Primeiro
Relatório Nacional sobre os Direitos
Humanos no Brasil
RIO DE JANEIRO
O
Rio de Janeiro tem uma população de 13.406.308
habitantes, sendo que 12.806.488 habitantes (95,5% da população)
residem em áreas urbanas e 599.820 habitantes (4,5%)
residem em áreas rurais. Em 1996, o Rio de Janeiro
era um dos 11 estados brasileiros com um alto índice
de desenvolvimento humano (0.844). O Índice de Desenvolvimento
Humano do Rio de Janeiro cresceu em média 0,6% ao
ano de 1991 a 1995 e 0,2% de 1995 a 1996. O produto interno
bruto per capita, ajustado ao poder de compra local, era
de US$ 6.477. A distribuição da riqueza é
desigual. Os 10% mais ricos têm 45,47% da renda, enquanto
os 40% mais pobres têm 9,15%.
A taxa de alfabetização de adultos é
de 93,7%. Mas 19,9% da população adulta têm
menos de quatro anos de estudo e apenas 10,8% da população
adulta têm 12 anos ou mais de estudo.
A taxa de mortalidade infantil é de 27 mortes por
1.000 nascidos vivos, uma das mais baixas do país.
A taxa de mortalidade por homicídio, entretanto,
é de 60,04 mortes por 100.000 habitantes no estado,
a mais alta no país. Na região metropolitana
do Rio de Janeiro, a taxa é de 68,67 mortes por 100.000
habitantes, a segunda mais alta no pais, atrás apenas
da região metropolitana de Vitória (ES). Esta
violência fatal, assim como nas outras metrópoles
brasileiras, não se manifesta de forma homogênea.
O risco de ser vítima de homicídio chega a
ser sete vezes maior nos bairros das zonas norte e oeste
do que nos bairros da zona sul.
De janeiro de 1993 a julho de 1997, 942 civis foram mortos
e 410 feridos em confronto com policiais na cidade do Rio
de Janeiro. No mesmo período, 30 civis foram mortos
e 277 feridos acidentalmente por policiais.
O Mapa de Risco e Violência, da Cidade do Rio de Janeiro,
elaborado em 1996 pelo Centro de Estudos e Cultura Contemporânea,
a pedido do Ministério da Justiça revelou
entre outras coisas que os menores níveis de violência
letal acontecem na zona sul, a zona mais afluente da cidade
enquanto o maior risco de morte se manifesta na zona norte
e zona oeste. O Mapa mostrou também que o risco de
morrer assassinado para a população de 15
a 34 anos se distribui bastante desigual na cidade do Rio.
Em abril de 1997, a televisão mostrou cenas de violên cia
sofrida por 11 moradores da Cidade de Deus que foram agredidos
por seis policiais militares. Em outubro de 1998, policiais
militares perseguiram e alvejaram um carro que se dirigia
à maternidade, matando a mulher grávida, o
bebê, e outro filho de quatro anos. De janeiro a outubro
de 1998, 596 civis foram mortos em confronto com policiais
no estado do Rio de Janeiro:
Diversos processos referentes a casos de violência
policial denunciados no pais e no exterior por organizações
de defesa dos direitos humanos foram encaminhados à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
Tramitam ainda na Comissão Interamericana quatro
processos sobre assassinatos de civis por policiais, sendo
que três dos quatro processos dizem respeito a assassinatos
de adolescentes.
O sistema penitenciário abriga 16.468 presos em estabelecimentos
com 9.323 vagas. Em 1995-96, 3.060 vagas foram criadas com
a construção e reforma de estabelecimentos
penitenciários. Entretanto, as novas vagas, ainda,
não são suficientes para resolver o problema
de superlotação.
Há igualmente problemas de disponibilidade de vagas
nas unidades de internação para atendimento
de adolescentes em conflito com a lei. Duas rebeliões
e incêndios aconteceram em 1994 no Instituto Padre
Severino e na Escola João Luiz Alves. As duas unidades
foram reformadas pelo governo do estado, com apoio financeiro
do governo federal em 1995-96. Nova rebelião e incêndio
aconteceu no Instituto Padre Severino em 31 de dezembro
de 1996, durante a qual sete adolescentes morreram e 30
sofreram queimaduras. Outra rebelião aconteceu no
mesmo Instituto, em 7 de fevereiro de 1997, após
a qual um adolescente foi encontrado morto boiando numa
piscina desativada.
Não houve mortes em decorrência de conflitos
no campo no Rio de Janeiro de 1995 a 1997. Mas 200 pessoas
foram vítimas de superexploração na
usina São João, em Campo dos Goytacazes, em
l997.
Entre abril e junho de 1996, 102 idosos morreram na Clínica
Santa Genoveva, em decorrência de falta de higiene
e tratamento inadequado. A clínica foi fechada. Em
1997, um relatório da Assembléia Legislativa
responsabilizou a clínica e sua direção
pela morte dos idosos. Em 1998, o registro profissional
dos donos da clínica foi cassado pelo CREMERJ. Os
processos criminais e cíveis ainda estão tramitando
na Justiça.
Uma pesquisa realizada pelo ISER e Fundação
Getúlio Vargas sobre Lei, Just iça e Cidadania
aponta que a maioria da população da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro considera tanto a Justiça
Comum quanto a Trabalhista lenta, além de discriminatória.
Das três áreas indígenas existentes
no estado, as três foram registradas, mas aguardam
os procedimentos de demarcação e homologação.
MONITORAMENTO
DOS DIREITOS HUMANOS
O monitoramento
das violações de direitos humanos no Rio de
Janeiro é feito por ONGs nacionais e internacionais
de direitos humanos.
Morte
e Maus Tratos de Adolescentes, Instituto Padre Severino
Em
maio de 1996, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional,
a Human Rights Watch/Americas, a Associação
Beneficente São Martinho, o Projeto Legal do IBISS
e o Centro de Articulação de Populações
Marginalizadas do Rio de Janeiro – CEAP solicitaram
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
a adoção de medidas cautelares pelo governo
brasileiro para proteger a vida e a integridade física
dos adolescentes inte rnos no Instituto Padre Severino, Escola
João Luís Alves e Escola Santos Dumont no
Rio de Janeiro (Caso 11.702). A Comissão determinou
ao governo brasileiro a adoção de medidas
cautelares em maio de 1996. Diante da rebelião, incêndio
e morte de sete adolescentes que aconteceu no Instituto
Padre Severino. em dezembro de 1996, as mesmas instituições
apresentaram denúncia contra o governo brasileiro
à Comissão Interamericana em fevereiro de
1997. Em outubro de 1997, o diretor geral do Departamento
de Ações Sócio-Educativas da Secretaria
da Justiça e Interior do Rio de Janeiro prestou depoimento
na Comissão Interamericana informando terem sido
superadas as circunstâncias que fundamentaram a denúncia.
O Diretor descreveu, ainda, as obras de recuperação
no prédio que permitiu a separação
dos adolescentes internos nas três instituições
por compleição física e gravidade da
infração praticada. Referiu-se também
ao programa de treinamento de funcionários e escolarização
profissionalizante de internos que estava em andamento nos
estabelecimentos. Os peticionários não concordaram
que os problemas tenham sido resolvidos. A Comissão
Interamericana solicitou os comentários finais do
governo brasileiro sobre o caso, que foram enviados em 7
de agosto de 1998.
Favela
Nova Brasília II
Em
8 de maio de 1995. policiais civis em uma operação
na Favela Nova Brasília, com a finalidade de prender
um traficante de drogas e apreender armamentos que, conforme
denúncia anônima, chegariam pela manhã,
terminaram por matar pelo menos 13 pessoas. A remoção
dos corpos do local, impediu a realização
de perícia. O Centro pela Justiça e o Direito
Internacional -CEJIL e a Human Rights Watch/Americas apresentaram
denúncia contra o governo brasileiro na Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA em novembro de
1995 (Caso n.º 11.556).
Favela
Nova Brasília I
No
dia 15 de outubro de 1994, supostos traficantes da Favela
Nova Brasília dispararam vários tiros contra
a 21.ª Delegacia de Polícia de Bonsucesso ferindo
três policiais. Em 18 de outubro, sob alegação
de cumprir 104 mandados de prisão temporária,
110 policiais civis da Divisão de Repressão
a Entorpecentes. da 21.ª Delegacia e de outras unidades
da polícia civil, entraram na favela por volta das
cinco horas da manhã. Catorze pessoas foram mortas
durante a operação. A Comissão Especial,
nomeada pelo próprio Governador do Estado para investigar
o caso, concluiu que pelo menos algumas das pessoas que
morreram nessa operação foram executadas pelos
policiais. Uma das vítimas – Evandro de Oliveira
– morreu baleado nos dois olhos. Outra vítima
recebeu sete tiros na nuca e outra dois tiros na cabeça.
O Centro pela Justiça e o Direito Internacional –
CEJIL e a Human Rights Watch/Americas apresentaram denúncia
contra o governo brasileiro na Comissão Interamericana
da OEA em julho de 1996 (Caso 11 .694).
Chacina
da Vigário Geral
Na
madrugada de 30 de agosto de 1993, policiais militares e
civis realizaram operação de repressão
ao tráfico de entorpecentes na Favela de Vigário
Geral que resultou na morte de 21 pessoas. Cinquenta e dois
policiais foram acusados de participar da chacina. Desses,
somente dois policiais foram julgados e condenados. Em abril
de 1997, Paulo Roberto Alvarenga foi condenado a 449 anos
e oito meses de reclusão por participação
na chacina. Em novembro de 1997. Arlindo Magnário
Filho foi condenado a 441 anos e 4 meses de reclusão.
Chacina
da Candelária
Na
madrugada de 23 de julho de 1993, um grupo de homens armados
disparou contra crianças e adolescentes que dormiam
nas proximidades da Igreja da Candelária, no centro
da cidade do Rio de Janeiro, e sequestraram três dos
adolescentes. Como resultado dessas ações,
oito menores foram mortos e dois sofreram lesões
corporais graves. Um dos adolescentes feridos, Wagner dos
Santos, sofreu um segundo atentado em 1995. Testemunha importante
para o processo dos responsáveis pelos disparos,
Wagner dos Santos, teve que ser protegido. Primeiro contou
com a ajuda de ONGs do Rio de Janeiro, depois a Polícia
Federal, com apoio da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,
foi acionada e fez, por um período, a sua segurança.
Entidades de defesa dos direitos humanos do Brasil e do
exterior entenderam, entretanto, que Wagner dos Santos deveria
sair do País para se livrar das ameaças de
morte. O Governo Federal, por intermédio do Ministério
das Relações Exteriores, facilitou sua vinda
ao Brasil, sempre que necessário houve a concordância
da testemunha par a que pudesse depor no julgamento dos responsáveis
pela chacina. As investigações, sobretudo
o testemunho de Wagner dos Santos e de outros sobreviventes,
levaram ao indiciamento e denúncia de cinco policiais
militares e de uma sexta pessoa como autores do massacre.
A situação dos envolvidos é a seguinte:
o ex-policial Marcos Vinicius Borges Emanuel foi condenado
à pena de 309 anos de reclusão. Submetido
posteriormente a um segundo júri popular foi novamente
condenado mas a pena foi reduzida para 60 anos. Ele está
preso e recorreu da sentença. O ex-policial Nelson
Oliveira dos Santos Cunha foi condenado à pena de
261 anos de reclusão. Submetido a um segundo júri
popular foi absolvido das acusações de homicídio,
restando a condenação à pena de 18
anos de reclusão por tentativa de homicídio.
Está preso. Os ex-policiais Marcelo Ferreira Cortes
e Cláudio Luiz Andrade dos Santos e o serralheiro
Jurandir Gomes França foram absolvidos em dezembro
de 1996. O Ministério Público recorreu. O
ex-policial Marco Aurélio Alcântara foi condenado
a 204 anos de prisão em agosto de 1998.
INICIATIVAS
GOVERNAMENTAIS E PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVIL
PARA A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS
Organizações
da sociedade civil como o Movimento Viva Rio
e a Casa da Paz de Vigário Geral desenvolvem
uma série de programas e campanhas em
defesa dos direitos humanos na cidade do Rio
de Janeiro.
O Governo Federal e o Gabinete de Assessoria
Jurídica a Organizações
Populares – GAJOP treinaram e capacitaram
integrantes do estado do Rio de Janeiro e de
ONGs visando à implementação
de um Programa de Proteção a Testemunhas,
Vítimas e Familiares de Vítimas
de Violência.
Em parceria com o governo federal e a sociedade
civil organizada, o governo estadual participou
da experiência-piloto do Serviço
Civil Voluntário envolvendo cerca de
três mil jovens que dispensados do serviço
militar recebiam qualificação
profissional e formação em direitos
humanos e em contrapartida realizavam serviços
comunitários nas Agências do Futuro,
criadas com a ajuda do Viva Rio para abrigar
o Projeto.
A Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro
criou comissão parlamentar de inquérito
para examinar o problema da violência
policial no estado e comissões especiais
para analisar, entre outros assuntos, políticas
de segurança pública, reestruturação
das polícias, reestruturação
do sistema penitenciário, o problema
da exploração do trabalho infanto-juvenil,
políticas de combate à prostituição
infantil e denúncias de racismo.
Implantação do Projeto “Balcão
de Direitos”, na cidade do Rio de Janeiro,
por meio da organização Viva Rio,
com a ajuda da Secretaria Nacional dos Direitos
Humanos, com a criação de cinco
núcleos de atendimento: favelas da Rocinha,
parque da Maré, Chapéu Mangueira,
Babilônia, Santa Marta e no Condomínio
Rio das Flores. O Projeto, além de ajudar
as pessoas a conseguirem documentos básicos
para o exercício da cidadania, presta
assistência jurídica gratuita e
já atendeu cerca 4 mil pessoas.
Diversas entidades públicas e privadas
se uniram para formular um Plano de Ação
de combate À prostituição
infantil no estado. No final de 1998 a Fundação
para Infância e Adolescência do
estado, com a ajuda da Secretaria Nacional dos
Direitos Humanos, Secretaria Municipal de Ação
Social, Juizado da Infância e Adolesc&ecir
c;ncia, Ministério Público, OAB,
o Viva Rio e outras entidades não-governamentais
organizaram um curso em direitos humanos para
policiais civis e militares, guardas municipais
e pessoas ligadas às redes públicas
de defesa da criança, com ênfase
na problemática da prostituição
infantil.
A Delegacia da Infância e Adolescência
realizou uma série de operações
de combate à exploração
sexual e à prostituição
infanto-juvenil, fechando uma série de
casas noturnas na zona sul do Rio de Janeiro.
A ONG ABRAPIA em parceria com a Secretaria Nacional
dos Direitos Humanos instalou um serviço
de disque-denúncia nacional para combater
a exploração sexual de crianças
e adolescentes.
A Secretaria Municipal de Ação
Social fortaleceu com ajuda financeira da Secretaria
Nacional dos Direitos Humanos boa parte dos
Conselhos Tutelares da região metropolitana
do Rio de Janeiro. Foram feitos cursos de capacitação
e entrega de equipamentos para melhorar o trabalho
dos conselheiros.
O Departamento da Criança e do Adolescente
da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos
promoveu acordos com a Secretaria de Justiça
do Estado, para implementaç&atild e;o
de medidas para o cumprimento do Estatuto da
Criança e do Adolescente no Instituto
Padre Severino e outras entidades do estado
que atendem adolescentes em conflito com a lei,
para adoção de uma experiência-modelo
nessas instituições. Entre as
atividades previstas estavam a implantação
de um serviço de plantão, triagem,
medidas sócio-educativas, atividades
profissionalizantes e acesso à saúde
e atividades de lazer e culturais.
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