisa acontecer agora’’,
disse Margarida.
Para atingir seus objetivos, a Rede elabora e executa programas
de capacitação do educador, vendo-o como agente social da transformação desejada. Mas este não é um problema somente
da escola. Margarida Genevois acredita que os problemas passam, principalmente, pela cultura opressiva que a sociedade
brasileira ainda vive, não permitindo a participação do
cidadão.
Mesmo com todas as
dificuldades, como a falta de recursos, os primeiros
resultados positivos já começam a surgir. Em Recife, por
exemplo, a Rede trabalha com todo o sistema de ensino
público e abrange, também, as escolas privadas, com palestras
e debates, envolvendo alunos e professores. ‘‘O próximo
passo agora é conseguir a inclusão do tema cidadania na
grade curricular obrigatória das escolas’’, esclareceu
a coordenadora
dos trabalhos em Recife, professora Aída Monteiro, que
proferiu palestra na tarde de ontem , relatando, exatamente,
a experiência vivida em Pernambuco com a implantação dos
projetos pedagógicos.
Mesmo não tendo um projeto que abranja toda a rede pública,
Natal tem uma experiência de sucesso no que diz respeito
à educação e cidadania, com o trabalho desenvolvido na
Escola Estadual Lauro de Castro, na Cidade da Esperança,
em conjunto entre o Centro de Direitos Humanos e a direção
da escola, abrangendo toda a comunidade local.
Este foi um dos pontos altos da programação do último
dia do seminário, aberto pelo relato da experiência. A
parte da manhã contou com as presenças da professora Nazaré
Zenaide, relatando o trabalho realizado na Paraíba; professor
Antônio
Leal, trazendo a realidade da Vila de Ponta Negra; Graciêma
Costa, mostrando o projeto ‘‘Natal Cidadania’’ desenvolvido
nas Escolas Doméstica e Henrique Castriciano com um grupo
de alunos de ensino médio e do jornalista Eugênio Parcelle,
enfocando sua vivência através do DN/Educação. A partir
das 14h, a programação do seminário envolveu todos os
participantes que, divididos em grupos, elaboraram uma
proposta a ser viabilizada, a ser implantada no ensino
fundamental.
O seminário contou também com a participação dos secretários
de Educação estadual e municipal, professores Luiz Eduardo
Carneiro e Eleika Bezerra, respectivamente; do secretário
do Trabalho, Interior e Justiça, Carlos Eduardo Alves,
e do presidente do Centro de Direitos Humanos, Roberto
Monte. Nos próximos, o documento final com recomendações
será encaminhado para todas estas autoridades.
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