Primeiro
Relatório Nacional sobre os Direitos
Humanos no Brasil
CEARÁ
Ceará
tem uma população de 6.809.29() habitantes
sendo que 4.713.049 habitantes (69,2% da população)
residem em áreas urbanas e 2.096.241 habitantes (30,8%)
residem em áreas rurais. Em 1996, o Ceará
era um dos nove estados brasileiros com índice de
desenvolvimento humano inferior a 0.700 (0.590). Contudo,
o Índice de Desenvolvimento Humano do Ceará
cresceu em média 1,7% ao ano de 1991 a 1995 e 2.6%
de 1995 a 1996. O produto interno bruto per (apita, ajustado
ao poder de compra local, era de US$ 2.667. A distribuição
da riqueza é desigual. Os 10% mais ricos têm
50,52% da renda. enquanto os 40% mais pobres têm 8,36%.
A taxa de alfabetização de adultos é
de 69%. Mas 49,9% da população adulta têm
menos de quatro anos de estudo e apenas 3,4% da população
adulta têm 12 anos ou mais de estudo.
A taxa de mortalidade infantil é de 41
mortos por 1.000 nascidos vivos. Em novembro
de 1996, teve repercussão nacional o
caso de 51 bebês que morreram na Maternidade-Escola
Assis Chateaubriand, na periferia de Fortaleza,
vítimas da superlotação
e da falta de tratamento adequado no hospital.
A taxa de mortalidade por homicídio é
de 12,94 por 100.000 habitantes no estado, interior
á taxa brasileira, e de 22,38 por 100.000
na região metropolitana de Fortaleza.
A violência policial e a participação
de policiais em grupos de extermínio são problemas
graves no estado. A Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados recebeu denúncia sobre
a atuação de grupos de extermínio no
Ceará, com participação de policiais.
O Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, vinculado ã
Ouvidoria Geral do Estado, recebeu quatro denúncias
contra policiais civis e militares na prática de
arbitrariedades, espancamentos e um homicídio. Um
caso ocorreu no município do Crato e, segundo a apuração
feita pelo Conselho, envolveu uma série de arbitrariedades,
práticas de tortura e execução sumária
de Aldo Romão da Silva, conhecido como “Pimentinha”,
realizada por policiais militares liderados por um policial
militar conhecido por Almeida. Segundo o Conselho, o caso
é ainda mais grave em razão da intimidação
que estariam sofrendo as autoridades judiciárias
locais para não levar avante a apuração
do crime e pelos indícios de formação
de um “grupo de extermínio” envolvendo
possivelmente policiais militares.
A Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança
abriu cinco inquéritos para apurar denúncias
de violência praticada por policiais civis e quatorze
inquéritos para apurar denúncias contra policiais
militares de janeiro a abril de
Em julho de 1997. tropas do Exército foram mobilizadas
pelo governo federal. por solicitação do governador,
para garantir a segurança pública durante
a rebelião da policia militar no estado.
A Coordenadoria do Sistema Penal registra um déficit
de vagas não muito elevado para o Estado, 3.470 para
3.621 pessoas presas. mas há 180 pessoas condenadas
cumprindo pena em delegacias. O Conselho de Defesa dos Direitos
Humanos recebeu denúncias quanto à má
condição que apresentavam algumas prisões
no estado. Um relatório feito pelo Conselho indica
que a Cadeia Pública do Crato e a de Juazeiro do
Norte apresentam péssimas condiç& otilde;es
de conservação, superpopulação,
ausência de programas de trabalho, de assistência
judiciária, social ou médica, corrupção
e omissão das autoridades responsáveis. Além
disso, o Conselho recebeu queixas dos detentos de que policiais
militares nos dois presídios promovem regularmente
sessões de espancamento de presos à noite
nas próprias celas. A Comissão Permanente
de Sindicância da Secretaria da Justiça registra,
entretanto, a existência de apenas nove denúncias
contra agentes penitenciários por desrespeitar os
direitos das pessoas presas e detidas. Registra ainda que
três agentes foram processados e punidos, administrativa
e criminalmente, por desrespeitar aqueles direitos.
Nos dias 24 e 25 de dezembro de 1997, uma rebelião
na penitenciária Sarasate, em Fortaleza, que durou
25 horas, deixou oito pessoas mortas, sete detentos e um
refém. Um grupo de presos tomou como reféns
pessoas que visitavam o presídio, dentre elas a coordenadora
da Pastoral Carcerária de Fortaleza. Quinze presos
fugiram da Penitenciária em quatro carros que foram
depois interceptados pela polícia. Segundo a coordenadora
da pastoral alguns presos foram executados pelos policiais
mesmo depois de já terem se rendido e estarem deitados
no chão. Laudos do IML divulgados alguns dias depois
confirmaram que cinco detentos haviam sido baleados na cabeça
e que pelo menos quatro tinham recebido tiros nas costas.
Oito homossexuais foram assassinados no estado em 1996,
quatro em 1997 e quatro de janeiro a outubro de 1998.109
Denúncia apresentada ao Presidente da Comissão
de Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia Legislativa
do Ceará apontou as arbitrariedades e graves violações
de direitos humanos praticadas por um investigador de policia
ao prender, humilhar, estuprar uma jovem homossexual de
dezenove anos.
Há onze áreas de conflito no campo, envolvendo
163 famílias e 2.215 pessoas. Não houve registro
de morte em conflito no campo em 1997.”’ Há
conflito também pela posse das terras indígenas.
Das nove terras indígenas no Ceará, nenhuma
foi homologada. Apenas uma está delimitada e outra
está identificada mas não delimitada. Sete
ainda não foram identificadas.
MONITORAMENTO
DOS DIREITOS HUMANOS
O
monitoramento das violações de direitos humanos
é feito por entidades da sociedade civil e pela Comissão
de Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia Legislativa
que atua principalmente na defesa dos direitos das mulheres,
crianças e adolescentes, pessoas idosas e minorias.
Antônio
Ferreiro Braga
O
servente de pedreiro, Antônio Ferreira Braga, foi
torturado por policiais civis de uma delegacia de Fortaleza
em abril de 1993. Ocaso foi encaminhado e está em
tramitação na Comissão Interamericana
de Direitos Humanos OEA.
José Ivanildo
Sampaio Souza
José
Ivanildo Sampaio Souza foi torturado e morto em dependência
da Superintendência da Polícia Federal do Ceará
em outubro de 1995. Inquérito policial, acompanhado
pela Ordem dos Advogados do Brasil, responsabilizou um delegado
e agentes da polícia federal pela morte de Sampaio
Souza. Os responsáveis foram submetidos a processo
disciplinar, demitidos da polícia federal e estão
sendo processados criminalmente. Lei federal concedeu pensão
mensal aos familiares da vítima.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS
E PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVIL PARA A PROTEÇÃO
E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Entidades
de direitos humanos organizaram a I Conferência
Estadual de Direitos Humanos em 1997.
O Governo estadual implementou um programa amplo
de reformulação das policias para
imprimir mais eficiência e eficácia
nas suas atividades.
Além disso, o governo estadual criou
a Ouvidoria Geral do Estado para receber denúncias
e apurar práticas arbitrárias
de funcionários públicos, inclusive
agentes policiais. Vinculado à Ouvidoria,
o governo do estado criou o Conselho de Defesa
dos Direitos Humanos. O governo também
criou uma Corregedoria Geral dos Órgãos
de Segurança Pública, com participação
do Ministério Público, e o serviço
de Teledenúncia 2000.
A Secretaria da Justiça e da Defesa da
Cidadania está promovendo a aproximação
entre as polícias e a comunidade através
de conselhos comunitários de defesa social.
Entre abril e junho de 1997, a Secretaria de
Segurança Pública, apoiada pela
Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, realizou
um curso de especialização para
oficiais da pol icia militar na área
da promoção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente.
A Secretaria Nacional dos Direitos Humanos em
1997 promoveu, com a parceria do CAPEC –
Centro de Assessoramento a Programa de Educação
e Cidadania, o Projeto Escola e Cidadania, voltado
para a capacitação e qualificação
em direitos humanos de policiais civis e militares,
além de educadores e lideres comunitários.
Por intermédio do Departamento da Criança
e do Adolescente, da Secretaria Nacional dos
Direitos Humanos, foram financiadas ações
voltadas para o adolescente em conflito com
a lei e campanhas combatendo o turismo sexual
e a exploração sexual infanto-juvenil.
A Universidade Federal do Ceará desenvolve
junto com o Centro de Defesa dos Direitos Humanos,
na comunidade de Pirambu, o Projeto Movimento
Integrado de Saúde Mental Comunitária
que posteriormente virou uma ONG com o mesmo
nome para atender crianças de rua, com
atividades para estimular a reintegração
social e familiar, além de unidade de
arte dedicada a adolescente com problemas familiares
e risco de envolvimento com drogas e prostituição
e uma unidade de terapia em grupo onde são
discutidos os problemas dos pacientes da comunidade.
O Projeto é apoiado pelo Comunidade Solidária,
Pastoral da Criança, Associação
dos Amigos de Quatro Varas entre outras.
Com apoio da Secretaria Nacional dos Direitos
Humanos foram regionalizados 10 Centros Operacionais
de Apoio às Promotorias da Infância
e Juventude e foram capacitados 500 profissionais
para melhorar o atendimento de crianças
vitimadas.
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