PARÁ
O
Pará tem uma população de 5.510.849
habitantes, sendo que 2.949.017 habitantes (53,5% da população)
residem em áreas urbanas e 2.561.832 habitantes (46,5%)
residem em áreas rurais. Em 1996, o Pará era
um dos sete estados brasileiros com índice de desenvolvimento
humano entre 0.700 e 0.800 (0.703). Pará, Amapá
e Sergipe foram os únicos estados brasileiros que
apresentaram uma diminuição no índice
de desenvolvimento humano de 1995 para 1996.207 Desse modo,
o Índice de Desenvolvimento Humano do Pará
cresceu em média 1,9% ao ano de 1991 a 1995 mas diminuiu
0,8% de 1995 a 1996. O produto interno bruto per capita,
ajustado ao poder de compra local, era de US$ 4.268.208
A distribuição de renda é desigual.
Os 10% mais ricos têm 49,47% da renda, enquanto os
40% mais pobres têm 8,89%.209
A taxa de alfabetização de adultos
é de 78,7%. Mas 42,9% da população
adulta têm menos de quatro anos de estudo
e apenas 3,2% da população adulta
têm 12 anos ou mais de estudo.
A taxa de mortalidade infantil é de 60 mortes por
1.000 nascidos vivos. A taxa de mortalidade por homicídio
foi de 12,48 mortes por 100.000 habitantes no estado e 20,20
por 100.000 habitantes na região metropolitana de
Belém em 1996, segundo dados do Datasus. Mas a taxa
de homicídios registrados pela polícia na
Grande Belém atingiu 28,8 por 100.000 habitantes
em 1997, o que mostra um aumento significativo da criminalidade
violenta registrada na região metropolitana.
No Pará, entidades governamentais e entidades da
sociedade civil constituíram um grupo de trabalho
para organizar um encontro estadual e elaborar um programa
estadual de direitos humanos após o lançamento
do Programa Nacional de Direitos Humanos em 1996, mas este
encontro ainda não foi realizado.
O estado enfrenta graves violações de direitos
humanos, particularmente violência policial, violência
contra crianças e adolescentes, violência contra
trabalhadores rurais e comunidades indígenas. A infra-estrutura
do sistema de segurança pública e justiça
criminal no estado é inadequada. A polícia
tem dados sistematizados sobre a cri minalidade e a violência
somente para a Grande Belém. A Corregedoria da Polícia
Militar foi criada apenas em 1996. A Ouvidoria do Sistema
de Segurança Pública recebe denúncias
contra policiais que não são devidamente investigadas
pela Corregedoria da Polícia Civil e da Polícia
Militar.
O estado do Pará tem 206 promotores em atividade
e 65 inativos, 176 juizes em atividade e 66 inativos –
um promotor em atividade para cada 26.751 habitantes e um
juiz em atividade para cada 31.311 habitantes. O estado
se destaca, entretanto, em relação aos outros
estados pela presença das mulheres nas instâncias
superiores do Poder Judiciário. O Tribunal de Justiça
do Pará tem nove desembargadoras e 15 desembargadores,
enquanto diversos estados têm apenas desembargadores.
O sistema penitenciário apresenta superlotação,
com uma população de 1.425 presos (692 provisórios
e 733 condenados; 1.057 em regime fechado, 218 em regime
fechado/semi-aberto, 93 em regime semi-aberto e 57 em regime
aberto) em 11 estabelecimentos com 1.249 vagas. Ainda em
1997, 10 presos morreram em estabelecimentos penitenciários
durante brigas, fugas e rebeliões.
Dos 432 homicídios em 1997, 11 vitimaram crianças
e adolescentes (2,5%) e 9 (2,0%) foram praticados por crianças
e adolescentes. A manifestação mais clara
da violência a que estão submetidas as crianças
e adolescentes está nas ocorrências de estupro.
Das 259 ocorrências de estupro registradas pela polícia
na Grande Belém em 1997, 130 (50%) tiveram como vítimas
crianças e adolescentes. No estado, quatro homossexuais
foram vítimas de homicídios.
O Pará foi o estado brasileiro que registrou o maior
número de assassinatos durante conflitos no campo
em 1997, 1996 e 1995. Foram mortas 12 pessoas em 1997, 33
em 1996 (incluindo 18 em Eldorado dos Carajás) e
14 em 1995, num total de 59 pessoas em três anos.
Foi o estado brasileiro em que se registrou também
significativo número de ocorrências de trabalho
escravo em 1997. O Grupo Móvel da Secretaria da Fiscalização
do Trabalho, do Ministério do Trabalho, criado pelo
governo federal em 1995 para reprimir o trabalho escravo,
libertou nos últimos 4 anos mais de 455. Os trabalhadores
que se encontravam na prática de trabalho em atividades
como: desmatamento, madeireira e agropecuária, nas
cinco fazendas fiscalizadas ao sul do estado em 1997, pelo
menos trinta menores se encontravam em situação
análoga à de escravo. Os r esponsáveis
por estes casos foram indiciados pela polícia federal.
Outros 73 casos de trabalho escravo foram identificados
pela Comissão Pastoral da Terra em quatro fazendas.
De um total de 872 pessoas submetidas à condição
de trabalho escravo no Brasil em 1997, 528 estavam no Pará.
O INCRA desapropriou a Fazenda Macaxeira, pivô do
incidente de Eldorado dos Carajás e outras naquela
região e assentou famílias de agricultores
sem-terras. Também foi desapropriada a fazenda Flor
da Mata em São Félix do Xingu, onde 30 pessoas
foram encontradas em situação de trabalho
escravo.
De 1995 para 1996 aumentaram as áreas de conflitos
no campo e o número de pessoas envolvidas. Havia
45 áreas de conflito envolvendo 34.764 pessoas em
1995, que aumentaram para 72 áreas envolvendo 42.121
pessoas em 1996 e 73 áreas envolvendo 66.457 pessoas
em 1997.
O INCRA intensificou as ações de Reforma Agrária
na região, em 1996. desapropriou 136.790 hectares
tendo sido assentadas 5.637 famílias em 23 projetos.
Além disso foram construídos 18 km de rede
de eletrificação rural e concedidos créditos
de implantação do Programa de Crédito
Especial para as Á reas de Reforma Agrária
– PROCERA nos valores totais de R$ 44,0 milhões
e R$ 4,7 milhões, respectivamente. Em 1997 as desapropriações
chegaram a 326.861 hectares, 12.132 famílias assentadas
em 32 projetos e mais a construção de 1.282
km de estradas, 15 km de rede de energia elétrica,
nove poços artesianos, 84 escolas e 30 postos de
saúde nos locais de assentamentos.
O Pará tem 36 áreas indígenas, sendo
que apenas 20 foram registradas. Duas foram homologadas,
três demarcadas, cinco declaradas e delimitadas e
seis ainda não foram identificadas. Cinco povos que
habitam a terra indígena do Alto Rio Guamará
foram vítimas de lesões corporais, sequestro
e cárcere privado, em decorrência de conflitos
com invasores interessados na extração ilegal
de madeira.
MONITORAMENTO
DOS DIREITOS HUMANOS
O
monitoramento dos direitos humanos no Pará é
feito pela Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública
e principalmente por entidades da sociedade civil, entre
as quais: Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
Ordem dos Advogados do Brasil – PA, Comissão
Pastoral da Terra, Conselho Indigenista Missionário,
Movimento Nacional de Direitos Humanos – Norte 2,
Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Emaús,
Conselho Municipal da Condição Feminina. Movimento
de Mulheres do Campo e da Cidade, Grupo de Estudos e Pesquisas
Eneida de Moraes, Grupo de Estudos da Violência.
Eldorado dos
Carajás
Em
17 de abril de 1996, policiais militares mataram 19 trabalhadores
rurais sem terra durante manifestação na rodovia
PA–150. em Eldorado dos Carajás. Os trabalhadores
sem terra marchavam de Curianópolis até Belém
para reivindicar a desapropriação da Fazenda
Macaxeira para assentamento de suas famílias. Obedecendo
ordem das autoridades estaduais para desobstruir a rodovia,
68 policiais militares de Paraopebas e aproximadamente 200
policiais militares de Marabá, sem a devida identificação
no uniforme, cercaram os trabalhadores sem terra às
15 horas e deram início a uma violenta operação
que levou à morte 19 trabalhadores rurais.
A pronta ação do governo federal, com a presença
no local do então Ministro da Justiça, Nelson
Jobim, e do Secretario Nacional dos Direitos Human os, José
Gregori, na época Chefe de Gabinete do Ministro,
inclusive com o envio de tropas do Exército, foi
determinante para a preservação dos elementos
necessários para que os policiais viessem a ser processados.
O governo federal garantiu a presença de perito independente
para acompanhamento das necrópsias. assegurando melhores
condições para a realização
da investigação sobre o massacre, realizada
com grande coragem e dedicação pelo ministério
público local. Foi aberto processo judicial contra
154 policiais militares e três trabalhadores sem terra
em Marabá. O julgamento, marcado para 23 de novembro
de 1998, foi adiado a pedido do Ministério Público,
porque suspeitava que haveria parcialidade. Desse modo,
o Ministério Público solicitou a transferência
do julgamento para Belém.
O CEJIL – Centro pela Justiça e o Direito Internacional,
a Human Rights Watch/Americas e o Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra – MST apresentaram denúncia do caso
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da OEA em 5 de setembro de 1996 (caso 11.820).
José Pereira,
Trabalho Escravo
Em
setembro e outubro de 1989 cerca de 60 trabalhadores rurais
estavam mantidos em cárcere privado na fazenda Espírito
Santo, localizada no município de Xinguara, no estado
do Pará. Foram levados ao local por falsas promessas
de que lá haveria trabalho bem remunerado. Lá
chegando, não conseguiram mais sair até que
pagassem as suas “dívidas” adquiridas
em função do seu transporte até o local
e da comida consumida durante a viagem.
Os trabalhadores eram obrigados a trabalhar para pagar as
suas dívidas, perpetuando-as quando necessitavam
de mais comida para trabalhar. Os trabalhadores eram desta
forma colocados em situação análoga
à de escravos dos proprietários da fazenda.
José Pereira, 17 anos, era um trabalhador que resolveu
fugir com outro trabalhador conhecido como Paraná,
na madrugada de 13 de setembro de 1989. Horas depois foram
cercados por quatro homens armados. Paraná foi baleado
na nuca e morreu instantaneamente. Um dos capatazes ordenou
a José Pereira que caminhasse na estrada sem olhar
para trás. José Pereira recebeu um tiro que
passou por sua mão, nuca e saiu pelo olho direito.
José caiu no chão fingindo-se de morto. Foi
enrolado num pedaço de pano e despejado num local
distan te. Socorrido, José Pereira sobreviveu ao atentado,
apesar de ter perdido a visão do olho direito, e
denunciou a tentativa de homicídio e a exploração
de trabalho escravo na fazenda Espírito Santo.
A polícia abriu inquérito em 1990. Em 1993,
o Ministério Público Federal apresentou denúncia
contra quatro pessoas por tentativa de homicídio
e por redução da pessoa à condição
análoga à de escravo. O administrador da fazenda
Espírito Santo também foi denunciado pelo
mesmo ato. Em fevereiro 1994. o processo judicial teve início,
mas quatro dos cinco acusados estavam desaparecidos. O Centro
pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL,
a HRW/ Américas e a Comissão Pastoral da Terra
apresentaram denúncia à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da OEA em 23 de fevereiro de 1994 (Caso
11.289). Em 1998, a Justiça Federal condenou o administrador
da fazenda Espírito Santo a dois anos de prisão
pelo crime de reduzir da pessoa à condição
análoga à de escravo e substituiu a pena pela
prestação de serviços à comunidade.
Os outros quatro acusados continuam foragidos e o processo
está paralisado.
Jo&ati lde;o Canuto,
Rio Maria
Em
18 de dezembro de 1985, João Canuto, presidente do
recém-criado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Rio Maria foi assassinado a tiros por dois pistoleiros.
Canuto já havia recebido ameaças de morte
e avisado à policia, mas não recebeu proteção
policial. O inquérito policial foi concluído
somente em 27 de julho de 1993. Em 1995 foi aberto processo
judicial contra cinco pessoas acusadas pelo assassinato
de Canuto, entre elas o fazendeiro Adilson Laranjeiro, ex-prefeito
de Rio Maria. Dois dos filhos de Canuto, José e Paulo
Canuto, também foram mortos, em 1991. Outro filho,
Orlando, ferido em 1990, está ameaçado de
morte, assim como sua irmã, Luzia Canuto, atual presidente
da ONG Comitê Rio Maria, do padre Ricardo Resende
e outros religiosos e lavradores ligados à luta pela
terra em Rio Maria. A Comissão Pastoral da Terra,
a Human Rights Watch/Americas e Centro pela Justiça
e/o Direito Internacional – CEJIL apresentaram denúncia
do caso à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA em 23 de fevereiro de 1994 (Caso 11.287).
Em março de 1998, a Comissão aprovou relatório
condenando o Estado brasileiro e apresentando recomendações
p ara serem atendidas no prazo de um mês, inclusive
a aceleração do processo judicial referente
ao pagamento de indenização aos familiares
da vítima. Em junho de 1998, a Comissão publicou
o relatório, registrando que o Brasil examina a hipótese
de solução amistosa para o caso de João
Canuto. Em março de 1998, o CEJIL solicitou medidas
cautelares ao governo brasileiro para proteger a vida de
Luzia Canuto.
Newton Coutinho
Mendes e Outros, Grupo de Extermínio
Um
grupo de extermínio contratado e articulado por fazendeiros
do sul do estado do Pará agia no município
de Xinguara. Havia uma lista de várias pessoas marcadas
para morrer, suspeitos de terem ligações com
as ocupações de terra na região. Em
abril e junho de 1994, quatro pessoas da lista foram assassinadas,
inclusive o comerciante Newton Coutinho Mendes, e duas outras
foram vítimas de tentativa de assassinato. Quatro
famílias foram obrigadas a fugir devido às
ameaças de morte. O Centro pela Justiça e
o Direito Internacional – CEJIL, a Human Rights Watch/Americas
e a Comissão Pastoral da Terra apresentaram denúncia
à Comissão Interamerican a de Direitos Humanos
da OEA em 18 de novembro de 1994 (caso 11.405).
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS
E PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVIL PARA A PROTEÇÃO
E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O
governo do estado criou o Sistema Estadual de
Segurança Pública (lei 5.944/96
e decreto 1.361/96), do qual fazem parte o Conselho
Estadual de Segurança Pública,
a Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública
e a Comissão de Mediação
de Conflitos Fundiários (criada pelo
decreto 2.420, de 6 de outubro de 1997). O Conselho
Estadual e a Comissão de Mediação
têm representantes da sociedade civil.
A 1.ª Ouvidoria foi escolhida pelo Conselho
Estadual e nomeada pelo governador em junho
de 1997. A Ouvidoria foi efetivamente instalada
em dezembro de 1997. O governo do estado criou
também a Corregedoria da polícia
militar em 1996.
O Conselho Estadual da Segurança Pública
e o Movimento Nacional dos Direitos Humanos
– Regional Norte 11 organizaram o I Fórum
Direitos Humanos e Segurança Pública
na Amazônia para discutir a política
de segurança pública na região.
O Movimento Nacional de Direitos Humanos –
Regional Norte II organizou também, com
apoio da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,
a Conferência Regional de Direitos Humanos
“Perspectivas para o 3.º Milênio”.
A Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos
de Belém, em parceria com a Secretaria
Nacional dos Direitos Humanos, desenvolve programa
de capacitação de advogados e
lideranças comunitárias para formulação
de políticas de defesa dos direitos da
comunidade negra através do Conselho
Municipal do Negro de Belém.
Foi criado em conjunto com o Ministério
da Justiça, a Universidade de Brasília
e a Associação de Tecnologia um
curso de capacitação à
distância para Conselheiros tutelares
do estado.
Por intermédio do Departamento da Criança
e do Adolescente, da Secretaria Nacional dos
Direitos Humanos, foram financiadas ações
voltadas para o adolescente em conflito com
a lei e a exploração sexual infanto-juvenil.
A Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,
a Representação no Brasil da Anistia
Internacional e o Centro de Assessoramento a
Programas de Educação e Cidadania
– CAPEC promoveram a capacitação
em direitos humanos de policiais civis e militares,
além de líderes comunitários
e educadores.
Em 1995, o Presidente da República titulou
terras aos remanescentes de Quilombo, no município
de Oriximiná, no estado do Pará.
Além disso, nos últimos quatro
anos mais de 20 outras comunidades no Pará
receberam títulos de propriedade, de
acordo com as informações constantes
no INCRA.
<
Voltar